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Ela sai do prelo em 1576 da oficina tipográfica de Antonio Gonsalvez. De acordo com Hue460, o referido tipógrafo produziu, em sua oficina, aproximadamente 38 livros. Com quatorze capítulos, a obra se estrutura da seguinte maneira:

[Folha de rosto] [Folha de] Aprovaçam

[Tercetos de Luis de Camões a D. Lionis] sobre o livro

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[Soneto de Luís de Camões a D. Lionis acerca de sua vitória em Malaca] [Dedicatória]

Prologo ao lector

Capit. Primeiro. De como se descobrio esta prouincia, e a razam porque se deve chamar Sancta Cruz, e nam Brasil.

Capit. 2. Em que se descreve o sitio e qualidades desta provincia

Capit. 3. Das capitanias e pouoações de Portugueses que ha nesta provincia.

Capit.4. Da governança que os moradores destas capitanias tem nestas partes, e a maneira de como se hão em seu modo de viver.

Capit. 5. Das plantas, mantimentos, e fruitas que ha nesta provincia Capit. 6. Dos animaes e bichos venenosos que ha nesta provincia. Capit. 7. Das aves que ha nesta provincia.

Capit. 8. De algus peixes notaueis, baleas e amarq ue ha nestas partes.

Capit. 9. Do monstro marinho que se matou na capitania de Sam Vicente no anno de 1564.

Capit. 10. Do gentio que ha nesta provincia, da condiçam e costumes delle, e de como se gouernam na paz.

Capit. 11. Das guerras que tem hus com outros e a maneira de como se hão nellas. Capit. 12. Da morte que dam aos cativos e crueldades que vsam com elles.

Capit. 13. Do fruito que fazem nestas partes os Padres da Companhia com sua doctrina.

Capit. 14. Das grandes riquezas que se esperam da terra do sertam.

Comparado à edição príncipe, o testemunho disponível do manuscrito escorialense poderia estar incompleto, faltando um dos capítulos, já que este tem treze e aquela quatorze. Se fosse ao final, poderíamos sugerir que houve perda de páginas, mas o capítulo em questão foi inserido após o terceiro capítulo; apresenta-se no manuscrito do Escorial a sequência correta na numeração dos capítulos e das páginas. Dessa forma, deduz Gomes461, que a versão

princeps tem um capítulo a mais em relação ao manuscrito do Escorial, o que reforça a

hipótese de esse manuscrito ter sido copiado de uma versão ainda em fase de elaboração. Na edição princeps de História da Província de Santa Cruz, após as notas de dedicatória e prólogo, o autor inaugura a exposição do livro mostrando no capítulo primeiro “De Como se descobriu esta provincia e a razão porque se deve chamar Santa Cruz e não Brasil”. Logo adiante, no capítulo 2, Gandavo descreve as qualidades da terra. No capítulo seguinte, apresentas as capitanias e povoações de portugueses que vivem no Brasil e mais adiante estabelece um arrazoado sobre os governadores-gerais, aconselhando o destinatário a se mudar para o Brasil, além de deliberar acerca da melhor maneira de ele residir na nova terra. No capítulo 5 apresenta as plantas, mantimentos e frutas que há na província, seguindo

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o capítulo 6, “Dos Animais e bichos venenosos da provincia”. No capítulo 7 elenca as aves da província, como as águias, açores, gaviões e iacus, que são galinhas do mato, segundo o autor. Afirma que na terra há muitas perdizes, pombas, rolas e patos. Além desses, enumera os tipos de papagaios da terra que, segundo o autor, é o que há de mais exuberante na terra. Logo mais adiante, especificamente no oitavo capítulo, fala dos peixes notáveis da terra e no nono capítulo, sobre o “Monstro Marinho que se matou na capitania de São Vicente no ano de 1564”.

No décimo capítulo, mostra o “gentio que há nesta provincia, da condição & costume delle, & de como se governam na paz”. Adiante, no décimo primeiro capítulo coloca diante dos olhos do destinatário, em um estilo tucididiano, as guerras que os índios travam entre si e como elas se dão. No capítulo 12, “Da morte que dam aos cativos & crueldades que usam com elles”. No penúltimo capítulo, o 13, espalha as sementes lançadas pelos Padres da Companhia de Jesus na dita província e, finalmente, no último capítulo, arrazoa sobre as “Grandes riquezas que se esperam da terra do sertão”.

