• Nenhum resultado encontrado

“Por causa da fiscalização tive que perfurar um poço escondido

maximização da produção e do lucroAgricultura Convencional

Entrevista 05 “Por causa da fiscalização tive que perfurar um poço escondido

Eu só quero trabalhar, mas tenho que me esconder da fiscalização. Essa é a melhor forma de competir com a vizinhança.” (49 anos, Linha João Alves).

Entrevista 06 – “Estamos preocupados com o futuro da água na propriedade. As nascentes são o nosso abastecimento. Agora começaram a abrir a estrada para construção do loteamento, não sabemos como isso vai ficar”. (43 anos, Linha João Alves).

Entrevista 07 – “Eu fico indignada com esses arrozeiros que jogam os vidros de veneno no arroio. Isso é um crime, deveriam ser multados, deveria ter fiscalização para isso”. (57 anos, Pinheiral).

Entrevista 09 – “Projetei os açudes em cima das nascentes”. (33 anos, Linha João Alves).

Entrevista 10 – “A gente ocupa água da nascente, é através delas que nós mantemos a produção, mas tentamos não estragar nada para continuar do jeito que está” (53 anos, Linha João Alves).

Trechos de Entrevistas feitas com Agricultores Orgânicos – Comentários e observações feitas pelos agricultores envolvendo a utilização dos recursos hídricos

Entrevista 03 – “Falta recursos hídricos, não temos como fazer irrigação, penso em perfurar um poço. A prefeitura vive abrindo açude para os vizinhos, mas para nós que somos orgânicos nem pensar, fica só na conversa”. (61 anos, 4ª Linha Nova Baixa)

Entrevista 09 – “Espero que este arroio fique assim para sempre. Se desse para abrir a propriedade para as pessoas visitar sem estragar seria muito bom, falam em turismo ecológico, parece uma boa idéia junto com a agroecologia” (20 anos, Linha Hamburgo)

Figura 32. A tubulação leva a água do pequeno arroio às plantações de hortaliças. Fonte: Acervo da autora.

Figura 33. A fonte que abastecia o açude secou depois de anos de uso segundo informações do agricultor, o resultado é evidente na ilustração. Fonte: Acervo da autora.

Figura 34. Perfurado irregularmente o poço artesiano garante a competitividade diante da vizinhança que tem sérios problemas com a irrigação dos cultivos. Fonte: Acervo da autora.

Figura 35. No local existia um arroio. Hoje apenas na época de chuva a água aparece acumulada. Fonte:

Acervo da autora.

Figura 36. Fonte de água (nascente) foi protegida com concreto e é uma das principais formas de irrigação utilização pelo agricultor. Fonte: Acervo da autora.

Figura 37. Tubulação que leva água da fonte da Figura 36 até os cultivos. Nota-se que as características naturais do ambiente não foram comprometidas. Fonte: Acervo da autora.

Figura 38. A figueira (árvore do lado do açude) representa orgulho para família de feirantes, ela é vista como proteção para o principal açude da propriedade. Fonte: Acervo da autora.

Figura 39. A jovem produtora orgânica pensa que futuramente poderá utilizar a área da propriedade (arroio) para garantir mais uma forma de renda sem prejudicar o meio ambiente, o turismo ecológico.

Fonte: Acervo da autora; fotografia autorizada.

Quanto ao tempo de ocupação de terras, no grupo de agricultores convencionais o destaque vai para aqueles que ocupam a área de terra num período que vai entre 20 a 40 anos, característica que acompanha a faixa etária predominante neste grupo de agricultores conforme anteriormente apresentado (Figura 40).

Já no grupo de agricultores orgânicos, destacam-se dois grupos distintos, aqueles que ocupam a terra num período que vai entre 20 a 40 anos e aqueles que ocupam a terra num período inferior a 10 anos, o que também demonstra similaridade com a faixa etária apresentada pelos agricultores (Figura 41). Nesse sentido, alguns trabalham na terra que herdaram de parentes ou a utilizam num caráter de parceria com os pais, outros, adquiriram áreas de terras em período recente, através de negociações de venda e troca de áreas, dedicando-se majoritariamente a inovação e diversificação dentro dos preceitos agroecológicos.

