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2. AS CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS SOB A ANÁLISE DOSPODERES

2.4. Teoria do direito intertemporal

2.4.3. Repristinação

O instituto da repristinação acontece quando uma lei revogada vem a ter vigor e vigência por ter a lei revogadora perdido a sua vigência por outra norma expressamente ter revogada a lei revogadora. Este instituto está normalizado no Ordenamento Jurídico português e brasileiro. Neste, encontra-se no parágrafo terceiro do artigo n.º 2º da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro22.

A Suprema Corte brasileira23 acolheu o instituto da repristinação e seus efeitos quando se manifestou e decidiu no Agravo Regimental nº 235.800, tendo como relator o Ministro24 Moreira Alves, publicado no Diário de Justiça em 25/06/1999.

Em sua decisão, o Min. Moreira Alves julgou que “a recepção de lei ordinária como lei complementar pela Constituição posterior a ela só ocorre com relação aos seus

22Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

(Vide Lei nº 3.991, de 1961) (Vide Lei nº 5.144, de 1966)

§3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.

23 Aqui se entende que estamos nos referindo ao Supremo Tribunal Federal brasileiro.

24 No Brasil, Ministro do Supremo Tribunal Federal são os juízes que decidem os processos em último grau

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dispositivos em vigor quando da promulgação desta, não havendo que pretender-se a ocorrência de efeito repristinatório”, acrescentou ainda que, no sistema jurídico brasileiro, só vai haver o fenômeno da repristinação se a lei represtinatória assim expressar25.

Soares (2013, p. 59) faz uma ressalva para que não haja confusão do instituto da repristinação com os efeitos repristinatórios automático que decorrem da decisão prolatada pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de controle de constitucionalidade.

Uma vez declarada a inconstitucionalidade formal ou material da norma a luz da Constituição, esta decisão do STF terá efeitos contra todos (erga omnes), vinculante e retroativo (ex tunc), podendo ter ressalvas nos efeitos ocorridos no período que estava vigente, neste ponto não houve o controle efetivo de constitucionalidade, por inconstitucionalidade superveniente, pela Suprema Corte26, o que não é aceito no ordenamento jurídico brasileiro.

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar sobre a Inconstitucionalidade superveniente de uma impugnação de ato estatal editado anteriormente à vigência da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, decide pela revogação do ato hierarquicamente inferior por ausência de recepção deste pela Carta Magna27.

O Pretório28 Constitucional ressalta em sua decisão que a ação direta de inconstitucionalidade não é “instrumento jurídico idôneo ao exame da legitimidade constitucional de atos normativos do poder público que tenham sido editados em momento anterior ao da vigência da Constituição sob cuja égide foi instaurado o controle normativo abstrato.”

O controle de constitucionalidade dos atos normativos infraconstitucionais ou mesmo dentro da constituição, realizado por emenda ou reforma constitucional, exige uma relação de contemporaneidade entre o ato estatal impugnado e a cara política, sua fiscalização

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(AGRAG 235.800/RS, rel. Min. Moreira Alves, DJ, 25.06.1999, P.16, Ement. V. 01956-13, p. 2660, 1ª Turma).

26 Aqui se entende que estamos nos referindo ao Supremo Tribunal Federal brasileiro.

27 (ADIQO-7/DF, rel. Min. Celso de Mello, DJ, 04.09.1992, p. 14087, Ement. V. 01674-01, p. 1). 28

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deverá sempre ser na vigência do ato realizado e na vigência da Constituição, na qual o ordenamento jurídico sustenta numa ordem jurídica de controle perante o Texto Maior.

Conclui a Suprema Corte brasileira29 que a “... incompatibilidade vertical superveniente de atos do Poder Público, em face de um novo ordenamento constitucional, traduz hipótese de pura e simples revogação dessas espécies jurídicas, posto que lhe são hierarquicamente inferiores.”

No Ordenamento Jurídico português, o instituto da repristinação é normalizado no artigo n.º 282.º/1 da atual Constituição da República. Este instituto, apesar da sua definição ser a mesma em vários ordenamentos, em Portugal poderá ser diferenciado, pois, no nascedouro da norma, no início de sua vigência, será individualizado na Constituição portuguesa.

A diferença do instituto da repristinação nos dois ordenamentos jurídicos está na expressão e na declaração da norma, melhor dizendo, no ordenamento jurídico brasileiro só há repristinação quando a lei que revogar a norma revogadora expressar claramente em seu texto que a lei revogada retornará sua vigência.

Nesse ponto de estudo, também visualizamos que é competência exclusiva do Poder Judiciário o controle de constitucionalidade e de legalidade quando analisar as normas e, quando essas forem declaradas contrárias ao ordenamento, serão retiradas, retornando a vigência das normas revogadas pela perda da vigência da lei revogadora. Os efeitos da repristinação poderão ser notados tanto no âmbito das atividades do Poder Legislativo quanto no Poder Judiciário, mas só naquele há o instituto da repristinação.

No ordenamento português, será automático toda vez que a norma revogadora for declarada inconstitucional ou ilegal. Aqui se visualiza, principalmente, o papel do Poder Judiciário nas sentenças declaratórias de vigência das normas em seu controle. Porém, isso não impede que o Poder Legislativo venha trazer vigência à lei revogada por repristinação. Neste entendimento, nota-se o instituto e seus efeitos repristinatórios tanto na atuação do Poder Legislativo quanto do Poder Judiciário.

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Neste prisma, normatiza a Constituição da República brasileira que, apesar das diferentes competências para enviar um projeto de lei para votação ao Poder Legislativo, é o Congresso Nacional que analisará e conferirá expressamente a repristinação da lei, quando expressamente declarará na norma revogadora.

No ordenamento jurídico português, a norma que for declarada inconstitucional ou ilegal determina a repristinação das normas que a lei declarará contrárias ao ordenamento jurídico. Neste sentido, além da análise da lei pela Assembléia da República, há analise da inconstitucionalidade e ilegalidade pelo Poder Judiciário, como reza o art. n.º 282º da CRP. É cabível a análise deste instituto pelo Tribunal Constitucional português, que proferirá sua decisão e declarará o efeito repristinatório das normas revogadas pelas leis que forem declaradas contrárias ao ordenamento jurídico pátrio.

O próximo instituto intertemporal abordado é a revogação, seja de uma norma de mesma hierarquia, quando se compara uma Constituição com a nova Carta Magna, seja de uma lei de mesma categoria com outra; seja da Constituição com a nova lei, sendo esta revogada pelo ordenamento máximo. Detalharemos ainda mais este instituto no próximo item.