No manuscrito escorialense, o autor inicia o texto a partir do capítulo primeiro que se intitula “De como se descobrio esta provincia & a razão por que se deve chamarse na Brasil”. O segundo capítulo, “Em que se descreve o sitio, demarcação & qualidade da terra desta provincia”, quando comparado com o segundo da edição princeps, “Em que se descreve o Sitio e Qualidade desta Província”, faz-nos perceber uma diferença que julgamos importante, e que se refere ao léxico “demarcação”.

Segundo Hue, tal vocábulo aparece em um longo trecho presente no manuscrito e não incluído na edição princeps de 1576, pois se mostrava, como dissemos anteriormente, matéria não adequada a um livro impresso. Por outro lado, na versão impressa não temos, como indica o novo título, as informações relativas à demarcação das fronteiras que talvez fosse matéria litigiosa entre as duas coroas ibéricas. Ainda segundo a estudiosa, seria por parte do “autor” uma inteligente alteração, tendo em vista a aprovação do livro pela censura do paço. Como é notório, através da comparação das duas versões, a longa e detalhada demarcação da província do manuscrito escorialense dá lugar a uma sumária, na versão impressa de 1576. Segundo Hue, quando aprontou o texto destinado ao prelo, Gandavo retirou o trecho que não era conveniente divulgar e que era de conhecimento da Coroa espanhola.

Mais adiante, no terceiro capítulo, Gandavo mostra-nos as capitanias e povoações de portugueses na província a fim de deleitar o destinatário para mostrar a utilidade da imigração na nova terra; portanto, temos, nesse momento, a fusão do gênero deliberativo com o epidítico. No capítulo 4, fala das plantas, mantimentos e frutas que há na província. No

capítulo 5, o tema são os animais e bichos venenosos dela. No sexto capítulo apresenta ao leitor as aves da província; no subsequente, no sétimo capítulo, coloca diante de olhos do destinatário alguns peixes notáveis e versa, inclusive, sobre a baleia e o âmbar que ela solta nas águas da nova terra. No capítulo 8, o autor anuncia o monstro marinho que se matou na capitania de São Vicente em 1561. Já no capítulo 9, Gandavo dá notícia da gente da província, da condição e costumes dela e de como se governa em tempos de paz; no décimo capítulo do manuscrito do Escorial, tal qual uma pintura de retrato, ut pictura, aparecem as guerras que os índios travam entre si e a maneira como tais guerras ocorrem; no décimo primeiro capítulo a tópica é a morte que dão aos cativos e crueldades que fazem com os prisioneiros; no décimo segundo capítulo, o autor espalha a semente plantada pelos padres da Companhia de Jesus na nova terra. Interessante notar que o discurso evangélico transforma o léxico “semente” em tropo de boa germinação lançada à nova terra, ou seja, ao se espalhar uma boa semente em um novo sítio se disseminará no solo uma nova e boa grei, lançada pelo padres da Companhia de Jesus. Como diz posteriormente Bluteau:

Semear. He tirar o lavrador do saco, que traz a tiracollo, hua manchea de trigo, & acompanhando com cada passo, que dá, o movimento de mão, espalhado pela terra(...) Semear hum campo. Frumentum in agro ferere ou feminare. Frumento agro conferere. In agro sementem facere. Todos estes modos de falar são de Columella, com o qual podemos também dizer solo semen comittere, falando geralmente em semear, pois no cap. 8 do livro 2 diz este Autor Quamvis sitienti solo rectemen committitur, quer dizer, por seca que seja a terra, bom he semealla & no cap. 9. diz Qui bene uberem campum in singula jugera tricice quinque & ado octo modis obserere praecipiunt.462

