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Cenário 3 Financiamento do RGPS em sua totalidade por impostos indiretos que incidam apenas sobre os insumos intermediários, Considerou-se zero a alíquota do imposto direto, sendo esta somada aos impostos que incidem sobre os insumos nos oito setores econômicos, proporcionalmente.

4.2. A Previdência Rural brasileira versus a de outros países

Os Sistemas Previdenciários possuem sentido amplo e possuem regras distintas; eles são resultados de consensos sócio-políticos e mudam conforme a sociedade. Na atualidade, existem quatro classificações para os sistemas previdenciários: assistencial, bismarckiano, beveridgiano e uma sobreposição dos três anteriores.

As estruturas públicas do tipo assistencial selecionam os assegurados em critérios de pobreza para terem acesso aos recursos da coletividade. O tipo bismarckiano estipula como regra de acesso a contribuição prévia. Já o modelo beveridgiano não exige contribuição individual anterior para obtenção do benefício básico, aferindo-se o direito à prestação por alguma característica definidora da cidadania, como seria o tempo de residência no País ou o fato de haver pago imposto de renda. No entanto, com as reformas do Welfare State na segunda metade do século XX, em diversos países, elementos dos três modelos passaram a se sobrepor. Embora ainda seja possível identificar características de cada modelo, dificilmente serão encontrados casos estritamente clássicos.

Para melhor caracterizar os modelos de cobertura previdenciária, pode-se dividi-los em quatro grupos, em que se considera ou não a existência do vínculo contributivo e a maior ou menor relação existente entre este e o mercado (Tabela 4.3).

Tabela 4.3. Tipologia de modelos de cobertura previdenciária

Contributivo Não-contributivo Maior relação com o

mercado

Modelo contributivo diferenciado

Modelo universal básico

Menor relação com o mercado

Modelo contributivo estrito Modelo assistencial

Fonte: Schwarzer (2000).

A Previdência Rural brasileira apresenta desenho muito peculiar em relação à experiência internacional, uma vez que o regime urbano é contributivo e, na área rural23, o País aproxima-se, de fato, de uma aposentadoria básica universal não-contributiva, em que o benefício é de valor único (flat rate igual ao salário mínimo) e não apresenta correlação com rendimentos da fase ativa ou

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A contribuição para a Previdência Rural no Brasil ocorre da seguinte forma: o produtor rural pessoa jurídica contribui com alíquota de 2,5% sobre o total da receita bruta proveniente da comercialização da produção rural e o produtor rural pessoa física e Segurado Especial contribuem com 2% sobre o total da receita bruta proveniente da comercialização da produção rural. Os três tipos de segurados citados anteriormente ainda contribuem coma mais 0,1% sobre o total da receita bruta proveniente da comercialização da produção rural, para financiamento da aposentadoria especial e daqueles benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho.

com a base da contribuição. A contribuição pessoal, por seu lado, possui característica de tributo, incidindo sobre o faturamento com vendas da produção rural do estabelecimento agrícola familiar. Essa forma de relação existente na Previdência Rural do Brasil não pode ser considerada assistencialista, uma vez que o direito de acesso ao benefício não se dá por teste de necessidade, mas pela circunstância de o (a) segurado (a) ter trabalhado na agricultura.

Para melhor caracterizar a Previdência Rural brasileira, torna-se interessante comparar algumas de suas características com aquelas de outros países (Tabela 4.4). Não obstante, alguns elementos parecem comuns à Previdência Rural nos mais diversos países do mundo. Em primeiro lugar, o setor rural, no que concerne à pequena agricultura familiar, apresenta rendimento domiciliar médio inferior ao urbano. Além disso, o setor rural está sujeito a processos de transformação estrutural profundo, e a tendência geral é de queda da população ocupada na agricultura. Assim, iniciativas que procurem uma estrutura de financiamento baseada na capacidade contributiva rural estão destinadas a fracassar, uma vez que a base potencial de arrecadação na área rural é reduzida e a relação contribuinte/beneficiário tenderá a deteriorar-se continuamente.

É possível perceber também que a proteção social ao setor rural dificilmente pode prescindir de transferências de recursos advindas de outros setores, seja via Tesouro, seja via transferências entre diferentes regimes previdenciários. Os Welfare State comprometidos com maior homogeneidade urbano-rural subsidiam marcadamente os sistemas de proteção social para a área rural. Embora haja uma tendência internacional a estreitar o vínculo contribuição/benefício, essa necessidade da manutenção de elementos redistributivos, seja internamente ao regime (transferências urbano-rural ou de recursos do Tesouro), seja externamente, via assistência social e outros programas complementares ou mesmo via orçamento público, continuará presente para os regimes previdenciários rurais.

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Tabela 4.4 . Características de regimes de Previdência Rural em países selecionados

Aposentadoria por idade Financiamento

Países

(Ano dos dados) Modelo

Grupos rurais com cobertura obrigatória Idade Homem/mulher Tempo de contribuição Benefício básico é flat rate? Há transferências do tesouro ou outro regime? % contribuição sobre gastos em benefícios Alemanha (1999)

Contr. Difer. AUT+MEM 65 Mín. de 15 anos não sim 25%

Argentina (1995)

Contr. Difer. ASS 67 Mín. de 10 anos trabalho rural

n.d. sim n.d.

Brasil Univ. básico TODOS 60/55 Crescendo a 15 anos

sim sim < 10%

Canadá (1999)

Univ. básico TODOS 65 10 a 40 anos residência

sim sim n.d.

Chile (1999)

Assistencial ASS (na AFP) 65 Benef. Ass. sim sim integral

Espanha (1998)

Contr. Difer. AUT+MEM ASS

n.d. n.d. não sim n.d.

Estados Unidos (1999)

Contributivo AUT+ASS 65 10 anos de contrib.

não não n.d.

França (1998)

Contr. Difer. AUT+MEM ASS 65 37,5 anos de contrib. parcialmente sim 24,5% Holanda (1998)

Univ. básico TODOS 65 Até 50 anos residência

sim sim n.d.

Itália (1998)

Contrib. Difer AUT+MEM ASS 57-65 5 anos de contrib. não sim n.d. Portugal (1998)

Contrib. Difer AUT ASS+EMP

65 15 a 40 anos de contrib.

não n.d. n.d.

Fonte: Schwarzer (2000).

Por fim, cabe ressaltar a crescente relação de benefícios rurais para o orçamento das famílias dos idosos, o que gradativamente transforma, de fato, o programa previdenciário em um programa de garantia de renda mínima para a área rural – em muitos casos, atingida por fortes mudanças estruturais. O fenômeno do crescente peso da renda dos idosos nos orçamentos domiciliares deve aprofundar-se no mundo inteiro, devido à estagnação dos mercados rurais de trabalho e ao processo de envelhecimento populacional.