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CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3 A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL E O MEIO AMBIENTE

A cadeia produtiva do setor de construção, ou a construbusiness, como tem sido chamada, compõe-se de diversos subsetores: material de construção, bens de capital para construção, edificações, construção pesada e serviços diversos, que incluem atividades imobiliárias, serviços técnicos de construção e atividades de manutenção de imóveis.

O macrocomplexo composto pela construção civil tem respeitáve l peso econômico e social no desenvolvimento de uma nação, sendo responsável por aproximadamente 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, com investimentos que ultrapassam R$ 90 bilhões por ano, geração de 62 empregos indiretos para cada 100 empregos diretos, contribuição para a redução do déficit habitacional e da infra-estrutura, indispensável ao progresso (DIAS, 2004).

A indústria da construção civil é responsável por um consumo considerável de recursos naturais, uma vez que muitos dos insumos que entram na produção dos materiais de construção são obtidos pela extração de jazidas para atender à demanda de mercado. Estima-se que 50% dos recursos materiais extraídos da natureza estão relacionados à atividade de construção (DIAS, 2004).

Como resultado, algumas reservas de matérias primas já se encontram bastante limitadas em sua produção, conforme foi constatado em 1996 em matéria na Construction And Environment, que previu a vida útil das reservas mundiais de cobre para pouco mais de 60 anos. A Tabela 2.1 mostra os dados da produção anual de agregados em diversos países no ano de 1988.

Tabela 2.1 – Produção anual de agregados em diversos países no ano de 1988. País M/t(1) M/t(1) per capita

França 138 2,45

Japão 1,90 1,54

Coréia do Sul 46 1,07

Reino Unido 319 5,56

USA 1937 7,74

Brasil (concreto e argamassas)* ~ 200 ~1,24

Nota:

1- Milhões de toneladas

Fonte: CONSTRUCTION AND ENVIRONMENT (1996).

Outro fator que influencia na energia incorporada aos materiais refere-se à dispersão espacial do setor, onde ainda há que se considerar a distância e o meio de transporte. Apenas como exemplo, cerca de 80 % da energia utilizada na produção do edifício é consumida na produção e transporte de materiais (CONSTRUCTION AND ENVIRONMENT, 1996; JOHN, 2000).

A maioria das atividades do setor construtivo causa poluição ambiental tais como, a poluição sonora, a poluição do ar. Um exemplo de poluição do ar é a indústria de cimentos no Brasil, que, de acordo com John (2000), é responsável por mais de 6% do total de Dióxido de Carbono (CO2) gerado no país.

Além disso, a indústria da construção civil, em suas diversas fases, quais sejam construção, manutenção, reforma e demolição, origina uma expressiva massa de resíduos que podem ser bastante prejudiciais ao meio ambiente.

Especificamente sobre os RCD, quando estes não são reciclados ou reaproveitados, os principais impactos ambientais são possivelmente aqueles associados à sua destinação final, seja pelo rápido esgotamento das áreas dos aterros ou bota-foras, seja pelos graves problemas ocasionados pelas deposições irregulares.

A constatação da significância desses problemas levou a Civil Engineering Research Foundation, uma entidade americana voltada à modernização na construção civil, a pesquisar junto a profissionais do ramo de projetos, construção e pesquisadores do mundo inteiro, as tendências fundamentais para o futuro do setor, quanto ao grau de impacto das

diferentes tendências nas atividades de construção civil. Segundo o resultado geral desta pesquisa, mostrado na Figura 2.1, a questão ambiental aparece como a segunda tendência mais importante (JOHN, 2001).

Figura 2.1 – Grau de impacto das diferentes tendências nas atividades de construção civil.

Fonte: JOHN (2001).

A partir dessa exposição, conclui-se que toda atividade humana requer um ambiente construído de modo saudável e adequado às suas atividades existenciais. A construção civil é a responsável por suprir tais necessidades. Entretanto, como se observou, todos os seus produtos têm sempre grandes dimensões, seja pelos benefícios à sociedade, seja pelo passivo ambiental decorrente das suas atividades. Nesse sentido, ao se pensar em desenvolvimento sustentável, há que se considerar a necessidade não só da reestruturação do setor da construção civil ou dos setores produtivos em geral, mas também, e principalmente, a necessidade de uma profunda mudança nos hábitos da sociedade.

