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A importância do entusiasmo e do receio do insucesso 46

4. Realização da Prática Profissional 27

4.2. Realização do Processo de Ensino 43

4.2.2. A importância do entusiasmo e do receio do insucesso 46

Desde que ingressei no EP tive como propósito evoluir enquanto docente, sendo que, para além da experiência e conhecimento que a lecionação e a partilha de conceções com outros professores me proporcionaram, a observação das aulas de vários professores também constituiu um aspeto importante. A observação das mais variadas aulas de professores possibilitou-me a identificação de estratégias que utilizavam, quer seja no controlo da turma, na organização da aula e dos alunos, como nas situações de aprendizagem e, retirar as estratégias que pensava que poderiam resultar na minha turma, o que algumas vezes não se sucedia, devido a individualidade de cada aluno que compõem as turmas. Como ouvi várias vezes no primeiro ano de mestrado, confirmei a ideia de que no ensino não existe receitas, mas também, percebi que o entusiasmo demonstrado pelo professor na lecionação da aula é uma componente fundamental na criação de ambientes de aprendizagem.

Rosenshine e Furst (1973) mencionam que o entusiasmo do professor é definido como mostrar gosto e interesse pelo exercício da função de docente, assumindo, na relação pedagógica, uma atitude de entrega e empenhamento.

Das várias aulas observadas, identifiquei claramente os professores que demonstravam entusiasmo ao longo da lecionação da aula e, portanto conseguiam transferir essa energia para os seus alunos, afetando

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positivamente o desempenho dos mesmos na própria aula. Doyle (cit. por Rosado e Ferreira (2011) refere que a agenda dos professores representa não só o conjunto das intenções e dos projetos de ação dos professores mas, também, a força e o entusiasmo com que os procuram implementar. Portanto, para Rosado e Ferreira (2011), a convicção e a paixão dos professores, assim como o seu entusiasmo podem constituir uma arma negocial poderosa, já que essa energia pode fazer prevalecer a sua própria agenda, afetando a dos seus alunos. Durante as observações, foram várias as aulas que, na minha perspetiva, estavam bem planeadas e, com situações de aprendizagens desafiantes para os alunos, mas a ausência de entusiasmo e de paixão pela lecionação fez com que os alunos fossem perdendo a motivação e o envolvimento na própria aula.

Com a realização do EP tive a possibilidade de desempenhar a atividade profissional que elegi e, apesar da atitude preventiva que adotei durante o mesmo, sempre procurei que a minha lecionação estivesse diretamente relacionada com sensações bastante positivas, como o entusiasmo. Considero que este tipo de emoções positivas são uma componente fundamental na criação de bons ambientes de aprendizagem. Isto, porque senti claramente que em vários momentos consegui transportar a minha paixão pela lecionação para os meus alunos, tendo como resultado um maior envolvimento dos alunos, situações de aprendizagem mais dinâmicas, menos comportamentos desviantes e, sobretudo, a criação de um ambiente ideal para que a aprendizagem se sucedesse. Assim, procurei utilizar ao longo da lecionação das aulas um conjunto de características e comportamentos que potenciavam um envolvimento e uma participação mais ativa e estimulante na aula, tendo como exemplo o reforço positivo, uma maior exuberância nos gestos que realizava, o contacto físico (toque) e a forma como me deslocava pelo espaço. Na verdade, procurei seguir as indicações de Siedentop (1983), na qual afirma que o entusiasmo envolve um estilo de ensino em que prevaleça o reforço positivo sobre o comportamento apropriado do aluno ou sobre o que ele faz corretamente; uma intervenção positiva; uma mensagem que se transmite sobre a atividade que está a ser objeto de ensino; a indicação dos pontos de início e dos pontos de mudança numa sessão, com a gestão do fluxo e do ritmo da mesma; a existência de expetativas elevadas e realistas para todos e a

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transmissão da ideia de que é possível a todos corresponder a essas expectativas; e, por fim, a transmissão de entusiasmo pelo ensino, pelos progressos, pelo esforço e trabalho, deixando passar a ideia de que essas dimensões são valorizadas pelo professor.

Na minha perspetiva, o processo de ensino-aprendizagem é uma tarefa complexa e imprevisível, sendo que para um EE esta dimensão adquire ainda maior significado. Mas o entusiasmo pela lecionação pode ser coberto pelo receio de não ser bem-sucedido e pela pouca experiência. O receio do insucesso tem de estar na mente do professor ou de qualquer treinador, porque para mim é esse receio que me faz trabalhar minuciosamente para que me sinta mais confiante e para que o sucesso esteja mais próximo, a fim de atingir os objetivos por mim definidos. Assim, foram diversos os momentos em que o receio do insucesso esteve presente, tendo como exemplo, a realização do plano de aula, onde tentei antecipar uma multiplicidade de situações que poderiam ocorrer, transformando-as numa boa situação de aprendizagem, capaz de potenciar a aprendizagem dos alunos. As rotinas de organização da aula e dos alunos, a instrução, a demonstração, o tempo concedido a cada situação de aprendizagem e o tempo de transição de situações foram outros momentos na qual tentei colmatar o receio do insucesso. Isto porque, antes da aula, tinha a preocupação de refletir sobre as condições espaciais disponíveis para a aula e como poderia distribuir os alunos pelo espaço e estações, garantindo assim, um tempo elevado de empenhamento motor. Pensava sobre a criação dos grupos de alunos, se os colocaria por níveis ou se separava os alunos mais problemáticos; ponderava sobre o local onde seria realizado a instrução e a demonstração, tendo em conta as aulas que estariam a decorrer simultaneamente, o que iria compor a própria instrução e quem iria realizar a demonstração; meditava sobre o tempo que proponha para cada situação de aprendizagem, se iria ser desafiante para os alunos ou se iria criar desmotivação; e refletia também sobre as rotinas de organização da aula, particularmente, sobre as transições de situações de aprendizagem e sobre o modo como poderia criar boas condições para que a aprendizagem ocorresse. Com efeito, foi através deste pensamento detalhado de tentar prever alguns comportamentos, que comprometeriam o processo de aprendizagem dos alunos, que consegui estar mais próximo do sucesso.

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Em suma, considero que sou melhor professor se sentir este receio de não atingir os objetivos a que me proponho, uma vez que é este sentimento que me obriga a não dar nada como seguro e trabalhar cada vez mais para alcançar o sucesso.

4.2.3. A Relação professor-aluno como fator promotor do