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SUGESTÕES DE AÇÕES SUSTENTÁVEIS

PARA A GESTÃO DOS RCD

O diagnóstico dos dois bairros estudados, apresentado no capítulo 4, mostrou a realidade e evidenciou as deficiências dos procedimentos atuais para a gestão dos resíduos sólidos urbanos na cidade de Uberlâ ndia. O trabalho realizado permitiu o aprendizado da dinâmica das deposições clandestinas, o que deve servir para o aprimoramento das ações públicas no sentido de sanar os problemas identificados.

Com base nas constatações empreendidas no presente estudo, são sugeridas a seguir algumas iniciativas consideradas possíveis de serem integradas ao plano de gerenciamento dos RCD para o município de Uberlândia, com vistas a reverter o quadro atual apresentado e trazer benefícios para a sociedade em geral.

Antes, cabe ressaltar que não se pretende propor um plano de gestão para os RCD, mas somente ações. Entretanto, pode-se sugerir que o plano para a gestão dos RCD em Uberlândia seja embasado na Metodologia para gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana (PINTO, 1999) cuja eficiência na aplicação já pode ser observada em algumas cidades brasileiras, como foi anteriormente abordado neste trabalho.

5.1 PARA O AMPARO LEGAL

É importante que se busque a consolidação das ações da Administração Municipal no Governo iniciadas já há alguns anos, na forma da implementação efetiva das Políticas Públicas para a gestão sustentável dos Resíduos de Construção e Demolição. É igualmente

necessária a adoção de instrumentos legais e reguladores que norteiem e garantam a sustentação legal, política e econômica à implementação do Plano Municipal de Gerenciamento dos RCD em Uberlândia.

O Projeto de Lei para a gestão desses resíduos já existe. Falta, por conseguinte, avançar na vontade política para romper barreiras jurídicas, a articulação entre todos os órgãos da administração pública, para garantir consolidação e continuidade dos projetos com medidas eficientes de fiscalização além de incentivos aos geradores de RCD.

5.2 PARA O PLANEJAMENTO

Um Programa de Gerenciamento para os RCD não deve se embasar em propostas que visem resultados imediatistas. Deve prever uma gama de ações que demandam tempo, constância e muita vontade política, para que possa efetivamente garantir a sua eficácia. A exemplo da experiência de Belo Horizonte, no entender de Zordan (1997), o que torna o modelo implantado eficiente é o planejamento, que vale lembrar, organizado e orientado por Pinto (1999). Somente após um diagnóstico minucioso sobre os pontos de deposição clandestinos no município de Belo Ho rizonte foi que se chegou ao número de usinas necessárias para atender à demanda da cidade.

5.3 PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Há determinadas ações que podem e necessitam ser implementadas desde já. Por exemplo, a educação ambiental é a principal ferramenta para sensibilizar, conscientizar e mobilizar a sociedade. E compete ao Grupo de Trabalho para Definição do Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, criado pelo Decreto Municipal nº. 9128/03, dentre outras atividades, o detalhamento das ações de educação ambiental.

Nesse sentido, sugere-se a capacitação de agentes que possam iniciar um trabalho de base, praticar a interação entre a sociedade e o poder público, a partir do contato com associações de bairros, escolas, igrejas, ONG’s, dentre outros, buscando captar os multiplicadores, ou seja, indivíduos que possam colaborar na divulgação dos programas

propostos pela PMU, promover a conscientização da sociedade para que esta também venha a contribuir para a minimização do problema dos RCD.

Os trabalhos de sensibilização devem enfocar amplamente as questões ambientais que envolvem os RCD, desde os impactos das atividades extrativistas até a destinação final, reforçando-se as vantagens da reciclagem, inclusive como fonte de geração de renda para a população.

Também é necessário o desenvolvimento de material elucidativo aos diversos agentes, que garanta divulgação e a multiplicação das ações educativas. Esse material poderá ser na forma de cartilhas, painéis, folders, outdoors dentre outros.

5.4 PARA A EFETIVAÇÃO DE PARCERIAS

É sabido que a concretização da gestão mais sustentável é tarefa morosa e difícil. Mas a cidade de Uberlândia é privilegiada pela existência de diversas escolas de nível superior em que se destaca a Faculdade de Engenharia Civil, da Universidade Federal de Uberlândia. O programa de pós-graduação em Engenharia Civil criou o grupo de pesquisa dedicado à investigação das questões relacionadas ao RSU, e está evoluindo nos estudos sobre a problemática dos RCD. A concretização de parcerias entre a Prefeitura e estas escolas, além de subsidiar a administração pública nas diversas áreas do conhecimento científico, necessárias ao enfrentamento da questão, pode trazer em contrapartida, a valorização e o reconhecimento das pesquisas desenvolvidas no meio acadêmico.

Outros segmentos da sociedade, tais como sindicatos, associações, empresas privadas, direta ou indiretamente ligadas às atividades de construção civil, podem vir a se constituir em parceiros da PMU, na consolidação das ações de gestão sustentável dos RCD.

5.5 PARA A REESTRUTURAÇÃO E AMPLIAÇÃO DA REDE

DE CENTRAIS DE ENTULHO

No tocante às Centrais de Entulho, a ampliação da rede e a reestruturação dessas áreas, com a otimização do uso e maximização na captação dos RCD, são essenciais na questão do combate às deposições irregulares. Antes, porém, sugere-se a implantação de um

projeto piloto em uma ou mais Centrais de Entulho, previamente selecionadas. Ao mesmo tempo deve-se fazer uma ampla divulgação do projeto no município e a conscientização da população nas áreas de atração das respectivas Centrais de Entulho. Por esta estratégia será possível avaliar a capacidade de resposta da população e a eficácia da estrutura implantada. Só então deverão ser planejados os ajustes necessários para ampliação da rede das CE em toda a cidade, de forma consciente e ambientalmente correta, sem prejuízos para os cofres públicos e, por conseguinte, à sociedade.

