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A história do IFE no Brasil: entendendo a sua importância

CAPITULO 2: ATENA, A DEUSA DA SABEDORIA

2.1 Inglês para Fins Específicos (IFE)

2.1.1 A história do IFE no Brasil: entendendo a sua importância

Segundo Dudley-Evans e St. John (1998), o ensino instrumental de língua estrangeira remonta aos Impérios Romano e Grego, quando se precisava aprender a língua dos povos dominados, mas tornou-se uma atividade inovadora e muito significativa, por exemplo dentro do ensino de Inglês como língua estrangeira, ou segunda língua, a partir dos anos 1960. Inicialmente, o IFE foi marcadamente dominado pelo Inglês para Fins Acadêmicos, enquanto que o Inglês para Fins Ocupacionais significou uma parcela menor, não menos importante, no entanto. Recentemente, com o crescimento das relações internacionais e da globalização, o Inglês para Fins de Negócios cresceu sobremaneira.

Embora o ensino de IFE tenha sido associado, na maioria das vezes, a professores expatriados britânicos, americanos e australianos, Dudley-Evans e St. John (1998) acreditam que professores locais, não nativos, por conhecerem melhor a sua própria situação, a motivação e o estilo de aprendizagem dos seus alunos, têm uma vantagem maior sobre professores nativos falantes de inglês. Provavelmente devido a esse fato, o ensino de IFE tem sido eficaz e bem-sucedido em países que falam outra língua diferente do inglês. Um desses casos de sucesso é o Brasil, segundo esses mesmos autores.

Desde o final da década de 1970, o programa de IFE vem se desenvolvendo no Brasil, inicialmente através do professor visitante Maurice Broughton, do British Council, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada (LAEL) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Esse professor havia tido uma experiência muito bem-sucedida com IFE na Tailândia. Apoiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), Maurice Broughton, juntamente com a professora Maria Antonieta Alba Celani, diretora do LAEL e depois coordenadora do que viria a ser conhecido como “o Projeto” (ao qual

assim nos referiremos doravante) visitaram inicialmente 20 universidades desde a região sul até a região norte do país (CELANI; HOLMES; RAMOS; SCOTT, 1988; CELANI et al, 2005; CELANI; FREIRE; RAMOS, 20094). O objetivo dessas visitas era identificar os interesses pelo programa e as necessidades relacionadas ao ensino de IFE.

Depois da realização de quatro seminários em 1979 em quatro capitais do país sobre IFE, a receptividade foi enorme e, devido ao alto interesse demonstrado pelas universidades visitadas, o passo seguinte foi uma proposta de auxílio feita ao British Council, e que foi concedido durante quatro anos (1980 a 1984). Além do apoio financeiro, o Programa contou com a participação de três especialistas britânicos que vieram morar no Brasil nesse período: Anthony F. Deyes, John L. Holmes e Michael R. Scott. A CAPES e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) também contribuíram parcialmente com o projeto com recursos financeiros. Com o crescente interesse das universidades e a adesão das escolas técnicas federais, o British Council estendeu o seu auxílio por mais cinco anos (1985 a 1989).

No ano da chegada dos especialistas (1980) do British Council, foi realizado o primeiro seminário nacional, quando foram tomadas algumas decisões, tais como a não produção de um material didático único (os professores deveriam produzir o material de acordo com as necessidades), a garantia da diversidade cultural, a plena autonomia das universidades para escolherem seus coordenadores e professores, o desenvolvimento de uma metodologia própria para o ensino de leitura (RAMOS, 2005) e a realização de uma autoavaliação em algum momento (o que foi feito no ano de 1986, envolvendo as universidades que faziam parte do Projeto). Essas medidas garantiram a sustentabilidade do projeto (CELANI: HOLMES, 2006 apud CELANI; FREIRE; RAMOS, 2009).