Figura 40. Tempo aproximado em que as propriedades pertencem aos agricultores vinculados à Feira Rural do Município de Santa Cruz do Sul.

Produtores Convencionais - Tempo de Ocupação das Terras

9

3

1 0

2 4 6 8 10

de 20 a 40 anos mais de 40 anos menos de 10 anos

Figura 41. Tempo aproximado em que as propriedades pertencem aos agricultores vinculados ao Capa/Ecovale- núcleo Santa Cruz do Sul.

Com relação às características produtivas, apresentadas pelas propriedades, destaca-se no grupo de agricultores convencionais a produção de hortaliças, como principal atividade geradora de renda, seguida da produção de leite/derivados e de frangos/galinhas/ovos (Figura 41). Com relação ao cultivo de tabaco, a maioria relatou ter desistido da prática, por perceber não existia compensação entre lucros e o trabalho dispensado para a produção (Entrevistas 02, 03, 05 e 10 - Agricultores Convencionais), ou nunca cultivaram a solanácea, dedicando-se exclusivamente ao cultivo de hortaliças (Entrevistas 04, 06, 09 e 11 - Agricultores Convencionais). Alguns mantêm o cultivo por acreditar ser mais proveitoso do ponto de vista econômico (Entrevistas 01 e 07 – Agricultores Convencionais) ou para sanar dívidas (Entrevista 08 – Agricultores Convencionais). Outros abandonaram a prática por falta de mão-de-obra familiar (Entrevistas 12 e 13 – Agricultores Convencionais), como pode ser verificado nos trechos retirados das entrevistas referentes ao tema.

No grupo de agricultores de base ecológica a principal atividade geradora de renda apontada pelos entrevistados é a produção do tabaco seguida da produção de hortaliças (Figura 43).

Produtores Orgânicos - Tempo de Ocupação das Terras

Neste ponto, sem dúvida, reside a maior incoerência encontrada durante a realização deste trabalho, pois os agricultores orgânicos, dizem-se obrigados a continuar no segmento produtivo convencional, caracterizado pela produção de tabaco, em função da ausência de políticas públicas direcionadas ao grupo, sob a forma de incentivos e mesmo relatam sobre a falta de acolhimento por parte do poder público.

Assim, se dizem coagidos economicamente, endividados pelo modelo de agricultura que herdaram dos pais. Além disso, outra preocupação evidente, por parte dos agricultores, é o grau de “pureza” dos cultivos orgânicos, visto que dividem espaço com a solanácea, carregada de insumos químicos sintéticos, comprometedores inatos da saúde humana e ambiental.

No tocante à problemática, várias alternativas vêm sendo preconizadas por aqueles agricultores orgânicos que possuem o tabaco em suas propriedades, para evitar ou minimizar a contaminação dos demais cultivos e de sua própria saúde. Como pode ser evidenciado nos trechos retirados das entrevistas referentes ao tema tabaco, a maioria dos agricultores orgânicos busca a desvinculação da cultura convencional a partir da diminuição da área plantada a cada ano, bem como, substituição gradativa da solanácea por outras culturas. A criação de barreiras e as tentativas caseiras de não utilização dos agrotóxicos no cultivo, também demonstram o desejo de conter os impactos de uma prática que eles julgam desumana, e o lado mais cruel reside, sem dúvida, no fato de reproduzir cotidianamente algo que os desagrada (Entrevista 01, 07, 10, 11, 12, 13).

Quanto aos agricultores orgânicos que abandonaram totalmente as práticas convencionais os motivos da conversão residem justamente nas conseqüências destas práticas sobre suas vidas. Relatam problemas de saúde, infelicidade, desânimo, motivos que os levaram a encarar a produção agrícola de forma diferenciada, optando pela produção orgânica em suas propriedades (Entrevista 02 e 04). Um caso especial, pode ser evidenciado na Entrevista 06 onde a problemática envolvida no cultivo do tabaco, acabou por gerar um conflito de opiniões entre pai, vinculado há anos com a técnica, e filho, seduzido pelas promessas de benefícios a longo prazo inseridos na produção agroecológica.

Produtores Convencionais - Produção da

Figura 42. Características produtivas das propriedades pertencentes aos agricultores vinculados à Feira Rural do Município de Santa Cruz do Sul.