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5 ANÁLISE DOS DADOS

5.2 Inclusão, acessibilidade e relações interpessoais

5.2.1 A inclusão e a acessibilidade dentro da universidade

A legislação vigente em nosso País visa garantir a inclusão da pessoa com deficiência em todos os segmentos da sociedade, enfatiza a importância da acessibilidade e, por conseguinte, de um atendimento adequado para essa clientela (BRASIL, 2001a, 2007a, 2007b).

Na universidade pesquisada, porém, os relatos não apontaram para a existência de uma efetiva inclusão, visto que o Ensino Superior ainda não adequou suas práticas pedagógicas ao alunado com deficiência e ainda não há uma discussão abrangente sobre o tema, de modo a alcançar de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, capaz de modificar suas práticas e atitudes. Como demonstra os relatos do coordenadores a seguir:

Eu sei que isso é muito utópico, porque se discute isso na própria formação do Fundamental, no próprio Ensino Fundamental e Médio, que é a questão de como incluir esse aluno. Então, a inclusão do aluno tem que ocorrer desde a base e, quando chega no Ensino Superior, teoricamente esse aluno já deveria se sentir incluído e todo o processo já tá todo organizado, mas nós não vemos isso na rede e nós não vemos no Ensino Superior. Aí se precisa discutir muito sobre a formação e capacitação desse técnico que, no caso, somos nós professores, mas eu acho que, para além disso, tem que se fazer toda uma discussão sobre o que é de fato inclusão. Como incluir? Como adaptar as instituições? Como adaptar os processos? E aí a gente vai acabar na avaliação, como adaptar a avaliação e como esse professor adaptar a avaliação, que também tem que ser discutida se ela é global, que foi que eu te disse, ela é global ou ela é singular e então, se ela for singular, como é que você pode fazer uma avaliação singular pra esse sujeito e também não ser singular pros outros. Porque, de certa maneira, todos nós somos singulares, todos nós temos necessidades especiais. Claro que, no caso das pessoas com necessidades especiais, elas têm, além das necessidades especiais, limitações no seu próprio desenvolvimento, que levaram a essas necessidades mais específicas, mas todos nós temos (C2).

Muito pouco se faz. A gente sempre fica na esfera da discussão da reflexão, da crítica, mas, na prática, o que se vê é uma readequação dos espaços físicos, ou seja, que permitam que os deficientes tenham uma certa mobilidade física nos espaços, mas só que isso não garante, mas é um grande começo (C2).

Isso me permitiu perceber que a grande importância da inclusão, das pessoas que têm qualquer deficiência agravada, seja física ou mental, é a educação dos supostos não-deficientes, dos não-deficientes físicos ou mentais, mas que têm profundas deficiências de convivência por essa ignorância. Não é culpando, mas é reconhecendo a ignorância social no trato da naturalização dessas questões. Então, pra mim, foi um aprendizado fantástico de perceber como é importante a gente poder conviver com o idoso, com o doente, com o deficiente mental, físico, seja em que nível for, como aprendizado geral de convivência (C5).

O relato dos coordenadores chama a atenção para o fato de que a inclusão, muitas vezes, se confunde com a ideia de adequação dos espaços físicos e de que a inclusão ainda não é efetivada dentro do ambiente acadêmico, tendo em vista que os professores não são formados para isso e ainda não há um movimento abrangente de discussões sobre o tema, que atinja a todos os envolvidos no processo: alunos, coordenadores e professores. Vale ressaltar que o movimento de inclusão é compreendido pelos coordenadores de forma ampla e que deve envolver todos os segmentos da sociedade e não apenas para a pessoa que apresenta algum tipo de deficiência.

A existência da legislação parece não garantir a existência da inclusão, visto que esta esbarra na má qualidade da formação docente, que prossegue utilizando modelos pedagógicos tradicionais e excludentes. Para a plena efetivação de uma educação inclusiva, faz-se necessário: o comprometimento e a disposição de todos os sujeitos participantes do processo;

a adequação de procedimentos didáticos às diferentes necessidades dos alunos; um currículo flexível; capacitação e apoio permanente ao professor; redução do número de alunos por turma; o domínio de modelos teóricos e concepções de aprendizado para subsidiar a prática docente (BEYER, 2005; FIÚSA; SANTOS; LIMA, 2008; HOFFMANN, 2005).

