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1.4. Objetivos

2.2.3. Flexibilidade em projetos para alvenaria estrutural

O crescimento da demanda por espaços personalizados é uma realidade dos últimos tempos. BRANDÃO & HEINECK (1998) baseados em estudos da comissão W82 do CIB (Bordeau, 1994)1, afirmam que a individualização e flexibilidade do morar são tendências para os próximos quinze anos .

É necessário que as empresas, incluindo as equipes de projeto preparem-se para conviver com esta grande variabilidade de projetos, principalmente no que se refere à ambientação, e passem a motivar estas alterações antes da construção.

Para isto faz-se necessário que se utilizem formas mais adequadas de representação dos projetos direcionadas às pessoas leigas, assim como campanhas de orientação de forma que as pessoas comecem a se conscientizar dos desperdícios e do aumento dos custos provocadas por modificações tardias (SALDANHA & SOUTO 1998).

O uso da alvenaria estrutural está erroneamente vinculado a edificações destinadas a faixas de clientes com baixo poder aquisitivo e com nenhuma capacidade de proporcionar flexibilidade de uso. Uma das formas de reverter este quadro é mostrar que com a mesma forma de produção do produto final, pode-se chegar a um bom nível de qualidade e de desempenho para diversos padrões destinados a segmentos de mercado diferenciados. LUCINI (1996) chama este processo de produção de Uniformidade Tecnológica e Produtiva.

Este conceito está se consolidando entre médias e grandes empresas construtoras para produtos dirigidos a segmentos diferenciados do mercado, e baseia-se fortemente na racionalização e otimização de técnicas e processos tradicionais, componentes especializados e fundamentalmente na flexibilidade produtiva para absorver as flutuações de mercado e as condições dos financiamentos para produção e consumo.

Esses sistemas e processos devem portanto, atingir altos níveis de racionalização e até industrialização, e também garantir flexibilidade de utilização suficiente para possibilitar a produção em escala, em boa parte do território nacional de edifícios para diversas faixas de mercado LUCINI (1984). Este autor afirma que não se reconhece

1 W82 - Working Comission 82 é a comissão do CIB - Conseil International du Batimant, que se ocupa com estudos sobre o Futuro da Construção e Projetos de Desenvolvimento Sustentável.

como fundamental para a formação de engenheiros e arquitetos, o estudo dos processos de produção do espaço.

Esta habilidade de gerar espaços adequados, e com capacidade de diferenciação de ambientes oriundos de uma mesma matriz de projetos deveria ser muito mais explorada na prática, sem prejuízo das necessidades de construtibilidade, racionalização construtiva e produtividade. A criatividade do arquiteto e sua habilidade geométrica espacial é fundamental para criação de mais de uma opção de planta.

A estratégia de inserir flexibilidade aos projetos residenciais por parte dos incorporadores pode trazer benefícios para o aspecto comercial dos imóveis pela possibilidade de satisfazer uma demanda cada vez mais individualizada (BRANDÃO & HEINECK, 1998). Estes autores afirmam que mesmo os projetos que não são tão flexíveis, podem proporcionar variadas alternativas funcionais.

Colocadas estas considerações sobre os cuidados ao se conceber um espaço, pode-se discorrer por diversos conceitos relativos a transformação dos espaços. A seguir são apresentados os conceitos mais expressivos arrolados por BRANDÃO & HEINECK (1998):

Reversibilidade: É a obtenção de soluções variadas que proporcionam um grande leque ou opções de utilização, cóm um mínimo de modificações construtivas ou até mesmo sem nenhuma modificação.

Flexibilidade: Pode ser descrita como a liberdade de reformular a organização do espaço interno, definido rigidamente por um contorno periférico perimetral. É conceito comum em edifícios comerciais, caracterizando-se, principalmente pelo uso de divisórias não portantes, lajes planas, marginalização da área molhada em relação à seca e utilização de formas geométricas simples (RABENECK et al., (1974). Esta conceituação refere-se à flexibilidade de composição, visto que a flexibilidade ainda pode ser denominada de flexibilidade de uso e de produção. Os autores subdividem esta flexibilidade de composição em três categorias, que se enquadram na flexibilidade de uso:

Flexibilidade permitida: Entendida como uma ampla liberdade de modificação dada ao usuário pela construtora, para personalizar os seus ambientes.

