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A Importância do Equilíbrio Ecossistêmico para Produtividade Agrícola

maximização da produção e do lucroAgricultura Convencional

2.3.1. A Importância do Equilíbrio Ecossistêmico para Produtividade Agrícola

Os primeiros passos do desenvolvimento da agricultura começaram na pré-história, com a domesticação de algumas plantas. Junto com a domesticação, os antigos agricultores de forma rudimentar foram selecionando as plantas que apresentavam características desejáveis. É importante salientar, que esse processo de domesticação e seleção era realizado por um longo período, pois não havia conhecimento estruturado cientificamente e tecnologias apropriadas. Outra característica da agricultura neste período refere-se às técnicas agrícolas que deviam ser muito rudimentares, refletindo-se em baixa produtividade (certamente, não existia a idéia de produtividade). Quanto à preocupação com o meio ambiente, conservação do solo e equilíbrio ecológico, esta praticamente não existia, pois como a população era

relativamente pequena em relação á área ocupada, quando uma região não estivesse oferecendo o suficiente, era possível migrar para outra.

Segundo Gliessman (2000), durante este período toda a agricultura era tradicional e em pequena escala; os agroecossistemas eram distribuídos como pequenas manchas na paisagem natural maior. Os habitats manejados mantinham a integridade dos ecossistemas naturais, ao mesmo tempo em que diversificavam a paisagem.

Depois da pré-história, a agricultura apresentou muitas transformações no campo dos tratos culturais, desenvolvimento de linhagens adaptadas a diferentes regiões, irrigação, surgimento de novos produtos alimentícios, etc. Estes acontecimentos permitiram mudanças substanciais no modo de vida do homem, que passou paulatinamente da vida nômade para a vida séssil. Contudo, foi no Século XX que ocorreram os maiores avanços na indústria e na ciência, o que teve forte impacto na agricultura. Entre os principais avanços realizados nesse século, estão a mecanização agrícola pelo uso de tratores e máquinas de beneficiamento, a purificação de elementos químicos que possibilitou o estudo de nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas e aprofundamento do conhecimento em nutrição vegetal e o melhoramento genético que desenvolveu cultivares altamente produtivos e adaptados a diferentes condições edafoclimáticas.

Segundo Pimentel, apud Gliessman (2000), como conseqüência da evolução do uso agrícola da terra, atualmente contamos com a maior parte da superfície terrestre coberta por uma paisagem cultural, em vez de natural. Segundo o autor, de acordo com estimativas, 95% do ambiente terrestre mundial encontra-se urbanizado, manejado ou usado de alguma forma para a agricultura, pecuária ou silvicultura. Somente 3,2% da superfície terrestre do mundo está protegida por parques e reservas.

Para Gliessman (2000), em uma terra ocupada por uma paisagem cultural, esforços para preservar nossa biodiversidade remanescente não mais podem ter como foco principal pequenas áreas de terra que ainda são silvestres. Assim, o autor aponta para a importância de estudos que contribuam para o manejo das áreas agrícolas

indicando seu enorme potencial ainda não explorado, capaz de sustentar uma diversidade de espécies nativas e assim, contribuir para a conservação da biodiversidade regional.

Referindo-se à evolução da agricultura e sua influência sobre a natureza, bem como, sobre as alterações regionais, Dorst (1973, p. 27) salienta: “a ação do homem sobre a natureza traduziu-se por profundas modificações nos equilíbrios biológicos. O cultivo provocou transformações radicais nos estados originais. O homem dedicou-se a uma verdadeira experiência de seleção, transformando radicalmente as regiões”.

No tocante à evolução da agricultura, as previsões desta teoria não se concretizaram porque os avanços tecnológicos possibilitaram o aumento da produção agrícola, embora com alto custo ambiental. Esta fase de intensa tecnificação ficou conhecida como a Revolução Verde, fase em que agricultura tornou-se dependente de insumos e produtos que mais tarde revelaram-na insustentável.

Daily, apud Joels (2002), considera os serviços prestados pelo ecossistema como as condições e processos por meio dos quais os ecossistemas naturais e os dificilmente, por questões econômicas e tecnológicas, os pesticidas poderão suprir sua função satisfatoriamente. Da mesma forma, caso o ciclo de vida dos polinizadores e dispersores das plantas de valor econômico for interrompido, as plantas ficarão impossibilitadas de reproduzirem-se e, em decorrência disto, a população enfrentará sérias conseqüências sociais e econômicas (DAILY, 1997, p.5 apud JOELS, 2002).

Conforme Ehrlich & Mooney, apud Joels (2002), o conhecimento e a habilidade do ser humano não podem substituir as funções desempenhadas por esses ciclos naturais. No entanto, o reconhecimento desses serviços só acontece quando estes são interrompidos ou perdidos para sempre, como é o caso das florestas, cuja importância para o ciclo hidrológico só foi entendida quando os índices de desmatamento alcançaram níveis críticos para o abastecimento dos recursos hídricos.

A viabilidade das espécies e o desempenho dos serviços prestados pelo ecossistema dependem da decisão da sociedade sobre a qual o uso dar aos espaços naturais. Segundo os mesmos autores, sempre que a sociedade escolhe um uso para os ecossistemas estará, mesmo que implicitamente, indicando qual alternativa julga mais valiosa. O problema é que em vários casos a sociedade não valoriza o ecossistema em seu estado natural e permite que seja feita a sua conversão.

