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O texto que tomamos é um apógrafo454 conservado na Biblioteca do Mosteiro do Escorial, na Espanha, sob o registro b-IV-28, uma cópia do século XVI. O ano de sua entrada na biblioteca do Real Mosteiro do Escorial é de 1575, aproximadamente. Ao referir-se a essa cópia, Stetson Jr.455 inicia sua exposição argumentativa sobre o manuscrito a partir da leitura de uma carta redigida por uma bibliotecária endereçada ao visconde de Juromenha456:

Quanto ao manuscrito de Magalhães de Gandavo, é um volume em quarto, escrito sobre papel numa grafia muito boa do final do século XVI; a página de rosto é adornada com um desenho em pena e tinta pintado em cores, como são também algumas das letras capitulares nos inícios de capítulos, os quais contêm os títulos dos capítulos. No final do capítulo oito […], há um desenho do monstro. Junto ao fólio 12, um mapa da província de sãcta Cruz vulgarmente chamada Brasil. Não há outras indicações a respeito de onde veio o manuscrito, nem para quem ele foi escrito, nem se ele é cópia do autor.457

452

PEREIRA FILHO apud GÂNDAVO, Pêro de Magalhães de. Tratado da Província do Brasil [Tractado da província, op. cit., p. 20

453

Ibidem. 454

HUE apud GÂNDAVO, Pero de Magalhães de. A primeira história do Brasil, op. cit.; PEREIRA FILHO apud GÂNDAVO, Pêro de Magalhães de. Tratado da Província do Brasil [Tractado da província..., op. cit. 455

STETSON JR., op. cit., pp. 48-49. 456

VISCONDE de Juromenha, op. cit., v. 1. 457

“As for the MS. Of Magalhães de Gandavo, it is a volume in 4to, written on paper in a very good clear hand of the end of the XVI century, the titlhe page adorned with a sketch in a pen and ink painted in colours, as are also some of the headpieces at the beginnings of chapters, which contain the chapter headings. At the end of chapter VIII […] there is a design of the monster. On f. 12 there is a map of the province of sãcta Cruz commonly called Brazil. There are no other in indications as to where the MS. Came from, nor for whom it was written, nor whether it is the author´s copy”. STETSON JR., op. cit., pp. 48-49.

O texto é composto por oitenta e um fólios, sendo que os de número 45 e 81 são registrados apenas em recto; os outros, em recto e verso. Sobre sua datação, Pereira Filho afirma que:

a primeira redação da História […] não pode ultrapassar de muito a faixa 1572/1573, dado que nela não figura ainda o capítulo referente á divisão da Governança Geral do Brasil. Mesmo que se admita um certo retardo em o Autor tomar conhecimento do fato, não pode ele ter sido muito prolongado, pois Gandavo estava em Portugal e pesquisava com cuidado os fatos que acêrca do Brasil queria narrar. Além do que, de 1573 para 1574 devia estar cuidando de suas Regras de Ortografia, que já aparecem impressas neste último ano […].458

Como já dissemos anteriormente, Capistrano de Abreu julga que a obra História da

Província de Sãcta Cruz foi redigida entre 1572 e 1573, pois o autor outorga a Duarte Coelho

de Albuquerque e Vasco Fernandes Coutinho a titularidade de donatários das capitanias de Pernambuco e Espírito Santo, respectivamente. Em realidade, o primeiro deixa de ser dela titular em 1572 devido a seu regresso a Portugal e o segundo faleceu em fevereiro de 1571459. Baseado em nota marginal do manuscrito do tratado existente na Biblioteca Municipal do Porto, onde se lê que em 1587 o número de engenhos de açúcar é de sessenta, talvez o opúsculo tenha sido redigido aproximadamente em 1570. É improvável que ele tenha sido escrito após essa data, visto que, posteriormente, a rainha D. Catarina toma a decisão de ausentar-se definitivamente em Castela. A partir de uma nova disposição – dispositio – o manuscrito escorialense se organiza em treze capítulos e, ao contrário dos tratados anteriores – Tratado da Província do Brasil e Tratado da Terra do Brasil –, não se organiza em duas seções em que se trata das coisas gerais e das coisas específicas da terra:

[Tercetos de Luis de Camões a D. Lionis, sobre o livro]

[Soneto de Luís de Camões a D. Lionis, sobre a vitória em Malaca] [Folha de rosto]

[Dedicatória]

Prologo ao lector

458

PEREIRA FILHO apud GÂNDAVO, Pêro de Magalhães de. Tratado da Província do Brasil [Tractado da província..., op. cit., p. 36.

459

Capitulo primero de como se descobrio esta provincia, e a razão por que se deve chamar Sancta Cruz, e nã Brasil

Cap. ij. Em que se descreue o sitio, demarcação, e qualidades desta provincia Cap.iij. das capitanias e pouoaçoes de Portugueses que ha nesta provincia Cap.iiij. das plantas, mãtimentos e fruitas que ha nesta provincia

Cap v. dos animaes e bichos venenosos que ha nesta prouincia Cap vj. das aves que ha nesta prouincia

Cap. vij. e alg~us peixes notaueis, baleas e ambar que ha nestas partes

Cap viij. do monstro marinho que se matou na capitania de Sam Vicente no año de 61

Cap. ix. em que se dá noticia da gente que ha nesta provincia, da condiçaõ e costumes della, e de como se governaõ na paz.

Cap. x. das guerras que tem h~us contra os outros, e a maneira de como se haõ nellas

Cap xi. da morte que daõ aos captiuos e crueldades que vsãõ cõ elles

Cap xii.do fruito ~q fazerm nestas partes os Padres da companhia com sua doctrina Cap. xiij. Das grandes riquezas que se esperão da terra do sertaõ

O manuscrito escorialense nos é apresentado a partir dos tercetos de Camões; a dedicatória é direcionada a D. Leonis Pereira, a quem também Camões oferece um soneto fazendo referência à vitória em Málaca do dignatário que lá foi governador-geral; além disso, notamos no manuscrito a inserção do primeiro capítulo para tratar da descoberta e nome da província; o segundo é reservado à descrição, demarcação e a qualidades da província; tratamento de aves e peixes em capítulos específicos; destinação de um dos capítulos para narrar a morte de um monstro marinho e a inserção de um capítulo para enaltecer os feitos dos padres da Companhia de Jesus.