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4 ACORDOS MULTILATERAIS SOBRE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS

4.8 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DA UVA E DO VINHO

A Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), foi criada em 3 de abril de 2001, substituindo o Ofício Internacional da Vinha e do Vinho, criado em 1924. O Brasil aderiu a OIV em 1995. Quando o ofício se reestruturou em 2001, absorvendo toda a normatização que havia sido criada, inclusive a sigla, os países- membros tiveram que aderir novamente. O Brasil o fez por meio do Decreto 5.863, de 1° de agosto de 200681.

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Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5863.htm>. Acesso em: 22 jun. 2013.

A OIV é uma organização intergovernamental de natureza científica e técnica e de reconhecida competência no campo vitivinícola. Um de seus objetivos é a contribuição para a harmonização internacional das práticas e normas existentes e, também a elaboração de novas normas internacionais, a fim de melhorar as condições de produção e comercialização de produtos derivados da uva e do vinho e para ajudar a garantir que os interesses dos consumidores sejam levados em conta82. Em 2013, a OIV conta com 44 países membros83. Segundo Rocha Filho (2009, p.180) “uma das missões da Organização é a proteção das Denominações de Origem e das Indicações Geográficas”.

A OIV estabeleceu, na reunião de Madrid, em 1992, a Resolução ECO 2/9284, que definiu os dois níveis das Indicações Geográficas: a Denominação de Origem Reconhecida – DOR e a Indicação Geográfica Reconhecida – IGR. Segundo a Resolução de Madrid (OIV, 1992)

Denominação de Origem Reconhecida é o nome do país, da região ou do

lugar utilizado para designar um produto originário deste país, desta região, deste lugar ou da área definida para este fim sob este nome, e reconhecido pelas autoridades competentes do respectivo país. No que se refere aos vinhos ou destilados de origem vitivinícola, a Denominação de Origem Reconhecida designa um produto cuja qualidade e/ou as características são devidas exclusivamente, ou essencialmente, ao meio geográfico, compreendendo os fatores naturais e fatores humanos e está subordinado à colheita da uva, bem como à transformação no país, na região, no lugar ou na área definida.

Indicação Geográfica Reconhecida é o nome do país, da região ou do

lugar utilizado na designação de um produto originário deste país, desta região, deste lugar ou da área definida para esse fim sob esse nome e reconhecido pelas autoridades competentes do respectivo país. No que se refere aos vinhos, o reconhecimento desse nome está unido a uma qualidade e/ou característica do produto atribuídas ao meio geográfico, que compreende os fatores naturais ou os fatores humanos e está subordinado à colheita no país, na região, no lugar ou na área definida. No que se refere às bebidas destiladas de origem vitivinícola, o reconhecimento deste nome está unido a uma qualidade e/ou característica que o produto adquire durante uma fase decisiva de sua produção e subordinada à realização desta fase decisiva no país, na região, no lugar ou na área definida.85

Comparando com a legislação brasileira, uma das diferenças é, novamente, o fato de a nossa lei prever proteção para serviços, o que não ocorre na OIV, já que é específica para vinhos. Outra questão é o nível de exigência entre a DOR e a IGR, sendo que a DOR é mais exigente que a IGR; e, na legislação brasileira, isso não

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Informações disponíveis em: <http://www.oiv.int/oiv/info/enpresentation?lang=en>. Acesso em: 23 jan. 2013.

83

Disponível em: <http://www.oiv.int/oiv/info/enmembresobservateurs>. Acesso em: 14 jul. 2013.

84

Disponível em: <http://www.oiv.int/oiv/info/esindicationgeo#geo>. Acesso em: 14 jun. 2013.

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está expresso, aqui a indicação de procedência e a denominação de origem abrangem requisitos diferentes. Na legislação da OIV, os dois conceitos expressam a relação entre as características intrínsecas do produto com o meio geográfico, que, no Brasil, só é exigido na DO.

Ao aderir à OIV, em 1995, o Brasil adotou as definições propostas pela organização e isso influenciou, junto com a adesão ao acordo TRIPS, no fato do Brasil adotar nova legislação em 1996.

A proteção jurídica das IGs tem gerado benefícios tanto para os produtores como para os consumidores. A importância da proteção das IGs está vinculada a vários aspectos, como, por exemplo: à valorização e permanência da cultura local, à proibição de práticas que possam enganar o consumidor, à rastreabilidade dos produtos e os indicativos do crescimento econômico das regiões produtoras. (TONIETTO, 2006; MARQUES, 2007; FALCADE, 2005; 2011).

A análise do conjunto de acordos e de instituições internacionais que tratam de indicações geográficas evidenciou que, nos últimos 120 anos, a proteção às IGs foi se consolidando. Embora possam ter similitude, as proteções não têm o mesmo nível em todos os países. O aumento da competição dos produtos com IGs reforça a importância da reputação e do quesito qualidade. Sendo assim, as DOs e as IGs devem estar protegidas contra o uso daqueles que tentam se beneficiar indevidamente da sua reputação e notoriedade.

No tocante ao tema da titularidade das IGs percebe-se que as normas internacionais não mencionam especificamente esse aspecto. Na UE não há um titular do direito sobre a IG, pois ela é entendida como um direito público. Na UE o funcionamento ocorre via licenças, ou seja, o produtor que deseja referir a IG no seu vinho se submete ao Caderno de Especificação (nosso Regulamentos de Uso), regulado pelo Poder Público. Tendo sido aprovado, o produtor tem autorização para fazer uso do nome geográfico. No Brasil, a questão da titularidade ainda não é muito clara. Esse assunto será tratado no capítulo específico.

5 COMPARAÇÃO DA LEGISLAÇÃO SOBRE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS