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CAPÍTULO 3: CLIO, A MUSA DA HISTÓRIA

3.4 O contexto da pesquisa

É notório no meio acadêmico e profissional de ensino da língua inglesa o fato de que muitos professores têm opiniões negativas a respeito do ensino de IFE, mais especificamente o ensino da disciplina de Inglês Instrumental para leitura de textos na língua inglesa, muitas vezes considerando-o com não sendo “inglês de verdade” pelo fato de ser ministrado na língua materna e não na língua inglesa (RAMOS, 2005). Alguns desses professores com esse tipo de opinião nunca, ou poucas vezes, ensinaram esta disciplina. Dos que o fizeram, ou fazem, alguns ainda continuam considerando essa abordagem como inferior ao IG, aquele normalmente ensinado em escolas de línguas e nos cursos de Letras com habilitação em inglês, mas que, devido às demandas das instituições em que trabalham, acabam tendo que ministrar essa disciplina mesmo sem ter o conhecimento ou afinidade com ela.

Considerando o que foi exposto na fundamentação teórica a respeito de IFE, sua história no mundo, mais especificamente no Brasil, e no contexto de nossa pesquisa no nordeste brasileiro (SARMENTO, 2012), o fato de que eu mesma tenho ministrado esta disciplina desde 2005 no nível superior e desde 1995 em outros níveis, questionei-me a respeito das opiniões sobre a disciplina de Inglês Instrumental dos professores universitários.

Como eu já havia percebido, através de conversas no dia a dia, que alguns de meus colegas não tinham recebido nenhum tipo de formação na graduação, ou pós-graduação, a respeito de IFE, comecei a me questionar se esse fato não teria alguma influência em suas opiniões a respeito da disciplina Inglês Instrumental, especificamente os colegas do ensino superior, por ser este o meu contexto de trabalho desde 2005. Também me questionei sobre que tipo de opinião outros

professores, com quem nunca havia conversado a respeito desse tema, teriam sobre essa abordagem.

Embora eu mesma, igualmente, jamais tivesse recebido nenhum tipo de formação a respeito de IFE na minha graduação, em 1995 comecei a ministrar essa abordagem no Ensino Fundamental II, simplesmente seguindo o que o material didático e o plano de ensino das escolas onde eu trabalhava sugeria, de acordo com os PCNs (1998a, 1998b, 1999) - Parâmetros Curriculares Nacionais - referência para os Ensinos Fundamental e Médio de todo o país.

Em 1995, tornei-me sócia-proprietária de uma escola de línguas de pequeno porte em Natal. Começamos a receber alunos desejando serem preparados para os exames de proficiência de mestrado e doutorado. Foi então que comecei a estudar por conta própria a respeito das estratégias de leitura na língua inglesa, baseando- me em Grellet (1981), Nuttal (1982), Alderson e Urquhart (1984), autores usados em muitos livros didáticos disponíveis no mercado, porém nunca tinha atentado para outros teóricos com outras abordagens ou mesmo para autores sobre a história do IFE, já que eu estava afastada da academia desde 1985, quando me graduei, e os professores, meus colegas de ensino médio ou mesmo de outras escolas de inglês, nem sequer mencionavam o tema Inglês Instrumental. Continuei ensinando IFE aos que se interessavam e consegui um relativo sucesso com meus alunos.

Finalmente, quando eu tive minha primeira experiência no nível superior como professora substituta na UFRN, percebi que essa disciplina era atribuída aos professores substitutos quase sempre e que pouquíssimos professores efetivos a ministravam. Foi só então que me dei conta de que havia um certo preconceito com relação a Inglês Instrumental e até mesmo com relação aos professores que se dedicavam a ministrá-lo, considerados ‘relegados a apenas ministrar Inglês Instrumental’. Nada mais longe da verdade, por dois motivos: para se ministrar eficazmente essa disciplina no nível superior, há de se ter conhecimento e experiência, além disso, existem professores, eu inclusive, que ministram tanto IG quanto Inglês Instrumental e possuem experiência em ambas as abordagens, portanto não se justifica o preconceito a respeito desses profissionais de inglês, muito pelo contrário. Comprovam também este fato autores como Celani (2002), Ramos (2005, 2008) e Sarmento (2012) dentre outros.

Foi durante o mestrado, que coincidiu com minha primeira experiência docente no nível superior, na UFRN, que eu percebi que carecia de uma formação

teórica a respeito dessa abordagem, inicialmente com relação às estratégias de leitura usadas na disciplina. Senti falta de um aporte teórico que embasasse minha pesquisa sobre grupos nominais (MILANEZ, 2009) e sobre as estratégias que os alunos de uma turma de Inglês Instrumental do curso de Ecologia usavam para interpretar esses grupos de palavras. Nessa ocasião, entrei em contato, pela primeira vez, mas que não seria a última, com textos da professora Maria Antonieta Alba Celani, da PUC-SP e outros autores sobre IFE. O objeto de estudo de minha dissertação de mestrado é parte de uma das estratégias ascendentes de Inglês Instrumental, os grupos nominais. Depois de me aprofundar no tema, devido a minha pesquisa de mestrado, fiquei mais interessada ainda sobre IFE e decidi continuar com esse tema na minha pesquisa de doutorado.

Durante o meu doutoramento, tive uma disciplina específica sobre IFE, pela primeira vez na minha vida acadêmica, que muito me esclareceu sobre minha falta de conhecimento teórico a respeito dessa abordagem e mesmo sobre a definição de IFE, que vai além do inglês somente para leitura de textos, como eu pensava e muitos ainda pensam se tratar, e sobre como eu ainda estava longe de ser uma ‘especialista’ no assunto, apesar da minha longa experiência ensinando Inglês Instrumental. Nesse ponto, já havíamos definido que eu queria trabalhar com os sentidos construídos pelos professores do nível superior de Inglês Instrumental a respeito dessa disciplina, porque eu queria saber quais eram seus sentimentos, concepções e imagens acerca de Inglês Instrumental, que tipo de formação esses professores tinham recebido e que tipo de conhecimento (Prático Pessoal ou Profissional) usavam para ensinar a disciplina de Inglês Instrumental no nível superior.

Por essas razões, decidi que os participantes da minha pesquisa seriam alguns dos meus colegas de pós-graduação, que também foram ou são professores de nível superior de IFE, na UFRN, bem como aqueles com quem já tinha trabalhado mais de perto anteriormente na instituição ou com quem eu ainda estava trabalhando e outros que só conhecia de nome ou de vista, mas que por intermédio de outros colegas soube que ministravam essa disciplina na UFRN.

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