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A inclusão educacional de alunos com autismo e a formação das

5 PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES DE ALUNOS COM

5.4 A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE A INCLUSÃO DE

5.4.1 A inclusão educacional de alunos com autismo e a formação das

Quando questionadas sobre o que achavam da inclusão educacional de alunos com autismo, pôde-se constatar que as cinco entrevistadas se mostraram favoráveis à inclusão, embora cada professora tenha ressaltado aspectos que

devem ser considerados. A seguir, serão apresentadas as respostas de duas professoras e uma estagiária a essa questão:

Eu acho ótimo apesar de ser difícil né, porque eu conheço pessoas que trabalham com autismo mais sozinho, aí de um jeito e de outro, eles não são inclusos com outros alunos e pode também assim favorecer porque eles não compartilham né com outros colegas, assim eu acho muito só, quando se trabalha só com autismo. Eu já conversei com professores que trabalham com dois, com três, mas eles não se relacionam entre si mesmo, e pelo menos assim quando estão juntos34, mesmo pouco eles já observam, se alegram, às vezes quando vê o coleguinha brincando, o pouco que eles fazem, acho que já é um pouco de crescimento, faz parte do crescimento da criança. (Professora Rayssa)

É a minha experiência, é pela primeira vez né eu recebi na minha turma alunos com autismo né, até então eu não sabia ainda quase nada sobre autismo eu pensei que era bem diferente né, que fosse bem mais difícil, mas, pelo menos, os dois alunos que eu tenho na minha turma são alunos que eles conseguem interagir até certo ponto com os colegas, eles conseguem acompanhar o andamento da aula, é tem um que precisa de acompanhamento né, de monitoração ali com ele o tempo todo olhando como ta, o outro é mais calmo, mas é eu to achando interessante por que vem favorecer né a essas crianças que tem autismo que eles possam é participar de aulas regulares com alunos da rede pública regular e que pra eles é bom essa integração com interação tanto pra eles como para os outros né para os outros alunos da classe. (Professora Dalva)

Eu acredito que foi um grande passo assim né, que se deu, que realmente tem que incluir esse aluno, eu acho que a exclusão que existia antigamente deve ser abolida praticamente, mas deve ser trabalhado em conjunto né. Pais, profissionais não podem ficar pensando, que vamos jogar uma criança autista na escola regular e pronto né. Não é assim jogar de qualquer forma, tem que haver um equilíbrio, regular, mas também tem que ter um acompanhamento fora, para que todos possam ajudar essa criança a se desenvolver. (Estagiária Rosana)

A professora Rayssa destacou em sua fala a dificuldade encontrada para a inclusão do aluno com autismo; mas, tanto ela como a professora Dalva, ressaltaram que a inclusão favoreceu a interação dos alunos com autismo com os colegas. Entretanto, durante as observações foram constatadas poucas iniciativas das professoras no sentido de favorecer a interação entre os alunos, parecia haver por parte das professoras a concepção de que essas interações ocorreriam de forma espontânea entre os alunos. A estagiária Rosana trouxe em sua fala a concepção de que não basta apenas colocar o aluno com autismo na escola regular, sendo necessário um trabalho de parceria entre a escola, a família e outros profissionais que atendem o aluno e um acompanhamento fora da escola.

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Em relação a terem tido experiência anterior com os alunos com autismo, todas as professoras entrevistadas informaram que os alunos com autismo, sujeitos desta pesquisa, foram os primeiros alunos com essa síndrome que tiveram. A afirmação das professoras e da estagiária revelou que a inclusão de alunos com autismo ainda é algo recente, o que confirma a informação trazida por Suplino (2007, p. 26) de que “Em nosso país ainda são poucas as iniciativas de inclusão desses alunos em classes regulares”.

Sobre a participação em algum curso sobre autismo antes de receber o aluno. A resposta das entrevistadas foi unânime em relação a esta questão, elas informaram não terem participado de nenhum curso de capacitação, antes de receber o aluno com autismo. A professora Dalva informou ter participado de uma palestra quando já estava ensinando os alunos com autismo e a professora Rayssa informou que a coordenadora da escola deu palestras, emprestou DVD e livros sobre autismo, o que aconteceu quando já estava trabalhando com o aluno, vale ressaltar que após a matrícula do aluno na escola é que a coordenadora ficou sabendo que Adriano possuía autismo. Essa questão alerta para a formação dos professores, pois as entrevistadas informaram durante as observações e/ou entrevistas que não possuíam conhecimentos satisfatórios sobre o autismo e sobre a maneira de trabalhar com esses alunos. Algumas demonstraram desconhecer as principais características da síndrome, o que acabava dificultando o desenvolvimento de ações que levassem os alunos a superar as dificuldades apresentadas.

