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A HISTÓRIA E O CARÁCTER EVOLUTIVO

No documento Habitar sem ver (páginas 158-162)

A HISTÓRIA E O CARÁTEREVOLUTIVO

A ideia de casa data das comunidades primitivas, nos primórdios da história, embora esta seja denominada de forma diferente nessa altura. Inicialmente, estas comunidades procuravam abrigar-se de todas as condições climáticas em locais naturais, como são exemplo disso as cavernas ou as grutas, a fim de encontrarem a segurança e o mínimo conforto para a sobrevivência. Apesar

disso, com a consecutiva necessidade de se fixarem num determinado local, viram-se obrigadas a desenvolverem os seus próprios abrigos. Estes seriam construídos com materiais oferecidos pelas suas próprias regiões, sendo eles todos de carácter natural. Inicialmente, eram pensados de forma a responderem não só às condições ambientais em que se inseriam, como também tendo em conta as funções e as atividades que os utilizadores executavam (FREIRE,

2014). Apesar disso, Vitruvio defende a ideia de que a primeira casa resultava

do uso do fogo. Ou seja, o fogo era utilizado como proteção relativamente aos animais tal como elemento natural de aquecimento, tendo em conta as condições climáticas exteriores. Deste modo, o fogo fazia parte de todas as construções que foram sendo desenvolvidas (MIGUEL, 2002).

Como consequência dos vários acontecimentos anteriores, o termo casa começa a ser corretamente utilizado no decorrer do Império Romano. Este termo ocupa um papel bastante importante pois, para além de constituir o sinónimo da caverna, gruta ou cabana, continua a simbolizar o lugar de abrigo e refúgio familiar (MIGUEL, 2002).

Ao longo dos anos, tanto o desenho como a organização interna da casa foram sofrendo várias alterações de carácter evolutivo. Neste sentido, importa salientar algumas das principais mudanças ocorridas no processo projetual, a fim de contextualizar a importância que o homem foi adquirindo para o ato de habitar.

A noção de abrigo herdada desde as comunidades primitivas, estava no séc. XIV, ainda bastante vincada. A casa era concebida essencialmente com o objetivo de ser o abrigo do homem, sendo que era nela que toda a vida doméstica do indivíduo se desenvolvia, sobrepondo os dois conceitos fundamentais no seu dia a dia, habitar e trabalhar.

anteriormente, pois todo o mobiliário que constituía a casa era móvel. Ou seja, a delimitação de áreas privadas e públicas não existia, e deste modo, tanto o quarto como a casa de banho não continham qualquer privacidade. O mobiliário que constituíam ambos os espaços mudava de sítio consoante as necessidades do utilizador, e desse modo, não ocupavam um sítio específico na casa, tornando na maioria das vezes a intimidade um ato público. As máximas que mais tarde delineavam as habitações contemporâneas, a intimidade/ privacidade e o conforto, não ocupavam qualquer importância no séc. XIV

(MOREIRA, 2013).

Os séculos que sucedem o anteriormente referenciado, foram marcados por grandes evoluções, nomeadamente na organização dos espaços interiores da casa, resultantes de uma consciencialização relativa ao carácter familiar e ao seu conceito. Neste sentido, é no séc. XVII que é marcada a delimitação dos espaços correspondentes à cozinha e ao quarto, período em que são introduzidos os conceitos de intimidade e privacidade no espaço habitacional, os quais se devem ao facto da família adquirir nesta altura um maior grau de importância a nível social (MOREIRA, 2013).

O espaço doméstico e a sua consecutiva compartimentação, ganhou uma grande importância após a Reforma da Igreja, nomeadamente no decorrer do Concílio de Trento (1545-1563), que vem declarar que a família compõe uma unidade fundamental para a vida social e privada. Assim, no séc. XVIII e XIX,

“a família e as suas necessidades, usos e costumes passam a ser o elemento definidor do espaço doméstico” (MOREIRA, 2013, p. 20), colocando em prática todas

as noções de intimidade/privacidade e conforto, que vêm definir a habitação da atualidade.

No decorrer da história, verificaram-se vários avanços que definem o habitar atual, nomeadamente a delimitação da casa de banho como uma divisão privada e íntima do espaço doméstico. Para além disso, e tendo em conta o

conceito familiar e a sua evolução ao longo dos anos (número do agregado familiar), os estudiosos sentiram-se obrigados a solucionar este problema sem terem de aumentar as dimensões da habitação. Assim, no séc. XIX, vários estudiosos norte-americanos de modo a diminuir a ocupação das áreas do espaço doméstico, embutiram os armários nas paredes e desenvolveram a casa de banho como uma só divisão, o que até então não se verificava.

Pela importância que a casa adquiriu e tem vindo a adquirir para o homem, a partir do séc. XX os arquitetos focam-se na projeção de áreas habitacionais. Os indivíduos adquirem assim um elemento fulcral para a projeção do ambiente doméstico, sendo que este deve respeitar as suas formas de habitar, tal como responder às suas necessidades culturais (MOREIRA, 2013).

Todas as alterações que foram abordadas, embora de forma bastante generalizada, fizeram parte do processo evolutivo da habitação, a fim de se verificar, atualmente, um espaço doméstico compreendido entre a funcionalidade, a intimidade/privacidade e o conforto. A organização espacial depreende-se entre a esfera diária e a esfera noturna. Deste modo, “os

compartimentos se articulam e associam de modo convencional (cozinha – sala, quarto – casa de banho, cozinha – zona de refeições)” e por outro lado “as divisões são elas próprias bastantes regulares em termos de forma (mais ou menos um rectângulo).” (CRUZ, 2006, p. 238).

Nuno Portas (1968), defende a importância da participação do utilizador no futuro da habitação, no processo projetual, a fim de serem espelhados os comportamentos deste no próprio espaço, pois este deverá ser pensado à sua imagem. A casa deve estar intimamente ligada com o indivíduo, fazendo parte da sua identidade como pessoa, que o possibilita apropriar-se ao espaço

(RAMALHO, 2013).

e que no seu interior se localize a chamada casa, caraterizada como um invólucro protetor e o ambiente construído no sítio onde a habitação é inserida. Todavia, o lar apenas existe aquando a ocupação da casa por aqueles a quem esta se destina. O lar engloba todas as vivências familiares a que a casa assiste (MIGUEL, 2002).

“O lar é uma expressão da personalidade do morador e de seus padrões de vida únicos.” (PALLASMAA, 2017, p. 16).

O VERBO HABITAR - O CAMINHAR PARA UMA HABITAÇÃO

No documento Habitar sem ver (páginas 158-162)