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5 COMPARAÇÃO DA LEGISLAÇÃO SOBRE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS DO

5.1 ANÁLISE COMPARATIVA DA LEGISLAÇÃO GERAL SOBRE INDICAÇÕES

Em Portugal, o setor vitivinícola é tradicional, sendo referência, pois tem uma tradição acumulada ao longo de séculos de trabalho. Vários fatores contribuem para a produção de vinhos de qualidade, como: condições favoráveis de solo, clima e uma gama de variedades de uva com particularidades que alcançaram notoriedade. Há uma política crescente da valorização pela qualidade e o mercado de vinhos tem regramentos específicos, estando em conformidade com os acordos internacionais (ALVES, 2009). Como Portugal integra a UE, em nível comunitário, a proteção das IGs e DOs de produtos vitivinícolas é regulada pelo Regulamento CE 1234/2007, do Conselho, de 22 de outubro de 2007, que estabelece a organização comum dos mercados agrícolas e as disposições específicas para certos produtos agrícolas.

As bebidas espirituosas estão amparadas pelo Regulamento CE 110/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho86, de 15 de janeiro de 2008, que dá proteção às IGs para bebidas espirituosas, além do Regulamento CE 510/2006 que normatiza a proteção das indicações geográficas e denominações de origem para produtos agrícolas e gêneros alimentícios.

86

Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2008:039:0016:0054:PT:PDF>. Acesso em: 08 abr 2013.

Quanto aos regimes internacionais já mencionados, Portugal é signatário de diversos acordos prevendo a defesa das respectivas DOs e IGs, entre os quais destacam-se a CUP, de 1883, o Acordo de Madri, de 1891, o Acordo de Lisboa de 1958, além de outras regulamentações internas87. É importante salientar que, quando um país torna-se membro da UE sua legislação deverá adaptar-se às normas da UE; isto quer dizer que, se um país-membro defere o registro de uma IG, essa está amparada pelo sistema de proteção da UE.

A Argentina tem um lugar importante no contexto mundial do vinho e é também o principal exportador mundial de mosto concentrado88. O processo de crescimento foi acompanhado pela promulgação de leis como a de Denominação de Origem Controlada, Indicações Geográficas e Indicações de Procedência, além do Plano Estratégico Vitivinícola Argentino 202089 e a Constituição da Corporação Vitivinícola Argentina90, uma pessoa jurídica de direito público não estatal, que tem como principal atividade coordenar a implementação e fazer a gestão do Plano Estratégico.

Na Argentina há duas regras que regem a proteção e o reconhecimento das IGs e DOs, uma em relação aos produtos agrícolas em geral e outra referente aos vinhos e bebidas espirituosas. Ambas as leis foram regulamentadas com o objetivo de atender aos padrões mínimos de proteção para esses direitos estabelecidos no acordo TRIPS e no Mercosul, e, desde então, provocaram a emissão de diversas resoluções ministeriais e judiciais.

A análise das IGs de Portugal tem por base o Código de Propriedade Industrial Português91, (CPI – PT), o Decreto-Lei 66 de 16/3/201292, que trata das atribuições do Instituto da Vinha e do Vinho, I.P. e o Decreto-Lei 212, de 23/8/200493, que organiza o setor vitivinícola, disciplinando o reconhecimento e a proteção das respectivas DOs e IGs, o controle, a certificação e a utilização, definindo as regras aplicáveis às entidades certificadoras de produtos vitivinícolas.

87

Dados disponíveis no site: <http://www.wipo.int/wipolex/en/results.jsp?countries=PT&cat_id=5>. Acesso em: 8 mar. 2013.

88

Informação disponível no site do INV:, <http://www.inv.gov.ar/principal.php?ind=1>. Acesso em: 31 maio 2013.

89

Informações disponíveis em: <http://www.inv.gov.ar/pevi.php>. Acesso em: 31 maio 2013.

90

Informações disponíveis em: <http://www.coviar.com.ar/coviar/index.html>. Acesso em: 31 maio 2013.

91

Disponível em: <http://www.marcasepatentes.pt/index.php?section=423>. Acesso em: 28 fev. 2013.

92

Disponível em: <http://www.sg.mamaot.pt >. Acesso em: 29 abr. 2013.

93

Tanto no Brasil como na Argentina e em Portugal, existe a figura do INPI, porém, na Argentina, o mesmo não tem a função de registrar as IGs como no Brasil e em Portugal.

Como já foi analisado, é o INPI que registra as IGs de produtos ou serviços no Brasil, porém não há especificidade de lei para IGs de vinhos, destilados ou produtos agrícolas como em Portugal e na Argentina.

Em Portugal, as regras gerais para registro de produtos estão definidas no Código da Propriedade Industrial e são aplicadas pelo INPI94 de Portugal; no entanto as DOs e IGs para vinhos possuem legislação específica.

Na Argentina, as leis para IGs também seguem dois regimes: um geral para produtos agrícolas e gêneros alimentícios e outro específico para vinhos e bebidas espirituosas, sendo que cada modalidade tem regramentos e órgãos próprios para registro. O Quadro 3 ilustra as modalidades e os órgãos competentes para registro nos três países.

