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Dois são os manuscritos da História da Província de Sãcta Cruz de Pero de

Magalhães. A seguinte descrição de um deles, que está na Biblioteca do Mosteiro do Escorial,

foi adquirida de uma carta endereçada ao criador da referida biblioteca, Visconde de Juromenha146. Conseguida através da cortesia da referida biblioteca, Stetson afirma possuir

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SILVA, Innocencio, op. cit, 1862, p. 430. 144

HORCH, Rosemarie. Anais da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Divisão de Publicações e Divulgação, 1967, pp. 29-32.

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SILVA, Innocencio, op. cit, 1862, p. 430. 146

uma autêntica fotocópia do título do livro e algumas páginas do texto e, de algum modo, o que nelas consta difere da descrição publicada por Juromenha.

O manuscrito de Magalhães de Gandavo é um volume em fólio 4, escrito em papel muito claro, dotado de caligrafia do final do século XVI. O título é adornado com um esboço à mão e pintado em cores, assim são também alguns dos títulos que iniciam os capítulos e suas referidas didascálias.

Segundo Stetson, no manuscrito, no final do capítulo 8 que se intitula “Acerca do Monstro Marinho que se matou na Capitania de Sam Vicente no ano de 61”, há um desenho de um monstro. Encontramos na cópia atribuída à primeira edição no capítulo 9 o título “Do Monstro Marinho que se matou na capitania de Sam Vicente no anno de 1564”. Em uma análise preliminar, notamos duas diferenças: Stetson afirma que o capítulo é o oitavo, no manuscrito; por outro lado, verificamos na primeira edição que se refere ao capítulo nono; o outro contraste é em relação à data. Stetson atribui o ano de 1561 ao manuscrito e na primeira edição consta o ano de 1564.

Afirma ainda Stetson que na folha 12 do manuscrito, ou seja, no final do primeiro capítulo que se denomina “De como se descobrio esta provincia & a razão porque se deve chamar Santa Cruz e nã Brasil” há um mapa da Província de Sãcta Cruz comumente chamada Brasil. Não sabemos por qual motivo o mapa aparece acoplado ao texto tampouco por quem foi composto, ou seja, quem foi o autor da cópia.

No começo do manuscrito, o poema de Camões aparece sob a rubrica “Soneto do mesmo Autor ao Sñor Dom Lionis sobre a vitoria que ele obteve no reino de Achem em Malaca”. Por outro lado, esta informação não consta na cópia atribuída à primeira edição.

O manuscrito consiste de 81 folhas e algumas começam e terminam com espaço em branco. A capa está com título queimado pelo fogo apesar de os escritos não terem sido alterados. No alto dos tercetos (parte superior) segue “Ao muito ilustríssimo Sñor Dom Lionis Pereira relativo ao livro que lhe é ofertado por Pero de Magalhães”. A cópia atribuída à primeira edição possui 48 páginas.

Segundo Innocencio147, o segundo manuscrito encontrava-se no Convento de Jesus e foi reimpresso em Lisboa em 1858. Segundo Stetson148, todos os vestígios vigentes acerca desse ms foram perdidos.

Cf. VISCONDE de Juromenha, op. cit., v. 1, p. 305. 147

SILVA, Innocencio, op. cit, 1862. 148

1.1.1 Impressão das cópias da primeira edição

A) Cópia de Sunderland, Quaritch, Church e Huntington:

Esta cópia é a mais conhecida e está em ótimo estado de preservação. Existem alguns leves rasgos abaixo das margens no final da terceira página, mas não prejudicam a leitura do texto. O texto é claro e enrugado. Para Stetson149, caso existam cópias dessa impressão, sem dúvida, estaria mais próxima do “original”. No ato de separação da sociedade da Sunderland Library de Londres, em dezembro de 1881, a primeira edição de História da Província de

Sãcta Cruz foi negociada em leilão por 43 libras. A cópia de Quaritch, descrita em detalhe no

catálogo geral, foi avaliada em 100 libras. Stetson não precisa se Mr. E. D. Church adquiriu o livro por de Quaritch ou se foi direto das mãos de Nenry Stevens. De qualquer maneira, tornou-se a primeira “peça” escolhida e escrita no catálogo de seus livros. Quando, em 1911, Mr. Henry Huntington comprou toda a coleção, a cópia passou para suas mãos e, segundo o estudioso inglês, agora a História da Província de Sãcta Cruz faz parte da Huntington Memorial Library de San Gabriel, na Califórnia.

B) Cópia de Christie-Miller e Stetson

Stetson afirma que há uma coleção privada sob a rubrica de Christie-Miller, contudo, não dá muitas informações acerca da cópia de Gandavo e dados de compra e venda dos manuscritos.

C) Cópia de Barbosa Machado, rei João VI e da Biblioteca Nacional

A cópia da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro é encadernada em marroquim e tem o título Notícias Históricas e Militares da América: comprehendendo do anno de 1576 –

1757. Está em esplêndido estado de conservação, mas pouco ornado. Segundo Stetson150, das

oito cópias conhecidas, esta é a mais interessante de todas dadas as informações nela contidas. Afirma o estudioso inglês que Diogo Barbosa Machado trouxe essa cópia consigo anexando-a a uma importantíssima coleção de livros.

Na coleção havia cem panfletos e opúsculos avulsos, posteriormente encadernados. Após a destruição da livraria do rei de Portugal pelo terremoto de 1755, Barbosa Machado

149

STETSON JR., op. cit. 150

ofereceu sua coleção ao rei D. José, que aceitou o presente e instalou a coleção em seu palácio. Lá permaneceu até D. João VI decidir transferir a corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1807, segundo Stetson, e levou a biblioteca inteira consigo ao Brasil. Após a instauração da República, a biblioteca do rei torna-se o núcleo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

1.1.2 A impressão das cópias da segunda edição

A) Cópia de Henry Stevens e John Carter Brown.

Esta é uma linda cópia encadernada integralmente com azul marroquim com bordas douradas. Não existem reparos. Foi negociada por Henry Stevens da American Book, negociante em Londres, que a vendeu ao Mr. John Carter Brown de Providence, Rhode Island, na década de 1850. Hoje constitui uma parte da coleção de John Carter da Brown Library.

B) Cópia de Greenville e British Museum.

Esta cópia, como a de John Carter Brown, é elegantemente encadernada em marroquim azul. No catálogo de T. Thorpe, datado de 1830, item 2288, há a seguinte nota: “Acredita-se que apenas uma outra cópia deste volume muito curioso e extremamente interessante está na Grã-Bretanha, que foi comprada por 27 libras esterlinas e está agora na coleção de Hon. T. Greenville.”

C) Cópia de Ternaux, Compans-Lenox e da New York Public Library

Este volume é encadernado totalmente com azul marroquim em forma de elmo. Aparece o nome Ternaux esculpido em ouro de cada lada do livro. O título do livro é reforçado e a última folha é corrigida em alguns lugares já desgastados pelo uso. Existem vários outros menores reparos nas margens, mas o texto no geral mantém um bom estado de apresentação. Embora o estado de conservação desta cópia não se iguale às outras, seu interesse é grande. A cópia de Henri-Ternaux foi usada para se elaborar a versão do texto de Gandavo em língua francesa em 1887. Stetson151 acredita que esta cópia veio das mãos de Mr. Stevens em Londres, que, cônscio da rivalidade entre Mr. Lenox e Mr. Brown, sentiu como dever enviar uma cópia para a França. Mr. Lenox posteriormente cedeu sua coleção de livros

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para a New York Public Library, em Nova York.

D) Cópia da Bodleian Library

Cedida pelo secretário da livraria, Mr. Gibson, Stetson152 constata que a encadernação desta cópia foi elaborada em estilo francês do século XVII, ou seja, em pele de bezerro; a capa do livro é ornamentada em ouro com margem vermelha. O estado de conservação da cópia é bom, sem reparo, contendo notas nas margens do antigo manuscrito. Parte das notas foram corrigidas e emendadas. Este volume é provavelmente o primeiro publicado por T. Thorpe em seu catálogo de 1830 (item 2288) e negociado com preço de libras esterlinas. Embora sem descrição, a encadernação mostra que a cópia da Bodleian Library foi adquirida em 1843 e há uma anotação feita à lápis anotando o valor de “15 guineas”, valor este que possivelmente indicaria que as duas cópias eram idênticas. Stetson supõe que a cópia da Bodleian Library estava no Colégio do Jesuíta em Paris. Há no título da obra em notas marginais o nome do proprietário: Lancelot Voisin de la Poppelinière.

E) Cópia de Biblioteca Nacional de Lisboa

Segundo o diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa, o livro é encadernado em pele de carneiro verde ornamentada em ouro. A capa é moderna e o livro foi reparado; a cópia “original” não é conhecida. De acordo com Feliz Ferreira153

, essa cópia foi adquirida pela Livraria Nacional de Lisboa por volta de 1865.