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A percepção das professoras sobre os alunos com autismo

5 PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES DE ALUNOS COM

5.4 A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE A INCLUSÃO DE

5.4.2 A percepção das professoras sobre os alunos com autismo

Quando solicitadas a descrever o aluno com autismo, as professoras falam sobre as dificuldades de interação apresentadas por eles, mas pontuam também que, de maneira geral, os alunos são afetuosos com elas. Segue a fala de algumas professoras:

Adriano é uma criança calma, ele às vezes chega agitado na sala de aula, mas isso é por... outros fatores, por não dormir direito ou algum problema assim, porque acordou cedo e teve que fazer exame tal ou por medicação, que ele sente muito sono, mas ele é uma criança tranqüila, aquela história de que autismo é ... Ah! De que uma criança autista ela é muito violenta, não tem carinho. É uma criança carinhosa, ele abraça, dá pra entender que ele sente, não é como muitos dizem ah não tem sentimento né, fica assim atoa lá, não reage pra nada, não ele abraça, a gente sente carinho nele. Ele em certos momentos ele parece entender o que a gente ta falando, através do olhar dele a gente percebe muita coisa. (Estagiária Rosana)

Na escola, porque acho que em casa ele tem outro comportamento, então eu só posso dizer na escola, ele é um menino carinhoso, gosta de música, fica completamente com a música, ele é, é vamos dizer assim, brincalhão quando ele dá pra brincar também ninguém segura, tem dia que ele ta brincalhão demais, mas assim, os meninos pequenos mesmo, ele tem um cuidado, protegendo, só naquela semana ele teve um distúrbio de comportamento com Álvaro35, mas agora ele não está tendo, mas eu evito deixar próximo, porque a gente não sabe né, de uma hora pra outra, o que pode vir acontecer certo, mas assim até mesmo no falar com os meninos ele só falava repetindo palavras, agora não, ele pergunta mais as coisas aos meninos, acho que ele ta 100% melhor. (Professora Isabel)

A descrição da professora e da estagiária alerta para o fato de que os alunos com autismo são diferentes e remetem à questão da afetividade que pode ser demonstrada por esses alunos.

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A professora está se referindo ao comportamento agressivo que Leonardo apresentou em relação ao colega Álvaro, que é quase do mesmo tamanho que ele, bateu no colega e tentou furá-lo com lápis. Vale ressaltar que foi um comportamento isolado e que o aluno com autismo não agiu mais desta forma durante as aulas.

Sobre como é a relação do aluno com os outros colegas, as professoras mencionam a dificuldade de interação que os seus alunos possuem e destacam o cuidado e a tentativa de aproximação por parte dos colegas. Entretanto, uma das professoras demonstra ter se surpreendido, pois acreditava que a relação dos alunos com os colegas seria mais difícil. Quanto a essa questão, vale apresentar os depoimentos das professoras.

É uma relação eu achei que seria mais difícil mais a relação deles com os colegas é uma relação tranqüila, não tem muito atrito, não tem conflitos assim com relação à interação, a relação deles com os colegas é uma coisa bem normal, as outras crianças agem com eles normalmente, cuidam deles, tem cuidado com eles né, de sentar na cadeira, não machucar, não tomar certos tipos de atitudes com eles que tomariam com outras, algumas atitudes mais agressivas que eles fazem entre eles assim, eles não fazem com os meninos, eles procuram ter mais cuidado, respeitar, então a relação é assim. (Professora Dalva)

Tem momentos assim que ele até olha assim, mas de repente não sei, ele vai para o mundo dele, e aí não interage muito não. Pesquisadora: Os colegas buscam essa

interação com ele? Buscam, mas eu acho que de tanto às vezes as crianças

tentam aí não vê assim a reação dele com eles, e aí as crianças vezes acabam desistindo também. (Professora Rayssa)

Muito boa, assim tem as meninas, por exemplo, elas meio que agem assim como cuidadoras deles né sempre buscam colocar eles na equipes se for um trabalho de equipe, as meninas dizem não André e Valter vão estar em nossa equipe, eu não vejo nenhum tipo de preconceito, nem algum tipo de rejeição com eles, agora é André ele interage melhor com os colegas do que Valter, ele brinca de correr, de pegar, Valter já é mais afastado dos colegas ele tem um grau de autismo até diferente dos outros, Valter se relaciona assim é, mas com Tadeu, comigo, mas com os colegas ele ainda não tem assim uma relação como André tem, é um pouco mais afastado. (Professora Carolina)