O Centro de Pesquisa, Recursos e Informação em Linguagem (CEPRIL), ligado ao Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL), foi fundado em 1983 para ser sede do Projeto Ensino de Inglês Instrumental em Universidades Brasileiras. Nessa fase do Projeto ainda houve a

4 As universidades visitadas foram nas seguintes localidades (CELANI; HOLMES; RAMOS; SCOTT, 1988, p. 23): Alagoas, Amazonas, Bahia, Brasília, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Londrina, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, São Paulo, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Santa Maria, Uberlândia e Viçosa.

criação de publicações específicas de IFE, como o periódico The ESPecialist, produzido até hoje, o único sobre o tema no país, que publica pesquisas e relatos de experiências na área e que está disponível no sítio do LAEL, assim como os Working Papers produzidos pelos especialistas do British Council e por outros colaboradores locais do Projeto na época. Os Working Papers tinham como objetivo servir como um “cardápio” do que seria discutido nos seminários ministrados nas universidades alvo do projeto, a fim de formar os professores que dele participavam (CELANI; FREIRE; RAMOS, 2009). Também se encontram disponíveis no mesmo sítio os Resource Packages, que visavam fornecer aos interessados amostras ilustrativas dos princípios ensinados nos seminários.

Quando o Projeto terminou, o British Council ainda continuou contribuindo com a vinda de especialistas e doação de livros para o LAEL por aproximadamente uma década. Com o fim do patrocínio, o Projeto foi transformado no Programa Nacional de Ensino de Línguas para Fins Instrumentais e está ativo até hoje, envolvendo português, alemão, francês, espanhol e inglês (CELANI; FREIRE; RAMOS, 2009).

A definição de IFE, segundo Hutchinson e Waters (1987), por exemplo, é de que é o ensino da língua inglesa baseado nas necessidades de um público específico. Teríamos, então, IFE para homens e mulheres de negócios (VIAN JR, 1999), inglês para os que trabalham na rede hoteleira (SARMENTO, 2012), Inglês para os controladores de voo, taxistas, garçons e outros públicos específicos com suas necessidades específicas. Cada um desses grupos citados possui necessidades diferentes das de leitura, por exemplo, e igualmente frequentariam um curso de IFE, seja para desenvolver a oralidade, ou a habilidade de ouvir e entender, ou ainda a de escrever, isto é, existe uma modalidade de IFE para cada público e suas necessidades.

Dentro das universidades, ainda hoje, existe realmente a necessidade de se ler textos acadêmicos na língua inglesa, visto que muitas publicações nas várias áreas da academia não estão traduzidas para o português. No entanto, dependendo da área e curso, pode haver necessidades diferentes das de leitura. Tomemos por exemplo o curso de Turismo, que obviamente possui necessidades além das de leitura de textos relacionados ao turismo, como por exemplo, comunicar-se oralmente com os turistas estrangeiros (SARMENTO, 2012). Os alunos do Curso de Relações Internacionais, além de precisarem ler textos na língua inglesa, também

necessitam escrever textos nessa língua, bem como falar e entender inglês, por exemplo, assim como diversas outras áreas do conhecimento.

Como se pode observar pelas definições de vários autores da área, o IFE vai muito além do que “ensinar a ler textos em inglês”. O que aconteceu, aqui no Brasil, para que ainda hoje se tenha essa concepção parcial a respeito de IFE foi que, por causa de uma identificação de necessidades daquele momento (anos 1980), os envolvidos no Projeto continuaram trabalhando com o fim de suprir essas necessidades sem se dar conta de que estariam gerando uma interpretação inadequada do que seja IFE. Com o Português Instrumental, do mesmo Projeto, isso não aconteceu, já que se deu ênfase também à escrita nos vários gêneros textuais (CELANI; FREIRE; RAMOS, 2009).

Como afirma Celani (2009), o resultado mais feliz do Projeto foi “despertar a percepção de que a língua em si não é o objeto da aprendizagem, mas sim o produto da atuação recíproca entre o aprendiz e o ‘mundo grande’ e comum” e conclui o pensamento, dizendo: “Fazer com que os outros vejam sentido na aprendizagem de línguas para quaisquer fins, específicos ou gerais, é o que todos aqueles que ensinam línguas para fins específicos almejam” (CELANI, 2009, p 25).

Como se pode concluir pela exposição anterior, as necessidades com relação à língua inglesa variam conforme o público e, com ele, a modalidade de IFE adequada para suprir essas necessidades. Deriva daí a questão essencial para um curso ou disciplina de IFE: para cada público com necessidades específicas haverá um projeto de curso adequado a essas necessidades, bem como um material didático específico para esse público, assim como uma metodologia também específica.

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