Na Argentina, a Lei 25.380/200195, Lei de Denominação de Origem para produtos agrícolas e gêneros alimentícios, estabelece o marco legal das indicações de proveniência e das denominações de origem dos produtos agrícolas e de gêneros alimentíciosnaturais, embalados e processados96. A lei entrou em vigor em 9 de janeiro de 2001, modificada pela Lei 25.96697, de 17 de novembro de 2004, e regulamentada pelo Decreto 556/200998. Excluem-se do alcance dessa lei os vinhos e bebidas espirituosas de origem vitivinícola, regidos pela Lei 25.163/199999.

De acordo com a Lei 25.380/2001, da Argentina, quem faz sua aplicação é o Ministério da Economia, por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentos100, e a solicitação de registro das IGs é feita ao Registro Nacional de Indicações Geográficas e Denominações de Origem de Produtos Agrícolas e

94

INPI de Portugal: < http://www.marcasepatentes.pt/index.php?section=55>. Acesso em: 31 maio 2013.

95

Disponível em: <http://infoleg.mecon.gov.ar/infolegInternet/anexos/65000-69999/65762/ texact.htm>. Acesso em 22 abr 2013.

96 Conforme “Articulo 1°Las indicaciones geográficas y denominaciones de origen utilizadas para la

comercialización de productos de origen agrícola y alimentarios, en estado natural, acondicionados o

procesados se regirán por la presente ley. Se excluyen a los vinos y a las bebidas espirituosas de origen vínico, las que se regirán por la Ley 25.163 y sus normas complementarias y modificatorias.”

97

Disponível em: <http://www.wipo.int/wipolex/en/details.jsp?id=7036>. Acesso em: 22 abr. 2013.

98

Disponível em: <http://www.wipo.int/wipolex/en/details.jsp?id=7772>. Acesso em: 22 abr. 2013.

99

Disponível em: <http://infoleg.mecon.gov.ar/infolegInternet/anexos/60000-64999/60510/norma.htm>. Acesso em: 22 abr. 2013.

100

Conforme “Artículo 34. La SECRETARIA DE AGRICULTURA, GANADERIA, PESCA Y ALIMENTACIÓN, dependiente del MINISTERIO DE ECONOMIA, será la autoridad de aplicación de la presente ley. Sus funciones serán las de asesoramiento, vigilancia, verificación, control, registro, defensa del sistema de Denominación de Origen y representación ante los organismos internacionales. Actuará como cuerpo técnico administrativo del sistema de designación de la procedencia y/u origen de los productos agrícolas y alimentarios.”

Alimentares. Nesse caso, os produtos com prestígio e reputação, aliados à qualidade e à origem geográfica, com processo de produção, transformação e comercialização regulado, possuem um rigoroso acompanhamento do controle de qualidade e podem obter a distinção oferecida pela lei.

Quadro 3 – Comparação da legislação do Brasil, Portugal e Argentina, quanto as modalidades de registro e órgãos competentes

País Registros de Indicações

Geográficas

Órgão competente para viabilizar o registro

Brasil Para produtos e serviços em geral,

Lei 9.279/1996.

Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI

Portugal*

1) para produtos em geral, regras contidas no Código de Propriedade Industrial Português

Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI

2) Lei específica para vinhos – Decreto-Lei 212/2004.

3) Decreto-Lei 66/2012, aplicação do Instituto da Vinha e do Vinho , I.P.

Ministério da Agricultura,

Desenvolvimento Rural e Pescas através das Entidades Certificadoras.

I.V.V., I.P. – está vinculado ao Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (MAMAOT)

Argentina

1) para produtos agrícolas e

gêneros alimentícios, Lei

25.380/2001

2) Decreto 556/2009

Ministério da Economia, por meio da Secretária de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentos, a solicitação do registro é feita ao Registro Nacional de

Indicações Geográficas e

Denominações de Origem de Produtos Agrícolas e Alimentares.

2) para vinhos e bebidas espirituosas, Lei 25.163/1999, além de suas normas complementares e emendas

Decreto 57/2004

O Instituto Nacional de Vitivinicultura (INV) é o órgão que exerce a aplicação de lei específica para vinhos e bebidas espirituosas

Fonte: Elaboração própria.

* Em consonância com a legislação da UE.

Trata-se aqui da proteção das IGs a qualquer produto de forma breve, no entanto pode-se dizer que a legislação brasileira assemelha-se à legislação de Portugal e da Argentina quanto aos requisitos exigidos, à existência de um

regulamento de uso, à exclusão da proteção dada às denominações que se tornaram genéricas.

No entanto, a legislação de Portugal (de IGs de modo geral) e da Argentina (produtos agrícolas e gêneros alimentícios) são mais amplas, contendo pontos não abordados nem na lei nem na IN brasileira, como, por exemplo, as funções do Conselho das DOs, que, nas IGs de vinhos finos e espumantes do Brasil, é denominado Conselho Regulador.

As normas brasileiras também nada abordam sobre modificações nos registros ou extinção dos registros e, muito embora haja um órgão que coordene todo o processo de registro, não há previsão de um órgão para a fiscalização nem para a penalização. Como o foco deste trabalho está voltado às IGs de vinhos finos e espumantes, dar-se-á ênfase a esta análise.

5.2 ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO SOBRE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS DO