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2. AS CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS SOB A ANÁLISE DOSPODERES

2.2. Poder constituído

O Poder Constituído nasce da vontade do Poder Constituinte de dar origem ao novo Texto Constitucional, apresentando as características do Poder derivado, subordinado e condicionado (MORAES, 2013, p.27); que pode classificar-se quanto à forma, escrito ou não escrito; quanto à elaboração, pode ser dogmático ou histórico; quanto à estabilidade, pode ser imutável, ficando para o legislador derivado só a regulamentação das leis infraconstitucionais; será rígido quando ele, ao modificar o texto constitucional, utiliza um trâmite mais solene e dificultoso de criação das leis, pode ser flexível quando o Texto Maior e as leis puderem ser revistos com a mesma solenidade, sem nenhuma diferença; e pode ser semirrígido, quando parte é modificada com um trâmite mais solene e outra parte pode ser modificada igual ao texto infraconstitucional.

Vale ressaltar que José Afonso da Silva acrescenta a classificação de Superrígida, dando como exemplo o parágrafo quarto do artigo 60 da CRFB/88, que determina a petrificação de alguns institutos sensíveis da Constituição.

O ordenamento jurídico criado pelo Poder Originário também pode aceitar os institutos da revogação, quando uma norma posterior revoga a anterior; o instituto da

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recepção, quando leis anteriores ao atual ordenamento são validadas e continuam suas vigências conforme os preceitos do atual ordenamento; repristinação, quando lei revogada volta ao ordenamento jurídico por ter a lei revogadora perdida sua vigência; e o instituto da desconstitucionalização, quando a atual Constituição aceita normas da Carta Magna anterior com “status” de lei.

O novo ordenamento jurídico aceitando estes institutos e definindo suas classificações, a Constituição, deverá ser outorgada ou promulgada, tornando-se vigente, válida e legítima para todo o Estado, e dependendo da estabilidade, se não for imutável, a sua eficácia poderá ser questionada no controle de constitucionalidade.

O Poder derivado tem a principal função de revisar as normas do ordenamento jurídico, ele subdividiu-se em duas características, reformador e decorrente (MORAES, 2013, p. 27). O primeiro tem competência reformadora, que consiste na possibilidade de alterar o texto constitucional, respeitando os ditames da Carta Magna, e será exercido pelo órgão competente, que detém jurisdição em todo o Estado, seja ele unitário ou federativo.

O segundo consiste na possibilidade que os Estados-Membros têm, em decorrência de sua autonomia político-administrativa, de se auto-organizarem por circunstância de suas relativas constituições estaduais, acatando os limites da Constituição Federal.

2.2.1. Revisão constitucional

A Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) foi promulgada em 05 de outubro de 1988. No Texto Constitucional, no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), o artigo 3.º normatiza: “A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional em sessão unicameral”.

Como se vê, a Carta Maior brasileira orientou ao Poder Derivado que este estava autorizado a realizar uma reforma no texto constitucional, respeitando as cláusulas pétreas (art. 60, §4º). Realizada a revisão com a Comissão de Revisão, houve seis grandes mudanças constitucionais, sendo todas publicadas no ano de 1994.

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A Emenda Constitucional de Revisão n.º 1 instituindo o Fundo Social de Emergência; n.º 2, estendendo aos demais titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República a obrigação de comparecerem perante o Congresso Nacional quando oficialmente chamados; n.º 3, ampliando as hipóteses de nacionalidade brasileira; n.º 4, instituindo obrigação de análise e promulgação de lei complementar para os casos de inexibilidade eleitoral; n.º 5, alterando para quatro anos o mandato do Chefe do Poder Executivo; e a n.º 6,que dispõe sobre a não interrupção do processo de cassação de mandato de parlamentar que renunciar ao cargo.

O processo de Revisão Constitucional brasileiro exaure-se conforme decisão da Suprema Corte15 nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade n.º 981/93 e 815/96, por entender que a Constituinte impôs uma única vez para revisar e,quantas vezes quiser, para emendar a Carta Magna16.

Além desta reforma, a Constituição brasileira de 1988 admite a principal modificação de seu texto, que é a Emenda Constitucional. Dentre as várias emendas, destacamos a de nº 45, de 2004, que acrescentou o parágrafo terceiro ao artigo quinto a Constituição, criando novo modelo de reforma, segundo o qual os tratados e convenções internacionais que versarem sobre direitos humanos e que ao ser aprovados no congresso nacional, nas duas casas legislativas, em dois turnos, por maioria qualificada de três quintos dos votos dos respectivos membros terão estes tratados a natureza de “status” de Emenda Constitucional. A normatização de tal artigo diz respeito aos tratados internacionais de direitos humanos votados como Emenda Constitucional que se juntarão ao rol dos direitos fundamentais elencados no Texto Maior e, se forem considerado de direitos e garantias individuais, serão petrificadas conforme o parágrafo quarto do artigo 60 da Constituição brasileira de 1988.

