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CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.10 POLÍTICAS PÚBLICAS, NORMAS E ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS

3.1.4 Trabalho de Campo

3.1.4.1 Entrevistas com aplicação de questionários

Segundo Yin (2004), como no estudo de caso os dados são coletados sob condições de ambiente não controlado, isto é: em contexto real, cabe ao investigador adaptar seu plano de coleta de dados e informações à disponibilidade dos entrevistados. E nesse caso, é o pesquisador que deve se introduzir no mundo do objeto, e não o contrário, como acontece em ambientes controlados.

Foram realizadas entrevistas junto à população e aos carroceiros transportadores de RCD, através de questionários. Foi utilizado o questionário estruturado com questões abertas, por se tratar, de acordo com Goldenberg (1999), de um instrumento de coleta de dados menos complicado do que a entrevista, pouco dispendioso, não requer preparo anterior dos aplicadores, sem comprometer os resultados.

Além do questionário, em diversos momentos das atividades de campo, procedeu-se a entrevistas curtas, conduzidas num ambiente natural e num tom informal. De acordo com Minayo (1994), este é um tipo de entrevista muito comum em trabalhos de caráter qualitativo, sendo conhecido como entrevista informal.

O questionário constante do APÊNDICE A (p.163) foi dirigido à população, com o intuito de analisar o grau de percepção das pessoas quanto à qualidade de vida e aos impactos ambientais existentes em seus bairros. Outro objetivo foi conhecer os seus procedimentos para o descarte do entulho, no caso de já terem realizado obras de construção ou reforma e, também, o nível de conhecimento sobre a reciclagem de resíduos em geral.

O segundo questionário, apresentado no APÊNDICE B (p.166) procurou identificar os carroceiros existentes nos bairros, avaliar o seu conhecimento e o grau de conscientização em relação aos impactos ambientais decorrentes das suas atividades de deposição irregular do entulho. Também intencionou abordar o seu conhecimento a respeito das possibilidades de aproveitamento e de reciclagem do entulho.

3.1.4.2 Reconhecimento das áreas em estudo – Bairros Guarani e Tocantins

As técnicas de observação têm papel essencial em estudos de caso. Sua importância reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, pois quando observamos estamos procurando apreender aparências, eventos e, ou, comportamentos (YIN, 2004).

No presente estudo realizou-se a observação direta não-participante, em que o pesquisador atua apenas como observador atento dos eventos. Tendo como base os objetivos da pesquisa e um roteiro de observação, o investigador procura ver e registrar em campo o máximo de ocorrências referentes ao fenômeno estudado (YIN, 2004).

Em veículo disponibilizado pela Universidade Federal de Uberlândia, realizou-se inicialmente uma visita exploratória de reconhecimento dos bairros estudados, onde foram identificados casos comuns de deposição de RCD nas vias de trânsito, terrenos vazios e algumas áreas públicas e privadas (APÊNDICE C, 169). As impressões iniciais da situação local foram registradas em fotografias, apontadas em mapas impressos dos bairros e, ainda, algumas notas pessoais.

3.1.4.3 Mapeamentos

O mapeamento das áreas de deposições consistiu em identificar e apontar os pontos de deposição de entulho dentro dos bairros Guarani e Tocantins.

Pelo mapeamento chegou-se à seleção de duas áreas (sendo uma em cada bairro), consideradas mais representativas, onde, posteriormente estudou-se a dinâmica das deposições irregulares nos dois bairros estudados.

Também foi realizado um mapeamento das Centrais de Entulho para análise de sua situação atual no contexto da gestão dos RCD em Uberlândia.

Nestes trabalhos procedeu-se à observação direta intensiva não participante, juntamente com registro fotográfico e algumas notas pessoais.

O registro fotográfico gerou um banco de imagens que possibilitou a análise visual comparativa no estudo da dinâmica das deposições nessas áreas e, também, para detecção dos impactos locais não observados durante a coleta desses dados.