Felizmente, esse novo conceito já vem sendo difundido nas mais diversas frentes de discussão, enveredando-se pelos aspectos econômicos, sociais e ambientais. Espera-se que em breve os mesmos sejam incorporados definitivamente às atividades da construção civil, da extração de recursos naturais, produção de materiais e gerenciamento de resíduos.

0 5 10 15 20 25 30 35 Globalização Informática Parcerias Renovação Meio Ambiente Normalização Pré-projeto e planejamento (%)

2.3.1 Agenda 21 para a construção civil

Em resposta às pressões regulamentadoras e da sociedade, o setor da construção civil tem tomado atitudes decisivas visando estabelecer mecanismos para minimizar os impactos danosos ao meio ambiente, por meio de posturas cada vez mais pró-ativas. As primeiras medidas tiveram início na década de 1990, com estudos mais sistemáticos e resultados mensuráveis, como reciclagem, redução de perdas e de energia.

Segundo John (2000), a preocupação com os impactos ambientais do setor construtivo tem levado diferentes países a adotarem políticas ambientais específicas para o setor e, com isso, a agenda ambiental tem se tornado uma prioridade em muitas regiões do mundo. Em 1999 foi publicada pelo International Council for Research and Innovation in Building and Construction (CIB)1 uma agenda para o setor da construção civil denominada “Agenda 21 on Sustainable Construction” (CIB,1999).

De um modo geral, o propósito da Agenda 21 para a construção civil traduz-se na sustentabilidade econômica, ambiental e funcional das edificações, bem como na sustentabilidade humana e social com base nos tópicos descritos no Quadro 4, a seguir:

AGENDA 21 ON SUSTAINABLE CONSTRUCTION (INTERNACIONAL) a) minimizar o consumo de recursos (conservar);

b) maximizar a reutilização de recursos; c) usar recursos renováveis ou recicláveis; d) proteger o meio ambiente;

e) criar um ambiente saudável e não tóxico;

f) buscar a qualidade na criação do ambiente construído (aumentar a qualidade).

Quadro 4 – Agenda 21 para a Indústria da Construção Civil.

Fonte: CONSTRUCTION AND ENVIRONMENT (1996)

Esse documento objetivou permitir, às empresas, comparar visões e percepções de desenvolvimento sustentável e avaliar o futuro do setor de construção. Além disso, coloca-

1International Council For Research And Innovation In Building And Construction (CIB). Agenda 21 On

se como guia para as Agendas locais ou nacionais e setoriais a serem desenvolvidas internacionalmente.

A proposta da Agenda 21 para a Construção Civil no Brasil, elaborada por John et al. (2000), foi apresentada no Congresso do CIB-20002 na Escola Politécnica da USP. A agenda leva em consideração as peculiaridades e necessidades ambientais, sociais e econômicas em nosso país e preconiza a construção sustentável no Brasil a partir dos temas descritos no Quadro 5 a seguir.

AGENDA 21 PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL a) redução de perdas e desperdícios de materiais de construção;

b) reciclagem de resíduos da indústria da construção civil como materiais de construção, inclusive dos resíduos de construção e demolição;

c) eficiência energética das edificações; d) conservação de água;

e) melhoria da qualidade do ar interior; f) durabilidade e manutenção;

g) tratamento do déficit em habitação, infra-estrutura e saneamento; h) melhoria da qualidade do processo construtivo.

Quadro 5 – Agenda 21 para a Indústria da Construção Civil no Brasil.

Fonte: JOHN et al. (2000)

É importante observar que todos os temas propostos constituem-se em diretrizes para se alcançar um objetivo comum. O despertar da consciência ambiental no âmago do mundo dos negócios constitui-se num grande avanço, uma vez que os problemas atualmente enfrentados decorrem do desenvolvimento econômico provido por este setor.

Mais importante ainda, quando este se insere na cadeia produtiva da construção civil, uma vez que, segundo John (2001), nenhuma sociedade poderá atingir o desenvolvimento sustentável sem que a construção civil, que lhe dá sustentação, sofra profundas transformações.

2 CIB - Symposium Construction and Environment: theory into practice sediado pela Universidade de São