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CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.7 ASPECTOS SOBRE OS RCD NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA

No município de Uberlândia, cerca de 95% do sistema de coleta dos resíduos sólidos são terceirizados. O serviço de coleta e disposição final dos resíduos domiciliares, comerciais, hospitalares e industriais é realizado por meio de concessão à empresa Limpebrás Engenharia Ambiental Ltda. A empresa é responsável pela coleta de resíduos no perímetro urbano da cidade. Os serviços se estendem a 100% da população com a Prefeitura ficando a cargo da limpeza nos quatro distritos vinculados ao município.

Os dados apresentados no Banco de Dados Integrados – BDI (PMU, 2005) estimaram a produção dos RSU (média em t/dia) no município, cujos percentuais estão representados na Figura 2.4.

Figura 2.4 – RSU gerados em Uberlândia.

Fonte: PMU (2005)

Nesses valores não estão inclusos os Resíduos de Construção e Demolição, os quais, embora constem na pauta do conjunto dos RSU do município, são considerados à parte e cujo manejo é feito em conjunto com os serviços de roçagem e capina, pela PMU e empreiteiras contratadas. O controle e organização das rotinas e serviços ficam a cargo da Divisão de Limpeza Urbana – DLU, dentro da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos – SMSU.

Para os RCD, estima-se que o volume gerado chega a quase duas vezes o volume do restante dos RSU. A Figura 2.5 faz uma relação entre estes resíduos, segundo estimativas do ano de 2000.

Segundo Mendonça (2000), até junho de 2000 o manejo do entulho em Uberlândia se dava de forma fragmentada. Desde o ano de 1991 a Prefeitura Municipal dera início à busca de alternativas para esta questão, em princípio, por meio da Lei complementar nº. 17/91, que estabeleceu os critérios para as questões ambientais, e depois pela Lei nº. 7.074/98, que criou as Centrais de Entulho e estabeleceu alguns dos princípios legais para controle da geração e mecanismos de reaproveitamento dos RCD (ANEXO A, p. 197).

MÉDIA DOS RSU - UBERLÂNDIA (ton/dia)

DOM 85% IND/COM 14% RSS 1%

RESÍDUOS DOMICILIARES (DOM) RESÍDUOS SERVIÇOS DE SAÚDE (RSS) VOLUMOSOS

(VOL) CONSTRUÇÃO E RESÍDUOS DE

DEMOLIÇÃO (RCD)

380 3 174 958

Figura 2.5 – Participação dos RCD na massa de RSU em Uberlândia.

Fonte: I&T (2000).

Para garantir maior fundamentação às ações de controle desses resíduos, o cumprimento dos princípios desta lei ficou a cargo da SMSU, que deveria também deliberar a matéria em consenso de opiniões com outras secretarias, quais sejam: de Meio Ambiente, a de Saúde, de Planejamento Urbano e de Obras, o que não aconteceu (MENDONÇA, 2000). A partir de 2000, os dados mais conhecidos quanto ao volume dos RCD gerado em Uberlândia constam de uma pesquisa que a Prefeitura Municipal de Uberlândia encomendou, naquele mesmo ano, à empresa de consultoria I&T - Informações e Tecnologia, que apresentou o relatório Resíduos de construção em Uberlândia - Relatório Final.

A pesquisa levantou dados sobre a geração de resíduos da construção civil. As informações foram coletadas em diversos órgãos da administração municipal e junto às empresas coletoras de resíduos atuantes na cidade.

PARTICIPAÇÃO DOS RCD NA MASSA DOS RSU EM UBERLÂNDIA - (média por ton/dia)

VOL 11,47% RSS 0,22% DOM 25,07% RCD 63,24%

Para a estimativa da quantidade de resíduos gerados na construção civil, foram considerados os resíduos gerados em novas edificações, os resíduos gerados em reformas e os resíduos removidos pela Administração Pública. Para as novas edificações, com uso predominante residencial, foi estimado que a construção convencional, técnica largamente utilizada pelo setor, gera desperdício na ordem de 25% do material utilizado para a obra, e a provável geração de RCD ficou na ordem de 358,73 t/dia. Para as reformas que são conhecidamente obras de construções não formalizadas pelo poder público, buscaram-se informações junto às empresas de coleta por caçambas metálicas, chegando a uma média de 358,65 t/dia de RCD. Por fim, para o levantamento dos resíduos removidos pela Administração Pública, foram consultados os registros da Divisão de Limpeza Urbana, da Secretaria de Serviços Urbanos, referente aos últimos anos, onde a quantidade de RCD ficou na média de 240,75 t/dia. A somatória dos dados levantados indicou uma média de 958 t/dia de RCD sendo geradas em Uberlândia (I&T, 2000).

Nesse número não foram incluídas projeções sobre a remoção de solo e outros resíduos gerados em escavações, obras viárias e de infra-estruturas. A geração do entulho na cidade é proveniente das cerca de 250 empresas no setor de construção civil e de particulares que constroem ou reformam seus imóveis, por empreito ou autoconstrução.

