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Diversidade de interpretações a utilização de alvenaria aparente

1.4. Objetivos

2.2.2. Diversidade de interpretações a utilização de alvenaria aparente

Na Europa e nos Estados Unidos, o uso da parede dupla propicia uma maior exploração dos materiais aparentes, visto que a parede interna tem a função estrutural, e algumas vezes recebe as tubulações, deixando a parede externa livre para receber um tratamento estético mais esmerado.

Porém poucos arquitetos fora destas localidades, fazem uso dos materiais aparentes. A cultura da valorização do material estrutural foi esquecida pelos nossos arquitetos após o uso maciço do concreto armado.

Alguns nomes expoentes de nossa arquitetura são favoráveis ao uso do material aparente. BRATKE (1996) por exemplo, afirma não gostar de "maquiar" a construção, dizendo-se adepto ao brutalismo. Este arquiteto em seus projetos objetiva conseguir impacto através da volumetria.

Várias são as características desejáveis nos tijolos e blocos como materiais de vedação e estrutural. Representam a unidade básica no sistema de construção, de tamanho adaptável a mão do homem, pré-fabricado, resistente ao fogo, indissolúvel na maioria dos líquidos, altamente resistente a abrasão e forças de compressão, universalmente disponível, acabado ou inacabado em uma variedade de cores, texturas, e formas. E esta é a excelência da criação latente do trabalho em tijolo: sua natureza polifuncional.

A ótima utilização do tijolo ocorre quando todas estas qualidades são exploradas. O famoso arquiteto Mies Van der Rohe afirmava: "Arquitetura começa

quando dois tijolos são dispostos cuidadosamente juntos" (ANGERER, 1969).

Vários arquitetos modernistas aliaram o uso do concreto armado com o tijolo aparente, entre eles, em um primeiro momento: Wright, Dudok, Mies, Aalto, Saarinen, em um segundo momento Gaudi, Berlage, De Klerk, Bonatz, Fahrenkamp, Hõger, Berenhs e Kanh (ALCOCELLA, 1987).

O arquiteto suíço, Louis Kahn, que teve o reconhecimento internacional de sua obra no início dos anos 50, sempre respeitou a lógica intrínseca de cada sistema construtivo empregado, alegando que este deve ser identificável em uma obra, e ser formulado de acordo com uma tradição construtiva racional.

Com seu amplo repertório de soluções (ver figuras 2.5 e 2.6), demonstrou que as aberturas nas paredes de alvenaria estrutural não representavam problemas, e sim uma solução formal de alta expressividade.

Segundo ALCOCELLA (1987), Louis Kahn afirmava que a abertura lógica em uma parede de tijolo é o arco. Para Kanh, o tijolo deve ser usado como arco, pois resiste a compressão e o concreto como viga, já que resiste à tração (CABRAL, 1992).

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Figura 2.5. - Obras de Louis Kanh: (a) Indian Institute of Management ad Ahmedabad (1963-740, (b) Ospedale Ayub a Dacca (1962-74), (c) Rezidenze dei deputati a Dacca (1962-74),

Figura 2.6. - Ospedale Ayub aDacca (1962-74), (ACOCELLA, 1990).

CABRAL (1992) considera o tijolo um material que estimula a criatividade do projetista, pois possibilita a utilização de geometrias em relevo, a ornamentação decorativa, e permite ao arquiteto tirar partido de sua variação cromática. Além de resistir aos agentes atmosféricos, de modo a não solicitar operações inesperadas de manutenção ou substituição.

O tijolo anteriormente projetado estruturalmente de forma instintiva pode agora funcionar como um elemento sujeito a esforço, em um sistema de construção precisamente criado com uma significativa solicitação. É um material que pode ser potencialmente explorado estruturalmente. Segundo RANDOM HOUSE apud ANGERER (1969) potencial é um "estado de excelência latente o qual pode ou não ser desenvolvido". Esta excelência não depende somente da excelência do tijolo, e sim de forças externas. O nível no qual o potencial é realizado depende do balanço entre as condições que fazem o tijolo estrutural utilizável e as condições as quais o tornam obsoleto.

A qualidade de resistir à compressão da alvenaria pode ser explorada na forma de paredes retangulares, de contrafortes, e no uso de arcos para vencer vãos. A competitividade econômica também influencia a forma das construções. A economia resulta da simplificação logística porque com a facilidade de manuseio e planejamento, há mais coordenação. Simples, universalmente reconhecida, esta técnica de construção pode ajudar no controle dos custos. Mas a grande economia resulta quando paredes, divisões e barreiras especiais e outras necessidades são colocadas para trabalhar, ou seja possuem função estrutural.

MIKLUCHIN (1969) faz uma reflexão poética ao dizer: "o uso do tijolo como

material de construção prim ário possibilita-nos a projetar uma edificação a qual parecerá ter sempre existido e envelhecerá graciosamente."

Assim como o tijolo, os blocos também podem ser utilizados sem revestimento externo. Os blocos cerâmicos, que possuem textura e cor semelhantes ao tijolo, igualmente apresentam um grande potencial de uso aparente.

Os blocos de concreto no Brasil não possuem tradição de serem utilizados de forma aparente, talvez por que muitas fábricas não produzam blocos para serem utilizados sem reboco. A figura 2.7. mostra edificações em blocos de concreto aparente, que fogem das formas prismáticas amplamente utilizadas em nosso país. e a figura 2.8 apresenta detalhes possíveis de serem executados em blocos de concreto; elementos vazados, e elemento decorativo resultante da mudança de disposição do assentamento dos blocos, resultando um efeito visual agradável.

Figura 2.7. - Fábrica em San Luis, Argentina (ZECCHETTO, 1998).

Os blocos de concreto, no Brasil recentemente começaram a ser produzidos com outras cores além do cinza. Esta pigmentação é obtida através do uso de óxido de ferro sintético, o Fe203.

CONCEIÇÃO (1998), aponta como grande vantagem destes blocos em relação ao reboco pintado, o fato de que a pigmentação conferida pelo óxido de ferro tem a mesma durabilidade da obra. Mesmo exposta a intempéries e à poluição, a cor de uma superfície com estes blocos, pode durar até 25 anos, e para reavivá-la basta lava-la.

Além das razões acima colocadas o arquiteto deve esforçar-se na utilização dos componentes da alvenaria aparente, para valorizar e explicitar o sistema construtivo em questão. Alguns exemplos podem ser vistos nas figuras 2.9 a 2.12.