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A importância do estudo histórico e do significado dos direitos fundamentais

4. DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

4.1. A importância do estudo histórico e do significado dos direitos fundamentais

Os Direitos Humanos surgiram para os Estados ocidentais modernos influenciados pela Religião Cristã na vigência do Antigo Testamento e corrobora-se este entendimento com o Novo Testamento, na Bíblia Sagrada56.

O Senhor todo poderoso, Arquiteto do Universo, chamado por vários povos de Emanuel, Jeová, Salvador ou simplesmente “Deus”, fez tudo que existe no céu, na terra e no mar, e do barro moldou o homem, com um sopro o deu a vida, depois fez a mulher, ambos fez à sua imagem e semelhança. Tempo depois enviou o seu primogênito, na forma humana, a terra para remissão dos pecados e salvação da sua criatura.

Se Deus, o Todo Poderoso, fez um ser a sua imagem semelhança, Ser digno de um reflexo e moldura Dele, se Este envia o seu único Filho para salvação da sua criação, Ele está informando nas Leituras Sagradas da Bíblia que todos os seres humanos são dignos perante a existência do Deus vivo57.

Saindo do pensamento religioso Cristão e entrando no pensamento da razão científica filosófico-jurídica, Canotilho explica e demonstra a evolução dos direitos do homem utilizando os pensamentos de Aristóteles, em A política; de Welzer, nos livros Derecho

Natural y Justicia Materia, e geschichte; e Bloch, na obra Geschichte, explanando a

evolução dos direitos humanos.

Canotilho diz que, na antiguidade clássica, não se ficou completamente às escuras quando o assunto é direitos fundamentais. O pensamento sofístico, iniciado da natureza biológica comum dos homens, chega perto da tese da ‘igualdade natural e da idéia de humanidade’.

Continuando com o mesmo doutrinador, ele diz que, “Por natureza são todos iguais, quer sejam bárbaros ou helenos”, defenderá o sofista Antifon; “Deus criou todos os homens livres, a nenhum fez escravos”, proclamava Alcidamas. (CANOTILHO, 2011, p. 381). Neste pensamento, a igualdade de todas as pessoas se encontram sobe um nomos unitário que traz o cidadão a um grande Estado universal, significando um direito de todos,

56 Bíblia Católica Apostólica Romana. 57

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e não apenas direitos limitados ao espaço da polis. Canotilho diz que esta idéia é a “universalização ou planetarização dos direitos do homem” (2011, p. 381).

Novais segue a mesma linha de raciocínio de Duque, fundamentando seu entendimento, entre outros pontos, no fato histórico ocorrido em 1918, a Revolução Russa, na qual o Estado “rompeu os limites jurídicos do Estado de Direito e do modelo constitucional representativo ocidental – apresentou ao mundo um modelo democrático anticzarista – e também uma Declaração de direitos”58.

A Declaração Russa de Direitos fora apresentada ao mundo como uma alternativa possível de direitos humanos contrários ao Estado de Direito liberal. Contudo, nas Normas Constitucionais soviéticas que vieram a suceder, foram acrescentados entendimentos que a modificaram radicalmente. A Revolução Russa traçava um viés de entendimento completamente distinto da concepção de direitos fundamentais como direitos contra o Estado.

Por definição, porque não há direitos contra si próprio, também não haveria, segundo essa nova concepção, direitos dos trabalhadores contra um Estado que agora, e pela primeira vez na história, seria seu, dos trabalhadores. Direitos fundamentais entendidos como garantias jurídicas contra o Estado classista burguês, mas seriam intrinsecamente contraditórios e inconsistentes no novo Estado proletário dito de transição para o socialismo e o comunismo.

NOVAIS. Direitos Sociais: teoria jurídica dos Direitos Sociais enquanto Direitos Fundamentais, p. 18

Duque explica que, seguindo a corrente jurídica dominante, os direitos fundamentais estão umbilicalmente ligados à concepção do Estado liberal e do fim do Estado absolutista, opressor, guardião divino da existência humana na terra. Este concentrava o poder na mão do monarca, imperador ou outro governo absolutista, que poderia intervir na vida dos súditos59.