A importância do curso sobre autismo e sobre a inclusão educacional desses alunos é ainda mais necessária diante da formação de duas das professoras, que possuíam apenas o nível médio e que não haviam tido informações sobre a educação de pessoas com necessidades educacionais especiais. Dessa forma, concorda-se com a opinião de Suplino (2007, p. 146) quando afirma que:

[...] o conhecimento, a capacitação, a formação (todo esse conjunto entendido aqui como conhecimento teórico acerca de um assunto determinado) por si só não se revelam como elementos suficientes para a promoção de uma inclusão bem sucedida, contudo sua relevância é indiscutível na condução do processo.

No entanto, a formação oferecida aos professores não deve se limitar a transmissão de conhecimentos teóricos, somando-se a isso, deve ser realizado

investimento na sua formação, principalmente no sentido de possibilitar encontros com outros professores que possuem alunos com autismo e momentos de reflexão sobre a prática. A este respeito, Giardinetto (2009, p. 124) menciona:

Observa-se, portanto, que oportunidades de expressão oferecidas aos professores em grupos de capacitação são de suma importância para o processo inclusivo, uma vez que se tornam um canal de comunicação para os professores exporem suas dúvidas, preocupações, expectativas, experiências e aprender a lidar, na sua prática escolar, com esses alunos [...].

A autora aponta para a necessidade de acrescentar espaços na formação dos professores, onde eles possam falar sobre sua experiência com aluno com autismo.

No que diz respeito ao que fazem para favorecer a inclusão do seu aluno com autismo, as professoras demonstraram não saber se está agindo certo com esses alunos, agindo mais pela intuição do que por um conhecimento fundamentado de que estão utilizando estratégias que beneficiem seus alunos. Isto pôde ser comprovado nos seguintes depoimentos:

Olhe eu na verdade vou dizer a você eu não sei qual a resposta, eu não tenho conhecimento do assunto, mas eu ajo muito pela questão, pela minha questão da intuição do coração né, ta ali aproximando aquele aluno mais pra perto de mim, perto da gente, das crianças, qualquer coisa que acontece eu já to chamando atenção conversando com eles trazendo a questão, colocando ele no lugar do outro como é que seria se fosse com você, você gostaria? Se fosse seu irmão, sua irmã né? Penso muito eu também sou mãe, e penso muito nas mães como ela gostaria que a criança fosse tratada então eu procuro de várias formas de buscar que esse aluno se sinta bem que ele seja incluído dentro da sala de aula da escola. (Professora Dalva) Oh! É como eu te disse; a gente não tem esse recurso entendeu, a gente faz de tudo, mas recurso mesmo para trabalhar com Adriano não tem, é difícil. Ai a gente tenta assim, incluir ele na brincadeira, mas você vê quando tenta, ele não vai. Na verdade por mais que ela tenha passado algumas coisas ou mandado a gente ler livro, ter dado DVD, de repente assim, eu mesmo não sei ainda como trabalhar. (Professora Rayssa)

A professora Dalva em sua fala demonstra seguir uma postura mais emotiva na sua prática com os alunos com autismo, e a professora Rayssa volta a falar sobre a dificuldade em trabalhar com aluno com autismo; aponta a falta de recursos e reconhece que não sabe como trabalhar com esse aluno.

Especificamente sobre a questão do autismo, em seu estudo, Jordan (2005) também aponta a necessidade de orientação aos professores,

pois é a falta de conhecimento a respeito dos transtornos autísticos que os impede de identificar corretamente as necessidades de seus alunos com autismo. (BOSA; CAMARGO, 2009, p. 5)

A falta de conhecimento sobre as características apresentadas pelas pessoas com autismo por parte das professoras que tiveram suas práticas observadas dificultava o atendimento às necessidades especiais dos alunos com autismo.