Flexibilidade planejada: É um estudo realizado pelas construtoras, nas quais variantes de projeto são previamente oferecidas para um mesmo apartamento para que o usuário opte.

Flexibilidade de adaptação: Consiste em deixar que o morador, através de modificações construtivas simples, complete o seu ambiente. Nesta situação, a construção define as áreas molhadas e algumas paredes fixas, deixando a definição final por conta do usuário (Albers et al. 1989).

Adaptabilidade: É um critério que visa a descaracterização funcional das peças de uma edificação de forma a dar-lhes alternativas de uso

Agregação de funções É obtida atribuindo-se a um mesmo local várias funções compatíveis ou compatizáveis.

Neutralidade: São definidas peças com nenhuma utilização previamente especificada.

A flexibilidade durante a construção, se mostra importante para encurtar a distância entre o projeto básico inicial e aquilo que realmente o cliente idealiza.

Como a alvenaria estrutural é um sistema composto de alvenarias de vedação e com função estrutural o rearranjo de paredes é muito delicado. As paredes que podem ser removidas são as de vedações. O ideal é que as personalizações sejam feitas a nível de anteprojeto para não comprometer o andamento do processo executivo.

LUCINI (1996) acrescenta que, às limitações espaciais dos sistemas em alvenaria, decorrentes da presença obrigatória das paredes estruturais e de travamento, estão sendo superadas com a introdução de lajes de vãos médios (5 a 6m) a custo reduzido, com o estudo de novas alternativas de cálculo e de organização das paredes estruturais para possibilitar aberturas maiores, e com a simplificação das estruturas de transição entre os pavimento tipo e inferiores liberando os subsolos térreos e mezaninos para outras utilizações diferenciadas como estacionamento, comércios e produção.

Outro modo de evitar interferências no projeto por parte do usuário ou cliente final, é na fase de estudo de viabilidade contar com o apoio de pesquisas mercadológicas (ver Capítulo 4, item 4.3.1), que tracem o perfil do usuário e suas preferências quanto à ocupação do espaço e de avaliações pós-ocupação que,

certamente, resultarão em projetos mais adequados às necessidades dos clientes (SALDANHA & SOUTO, 1998).

As modificações na fase de uso na maioria das vezes não são de simples execução e prática reversibilidade. Em geral envolvem reformas com modificações construtivas e perdas de material.

Com relação a medidas que podem ser tomadas para possibilitar o crescimento vertical das edificações em alvenaria estrutural, FRANCO {et al. 1991) citam a utilização racionalizada de pilotis que possibilitam o uso do processo construtivo em uma faixa maior de empreendimentos.

ANGERER (1969) afirma que, a retirada de paredes partindo-se do térreo em direção ao topo da edificação, permite reduções de cargas gravitacionais, permitindo o aumento dos compartimentos de acordo com o crescimento vertical do prédio. Como

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mostra a figura 2.13.a.. S

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Figura 2.13. - (a) Redução de paredes com o aumento da altura da edificação, (b) Utilização de pilares misulares no térreo.

O mesmo autor em seus estudos sobre a compatibilidade do material e seu potencial estrutural, avança fazendo algumas suposições que poderiam flexibilizar o uso da alvenaria estrutural:

1. A utilização de pilares misulares no térreo das edificações além de criar um grande vão, possibilita o uso de paredes intermediárias entre os eixos de cada pilar. Conforme figura 2 .13.b..

2. Com a utilização de enrijecedores na forma de paredes que alojam aparelhos mecânicos, ou para a passagem de dutos, conforme ilustra a figura 2.13.d., poder-se-ia obter estabilidade com o mínimo de material. 3. A forma circular, representada na figura 2.13.c., é extremamente estável

e é adaptável a muitos tipos de construções, por exemplos: hospitais, moradias, e estacionamentos, e ela é eficiente para aplicações em

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subsolos onde forças horizontais são constantes em todas direções.

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