• Nenhum resultado encontrado

A IMPLANTAÇÃO DOS CONSELHOS TUTELARES EM SANTA CATARINA

4 A APROXIMAÇÃO COM OS CONSELHOS TUTELARES MEDIADA PELA

4.1 A IMPLANTAÇÃO DOS CONSELHOS TUTELARES EM SANTA CATARINA

Santa Catarina, um dos Estados da região sul do Brasil, compõe-se de 293 municípios, distribuídos numa área de 95.703.487 km². Conforme o último Censo, sua população totalizou 6.248.436 habitantes, dos quais 83,98% estão na área urbana, sendo que a sua densidade demográfica é de 65,29. E 30,52% da sua população situa-se na faixa entre 0 e 19 anos (IBGE, 2010a), como demonstrado na Tabela 4:

TABELA 4 – DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO DE SANTA CATARINA POR FAIXA ETÁRIA E SEXO

Faixa etária Masculino Feminino - 1 ano 41.376 40.232 1 a 4 anos 165.559 158.578 5 a 9 anos 222.981 213.804 10 a 14 anos 264.941 254.842 15 a 19 anos 276.177 269.009 Total 971.034 936.465

Fonte: IBGE (2010a). Elaborado pela autora.

A maioria dos municípios catarinenses é de pequeno porte, com população inferior a 20 mil habitantes, conforme pode ser verificado na Tabela 5:

TABELA 5 – DISTRIBUIÇÃO DOS MUNICÍPIOS DE SANTA CATARINA POR POPULAÇÃO

Nº. de habitantes Nº. de municípios

Até 20.000 232

De 20.001 até 50.000 34

De 50.001 até 100.000 15

De 100.001 até 900.000 12

Total 293

Fonte: IBGE (2010a). Elaborado pela autora.

A partir da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, independentemente do porte dos municípios, a instalação dos Conselhos Tutelares e a adequação do atendimento às crianças e aos adolescentes aos seus dispositivos colocaram-se como uma obrigatoriedade aos gestores municipais. Entretanto, em Santa Catarina a implantação dos mecanismos previstos pelo Estatuto não resultou apenas da mobilização da comunidade ou da iniciativa dos gestores municipais ou dos legisladores. Segundo Gomes Neto (2004) deu-se, em parte, por força do Inquérito Civil 001/95, o qual gerou a ampliação dos Conselhos de Direitos de 161 para 231 e dos Conselhos Tutelares de 103 para 142 no período entre agosto de 1995 e dezembro de 1996.

Em 1998, quase uma década após a aprovação do Estatuto, como resultado do Termo de Ajuste de Conduta estabelecido com os municípios, os dados indicavam que dos 293 municípios catarinenses 271 (92,49%) possuíam Conselhos de Direitos, 252 (86%) tinham instalado os Conselhos Tutelares e apenas 180 (61,43%) tinham criado os Fundos para a Infância (GOMES NETO, 2004).

Em 2009, na véspera de completar duas décadas de vigência do Estatuto, as informações da pesquisa Perfil dos Municípios Brasileiros (IBGE, 2010b) indicam a existência de Conselhos Tutelares em todos os municípios catarinenses, mas também apontam que os Conselhos de Direitos estão instalados em 277 (94,53%) municípios e os Fundos para a Infância em apenas 223 (76,10%). A criação, a manutenção e o funcionamento destes três mecanismos são obrigatórios segundo o Estatuto e, considerando, ainda, que o Conselho de Direitos é responsável por coordenar o processo de escolha do Conselho Tutelar, esta discrepância entre o

número de conselhos instalados indica que outros arranjos têm sido empreendidos nos municípios para que tal processo ocorra. Por outro lado, os Conselhos de Direitos foram citados pelos conselheiros tutelares, durante os seminários e reuniões, como pouco assertivos e com baixa capacidade de exercer controle social sobre as políticas públicas com vistas à proteção integral de crianças e adolescentes, como veremos adiante.

De acordo com o artigo 132 do Estatuto, cada município deve ter, no mínimo, um Conselho Tutelar. Posteriormente, o CONANDA (2001) recomendou a instalação de um Conselho para cada 200 mil habitantes ou em densidade populacional inferior naqueles organizados por regiões administrativas, ou cuja extensão territorial indicasse a necessidade. Em 2010, a recomendação aprovada pelo CONANDA reduziu a proporção sugerindo um Conselho para cada 100 mil habitantes, fundamentando-se na diversidade dos municípios brasileiros no tocante à densidade populacional, extensão territorial e aos indicadores sociais.

Em Santa Catarina os quatro municípios com maior população possuem mais de um Conselho Tutelar. Em Joinville, na maior cidade do Estado, há 515.250 habitantes e dois Conselhos Tutelares; em Florianópolis, a capital, a população é de 412.203 habitantes para três Conselhos, um deles no Continente e dois na Ilha; em Blumenau, cuja população é de 309.214 habitantes, estão instalados dois Conselhos, assim como em São José, na região metropolitana de Florianópolis, com 210.513 habitantes. Considerando a atual orientação do CONANDA, alguns municípios, assim como outros quatro que estão com população entre 150 e 200 mil habitantes teriam que ampliar o número de Conselhos, mas esta discussão não foi contemplada durante as atividades de capacitação da ACCT. Do que foi possível constatar, os conselheiros catarinenses compartilham a posição de 81% dos conselheiros pesquisados em âmbito nacional, os quais manifestam que não há necessidade de aumentar o número de Conselhos Tutelares, ao contrário de 19%

que são favoráveis à ampliação (CEATS/FIA, 2007). Evidência corroborada pelo reconhecimento dos conselheiros tutelares de que a insuficiência de programas de políticas públicas destinados ao cumprimento das medidas aplicadas constitui o maior obstáculo ao seu desempenho (CEATS/FIA, 2007). Fato que também

apontamos como um dos elementos condicionantes e limitadores da efetivação da finalidade dos Conselhos, a defesa de direitos de crianças e adolescentes.

Como o Estado possui apenas 12 municípios com mais de 100 mil habitantes, dentre eles apenas quatro ultrapassaram a faixa dos 200 mil, a ampliação do número de Conselhos não tem sido prioridade. Ao contrário, um dos achados de nossa pesquisa foi a existência de Conselhos com número de conselheiros inferior ao previsto, justificado pela baixa densidade populacional e, por conseguinte, pela ausência de demanda para ocupar cinco conselheiros.

Neste sentido, o fato de todos os municípios catarinenses terem os Conselhos Tutelares instalados não significa que estejam em pleno funcionamento ou em conformidade com o disposto no Estatuto. Por outro lado, há um aspecto sobre o qual não encontramos debate e que trata da igual composição dos Conselhos para todos os municípios, independentemente do seu porte.

Em Santa Catarina, 36,86% dos municípios possuem população inferior a 5 mil habitantes, dentre esses, 12 contam com menos de 2 mil habitantes. Não localizamos estudos que versam sobre as demandas para os Conselhos instalados nestes contextos, nem argumentos na literatura para a fixação do número de conselheiros, mas verificamos que os municípios têm procurado construir arranjos que acreditam responder as suas necessidades, à revelia do Estatuto, conforme será aprofundado adiante.