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2.3. Resultados e discussão

3.3.1. A incidência dos tributos em modelos de equilíbrio geral

Os Modelos Aplicados de Equilíbrio Geral (MAEG) tratam das inter- relações de diferentes mercados e setores da economia e fornecem os resultados de uma análise global que considera as ligações e as interações intersetoriais. Tais modelos são capazes de examinar tanto os efeitos diretos quanto os indiretos causados por alterações de políticas econômicas, como impostos e subsídios. Apresentam, ainda, como característica a possibilidade de simular e avaliar um ajuste fiscal quantitativamente, facultando a comparação entre alternativas existentes (BITTENCOURT, 2002).

A primeira análise dos efeitos da incidência de impostos e da eficiência da tributação na economia por meio de equilíbrio geral foi feita por Harberger em 1962. No Brasil, trabalhos dessa natureza foram desenvolvidos por Braga (1999, 2004), Ornelas (2001), Fochezatto (2003), Domingos e Haddad (2003), Cunha e Teixeira (2004), Silva et al. (2004) e Salami e Fochezzato (2004). De acordo com Braga (1999), nesses modelos, os impostos podem ser aplicados por consumidores sobre compras de bens e serviços; por produtores, sobre o uso de fatores e insumo intermediários; e sobre o produto final de vários setores de produção. As alíquotas podem diferir entre bens e grupos de consumidores e, ou, de produtores, que utilizam a receita tributária em suas aquisições de bens e serviços.

Por essa razão, quando o governo estabelece um imposto, ele afeta o padrão de consumo, os preços relativos dos bens, a oferta de recursos disponíveis na economia etc. Esse fato ocorre porque os impostos não possuem nenhum fim específico definido como contrapartida. Dessa forma, o governo deve buscar

meios de captação de recursos que não modifiquem os preços relativos, sob pena de prejudicar o nível geral de bem-estar atingível com os recursos em disponibilidade. O critério de eficiência de Pareto é um dos instrumentos que têm sido utilizados pela teoria econômica para definir a conveniência ou não da intervenção. Além desse critério, dois princípios básicos de finanças públicas – o princípio do benefício recebido e o princípio da capacidade de pagamento – são utilizados para garantir a máxima eficiência em um sistema tributário.

De acordo com o princípio do benefício recebido, um sistema tributário justo é aquele em que cada contribuinte paga ao fisco uma quantia direta ou indiretamente relacionada com os benefícios que recebe do governo (LONGO; TROSTER, 1993). O princípio da capacidade de pagamento parte da posição de que a abordagem do benefício é irrelevante. Independentemente da utilidade dos serviços públicos para os indivíduos, estes devem contribuir na proporção de sua capacidade para tal (FILELLINI, 1990). Isso implica iguais recolhimentos de tributos por contribuintes com a mesma capacidade de pagamento e diferentes recolhimentos quando tais capacidades são distintas, tornando o princípio mais justo à medida que o sacrifício individual é feito na mesma proporção e de acordo com a capacidade de pagamento de cada um (RIANI, 1990).

A utilização conjunta dos princípios do benefício e da capacidade de pagamento contribuirá para execução com maior eficiência das funções a serem exercidas pelo Estado. De acordo com a função alocativa, os tributos devem ser coletados de forma que satisfaçam as necessidades dos gastos com bens e serviços. Ao tributar mais a classe de renda mais alta, o governo estará executando a função de distribuição, e a função estabilizadora será executada quando o sistema de tributação fornecer recursos para satisfazer os objetivos macroeconômicos (RIANI, 1990).

Como descrito anteriormente, os impostos podem incidir sobre vários setores e agentes da economia. A incidência tributária ocorrerá de acordo com o tipo do tributo, e este poderá ser indireto ou direto. Os impostos indiretos13 são

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Existem várias modalidades de impostos indiretos que se diferenciam de acordo com a amplitude de sua base, que pode ser geral ou especial, segundo o estágio do processo de produção e comercialização

aqueles que incidem sobre atividades ou objetos, ou seja, sobre consumo, venda ou posse de propriedades, independentemente das características do indivíduo que executa a transação ou que é o proprietário. Os impostos diretos, por sua vez, incidem sobre o indivíduo e, por isso, estão associados à capacidade de pagamento de cada contribuinte.

De acordo com Riani (1990), essa classificação é aparentemente simples, porém de grande importância, visto que, quanto maior a participação relativa dos impostos indiretos, maior será a sua abrangência, sobretudo no consumo de bens e serviços, atingindo indiscriminadamente todos na sociedade. Por sua vez, quando os impostos diretos são mais representativos, é sinal de que o sistema de tributação está retirando maiores recursos das fontes de renda provenientes dos lucros, salários etc. Isso significa que o sistema tributário está sendo utilizado com base na capacidade de pagamento, ou seja, ele estaria obtendo maiores recursos das camadas mais ricas da população.

Por definição, somente os impostos indiretos podem ser transferidos, visto que eles incidem sobre a produção, e o imposto poderá ser repassado por alterações no preço, o que implica a existência de uma transação entre quem recolhe legalmente e quem arca com a carga fiscal transferida. Nesses termos, a transferência pode se dar para frente, quando ocorre na direção do mercado de consumo, ou para trás, quando processada na direção do mercado de fatores (FILELLINI, 1990).

A intensidade de transferência dos impostos dependerá especificamente da estrutura do mercado e das elasticidades-preço da oferta e da demanda, que são cruciais para determinação de quem realmente arca com o imposto (GIAMBIAGI; ALÉM, 2001). Em equilíbrio geral, o efeito de um tributo indireto terá sua incidência sobre o consumo, a produção e o comércio internacional. A tributação em insumos e produtos da produção afeta o rendimento do produtor, os incentivos e a escolha de tecnologia. Ocorre, além

sobre o qual incide a cobrança do tributo, sendo este em nível do produtor, do comércio atacadista, do comércio varejista ou em todas as etapas do ciclo, e ainda se diferencia quanto à apuração da base de cálculo, que pode ser sobre o valor total da transação ou apenas sobre o valor adicionado.

disso, efeito indireto sobre a renda dos agentes que recebem o pagamento do tributo.

No caso da análise da incidência de impostos diretos, o efeito destes recairá sobre o salário, levando à redução do retorno líquido do trabalho, e sobre a oferta de capital, afetando a formação de poupança. Dessa forma, torna-se evidente que a incidência efetiva do ônus tributário direto recai sobre o agente de mercado e que ele dificilmente poderá ser transferido para terceiros, uma vez que os agentes não antecipam o seu efeito em análises de períodos simples.