Em relação à acessibilidade, foi constatada a existência de alguns recursos na universidade investigada:

No caso do deficiente visual, a biblioteca dá um suporte na transposição dos programas pra Braille (C2).

Então, se hoje nós tivermos um aluno na nossa sala de aula com problema de surdez e que precise de um intérprete, nós teremos esse intérprete, porque hoje existe um núcleo de pesquisa trabalhando com isso aqui na UNIVERSIDADE, que está na responsabilidade da professora X (C6). Aqui, na UNIVERSIDADE, por exemplo, pra esse aluno portador de necessidade visual, tem todo um serviço de acompanhamento e de suporte, que tem favorecido demais a eles poderem desenvolver a avaliação da forma como eles realmente podem e devem desenvolver. Nesse sentido, é um trabalho em conjunto com o trabalho do professor. Embora que a nota final é do professor, isso daí não é problema do ponto de vista da UNIVERSIDADE. Com relação aos alunos surdos, existe também um núcleo aqui sob a coordenação da professora X e que ela realmente tem procurado, vem desenvolvendo esse tipo de trabalho (C6).

Por outro lado, foi verificada a ausência de recursos essenciais para garantir a acessibilidade dos alunos com deficiência.

Hoje, na coordenação, nós não temos e o nosso laboratório de informática, ele não tá estruturado ainda. Então, o que nós temos hoje, na sala de informática, é só o equipamento mobiliário. Eu imagino que, a partir do momento em que os computadores cheguem, a gente possa tá fazendo uma adaptação dos softwares que existem lá dentro, para que o aluno possa tá utilizando, no caso do deficiente visual. Nós não temos nenhum aluno com deficiência auditiva, mas mesmo que tivéssemos, nós não temos tradutores que trabalhem com a linguagem de LIBRAS (C2).

Quando questionados sobre se conhecem os recursos que a universidade (Q28 ± APÊNDICE A) disponibiliza para assistir aos alunos com deficiência, os professores responderam da seguinte maneira:

Gráfico 16 ± Conhecimento sobre recursos existentes

Como demonstra o gráfico 16, dos professores entrevistados, 58% não conhecem os recursos oferecidos pela universidade para assistir aos alunos com deficiência em suas necessidades educacionais. Os 42% dos professores que disseram conhecer os recursos presentes na universidade, referiram-se a: suporte de psicologia da UNIVERSIDADE (P1); presença de softwares para o aluno cego (P4); Projeto UNIVERSIDADE Inclui [projeto anterior à inauguração da secretaria, com objetivo de promover a inclusão na universidade estudada] (P14, P19); Secretaria de Acessibilidade (P1); adaptação do material didático para o aluno com deficiência visual, como o Braille e a transposição para a versão eletrônica realizada pela biblioteca (P5, P12, P15, P19). Um dos professores não especificou qual recurso conhece e relatou não precisar utilizar nenhum recurso.

A ausência de conhecimento sobre os recursos existentes dificultam a adequação dos procedimentos pedagógicos às necessidades do aluno.

[...] se tem algum recurso especial, eu não tenho nenhum recurso especial. O professor tem que arranjar uma metodologia, uma didática que atinja a pessoa que tem a deficiência. Então sempre tem que ser faladas as coisas, no caso, pra ele. Você pode mostrar, mas tem que falar, senão não vai adiantar nada. Então, a gente não tem nenhum projeto, nenhum estudo, nada assim. A gente se deparou com esse problema semestre passado, que ele entrou no semestre passado, tá no segundo e a gente tem lidado com tranquilidade com isso (C3).

Divulgar a existência dos recursos de acessibilidade e onde acessá-los mostra-se imprescindível, visto que o uso dos recursos auxilia o professor na sua prática pedagógica, dando-lhe o apoio necessário e auxilia os alunos para que, de fato, eles tenham condições equitativas de aprendizado. Adequar o mobiliário, eliminar barreiras arquitetônicas, disponibilizar recursos, materiais pedagógicos que sejam adaptados, como também equipamentos de informática acessíveis que habilitem os alunos com deficiência para o uso independente do computador, garantindo assim formas alternativas de acesso à produção do

conhecimento são procedimentos que devem ser adotados pela instituição de ensino (BRASIL, 2006b, 2007d).