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SUMÁRIO

1.2. Gestão Ambiental: uma abordagem sistêmica

O gerenciamento ambiental contém a passagem do pensamento mecanicista para o pensamento sistêmico e é motivado por uma preocupação com o bem-estar das futuras gerações e com uma ética ecológica.

Esse novo pensamento vem acompanhado por uma mudança de valores, passando da quantidade para a qualidade, da expansão para a conservação, da dominação para a parceria.

O novo paradigma pode ser descrito como uma visão holística do mundo – a visão do mundo como um todo integrado e não como um conjunto de partes como máquina, sucumbe à compreensão do mundo como sistema vivo. Diz respeito a nossa concepção da natureza, do organismo humano, da sociedade e, conseqüentemente, de nossa percepção sobre os sistemas produtivos.

Para Ely apud Rohde (1995), a investigação dos novos paradigmas emergentes da ciência constituem tarefa básica, premissa fundamental para determinar uma nova visão de mundo necessária para realizar o pretendido desenvolvimento sustentável,

uma vez que a situação de insustentabilidade foi baseada e é conseqüência, em grande parte, de paradigmas ultrapassados, como o cartesiano-newtoniano causualista, o mecanicista-euclidiano e o antropocentrista, os quais distanciavam a sociedade de uma convivência equilibrada e adequada com o meio ambiente na qual estava inserida.

Segundo Silveira (2004), a gestão ambiental evolui como uma área do conhecimento sobre o meio ambiente e seu objetivo é administrar e coordenar, na medida do possível, toda a complexidade de fenômenos ecológicos que interagem com os processos humanos (social, econômico e cultural).

Soares (2004), define a gestão ambiental como um processo de tomada de decisões que devem repercutir positivamente sobre a variável ambiental de um sistema.

Nesse caso a tomada de decisão consiste na busca da opção que apresente melhor desempenho, a melhor avaliação, ou ainda a melhor aliança entre as expectativas daqueles que têm o poder de decidir e suas disponibilidades de adotá-la.

Segundo Coimbra (2004), a gestão ambiental caracteriza-se como uma série de intervenções humanas sobre o patrimônio ambiental que se localiza em determinado território. Os atores dessas intervenções são o poder público, a coletividade e, em certos casos, pessoas físicas individuais.

A gestão ambiental é um processo de administração participativo, integrado e contínuo, que procura compatibilizar as atividades humanas com a qualidade de vida e a preservação do patrimônio ambiental, por meio da ação conjugada do poder público e da sociedade organizada em seus vários segmentos, mediante priorização das necessidades sociais e do mundo natural, com alocação dos respectivos recursos e mecanismos de avaliação e transparência.

(COIMBRA apud COIMBRA 2004, p. 561)

Recentemente o IBAMA tem defendido a gestão ambiental como mediadora dos conflitos ambientais existentes. Neste sentido, a gestão ambiental seria um processo de mediação de interesses e conflitos entre atores sociais que agem sobre os meios físico-natural e construído, objetivando garantir o direito ao ambiente ecologicamente equilibrado, conforme determina a Constituição Federal (Oliveira, 2000).

Para Bressan (1996), os principais mecanismos que buscam expressar racionalidade na gestão ambiental têm como característica comum o fato de organizarem-se segundo a categoria filosófica da totalidade. Isto significa considerar a realidade como um todo estruturado, dialético, no qual ou do qual um fato qualquer pode vir a ser racionalmente compreendido.

Conforme Kosik apud Bressan (1996, p. 82):

A totalidade do mundo compreende, ao mesmo tempo, como momento da própria totalidade, o modo pelo qual a realidade se abre ao homem e o modo pelo qual o homem descobre esta totalidade. Ainda mais, o homem com sua relação de ser finito com o infinito e com a sua abertura diante do ser, também pertence á totalidade do mundo (...) no contexto dialético da

Dentro desse contexto Bressan (1996, p.82 e 81) complementa:

As relações entre a sociedade e a natureza estarão assentadas sobre pressupostos racionais, na medida da existência de instrumentos capazes de realizar um intermédio eficaz, caso a ciência e da técnica, que representam possibilidades concretas de gerar conhecimento sobre o meio natural. Embora os problemas relativos à interação homem e natureza estejam vinculados ao progresso científico-tecnológico contemporâneo, estes fatos não podem ser compreendidos como característica imanente á ciência e aos seus produtos. Por certo, a base política, sócio-econômica e cultural onde as inovações são introduzidas constitui característica decisiva para a utilização adequada deste instrumental.

Nesse sentido, cabe ressaltar, que as ações de gestão ambiental em assentamentos humanos nas áreas rurais têm sido caracterizadas pela ação punitiva dos produtores rurais pelo uso inadequado dos recursos naturais ao invés de educativa.

Assim, enquanto os agricultores estão submetidos a toda uma estrutura jurídica e de fiscalização, pouco ou nada se tem feito no sentido de mudar os processos de produção historicamente utilizados, na busca de um desenvolvimento agrícola sustentável. O desenvolvimento e aplicação de metodologias de gestão ambiental de

fácil aplicabilidade e de tecnologias acessíveis são instrumentos que permitirão compatibilizar as ações às normas, na busca do desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos nas áreas rurais, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais.

Desta forma, é fundamental a realização de projetos de gestão ambiental que investiguem sobre a realidade do contexto estudado, pois há uma ausência significativa de informações e/ou normas, critérios e instrumentos tecnológicos e metodológicos de gestão ambiental que orientem os assentamentos humanos no meio rural tanto nos aspectos de uso adequado do solo, saneamento rural, proteção de matas ciliares e mananciais, quanto no que diz respeito ao uso e manejo dos resíduos sólidos do campo, oriundos das atividades agrícolas e não-agrícolas incluindo a gestão de resíduos agro-industriais e domésticos.