Como eu disse né, tem os meninos maiores que ele procura brincadeira um pouco mais agradável, mas com os meninos menores é aquela coisa, ele parece que tem medo dos meninos menores, por que quando os meninos menores vai pra cima dele, ele grita ô pró, ô pró ó pra aqui ó, já os maiores se for pra cima dele, ele aí fala besteira, fala o que ele quiser canta uma música, dá risada, mas ele não se sente vamos dizer assim ameaçado não, mas com os pequenos, parece que ele se sente ameaçado que eu não sei se ele acha que ele não pode bater nos meninos pequenos tem vezes que ele se esquiva todo, ô pró ó pra ela, manda ela parar entendeu? (Professora Isabel)

Muito boa. Ele não é agressivo com os colegas sabe, ele trata muito bem, alguns vão até pra cima dele, tentam abraçar ele, ele de momento fica, depois sai, mas ele é tranqüilo. (Estagiária Rosana)

Os depoimentos das professoras revelam as dificuldades dos alunos com autismo, no que diz respeito à interação com os colegas, mas demonstram que os

colegas buscam a interação com eles e que em alguns casos assumem uma postura de proteção e cuidado.

Quando questionadas sobre a relação delas com o aluno com autismo, a maioria das entrevistadas avaliou a relação como boa, isso foi comprovado durante as observações. Foi possível perceber que os alunos demonstram ter confiança nas professoras, solicitando o auxílio das mesmas quando necessitavam de algo. Apenas uma entrevistada relatou a dificuldade que possui em se relacionar com o aluno com autismo. Segundo ela:

Olha, eu tento, sei lá, eu tento, entendeu interagir com ele, com André, mas, agora é difícil porque eu tenho que dá atenção aos 23, as vezes por mais que eu tente eu me sinto assim que não estou me dando totalmente com André como deveria, prestando atenção, trabalhando mais com ele, e aí pela questão da sala ser tão cheia fica difícil aí fica difícil dar atenção a ele ou então só me dedicar a ele, aí fica difícil por isso. (Professora Rayssa)

Nas observações, percebeu-se que a professora Rayssa foi a que mais demonstrou dificuldade em interagir com o aluno com autismo, constantemente o aluno era excluído das atividades realizadas por ela. Ela mesma reconheceu que não está se relacionando e trabalhando com Adriano da maneira necessária.

Ao tratarem sobre as condições de aprendizado dos alunos com autismo na escola regular, todas as entrevistadas consideraram que o aluno com autismo tem condições de aprendizado, algumas destacaram os avanços demonstrados pelos alunos e outras ressaltaram as dificuldades encontradas.

Ele tem condições sim de aprender, e ele às vezes, a gente pensa que ele está longe, mas não, a gente está explicando alguma coisa ou fazendo a leitura das vogais e dos números e de vez em quando a gente pega ele fazendo contagem nos dedos ou até mesmo falando no, através do que, os dizeres que tem na sala na parede. (Estagiária Rosana)

Tanto tem que aprendem né e que lêem e que escrevem e que estão informados das coisas e que participam e que falam o que acontece aqui e ali, dão opinião, entendeu? (Professora Dalva)

A fala das professoras corrobora com a opinião de Fernandes e outros autores (2007) de que os alunos com autismo possuem condições de aprendizagem. Dessa forma, também devem ser realizados investimentos em relação à aprendizagem de conteúdos acadêmicos.

A respeito das produções do (atividades desenvolvidas pelo) aluno com autismo, as professoras revelaram que as atividades desses alunos são as mesmas realizadas pelos demais alunos e a maioria das entrevistadas ressalta que eles fazem a atividade de forma semelhante aos colegas de classe. Embora seja importante que os alunos com autismo compartilhem das atividades realizadas no cotidiano escolar, foi possível perceber tanto na fala como na prática das professoras, que não houve por parte das professoras observadas uma preocupação em oferecer respostas às necessidades educacionais apresentadas pelo aluno com autismo. A pesquisadora acredita que o não desenvolvimento de estratégias ou ações adequadas às necessidades especiais dos alunos com autismo não era proposital, parecia haver por parte das professoras o desconhecimento da necessidade de realizá-las.