Posteriormente as anotações foram registradas e formatadas em um mapa digitalizado, utilizando para isso softwares específicos de desenho.

3.1.4.4 Acompanhamento da dinâmica nas áreas de deposição

Atendendo ao objetivo do presente trabalho, o mapeamento das áreas de deposição nos dois bairros e o registro fotográfico foram essenciais na identificação e seleção das duas áreas que apresentaram volume de deposição mais significativa de RCD, para o estudo da dinâmica das deposições. Foi selecionada uma área no Bairro Tocantins e outra no Bairro Guarani. As ações realizadas no acompanhamento da dinâmica dos RCD nas áreas selecionadas compreenderam o registro sistemático das deposições por fotografias e observação direta intensiva, não-participante.

A coleta de dados foi realizada dentro do período de 10 semanas, compreendidas entre os meses de Fevereiro a Abril, em dias distintos, a fim de observar e comparar visualmente as variações dos volumes de RCD depositados, nos intervalos entre as coletas realizadas pela administração pública municipal.

Nessa etapa, o registro fotográfico constituiu-se numa ferramenta fundamental. A análise da dinâmica das deposições só foi possível através do registro sistemático das imagens no período de tempo estudado. No intuito de favorecer a análise visual comparativa da escala do problema, adotaram-se pontos virtuais de referência, nos locais estudados, onde a cada dia de observação se buscava registrar as imagens a partir de um mesmo ângulo de visão, ou, o mais próximo disto.

3.1.4.5 Caracterização dos RCD

O processo de caracterização realizado nesta etapa dos trabalhos pretendeu identificar os principais componentes dos RCD encontrados nas áreas de deposição, para verificar a possibilidade de reciclagem destes. Sabe-se que esse potencial é diretamente relacionado à proporção da fração mineral constituinte dos RCD. Assim, considerou-se a prospecção pelos processos visual e físico qualitativo, apropriados para esses fins.

a) Caracterização visual dos RCD

A caracterização visual foi realizada nas duas áreas de deposição estudadas, e consistiu na observação dos montes de resíduos existentes no local para estimar a predominância de determinados componentes na massa de resíduos e a possível origem destes. Em ambas as áreas estudadas as técnicas utilizadas compreenderam a observação direta, acompanhada do registro fotográfico dos montes de resíduos.

b) Caracterização qualitativa dos RCD

A caracterização física foi realizada nos resíduos depositados somente no Ponto Crítico do Bairro Tocantins, conforme será visto detalhadamente nos resultados e discussões apresentados no Capítulo 4.

Para a caracterização física, adotou-se um dos métodos aplicáveis que consiste na catação6 e separação dos constituintes minerais7 dos RCD estudados (concreto, argamassa, tijolos cerâmicos, gesso, areia, entre outros).

O processo de amostragem para a caracterização física fundamentou-se inicialmente na metodologia da NBR 10007/04 – Amostragem de Resíduos (ABNT, 2004). Entretanto, para não comprometer a confiabilidade dos dados obtidos, foram necessárias algumas adaptações, devido a limitações relativas à disponibilidade de veículos e equipamentos para coleta, acondicionamento e transporte das amostras.

Assim sendo, os procedimentos de caracterização visual, medição de volumes, coleta de amostras, acondicionamento, pesagem e catação foram realizados “in loco”.

A realização do processo “in loco” exigiu, primeiramente, o conhecimento da dinâmica das deposições diárias, bem como, dos serviços de coleta da Divisão de Limpeza Urbana, após o que, definiram-se os dias e horários para coleta de amostras.

Para proceder à caracterização física dos RCD foram selecionadas amostras representativas, que são definidas pela NBR 10007/04 (ABNT, 2004) como “uma parcela

6 “ Catação”, segundo o dicionário Aurélio: Ato ou efeito de catar; cata.

No presente contexto: atividade de separação das várias fases que compõem o entulho.

