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3 MARCO LEGAL BRASILEIRO SOBRE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS

3.5 A IMPORTÂNCIA DAS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS E SUA ADEQUADA

Se as IGs são institutos importantes, da mesma forma é sua correta proteção. Muitos são os países que têm disposições disciplinando e protegendo as IGs, assegurando aos produtores legítimos vantagens de mercado e aos consumidores a correta identificação da origem dos produtos que estão adquirindo e, por lógica, o fato de não estarem sendo induzidos a erro.

O reconhecimento de uma IG em determinado território/espaço estimula os produtores e prestadores de serviços ali localizados, pois a distinção da IG dá aos seus produtos uma referência especial, além de estímulos no que tange à melhoria da qualidade e dos investimentos em tecnologia, o que poderá gerar agregação de valor econômico ao produto e crescimento da região, além de valorizar a origem e as características locais (PORTO, 2007).

Outro ponto que deve ser mencionado é o aspecto cultural envolvido nas IGs, ou seja, pelo instituto das IGs é possível a valorização e proteção de práticas antigas que vêm sendo repetidas e a transmissão do conhecimento passada de geração em geração pelos membros daquela localidade reconhecida (GONÇALVES, 2007).

Para o consumidor de produtos com o atributo da IG, a importância está situada no campo da segurança que o produto oferece, garantindo características descritas no Regulamento de Uso, únicas e inerentes para as DOs, por exemplo. Afinal, saber a origem dos produtos consumidos e o que eles contêm, a forma e do que são feitos, é muito importante para a saúde. Pagar mais caro por um produto de qualidade superior passou a ser uma opção (PORTO, 2007).

Quanto ao uso indevido da IG, isso se configura nos casos em que os produtos informam ser provindos de uma determinada região geográfica, mas, na verdade, não o são. Isso é uma informação enganosa. O consumidor pensa que está comprando um determinado produto e, na verdade, está comprando outro.

Porto afirma que

a compra pelo consumidor do falso produto faz com que o consumidor perca a confiança no produto e naquela IG, e, consequentemente, perde-se a reputação da indicação e o produto seu valor econômico agregado. Isso põe em risco a existência do próprio instituto. (2007, p. 83).

Uma situação diferente, mas também enganosa, é quando um produtor se aproveita de uma IG, porém não detém as condições para tanto, como no seguinte exemplo.

Um produtor A que mora na região X, tem um produto diferenciado, resultado de uma qualidade elevada. Ele participa de uma associação e busca retorno econômico. Para alcançar isso, fez investimentos em toda cadeia produtiva, inclusive para obter o registro da IG. O produtor B, morador de uma região diferente ou da mesma região, não possui reconhecimento do seu produto e pode (ou não) ter investido para alcançar reconhecimento e qualidade para seu produto. Porém, no momento de rotular o produto, ele indica que a origem da produção foi na região do produtor A, ou seja, ele está tentando se aproveitar da boa reputação que o lugar e o produto do seu vizinho possuem, e isso constitui crime de concorrência desleal. O produtor devidamente qualificado para um produto com IG, provavelmente, venderá por um valor maior, mas perderá mercado para o aproveitador, que, por não ter investido no produto, teoricamente, terá custos menores e poderá também vendê-lo por valores menores (PORTO, 2007).

O exemplo demonstra que a proteção é muito importante para todos os envolvidos com o produto, tanto para quem produz e depende dessa atividade, como para quem compra o produto e espera encontrar ali a qualidade embutida. O registro não exclui a possibilidade de que ocorram crimes como o do exemplo mencionado, mas dá subsídios para ir contra esse tipo de atitude e proibir o uso indevido de indicações.

3.5.1 O Caso da Indicação Geográfica Cachaça

O caso da definição das palavras cachaça, Brasil e cachaça do Brasil como indicações geográficas é específico. Diferentemente das demais IGs brasileiras,

essa obteve reconhecimento pelo Decreto 4.06235, de 21 de dezembro 2001, que a tornou IG, mesmo que o vocábulo cachaça não seja um nome geográfico. Identifica- se que, mesmo sob a égide da Lei 9.279/1996 e de procedimentos previsto pela Resolução 75/2000 do INPI, o governo optou por definir como IGs nacionais as palavras Cachaça, Brasil e Cachaça do Brasil por meio de decreto. Gonçalves lembra que

trata-se de uma medida política de salvaguarda para evitar que a indicação geográfica cachaça seja utilizada como marca no mercado internacional. O mesmo tipo de procedimento foi antes adotado pelo governo do México ao constituir a tequila como denominação de origem. (2007, p. 209).

A proteção do termo cachaça ocorreu à luz do art. 22, do TRIPS, que permite que um produto seja protegido como originário do território de um membro, quando determinada qualidade, reputação ou característica seja atribuída à origem geográfica do produto, ou seja, o termo tem conotação geográfica e passa a se vincular ao território brasileiro (GONÇALVES, 2007).

O tema titularidade foi abordado no “decreto da Cachaça” da mesma forma que na Lei 9.279/1996. O decreto definiu a titularidade do uso aos produtores estabelecidos no país e a aprovação do Regulamento de Uso das IGs pela Câmara de Comércio Exterior de acordo com critérios do MDIC e do MAPA. Para Porto (2007, p. 78), a IG da cachaça foi “reconhecida por decreto, pela urgência contextual de se preservar este patrimônio cultural, que encontrou barreiras intransponíveis no ato normativo do INPI”. No entender de Giunchetti,

cabe ressaltar que o Decreto foi uma solução precária para resolver imediatamente o problema das exportações brasileiras da bebida. O procedimento mais adequado teria sido a alteração da Lei de Propriedade Industrial, incluindo nela, em consonância com o Acordo sobre os Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio, a possibilidade de registro de termos que não sejam necessariamente o nome do local de origem do produto, no rol dos termos passíveis de proteção. (2006, p. 406).

Assim, o ideal seria que nossa LPI fosse totalmente harmônica com os demais acordos. Outra opção seria a possibilidade de fazer uso de expressões conhecidas para identificar um produto quando a expressão estivesse associada a uma região geográfica. Se fosse possível utilizar também expressões e não somente (e obrigatoriamente) o nome geográfico do local, se abririam mais possibilidades.

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Além disso, como fica o caso de um nome geográfico que já tenha uma IP, por exemplo? Não poderia a região, em tese, pleitear uma DO, pois como seria nomeada? Ou como elas conviveriam com o mesmo nome? A intenção do decreto certamente foi boa e necessária para aquela situação, mas a forma de proteção não foi aquela determinada em lei no Brasil.