Para uma melhor avaliação das opções de uso de um determinado ecossistema, é preciso conhecer os princípios ecológicos que determinam o seu funcionamento.

Pesquisadores como Darwin (1872) e Tilman (1997) apud Joels (2002), verificaram que a diversidade biológica ou biodiversidade pode influenciar no funcionamento dos ecossistemas e no suprimento de bens e serviços para a humanidade.

A preservação da produtividade agrícola requer a produção sustentável de alimentos. A sustentabilidade é alcançada através de práticas agrícolas alternativas, orientadas pelo conhecimento em profundidade dos processos ecológicos que ocorrem nas áreas produtivas. A partir desta base podemos caminhar na direção das mudanças socioeconômicas que promovem a sustentabilidade de todos os setores do sistema alimentar (GLIESSMAN, 2000, p. 52).

Conforme Altieri (1989), os agricultores tradicionais há muito conheciam a importância da biodiversidade para manter o suprimento de bens e serviços para suas comunidades. Para esses agricultores, as áreas cobertas de florestas, lagos, pastagens, e pântanos, no interior ou em áreas adjacentes aos campos de cultivos, significavam importantes fontes de suprimento de alimentos, matérias de construção, medicamentos, fertilizantes orgânicos, combustíveis e artigos religiosos.

Além disso, segundo Zanzini & Filho, apud Joels (2002), os animais silvestres que habitam essas áreas ao consumirem as plantas, seus produtos e também outros animais promovem o fluxo da matéria e energia inicialmente imobilizada nas plantas e, ao mesmo tempo, executam tarefas vitais para o equilíbrio dinâmico dos ecossistemas naturais e antrópicos, como dispersão de sementes, polinização e o controle de populações. Desta forma, as atividades humanas que extraem produtos do ecossistema podem ser conduzidas de maneira a diminuir a produtividade desse ecossistema, ou de modo a manter a capacidade de produzir do ecossistema.

3. A PERCEPÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES ACERCA DA PRESERVAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS EM PROPRIEDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ DO SUL, RS.

“Quando as portas da percepção forem abertas para o homem tudo se revelará como é, infinito”.

Willian Blacke

A presente pesquisa investigou sobre a percepção ambiental e utilização de recursos naturais de dois grupos distintos de agricultores (convencional e orgânico), vinculados à Feira Rural de Santa Cruz do Sul e ao Capa/Ecovale, respectivamente.

Convém salientar que foram entrevistados um total de 26 agricultores, chefes de família, distribuídos em três distritos do município (1º Distrito, Rio Pardinho e São Martinho), entre os quais 13 estão vinculados a Feira Rural e 13 ao Capa/Ecovale.

A Figura 04 mostra a distribuição dos agricultores entrevistados nas localidades do município, identificando os dois grupos, convencionais e orgânicos. Sob um outro ponto de vista, a Figura 05 mostra a mesma distribuição, porém, ilustra as diferentes formas de ocupação do território, demonstrando áreas cultivadas, áreas de pastagens e áreas cobertas por florestas (não diferenciando nativas e exóticas).

Figura 04. Distribuição dos agricultores entrevistados nas localidades do Município de Santa Cruz do Sul, identificando agricultores convencionais e orgânicos.

Figura 05. Distribuição dos agricultores entrevistados ilustrando as diferentes formas de ocupação do território (áreas cultivadas, áreas de pastagens e áreas cobertas por florestas, não diferenciando nativas e exóticas). Obs: a área em azul não é coberta pelo sistema de monitoramento de imagens.

Cabe ressaltar, que os agricultores da Feira Rural que participaram da pesquisa, foram escolhidos pelo até então presidente da Associação de Feirantes, Sr. Danilo Henstch. Inicialmente, foram selecionados 15 agricultores, porém, destes, dois deles não aceitaram participar da pesquisa alegando insatisfação com projetos anteriores desenvolvidos pela Universidade, bem como, receio em responder questões envolvendo a temática ambiental, característica marcante do presente trabalho.

Com relação aos agricultores entrevistados, vinculados ao Capa/Ecovale, fizeram parte da pesquisa os representantes das 13 famílias ligadas à Instituição no Município de Santa Cruz do Sul, conforme dados repassados pela diretoria da mesma.

Quanto à abordagem, o presente trabalho de pesquisa alicerça-se na fenomenologia, propondo a compreensão para os significados do percebido tendo como base de coleta de dados a realização de entrevista e investigações de campo.

Nesse sentido, a opção feita foi em utilizar um roteiro de entrevistas com perguntas pré-estabelecidas e semi-estruturadas, com questões abertas, de modo a possibilitar ao entrevistado fazer comentários diversos sobre os temas abordados (Anexo 01).

Convém salientar que, anteriormente à fase de entrevistas e aplicação de questionários, foi realizada uma visita aos agricultores visando fornecer esclarecimentos em relação aos objetivos da pesquisa, bem como, formas de veiculação dos resultados.

Assim, em um primeiro momento, trabalhou-se com a leitura e explicação do termo de consentimento, posteriormente autorizado pelos pesquisados, fundamental em trabalhos científicos comprometidos com a ética na pesquisa (Anexo 02).