A revisão constitucional da Carta Maior portuguesa de 1976 será única e exclusivamente por revisão, seja ordinária ou extraordinária, a primeira será de cinco em cinco anos, a segunda será todas as vezes que for solicitada pela Assembléia da República e obtiver o coro mínimo exigido pela Constituição portuguesa. Não prestigia, portanto, a reforma das normas por emenda à constituição. Neste prisma de entendimento, o próximo

15 Aqui se entende que estamos nos referindo ao Supremo Tribunal Federal brasileiro. 16

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tópico de estudo é a revisão da constituição por Emenda, que abordarão as normas da Constituição brasileira.

2.2.2. Emenda constitucional

A atual Constituição do Brasil também normaliza o Poder Reformador do Texto Constitucional, ofertando ao Congresso Nacional o dever de emendar a Carta Magna de 1988 mediante proposta do Presidente da República ou de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; ou de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. A Constituição brasileira também acrescentou restrições às ementas em seu texto quando a nação estiver passando por momentos delicados que, possivelmente, poderiam abalar as estruturas democráticas.

Assim sendo, fica proibida a emenda à Constituição Federal de várias matérias elencadas no parágrafo quarto do artigo 6017, assim como o parágrafo primeiro desde mesmo artigo, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, quando o Estado estiver sobre a vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.

A Carta Magna da República Portuguesa de 1976 não possui em seu texto o instituto da reforma constitucional por emenda, entretanto, diferentemente no modo de elaboração da brasileira, ela também tem expressamente a revisão constitucional em seu texto, contudo não está exaurido como o da antiga colônia, pois este instituto orienta a revisão da Carta Magna a cada cinco anos após a última revisão ordinária, e em qualquer período será realizada a sessão extraordinária quando os deputados colherão assinaturas suficientes, entre seus pares, para abrir a sessão de revisão. Após aberta a sessão, votarão com maioria

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§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado;

II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes;

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de dois terços dos membros da Casa Legislativa para que haja a mudança no texto constitucional. Encontra-se a fundamentação nos artigos 284º, 285º e 156º da CRP/1976.

Estes institutos de revisão e reforma são inerentes à soberania do Poder Legislativo, introduzidos pela Constituinte na Carta Magna do Estado para atualizar o texto constitucional perante a sociedade civil. Limita o Poder Constituído nas núncias da Constituição do Estado e no Controle de Constitucionalidade do Poder Judiciário (MENDES e BRANCO. 2015, p.120). Esta questão será tratada no próximo item deste trabalho.

2.2.3. Controle de constitucionalidade da reforma constitucional

No momento da reforma da norma constitucional, ainda no processo de elaboração e votação do projeto, não há que se falar em controle constitucional pelo Poder Judiciário, pois este Poder só examinará normas válidas, projeto de lei ainda não está no ordenamento jurídico do Estado. Contudo, entendeu o Supremo Tribunal Federal que há controle de constitucionalidade pelo poder Judiciário no momento em que ainda é um projeto, desde que pese sobre direitos do exercício do parlamentar.

O representante do povo membro do Poder Legislativo, no Brasil, será o representante do Congresso Nacional, que pode ser o Senador ou o Deputado Federal; em Portugal, será o membro da Assembléia da República, que são os Deputados.

Entendeu o Supremo Tribunal Federal que na constrição dos direitos de um membro do Congresso Nacional ao sofrer o seu direito de votar no projeto de lei ou na proposta de emenda à constituição, deixando de exercitar seus direitos de representante do povo brasileiro, este terá o direito de ingressar com Mandado de Segurança para exigir direito líquido e certo contra a autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício do Poder Público que o prejudicou e retornar ao estado anterior da norma.

O Mandado de Segurança não é meio jurídico cabível para verificar em forma de Controle de Constitucionalidade a lei ou a emenda constitucional votada num processo vicioso, contudo, quando o parlamentar e só o parlamentar propõe o remédio constitucional para solicitar o seu direito líquido e certo, enquanto representante do povo, o Supremo em

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sua decisão examinará ordenando o saneamento do vício, retornando todos os atos corrompidos até o momento sem defeito.

Canotilho (1941, p. 960) leciona que este “vício de procedimento: automatizados pela doutrina mais recente (mas englobados nos vícios formais pela doutrina clássica), são os que dizem respeito ao procedimento de formação, juridicamente regulado, dos actos normativos”. Eles devem ser sanados pelo Tribunal Constitucional, saneador dos vícios constitucionais das normas.

O Tribunal Constitucional português, na fiscalização abstracta sucessiva da constitucionalidade e da legalidade das normas, decidiu no Acórdão N.º 207/02, de 21 de maio de 2002: “[...]; declara a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, da norma do artigo 127.º do Regulamento de Disciplina Militar, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 142/77, de Abril, e não declara a inconstitucionalidade das restantes normas impugnadas.”

Demonstra, assim, o controle de constitucionalidade das normas perante a Constituição vigente. Tal decisão fortaleceu o entendimento constitucional da inamovibilidade do cidadão à justiça e, ainda mais,o juízo de que a Carta Magna portuguesa, neste ponto, não negou o acesso à justiça e não subdividiu a competência do Estado para outros entes públicos.