No que se refere à autoconstrução, apresentou-se um quadro bastante preocupante com relação às práticas de deposição ilegal do entulho gerado nessas pequenas obras, cujo transportador, geralmente o carroceiro, também conhecido popularmente como “formiguinha”, por questões de custo ou pela distância das centrais de entulho, descartam o entulho nas áreas ou lotes vagos mais próximos.

Por tal motivo a criação das Centrais de Entulho foi considerada um avanço significativo na gestão dos pequenos volumes de RCD, estimando-se que estas diminuam em até 40% o custo de remoção uma vez que, se elas não existissem, estes materiais estariam aumentando o volume do entulho depositado, de forma pulverizada.

O estudo revelou ao final a grande viabilidade técnica e econômica para a reciclagem dos RCD no município de Uberlândia. Por esta razão, também foram sugeridas algumas estratégias para instrumentar as decisões para a introdução de um plano de gestão sustentável.

Entretanto, somente em 2004 é que se vislumbrou algum avanço no perfil da gestão municipal dos RCD. A PMU, através das Secretarias Municipais do Meio Ambiente e de Serviços Urbanos, elaborou o “Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil” e também elaborou o projeto de lei que “institui o Sistema Municipal para a Gestão Sustentável de Resíduos da Construção Civil e Resíduos Volumosos”, que contemplavam amplamente os RCD.

A Figura 2.6 mostra o fluxograma de manejo e reciclagem dos RCD proposta pela PMU para Uberlândia em 20043.

Figura 2.6 – Fluxograma de manejo e reciclagem dos RCD proposto para Uberlândia.

Fonte: PMU (2004)4

Apesar disto, aparentemente não houve evolução na implantação das diretrizes do referido programa. Durante o levantamento de dados para o presente estudo junto à PMU, observou-se que a SMSU vem se mostrando empenhada em mitigar os problemas de

3 Dados obtidos a partir do Relatório de Avaliação de Desempenho Ambiental -RADA, elaborado pela

gerenciamento da crescente massa de RCD gerados no município. Entretanto, também ficou constatada certa desarticulação ou mesmo desinformação de alguns setores dos órgãos administrativos visitados, o que pode ser prejudicial ao enfrentamento do problema, pois é necessário o esforço coletivo dos órgãos da administração municipal envolvidos com a questão.

Nesse sentido, o que se pode concluir é que não houve avanços significativos nas ações da PMU. A gestão ainda se mantém na esfera das ações paliativas de antigos problemas, tomadas isoladamente e muitas vezes de forma emergencial, pela falta de melhor estruturação.

A constatação do antagonismo existente entre a teoria e a prática na gestão dos RCD na cidade pode ser encontrada em diversas reportagens divulgadas nas mídias impressa e televisiva local, das quais duas ocorrências foram tomadas como exemplo e transcritas abaixo:

Área com lixo

“Moradores do bairro Pampulha em Uberlândia estão preocupados com o lixo jogado próximo a uma nascente ".

Os moradores do bairro Pampulha em Uberlândia reclamam de uma Central de Entulho construída perto da Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do bairro. De acordo com eles, uma nascente pode secar por causa do lixo jogado no local. Na área existe pneu, entulho, lixo doméstico e até sofá. [...] De acordo com a comerciante Neiva Teodora Garcia, moradora do bairro há mais de 10 anos, nos últimos dias caminhões da Prefeitura Municipal de Uberlândia e carroças descarregaram lixo no local.

“ Segundo os moradores, o problema aumentou após a declaração do Secretário Municipal de Serviços Urbanos, ao MGTV 1ª edição da última quarta-feira (05). O quarteirão de área verde em semanas se transformou em lixo para todo o lado. As árvores foram derrubadas e a nascente de água está suja devido ao lixo que é jogado no local.”.

[...] De acordo com uma nota enviada pela Prefeitura Municipal, a área situada atrás da Uai Pampulha não é uma Central de Entulho e, sim, um chamado ponto crítico, onde a própria população joga lixo. A assessoria informou também que a área destinada a central, citada pelo Secretário no MGTV 1ª edição, é próxima ao local.

O Secretário Municipal de Serviços Urbanos pede às pessoas que não joguem lixo no terreno e que na semana que vem vai enviar uma equipe para fazer a limpeza do local e quanto à nascente, a prefeitura vai verificar a situação. Se for constatado algum problema, o proprietário do lote será notificado (ÁREA..., 2005)”.

Prefeitura anuncia investimentos em vários setores

“A Prefeitura de Uberlândia anunciou ontem, em entrevista coletiva, que vai investir R$ 4 milhões em vários setores da administração. O Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), a iluminação pública da cidade e também obras nas praças e nas centrais de entulhos da cidade são alguns dos contemplados. A Secretaria de Serviços Urbanos é outra que fará investimentos. [...] As centrais de entulhos passarão por reformas e amplia ções: de 20 para 40. Ontem, o MGTV 1ª edição mostrou a reclamação de moradores por causa do mau cheiro (PREFEITURA..., 2005)”.