Para a seleção das novas áreas de implantação das CE considera-se que, além da observância das disposições legais, é recomendável a realização de pesquisas junto à população, principalmente junto aos carroceiros para auxiliar na identificação de áreas onde há a preferência para o descarte do entulho.

Outro fator que pode ser analisado é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada região na cidade. O IDH constitui-se num importante referencial, segundo mostrou Schneider (2003), pois o conhecimento das áreas onde o IDH é mais expressivo constitui- se num indicativo da necessidade de acompanhamento das dinâmicas construtivas e, portanto, da destinação dos RCD nelas gerados.

5.6 PARA OS INCENTIVOS AO NÃO DESCARTE DOS RCD

O incentivo ao não descarte do entulho é extremamente importante no combate às áreas de deposição dos RCD. A população em geral, e especialmente nos bairros de periferia de baixa renda, costuma responder positivamente a campanhas e promoções que lhes tragam algum tipo de benefício. Tomando novamente o exemplo de iniciativas bem sucedidas de Belo Horizonte, uma proposta que pode ser viabilizada é a isenção da taxa do habite-se para obras cujos resíduos tenham sido comprovadamente encaminhados, numa primeira instância, às Centrais de Entulho, posteriormente, à central de reciclagem. Neste caso, além dos benefícios antevistos, ainda pode se constituir num avanço no combate a outro grave problema enfrentado pelas administrações públicas, que é a informalidade no setor construtivo.

5.7 ESTUDOS PARA ATUALIZAÇÃO DE DADOS SOBRE OS

RCD NO MUNICÍPIO

Antes de dar início às ações de implantação do programa de gestão dos RCD e sua reciclagem, é fundamental que a Prefeitura faça um levantamento atualizado da produção de entulho no município, estimando os custos diretos e indiretos causados pela deposição irregular. Estas informações constituem-se num referencial para a determinação dos investimentos necessários, da tecnologia a ser empregada, e a aplicação dos resíduos reciclados.

No caso do programa municipal de gerenciamento dos RCD em Uberlândia, as principais diretrizes foram colocadas com base no estudo da situação dos RCD no município em 2000. Desde aquele ano, a cidade cresceu e diversos dados e recursos essenciais ao planejamento da gestão dos RCD já estão ultrapassados. Também o conhecimento da questão dos RCD já evoluiu em vários aspectos. Sugere-se, portanto, que novos levantamentos sejam feitos, e o programa seja desenvolvido a partir de dados atualizados. Caso contrário pode-se incorrer no desperdício de recursos públicos com novas ações corretivas, comprometendo assim o sucesso do programa.

5.8 PARA O REAPROVEITAMENTO E A RECICLAGEM DOS

RESÍDUOS DE CLASSE A (dentro dos RCD)

A reciclagem de entulho pode ser realizada com instalações e equipamentos de baixo custo, apesar de existirem opções mais sofisticadas. As opções tecnológicas são diversificadas, mas todas exigem áreas e equipamentos destinados à seleção, trituração e classificação de materiais. As opções mais sofisticadas permitem produzir a um custo mais baixo, empregando menos mão-de-obra e com qualidade superior. Entretanto exige maiores investimentos e deve atender uma escala maior de produção. Além disso, é necessário que haja também um mercado consumidor estabelecido.

Assim, para que o município possa efetivamente contar com uma estrutura de usinas de reciclagem, seja de menor ou maior porte, é importante, antes de mais nada, disponibilizar

recursos para o empreendimento. Deve-se considerar, entretanto, que a viabilidade do processo torna-se bem maior se contar com o envolvimento da iniciativa privada, principalmente com os agentes privados envolvidos na indústria da construção, o que pode resultar em benefícios para todos.

O ANEXO B (p.200) traz a descrição de alguns exemplos de trituradores mais conhecidos para utilização em centrais de britagem. Também apresenta a relação de alguns modelos utilizados nas instalações de reciclagem brasileiras.

5.9 PARA A EFICIÊNCIA NO CONTROLE DO TRANSPORTE

E DESCARTE FINAL DOS RCD

Também é necessário assegurar o controle adequado no transporte e transbordo do entulho nas áreas de disposição final. É preciso intensificar a fiscalização nessas áreas para evitar problemas com deposição de resíduos não inertes e ainda assegurar a confiabilidade dos dados contidos nos relatórios de empresas coletoras e da DLU. Para tanto, seria ideal a implementação de um sistema informatizado de controle das descargas de entulho, a exemplo do Sistema Informatizado de Gerenciamento Integrado de Limpeza Pública de São Paulo – SIGIL, implantado em 1995 por iniciativa do Departamento de Limpeza Urbana do Município de São Paulo – Limpurb e que, segundo Schneider (2003), representou um ganho de qualidade no gerenciamento dos serviços contratados de limpeza urbana.

Posteriormente este monitoramento pode se estender às CE, interligando dessa forma todas as informações e mantendo um banco de dados sempre atualizado e confiável.

Enfim, avalia-se que é justificável todo o esforço no sentido de se buscar um destino ambientalmente saudável para os RCD, em que cada um possa, dentro de sua competência, contribuir na diminuição dos impactos causados.

CAPÍTULO 6