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4 ACORDOS MULTILATERAIS SOBRE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS

4.7 MERCADO COMUM DO SUL

O Mercosul foi criado em 26 de março de 1991 com a assinatura do Tratado de Assunção (Paraguai), constituindo-se uma união aduaneira com o objetivo de formação de um mercado comum entre seus membros. Os formadores do bloco econômico foram a Argentina, o Brasil, o Uruguai e o Paraguai, recebendo a adesão posterior da Venezuela, da Bolívia, do Chile, da Colômbia, do Equador e do Peru como Estados Associados. Em 2013, o México está presente como Estado observador75.

O Conselho do Mercosul aprovou, em 1995, o Protocolo de Harmonização de Normas sobre Propriedade Intelectual no Mercosul76, contendo regulações sobre marcas, IPs e DOs. Segundo Gonçalves (2007), esse protocolo objetiva a proteção dos direitos intelectuais. O art. 19, do Protocolo de Harmonização, traz os conceitos de IP e DO, que são exatamente iguais aos da Lei 9.279/1996 do Brasil:

Art. 19, § 2: Considera-se indicação de procedência o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que seja conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.

Art. 19, § 3: Considera-se denominação de origem o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produtos ou serviços cujas qualidades ou características devam-se exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais ou humanos.

Porém, conforme informação na página oficial do Mercosul77, o protocolo foi ratificado somente pelo Uruguai e Paraguai, por isso, o protocolo em pauta, especificamente, não produz efeitos no Brasil que ainda não o ratificou (LOCATELLI, 2007). Tratando-se de um Protocolo de Harmonização, cabe aos países legislar internamente sobre seus meios de proteção. Da mesma forma que a nossa lei, o protocolo somente conceitua as espécies IP e DO, que são parte do gênero IG, e menciona que os Estados se comprometem a proteger reciprocamente suas IPs e DOs. Como afirma Gonçalves (2007, p.128), referindo-se ao art.20 “a única proteção concreta prescrita no Protocolo é a proibição do registro de nomes geográficos de indicações de procedência e das denominações de origem como marca”.

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Informações disponíveis em: <http://www.mercosur.int/home.jsp?contentid=7&seccion=1> . Acesso em: 24 dez. de 2012.

76

Disponível em: <http://www.mercosur.int/msweb/Normas/Tratado%20e%20Protocolos/Dec_008_095_Prot% 20Harm%20Norm%20Intelect%20Proc%20Denom%20Origem_Ata%201_.pdf >. Acesso em: 23 dez. 2012.

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Disponível: <http://www.mercosur.int/t_ligaenmarco.jsp?contentid=4823&site=1&channel=secretaria>. Acesso em: 24 de abr. 2013.

No âmbito do Mercosul, além do Protocolo de Harmonização, há também o Regulamento Vitivinícola que disciplina as regras para circulação dos produtos vitivinícolas entre os Estados. No Brasil, o regulamento foi firmado por meio da Resolução do Grupo Mercado Comum (GMC), n. 45, de 21 de julho de 1996, que foi modificada pela Resolução 103/1996 do GMC, e pela Resolução 12/2002 do GMC78. O GMC é o órgão executivo do Mercosul. Nos termos de Teruchkin,

Em 1996, foi acordado o Regulamento Vitivinícola do Mercosul, que tem por objetivo harmonizar as legislações e as condições de circulação dos produtos vitivinícolas entre os Estados-parte e dos produtos provenientes de outras regiões ou países que ingressem em qualquer um dos países- membros, baseado nos princípios da Organização Internacional da Uva e do Vinho. As legislações vitivinícolas de cada país mantêm sua plena vigência dentro dos mesmos, de modo a preservar sua identidade vitivinícola no marco do Mercosul. (2004. p. 110).

O Capítulo VII do Regulamento Vitivinícola do Mercosul79 trata das Denominações de Origem Reconhecidas e das Indicações Geográficas Reconhecidas, assim definidas:

7.2. – Denominação de Origem Reconhecida é o nome de país, da região ou do lugar utilizado para designar um produto originário deste país, desta região, deste lugar ou da área definida para este fim sob este nome, e reconhecido pelas autoridades competentes do respectivo país.

7.2.1. – No que se refere aos vinhos e destilados de origem vitivinícola, a Denominação de Origem Reconhecida designa um produto cuja qualidade ou característica são devidas exclusivamente ou essencialmente ao meio geográfico, compreendendo os fatores naturais e os fatores humanos e está subordinado à colheita da uva bem como à transformação no país, na região, no lugar ou área definida.

7.3. – Indicação Geográfica Reconhecida é o nome de um país, da região ou do lugar utilizado para designar um produto originário deste país, desta região, deste lugar ou da área definida para este fim sob este nome, e reconhecido pelas autoridades competentes do respectivo país.

7.3.1. – No que se refere aos vinhos, o reconhecimento deste nome está ligado a uma qualidade e/ou uma característica do produto, atribuída ao meio geográfico, compreendendo os fatores naturais e os fatores humanos e está subordinado à colheita da uva no país, na região, no lugar ou na área definida.

Segundo Bruch (2011, p. 136) “o primeiro problema que se encontra é a discrepância entre a nomenclatura utilizada no Protocolo de Harmonização (DO e IP) e a dessa Resolução (DOR e IGR)80”. O que foi internalizado pelo Brasil do

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Legislações disponíveis em: <http://www.mercosur.int/t_generic.jsp?contentid=527&site=1&channel=secretaria >. Acesso em: 24 abr. 2013.

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Disponível em português em: <http://www.uvibra.com.br/legislacao.htm>. Acesso em: 24 abr. 2013.

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Regulamento Vitivinícola, é mais rigoroso do que o Protocolo de Harmonização, mesmo mantendo os conceitos iguais em nossa lei. O Regulamento se aproxima mais da regulamentação da Comunidade Europeia (BRUCH, 2011). Pode-se mencionar, ainda, que as regras utilizadas pelo Regulamento Vitivinícola do Mercosul estão em harmonia com a Resolução de Madri, que era a referência conceitual e legal na época (FALCADE, 2005).

O regulamento não propõe a IG como gênero, traz diretamente o conceito de IG, que exige que uma qualidade ou característica do produto seja atribuída ao meio geográfico e não exige notoriedade; enquanto o conceito de DO, exige que as características do produto se devam exclusivamente ao meio geográfico, considerando os fatores naturais e humanos.

Outro ponto do Regulamento Vitivinícola do Mercosul e que não consta na Lei 9.279/1996 é a exigência de que as uvas sejam colhidos na área geográfica para as IGs e, para as Dos, todo o processo deve ocorrer na área demarcada. Sobre isso, a LPI brasileira nada menciona, havendo na IN 25/2013 uma indicação nesse sentido. No entanto, de modo mais detalhado, somente os Regulamentos de Uso das IGs, elaborados pelas Associações de Produtores e exigidos pelo INPI, regem essas situações.

Mesmo havendo diferenças entre os marcos regulatórios, fazendo parte de um mesmo bloco econômico, é importante a tentativa de adequar as legislações dos países tanto para a proteção de cada país em si, como para o desenvolvimento de relações comerciais baseadas na lealdade e na boa concorrência.