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O ambientalismo: elemento catalisador da busca de uma melhor qualidade de vida

2.2 MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS

2.3.3 O ambientalismo: elemento catalisador da busca de uma melhor qualidade de vida

Os movimentos ecológicos surgiram nos anos oitenta como uma novidade, embora já existissem na arena social, enquanto reivindicação isolada, desde os séculos XVIII e XIX, com os socialistas utópicos, os anarco-sindicalistas e os naturalistas.

As diferentes correntes de pensamento político-ideológicas do ambientalismo/ecologismo, os fatores endógenos e exógenos do surgimento do movimento ambientalista no Brasil, a tipificação dos atores ambientalistas já foram objeto de análise de vários autores (ver, por exemplo: VIOLA, 1987; VIOLA, 1994; VIOLA & LEIS, 1991; PÁDUA, 1991; VIOLA & VIEIRA, 1992; VIOLA & LEIS, 1992; McCORMICK, 1992; LEIS, 1996; MARTÍNEZ-ALIER, 1998; LEFF, 2000; ALEXANDRE, 2000;).

Os movimentos ecológicos dos anos oitenta e noventa significaram para a sociedade como um todo, e para os seus participantes em particular, uma nova forma de pensar e de agir sobre a relação homem-natureza. Eles foram além da denúncia da exploração e dilapidação exacerbada dos recursos naturais. Eles formularam as bases de um novo paradigma de relações na sociedade, baseado não no fator trabalho ou mercado, mas no fator vida. Foram além da reivindicação de melhoria da qualidade de vida, na medida em que questionaram as bases do modo de vida existente, fundadas na busca da realização através da apropriação de objetos de consumo; do trabalho competitivo nos locais de produção; da apropriação de saberes objetivando a constituição de redes de monopolização de conhecimentos; da cultura fugaz e instantânea dos meios de comunicação de massa; da diferenciação social através da moda e de utensílios tidos como modernos; da necessidade de participação em círculos e pequenos grupos de poder como forma de não ser alijado dos eventos e acontecimentos de seu tempo; e do desgaste da saúde física e mental devido aos processos estressantes a que os cidadãos são submetidos quotidianamente.

Desloca-se o paradigma da ciência, até então tido como o da busca da racionalidade das ações subjetivas. A busca da felicidade como bem supremo da humanidade, tema central

da sociedade grega, volta a ter lugar, ao invés da busca de engajamento em lutas libertárias ou igualitárias:

"O desafio vencido pelo homem - como produzir cada vez mais bens com cada vez menos trabalho, fazendo alavanca sobre a força silenciosa do desejo de dinheiro - está praticamente superado ao apagar-se o século XX. O novo desafio que marcará o século XXI é como inventar e difundir uma nova organização, capaz de elevar a qualidade de vida e do trabalho, fazendo alavanca sobre a força silenciosa do desejo de felicidade." (DE MASI, 1999, p. 330)

A humanidade, enquanto sujeito coletivo passa a ser a referência básica, e não mais o sujeito individual, operário ou trabalhador, agente fundamental das mudanças históricas. Assim, o universal, as totalidades, passam a ser buscados como referências e não apenas as necessidades históricas de determinados grupos sociais, excluídos ou explorados economicamente na sociedade.

Outro aspecto importante presente nos movimentos ecológicos diz respeito à sua própria concepção de modernidade. Trata-se de fundar uma nova cultura política, a partir de idéias, valores e práticas novas, onde o passado, a tradição, a cultura historicamente acumulada através da experiência dos indivíduos, não são negados, mas, ao contrário, são resgatados e reafirmados sob nova ética. Não se trata de ruptura com a tradição, mas de revitalizações das práticas culturais, como força nova e junção de novos tecidos e relações sociais.

Aqui se pretende apenas a análise das questões ambientais do lugar Vila Manaus como fator de integração dos cidadãos da nova resignificação das relações homem-ambiente na territorialidade construída pelo projeto de gestão ambiental do Projeto Nossa RUA.

Para SCHERER-WAREN (1999) as ações ambientalistas têm se caracterizado por uma atuação política e pela edificação de representações simbólicas em diversas escalas: do local ao global. Desta forma "o local, os problemas particulares se universalizam, e o universal, a ética ecológica planetária se particulariza, se expressa simbolicamente em problemas locais" (SCHERER-WAREN, 1999, p. 68).