Importante acentuar a sequência dos capítulos quando comparamos a edição princeps de História da Província de Santa Cruz com o manuscrito escorialense. Nos capítulos primeiro e segundo são inalteráveis suas respectivas disposições. Devido a uma diferença no terceiro capítulo, notamos a partir desse momento algumas distinções quanto a suas ordenações. No manuscrito do Escorial, o capítulo 4 é “Das plantas & fruitas que há nesta provincia”, na edição princeps o capítulo 4 é “Da Governança que os moradores destas Capitanias tem nestas partes e a maneira de como se hão em seu modo de viver”. No manuscrito, o capítulo 5 é “Dos animaes & bichos que há nesta provincia” e na edição

princeps o referido capítulo é “Das Plantas, Mantimentos e Fruitas que ha nesta Provincia”;

no capítulo 6 do manuscrito do escorial temos “Das aves que há nesta provincia” e na edição

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BLUTEAU, R. Vocabulário portuguêz-latino, aulico, anatomico, architetonico..., op. cit., 1728, v. 7, p. 564.

princeps este é o capítulo “Dos Animaes e Bichos Venenosos que ha nesta Provincia”; o

sétimo capítulo do manuscrito escorialense “De alguns peixes notaveis, baleas & ambar que há nestas partes”, por outro lado, na edição princeps este capítulo é “Das Aves que há nesta Provincia”; o capítulo oitavo do manuscrito é o “Do monstro marinho que se matou na capitania de Sam Vicente em 61”, na edição princeps o capítulo oitavo é “De alguns Peixes notaveis, Baléas e Ambar que ha nestas partes”; o capítulo 9 do manuscrito escorialense é “Em que se dá noticia da gente que há nesta provincia, da condição & costume della & de como ser governão na paz”, na edição princeps o nono capítulo é “Do Monstro Marinho que se matou na Capitania de Sam Vicente, Anno 1564”; no manuscrito escorialense o décimo capítulo é “Das guerras que tem hus contra os outros & a maneira de como se hão nellas”, na edição princeps o referido capítulo é “Do Gentio que há nesta Provincia, da Condição e Costumes delle, e de como se governam na Paz”; o capítulo 11 do manuscrito é “Da morte que dão aos captivos & crueldades que usão cõ elles”, já na edição princeps é “Das Guerras que tem huns com outros e a maneira com que se hão nellas”; o capítulo 12 do manuscrito do Escorial “Do fruito que fazem nestas partes os Padres da companhia com sua doutrina”, na edição princepstemos “Da morte que dão aos Cativos e Crueldade que usam com elles”; por último, no manuscrito o capítulo XIII é “Das grandes riquezas que se esperão da terra do sertão”; na edição princeps o referido capítulo é “Do Fruito que fazem nestas partes os Padres da Companhia com sua Doctrina” e, por fim, na edição princeps o 14 e último capítulo é “Das Grandes Riquezas que se esperam da Terra do Sertão”.

A partir da exposição acima, podemos notar que, enquanto o manuscrito do Escorial tem treze capítulos, a edição princeps tem catorze. Tanto uma como a outra iniciam e finalizam a dispositio dos capítulos com os mesmos capítulos, ou seja, ambas estreiam o texto com o capítulo intitulado “De como se descobrio esta provincia, & a razão porque se deve chamar Sancta Cruz & nam Brasil” e encerram-no, ambas, com o capítulo “Das Grandes Riquezas que se esperam da Terra do Sertão”. As únicas diferenças quanto aos títulos capitulares são as seguintes. No manuscrito escorialense o primeiro capítulo apresenta-se da seguinte maneira: “De como se descobrio esta provincia & a razão porque se deve chamar Sancta Cruz e na Brasil” e o último capítulo “Das grandes riquezas que se esperão da terra do sertão”. Após uma análise preliminar da dispositio dos capítulos, ao compararmos a edição

princeps com o manuscrito, ficam-nos algumas perguntas para as quais este trabalho não

encontrou respostas e que podem render uma próxima investigação científica. A saber:

1. O capítulo que existe na edição princeps e que não consta no manuscrito do Escorial poderia indicar pistas sobre as datas de edição na versão princeps? Além disso,

seria possível a partir dessa inserção ou exclusão capitular apontar o que é anterior ou posterior, ou seja, o manuscrito antecede ou precede a edição princeps?