No início do século XIII, houve o nascedouro dos primeiros traços da Carta Constitucional Inglesa. Em 1215, o Rei João Sem Terra foi obrigado pelas famílias aristocratas feudais a assinar uma carta de direitos com finalidade de estabelecer um convívio harmonioso, sadio e legal entre a nobreza e os outros estamentos, principalmente com os barões, os quais ofertaram ao monarca certos direitos supremos, em contrapartida

58 NOVAIS. Direitos Sociais: teoria jurídica dos direitos sociais enquanto direitos fundamentais, p. 17. 59

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receberiam alguns direitos de liberdade60.Mesmo a Charta Magna Libertatum de 1215 não tendo sido considerada como uma manifestação de vontades de criar ou estabelecer a idéia de direitos fundamentais inatos, surgiu a idéia do direito da liberdade positivado num Estatuto Supremo.

No entendimento do Art. n.º 39, “Nenhum home livre será detido ou sujeito a prisão, ou privado dos seus bens, ou colocado fora da lei, ou exilado, ou de qualquer modo molestado, e nós não procederemos, nem mandaremos proceder contra ele, senão em julgamento regular pelos seus pares ou de harmonia com a lei do país”61

.

[...] . De maneira simplificada, a formulação preponderante deixa-se identificar a partir de uma linha básica, cujo início pode dar-se nas declarações de direito das revoluções inglesas e francesas, seguindo-se por outros movimentos, entre os quais se destacam o constitucionalismo alemão, com ênfase na constituição da Igreja de São Paulo (Paulskirchenverfassung) em Frankfurt, na Constituição de Weimer de 1919, na redação das primeiras constituições dos Estados-membros alemães após o final da Segunda Guerra Mundial e a declaração de direitos humanos das Nações Unidas.

DUQUE. Curso de Direitos Fundamentais: teoria e prática. p. 36

No final do século XVIII, o Estado da Virginia, Estado-membro dos Estados Unidos da América, em sua Declaração de Direitos, proclamou no primeiro artigo que todos os homens são por natureza livres e têm direitos inatos, de que não se despojam ao passar a viver em sociedade.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão normatiza, em seus artigos segundo e quarto, que o fim de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem, sendo o exercício destes direitos ilimitados senão às restrições necessárias para assegurar aos outros cidadãos o gozo dos mesmos direitos.

A doutrina moderna apresenta uma classificação de Direitos Fundamentais baseada no lema da Revolução Francesa do século XVIII, com tema liberdade, igualdade e fraternidade, e sua evolução como direitos e garantias de primeira, segunda e terceira geração.

60 CANOTILHO. Direito Constitucional. p. 382. 61

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Há doutrinadores que entendem que o termo geração está sendo utilizado de forma errada, já que, quando falece uma geração, a seguinte é que mandará na nova ordem constitucional e assim sucessivamente, substituindo a anterior e exaurindo os seus efeitos.

Estes novos doutrinadores preferem utilizar o termo dimensão. A primeira dimensão continua atuando mesmo se vier a segunda, terceira, quarta, quinta etc., sendo uma continuação da outra, complementando e fortalecendo o sistema legal62. Também há quem entenda que o termo geração só é para ser utilizado como demarcador do momento histórico, que cada um dos direitos surgiram como reivindicações da nova ordem jurídica63.

Ressalta a doutrina moderna que a classificação de direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira geração, baseando-se na ordem histórica cronológica, surgiu institucionalmente a partir da Magna Charta de 1215, da Inglaterra, com o nascimento dos direitos e garantias individuais e políticos clássicos (liberdades públicas)64. Outros norteiam-se lecionando que os direitos de primeira geração surgiram na abrangência referidas nas Revoluções americana e francesa65.

Na contemporaneidade, os direitos fundamentais são estudados e analisados em todas as Constituições dos diversos Estados. Novais destaca que, num Estado Democrático de Direito, há de existir vários problemas relacionados entre liberdade e autoridade, indivíduo e Estado, autonomia individual e regulação estatal, que leva a diversas vontades, sentimentos e convicções plurais. Neste momento, todas as indagações são discutidas publicamente, pretendendo-se chegar a uma solução fechada e erga omnis.