A atuação dos atores sociais do bairro Vila Manaus ao discutirem soluções para problemas locais como, por exemplo, a implantação de um programa de coleta seletiva de lixo

e a arborização de ruas, em seus espaços de representação e atuação, o bairro, podem ser classificados como um movimento ecologista comunitário - MEC.

Na análise dos "novos" atores sociais, SCHERER-WAREN, (1999, p. 70), estabelece a categoria de movimento ecologista comunitário como àquela organização formada por diversos atores (organizações de base, associações de bairro, ONG's locais e outros cidadãos) que se articulam em torno de um problema socioambiental local, e atuam na melhoria da gestão do meio ambiente local.

Segundo VIOLA e LEIS (1991), o ambientalismo complexo-multisetorial é formado pelos seguintes atores:

"(1) associações autodenominadas ambientalistas e o movimento ecológico “strictum sensu”; (2) setores ecologistas da comunidade científica presentes hoje nas universidades e institutos de pesquisa; (3) indivíduos coletivos formadores de opinião, que têm uma orientação ecologizante; (4) partidos verdes; (5) pequenos e médios empresários que incorporam a dimensão ecológica na sua racionalidade microeconômica; (6) grupos e redes orientados para o desenvolvimento do potencial humano; (7) a comunidade dos técnicos das agências estatais voltadas para a defesa do meio ambiente; (8) movimentos sociais que têm orientações valorativas e práticas ecologizantes; (9) setores minoritários ecologizados de macro-estruturas: agências estatais, corporações multinacionais, partidos políticos, associações profissionais (sindicatos e outros), associações empresariais e organizações religiosas; (10) camponeses cujo modo de produção leva em conta a dimensão ecológica, seja por uma lógica histórico-tradicional, seja por um processo de aprendizado recente” (VIOLA e LEIS, 1991, p. 23-4).

A incorporação de novos atores ao campo de ação da problemática ambiental, o movimento ambientalista, ou o ecologismo, se constituiu como um campo multissetorial, saindo de uma difusa fase estética e incorporando vários setores, problemas, perspectivas e expectativas advindas das ciências naturais, da sociedade civil, do Estado, da economia e das religiões (LEIS, 1999).

Na análise sobre as interfaces do movimento de defesa dos direitos humanos com o ambientalismo no Brasil, VIOLA e NICKEL (1994) apresentaram muitos campos de ação comuns. No que se refere aos direitos humanos "que precisam ser esverdeados", significando uma atenção maior para as relações do modelo hegemônico capitalista de desenvolvimento,

pobreza, iniqüidade, violação de direitos individuais e coletivos e a acelerada degradação ambiental.

Enquanto garantia da realização de certos direitos humanos, muito ainda tem que ser executado, para que o ambientalismo tenha êxito na proteção ambiental como: melhorar à eficácia do aparato legal ambientalista, melhorar a produção e distribuição de alimentos para garantir a todos os cidadãos um patamar mínimo de nutrição, e fundamentalmente, basear as ações ambientais na educação. São questões humanas e ambientais que poderão assegurar uma sociedade sustentável para as futuras gerações (VIOLA e NICKEL, 1994).

Para LEFF (2000a) o relacionamento ético ambiental em que os direitos humanos ligados ao meio ambiente emergem como uma necessidade ou premissa fundamental na melhoria da qualidade de vida, que é interpretada não somente como a satisfação de necessidades básicas e de bem-estar, mas também como o direito a uma vida digna ao pleno desenvolvimento dos seres humanos e à realização de suas aspirações morais, intelectuais, afetivas e estéticas, mediante a reconstrução do ambiente (LEFF, 2000a, p. 220).

Ao considerar os problemas ambientais como sendo todos aqueles que afetam negativamente a qualidade de vida dos indivíduos no contexto de sua interação com o espaço (ambiente), seja o espaço natural ou o espaço social, construído pela apropriação e formação de identidade espacial ou territorialidade, SOUZA (2000) chama a atenção para a diferença entre qualidade de vida e padrão de vida.

Para SOUZA (2000, p. 117) padrão de vida relaciona-se “ao poder aquisitivo de um indivíduo, retratado por uma grandeza mensurável, - o dinheiro - e tendo como referência o mercado”, e o conceito de qualidade de vida, abrange também “aquelas coisas que não podem ser simplesmente adquiridas pelos indivíduos no mercado”, mas relacionam-se com seu bem- estar, como belezas cênicas, qualidade do ar e liberdade de expressão e manifestação política.