2. Como ficaria a ideia de originalidade, considerando o fato de que teríamos, nesse caso, um manuscrito posterior à primeira edição?

Os primeiros três capítulos tem a mesma dispositio, tanto no manuscrito quanto na edição princeps. O capítulo 4 do manuscrito é o 5 da edição princeps; o capítulo 5 do manuscrito é o 6 da edição princeps; o capítulo 6 do manuscrito é o 7 da edição princeps; o capítulo 7 do manuscrito é o 8 da edição princeps; o capítulo 8 do manuscrito é o 9 da edição

princeps com alteração dos nomes capitulares. No manuscrito assim se encontra: “Cap. VIII.

Do monstro marinho que se matou na capitania de Sam Vicente no ano de 61”. Na primeira edição: “Cap. IX. Do Monstro Marinho que se matou na Capitania de Sam Vicente, Anno 1564”. Ao comparar ambas as didascálias, notamos claramente que, enquanto uma traz o ano de 1564, a outra registra o ano de 61. Estaríamos aqui diante de um “erro” de copista ou a mudança das datas atende a uma prerrogativa inerente mais ao consilium do que ao thema? Infelizmente, em nossos estudos não conseguimos levantar dados para responder a esta indagação.

No manuscrito escorialense, o capítulo 9 “Em que se dá noticia da gente que ha nesta provincia, da condição & costume della & de como se governão na paz” aparece no capítulo 10 da edição princeps como “Do Gentio que há nesta Provincia, da Condição e Costumes delle, e de como se governam na Paz”, portanto notamos algumas variantes capitulares nas didascálias. Por exemplo, o título do capítulo 9 do manuscrito “Em que se da notícia da gente...” é mudado na edição princeps por “Do Gentio que ha nesta Provincia”, ou seja, notamos a elisão da expressão “em que se dá notícia” na edição princeps.

Vejamos agora como Bluteau trata o léxico:

Noticia. Conhecimento, ou cousa que vem ao conhecimento. Ha muitas castas de noticias. Humas são certas, & evidentes, como he a sciencia; outras são duvidosas, & escuras, como he a opinião, a conjectura, a sospeita; outras firmes, mas escuras, como a Fé; outras firmes, & clarissimas, como he a luz da glória. Tambem ha noticias naturaes, como he a inteligencia; outras adquiridas, como he a metaphyisica, outras infusas, como são todas as revelaçõens; a estas acrescenta o moral as noticias celestes, terrestres, profanas, ou mundanas, politicas, diabolicas. Noticia. Conhecer. Cognitio, onis. Fem. Cic.Ter noticia de hua cousa. Habere notitiam alicujus rei. Quintil. Tomar noticia de huma cousa. Alicujus rei notitiam quaerere, ou comparare. Dar a alguém noticia de huma cousa. Alicujus rei notitiam alicui aperire, Cic. ou dare. Ovid. Alicujus rei notitia aliquem instruere Quintil.463

463

Por qual motivo o termo foi elidido? Em nossa hipótese, tanto o léxico “demarcação” quanto a expressão “dar notícias” atendem ao mesmo pressuposto, ou seja, a elisão de determinados léxicos está relacionada, talvez, a uma questão política em relação às linhas demarcatórias das novas possessões territoriais ultramarinas que a Coroa não pretenderia ver divulgadas, como já apontou Hue. Por outro lado, caso tomemos o manuscrito como posterior à primeira edição, não teríamos um caso de elisão, mas sim de inserção.

A partir de um olhar mais atento, notamos que o capítulo que consta na edição

princeps e que não se inclui no manuscrito é o capítulo 4, “Da Governança que os moradores

destas Capitanias tem nestas partes e a maneira de como se hão em seu modo de viver”, da edição principal. A divisão da forma de governo da província do Brasil se deu a partir de 1572 – provavelmente no governo de D. Luiz de Brito e Almeida (1573-1578) e Antônio de Salema – e a preparação definitiva da versão em questão não pode ter-se dado antes deste ano e “em 1575 já estaria pronta a segunda e definitiva redação da História, pois desse ano datam as licenças do Santo Ofício, que aparecem no verso da folha”464

. Dessa forma, procuramos enfeixar como datas aproximadas tanto para o manuscrito quanto para a primeira edição um intervalo temporal que oscila entre 1573 e 1578. Justamente nessa última data é que se efetua a divisão político-administrativa do governo do Brasil em duas sedes administrativas, tendo em D. Luiz de Brito e Almeida o responsável pela administração das capitanias do Norte do país, com sede em Porto Seguro, e sendo Antônio de Salema administrador das capitanias do sul do país, com sede administrativa no Espírito Santo.

