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4.3. Definição de etapas de projeto

4.3.1. A importância do briefing

O programa de necessidades ou briefing, é uma ferramenta básica de apoio à atividade de projeto, visto que nele estarão contidas as informações que delinearão todo o processo de projeto, estará delineado se o projeto é factível, e além disso, o programa de necessidades abre a possibilidade de se avaliar objetivamente o desempenho do projeto em relação a estes "requisitos". A qualidade do briefing depende muito do envolvimento do cliente com o empreendimento, seja ele o usuário final, ou o dono do empreendimento.

O programa de necessidades deve ser levantado de forma criteriosa, para qualquer projeto, independente da dimensão e relevância do projeto (GARCIA MESSEGUER apud GUS, 1996).

A identificação das necessidades a partir do usuário direto requer uma metodologia de abordagem sócio-psicológica pouco comum ao processo de produção de edificações, mas muito utilizada em outra indústrias, quando se procura através de métodos adequados de pesquisa traçar perfis de comportamento, estilo de vida, características de atividades profissionais, lazer, etc. dos usuários; definir de forma detalhada as atividades a serem desenvolvidas na edificação e as relações humanas delas decorrentes, etc. (SILVA, 1995).

Pensando nas necessidades do cliente que vai habitar o imóvel que está se construindo, é possível repensar todo o processo produtivo, racionalizando o sistema e imprimindo qualidade à altura do grau de satisfação que se quer buscar (AREMAC,

1996).

Porém as dificuldades em sua elaboração reside na dificuldade do cliente em se expressar, GARCIA MESSEGUER apud GUS (1996), ressalta que as vezes, o proprietário não sabe exatamente o que quer ou está equivocado com respeito ao que necessita, e em outras vezes as exigências dos proprietários são "contra as leis da física".

Um facilitador da tarefa de priorização e balanceamento dos requisitos desejáveis da edificação, é a sua estruturação, através da classificação em categorias apropriadas. HAUSER apud ANUMBA & EVBUOMWAN (1997), propõe a seguinte classificação: “necessidades básicas”, "necessidades articuladas” e "necessidades instigadas". A figura 4.1. mostra como os requisitos deveriam ser processados.

O briefing deve conter também informações a respeito dos atributos da edificação, que igualmente devem ser estabelecido de forma clara, e priorizados. Parece obvio que é tarefa do arquiteto alcançar a solução formal mais adequada e expressiva, mas o cliente poderia auxiliar na exatidão destes atributos.

Talvez a dificuldade de visualização tridimensional faça com que o cliente não

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possa expressar melhor suas idéias, fazendo que no decorrer do projeto e da obra, ele exija mudanças por enxergar pontos que podem ser melhorados ou erros que podem ser minimizados sob o seu ponto de vista. Segundo GUS (1996), estas constantes alterações nos projetos e a perda de uma necessária coerência inicial, promovida pela concepção do todo, são algumas das causas deste alto custo para os escritórios de projeto.

A Engenharia Concorrente, que será revisada no item 4.3.3.1., fornece um mecanismo formal para garantia de que as exigências do cliente sejam claramente definidas anteriormente quanto a desempenho, qualidade de desenho, valor para o dinheiro e satisfação para o cliente sejam realizáveis. Este dispositivo chama-se QFD -

"Quality Function Deployment

QFD é um sistema para desenhar um produto ou serviço baseado nas demandas dos clientes e no envolvimento de todos os membros da produção ou fornecimento da organização (MADOX et al. apud ANUMBA & EVBUOMWAN, 1997).

Pode-se trabalhar com matrizes que relacionam os atributos do produto às necessidades dos clientes, com classificações de priorização das necessidades, avaliação do impacto do atendimento das necessidades nos custos (BOSSERT; DAY; apud SILVA 1995).

Figura 4.1. - Processamento dos requisitos ( ANUMBA & EVBUOMWAN, 1997)

O envolvimento do cliente em obras de edificação ocorre em distintas etapas do empreendimento, muito bem relatadas por OLIVEIRA & FREITAS (1998): visita ao plantão de vendas, aquisição propriamente dita do imóvel, assistência técnica etc., nos quais podem ser obtidas informações para o banco de dados da organização.

O contato com os clientes internos do processo de desenvolvimento do projeto também é de grande relevância para aquisição de informações, ocorrendo em diversos estágios e com a participação de diferentes profissionais. A forma como estas e outras informações devem ser geridas, é discutida no item 4.4.4, que versa sobre o Gerenciamento da produção de informações.

Existe uma forte tendência de mercado da demanda impor as características desejáveis dos produtos. Não se pode mais construir prédios contando apenas com o repertório dos intervenientes sob pena do negócio-fracassar. Uma das formas de melhor delinear as características da edificação, quando o empreendimento será construído e depois vendido, é utilizar as pesquisas mercadológicas. Estas fornecem diretrizes para compor o empreendimento, além da antecipação de tendências de acordo com a localização do imóvel, faixa de público a que se destina, etc. No caso de projetos que são contratados diretamente pelo usuário final, elas podem complementar requisitos omitidos ou que surgem somente com o decorrer da utilização da edificação.

Como o conteúdo do briefing fornece uma base para o desenvolvimento de um método de avaliação da qualidade do desenho e da documentação e a performance geral do projeto, se esse for precário, além de gerar uma solução de projeto deficiente, a sua avaliação também tende a ser falha. Um claro enunciado dos requisitos de projeto é base para não somente uma solução, mas várias soluções que devem ser avaliadas, e cada avaliação é usada para refinar a solução proposta até que uma resposta aceitável seja alcançada (GUS 1996).