7 Parcela constituinte dos RCD proveniente de restos de materiais que utilizam minerais como matéria prima

do resíduo a ser estudado, obtida através de um processo de amostragem e que, quando analisada, apresenta as mesmas características e propriedades da massa total do resíduo ”. As atividades dos dias de caracterização dos RCD constituíram-se em:

1 – Contagem dos montes de entulho existentes no local;

2 – Caracterização visual e identificação de montes de resíduos com características semelhantes de constituintes;

3 – Catalogação dos grupos de montes semelhantes, através de desenho em croqui e registro fotográfico;

4 – Estimativa do volume de cada monte;

5 – Coleta de amostras dos montes de resíduo s mais representativos, pelo método de coleta de 3 pontos - do topo, do meio e da base do monte -, em conformidade com a Tabela 3 do anexo “A” da NBR 10007/04 (ABNT, 2004), perfazendo o total do volume da caixa de amostragem;

6 – Pesagem das amostras para estimar a massa unitária;

7 – Catação, para caracterizar a parcela predominante de constituintes minerais do RCD estudado;

8 – Cálculo da estimativa da massa total dos resíduos amostrados.

A cada dia a caracterização visual, a medição de volumes, a coleta de amostras, acondicionamento, pesagem e catação eram feitos de uma só vez, de forma que a amostragem pudesse ser realizada em um período do dia sem correr o risco de perda ou descaracterização das mesmas.

No processo de amostragem, o recipiente amostrador utilizado na quantificação dos RCD foi uma caixa confeccionada em madeirite, de peso e dimensões conforme ilustração na Figura 3.1.

As amostras eram coletadas com uma pá, acondicionadas na caixa e pesadas em uma balança com capacidade para até 150 kg (Figura 3.2).

Figura 3.1 – Características do recipiente amostrador dos RCD

Figura 3.2 – Equipamentos utilizados na quantificação dos RCD.

Figura 3.3 – Coleta e pesagem de amostras dos RCD.

O último procedimento desta etapa dos trabalhos constituiu-se na separação, por catação, dos constituintes após a qual, fazia-se a pesagem de cada porção separadamente, e obtinha- -se a quantidade de cada componente do resíduo. Todos os valores encontrados eram anotados e, posteriormente, transcritos para uma planilha eletrônica8.

8 Visando a melhor compreensão dos procedimentos contidos nos itens 1 a 6, considerou-se conveniente

descrevê-los mais detalhadamente no Capítulo 4, item 4.9.2., em virtude das várias adaptações sofridas nos momentos de realização destes trabalhos.

Foto da autora

O cruzamento dos dados obtidos nessa fase dos trabalhos permitiu os cálculos da massa unitária, o volume, a massa total dos resíduos amostrados e, principalmente, a identificação do percentual de constituintes recicláveis na sua composição.

c) Estimativa dos volumes dos RCD coletados pela DLU nas áreas estudadas

A coleta de dados para essa estimativa foi a partir dos relatórios dos serviços de limpezas realizadas pela DLU e o seu cruzamento com os dados obtidos em campo.

Através do levantamento topográfico tradicional foi ainda possível estimar a área ocupada pelo entulho e outros resíduos, além da delineação do seu contorno.

A tarefa requereu uso de equipamento específico: teodolito eletrônico, miras, trenas, balizas e planilha para anotação dos dados. Contou ainda, com o auxílio de um técnico do laboratório de topografia e alunos da graduação e do PET-FECIV, colaboradores do Programa de Extensão Integração UFU / Comunidade (PEIC–2004/UFU), desenvolvido concomitantemente com o presente trabalho.

Os dados foram transcritos em planilha eletrônica. Posteriormente, as coordenadas foram lançadas em um programa computacional específico, obtendo-se a mensuração final das áreas estudadas. O mesmo recurso foi utilizado para estimar o somatório do volume dos RCD das diversas deposições pontuais existentes dentro do PD Guarani.

Os dados obtidos na pesquisa foram organizados, tratados e dispostos no Capítulo 4, a seguir, onde são apresentados os resultados e feitas as discussões por intermédio do diagnóstico realizado.

CAPÍTULO 4