Nossa hipótese, como dissemos acima, é que o referido capítulo fora elidido do manuscrito devido a questões políticas, tal qual afirma Hue465 em relação ao segundo capítulo que versa sobre o léxico “demarcação”. Julgamos que ambos os casos ocorrem devido a interesses políticos da Coroa de não querer que determinados aspectos demarcatórios e de governança fossem do conhecimento geral; enquanto o segundo capítulo mostra de forma patente os limites territoriais das capitanias e seus referidos donatários, o capítulo 4 mostra- nos que o Brasil possui dois centros governamentais. Julgamos que ambos os casos seriam estratégicos para a Coroa, ou seja, elidir ou inserir capítulos ou léxicos que gerassem notícias sobre a província do Brasil poderia ser um aspecto da mais alta relevância no tocante a

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PEREIRA FILHO apud GÂNDAVO, Pêro de Magalhães de. Tratado da Província do Brasil [Tractado da província..., op. cit., p. 36.

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noticiar as terras continentais da província de Santa Cruz. Portanto, concluímos em ambos os casos que uma alteração capitular interfere na dispositio das obras; logo, temos aí um caso de alteração de consilium, pois uma questão política exterior à obra interfere em sua disposição interna.

Nos textos de Gandavo – História da Província de Santa Cruz, manuscrito do Escorial, Tratado da Província do Brasil e Tratado da Terra do Brasil – estabelecem-se as tópicas das matérias tendo como fio condutor – o ductus – a exposição dos assuntos em ordem natural – ordo naturalis – que já se fazem presentes na invenção – inventio – do discurso que estrutura o thema, articulando-o com seu consilium e vice-versa, ou seja, as matérias tratadas são “produzidas” a partir de uma determinada intenção pouco desviante, por isso defendemos a hipótese de que no texto gandaviano o ductus é simples.

Segundo Emmanuel Pereira Filho466, o livro Tratado da Costa do Brasil teria passado talvez por duas fases nitidamente definidas e bem caracterizadas, desenvolvidas através de quatro redações sucessivas diferentes. O crítico diz que Gandavo, em retorno a Portugal após uma passagem pelo Brasil, reúne o material coletado e o ordena, vestindo-o com uma redação que, apesar de clara e incisiva, revela-se apressada. Além disso, dedica o texto à rainha-avó, D. Catarina, sob o título de Tratado da Província do Brasil. Afirma ainda o estudioso que essa não era a obra “sonhada” por Gandavo. Segundo Pereira Filho, a insatisfação que era marca típica de Gandavo é patente em seu texto:

Quisera tractar mais meudamente das particularidades desta provincia do Brasil, mas q satisfezesse a todos com brevidade guardeime de ser comprido, posto que os louvores da terra pedissem outro livro mais copioso e de maior volume onde se comprehedessem por extenço as exçellençias e diversidades das cousas q ha nella pera Remedio e proveito dos homes q la fore viver.467

Afirma Emmanuel Pereira Filho que, pouco tempo depois, Gandavo retoma esse “primitivo” texto, repassa-o do fim ao cabo e acrescenta-lhe um capítulo novo à segunda parte e também muda-lhe a dedicatória. Nesse momento, o texto é dedicado ao Cardeal Infante e Gandavo dá-lhe o título de Tratado da Terra do Brasil, fazendo surgir a redação mais conhecida através das duas edições impressas.

Segundo o crítico, a insatisfação de Gandavo continuava e o autor deliberou reelaborar

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GANDAVO, Pero de Magalhães de. “Introdução: Um texto Inédito”. In: ______. Tratado da Província do Brasil [Tractado da província..., op. cit., pp. 10-49.