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2.3. Resultados e discussão

3.3.2. Descrição do modelo

3.3.2.1. Características gerais

Existem várias técnicas para se fazer uma análise mais formal dos impactos de políticas econômicas. Neste trabalho foi utilizado um procedimento de simulação com um modelo aplicado de equilíbrio geral (MAEG). Como são multissetoriais, esses modelos permitem que se analisem simultaneamente efeitos sobre variáveis macroeconômicas e efeitos desagregados, como a produção dos diferentes setores, distribuição da renda, demanda de cada produto, demanda de fatores, preços setoriais, etc. Eles fazem, portanto, uma articulação entre o comportamento microeconômico dos agentes e o fechamento macroeconômico (FOCHEZATTO, 1999).

Esses modelos baseiam-se empiricamente na Matriz de Contabilidade Social para definir as variáveis agregadas da economia e na Matriz de Insumo- Produto para incorporar os diferentes setores e as fases intermediárias dos processos produtivos. Para este trabalho foi elaborada uma Matriz de Contabilidade Social (MCS) do Brasil, a partir dos dados da Matriz de Insumo Produto (MIP) de 1996, última matriz oficial divulgada pelo IBGE.

A MIP é obtida das tabelas de insumo-produto, medidas a preços básicos, que são os preços pagos pelos consumidores depois de retiradas as margens de

comércio, transporte e impostos. A MIP disponibilizada pelo IBGE apresenta desagregação de 42 setores. Nesta pesquisa, esses setores foram agregados em oito: Agropecuária, Indústrias extrativas, Indústrias de transformação, construção civil, comércio, transporte e comunicações, serviço e administração pública. A composição de cada um pode ser vista no Quadro 3.3.

Quadro 3.3. Agregação da matriz de insumo-produto do Brasil de 1996

Setores Agregação 1. Agropecuária Agropecuária

2. Indústrias extrativas

Extrativa mineral, extração de petróleo e gás natural, carvão e outros combustíveis e fabricação de minerais não- metálicos.

3. Indústrias de transformação

Siderurgia, metalurgia dos não-ferrosos, fabricação de outros produtos metalúrgicos, fabricação e manutenção de máquinas e tratores, fabricação de aparelhos e equipamentos de material elétrico, fabricação de aparelhos e equipamentos de material eletrônico, fabricação de automóveis, caminhões e ônibus, fabricação de outros veículos, peças e acessórios, serrarias e fabricação de artigos de madeira e mobiliário, indústria de papel e gráfica, indústria da borracha, fabricação de elementos químicos não-petroquímicos, refino de petróleo e indústria petroquímica, fabricação de produtos químicos diversos, fabricação de produtos farmacêuticos e de perfumaria, indústria de transformação de material plástico, indústria têxtil, fabricação de artigos do vestuário e acessórios, fabricação de calçados e de artigos de couro e peles, indústria do café, beneficiamento de produtos de origem vegetal, inclusive fumo, fabricação e refino de óleos vegetais e de gorduras para alimentação, outras indústrias alimentares e de bebidas, indústrias diversas.

4. Construção civil Construção civil

5. Comércio Comércio

6. Transporte e comunicação Transporte e comunicações

7. Serviços

Instituições financeiras, serviços industriais de utilidade pública, serviços prestados às famílias, serviços prestados às empresas, aluguel de imóveis, serviços privados não- mercantis.

8. Administração pública Administração pública

Fonte: Elaborado pela autora a partir das tabelas de insumo-produto, IBGE, 1996.

A escolha desse nível de agregação dos setores econômicos está associada diretamente ao objetivo deste trabalho, que é de analisar possíveis alterações nas alíquotas dos impostos que são utilizados no financiamento do RGPS. Dessa

forma, a economia dividida em oito setores é suficiente para capturar os detalhes e mecanismos requeridos no estudo. Além disso, isso facilita a obtenção dos dados utilizados e a análise final dos resultados.

A construção da MCS possui dois objetivos principais: a organização dos dados da economia e da estrutura social de um País em um ano específico; e servir de base estatística para um modelo de equilíbrio geral. Para essas finalidades, ela é organizada em sistema de dupla entrada na matriz, por meio das linhas (rendas) e colunas (despesas); dessa forma, ela mostra o processo circular da renda (demanda=produção=renda), que pode ser pelo lado da oferta de bens ou no sentido da renda.

O tamanho da matriz está associado ao estabelecido na construção da MIP, uma vez que a MCS complementará os dados anteriores. A diferença é que, dependendo do objetivo de estudo, podem-se subdividir colunas e linhas. Na prática, sua construção dependerá das limitações impostas e das motivações de sua construção, como interesse pelo crescimento, efeito de diferentes atividades, ou diferentes grupos da sociedade.

Neste estudo, a economia foi dividida em oito setores produtivos, respeitando a agregação realizada anteriormente na MIP. Os agentes, por sua vez, foram classificados em setor externo, famílias e governo. Cada setor utiliza dois fatores de produção: trabalho e capital. Essa configuração, embora seja ainda bastante agregada, possibilita que se analisem alguns efeitos desagregados importantes, como sobre a estrutura produtiva os preços relativos e a distribuição de renda, decorrentes de medidas alternativas de política econômica.

Resta ainda fazer um esclarecimento importante acerca da conta família. Optou-se por não dividir as famílias em urbanas e rurais, dado o objetivo da organização do modelo, que será para analisar o RGPS. As justificativas dessa decisão provêm do fato de que os benefícios rurais, em sua maior parte, não estão vinculados a contribuições individuais, uma vez que as pessoas que fazem parte deste regime adquirem o direito ao benefício por meio de comprovação do tempo de serviço rural, em vez de a concessão estar vinculada ao tempo de contribuição.

Assim, o financiamento dos benefícios rural depende de recursos do Tesouro Nacional e de subsídios cruzados urbano-rural.

Como visto, as principais fontes de dados para construção de uma MCS são as TIPs elaboradas pelo IBGE. Essas tabelas fornecem informações sobre fluxos intersetoriais, demanda final, importação e valor adicionado. As demais informações (poupança, transferência do governo, balança de pagamentos, etc.) foram obtidas do Sistema de Contas Nacionais do IBGE e do Relatório Anual do Banco Central em 1996. A MCS utilizada neste estudo encontra-se no Anexo 1.

Uma vez obtida a base de dados necessários à construção de um modelo de equilíbrio geral, deve-se determinar o modelo a ser empregado. Neste estudo foi utilizado o software Mathematical Programming System for General

Equilibrium – MPSGE, desenvolvido pelo Professor Thomas Rutherford, do

Departamento de Economia da Universidade do Colorado (RUTHERFORD, 1989).

Este modelo é formado por um conjunto de equações simultâneas não lineares, em que o mecanismo de preço é fundamental na alocação dos recursos. Essas equações são apresentadas na forma de funções CES (Elasticidade Constante de Substituição) ou em dois casos especiais de variações desta. Quando a elasticidade de substituição for zero, a função Leontief é empregada, e, quando for um, utiliza-se a função Cobb-Douglas. As funções CES aninhadas são caracterizadas pelas diferentes possibilidades de comércio dentro de cada agregado, bem como entre agregados. As notações descritas a seguir são as utilizadas no modelo14 em análise.