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Em uma visita ao Museu das Bandeiras, investigando seu acervo e fichas catalográficas, contabilizamos 32 itens de indumentária, os quais podem ser divididos nas seguintes categorias: civis (12), militares (5) e indígena1 (15).

Desses itens, 75% estão registrados como pertencentes ao século XX, cerca de 10% como século XIX e o restante não tem datação. Porém, apenas 31%, que são trajes indígenas, tem seu período de origem definido por déca- da, os outros quando datados constam apenas o século. Isso é um problema, pois dentro do período de um século a moda pode ter variado muito, sendo essa periodização relativamente imprecisa.

A indumentária é uma tipologia pouco presente e com datação rela- tivamente recente, quando comparada aos outros objetos do museu – al- guns datam dos séculos XVII e XVIII. O que se explica, entre outros possíveis motivos, pelo fato de que os tecidos, plumárias e couros são materiais mais propensos a deterioração. As grandes variações de temperatura e umidade, características da maior parte do território brasileiro, inclusive na região Centro-Oeste, tornam as condições ainda menos favoráveis a sua preserva- ção. Além disso, as roupas e acessórios são criados para serem usados e, em um determinado momento, jogados fora (PAULA, 2006).

1. Estas três categorias fazem referência a maneira pela qual toda a indumentária da instituição esteve exposta em três diferentes módulos até o ano de 2013 – “Módulo Presença Militar”, “Módulo Indíge- na” e Módulo Interior da Residência” (BULHÕES, 2013).

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Assim, o que se encontra no Museu das Bandeiras é o excepcional, o in- comum – o mesmo acontece com os museus de modo geral (PAULA, 2006). Provavelmente, esses trajes eram usados somente em ocasiões especiais e pertenceram às famílias mais abastadas da cidade de Goiás. Com exceção dos trajes indígenas comprados especificamente para compor a coleção do museu. Atualmente, apenas oito peças de vestuário estão em exposição (Figu- ra 1), todas pertencentes à categoria civis. As demais estão na reserva téc- nica por não estarem em condições de serem exibidas ou de acordo com a missão da instituição – o que é o caso dos trajes militares.

Fonte: Fotografia da autora com permissão do Museu das Bandeiras/ Ibran/MinC (autorização n° 41/2016).

Figura 1

Vitrine com indumentária civil em exposição

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Coleção Desenrêdos, volume 13, 2021

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Observamos, tanto nos trajes em exposição quanto nos da reserva téc- nica, sinais de poeira e fuligem sobre itens, além de abertura nas tramas, fios distorcidos, vincos e oxidação nos tecidos das roupas. Danos que poderiam ser evitados se houvesse a conservação preventiva, com maior controle do ambiente, higienização e tratamento adequados para cada tipo de material.

Mas sem equipamento, espaço físico adequado e, principalmente, profis- sional treinado para lidar com a indumentária, a instituição opta por não realizar intervenções nos objetos para não causar danos permanentes. Assim, segundo Stélia Braga Castro (diretora do museu), a indumentária nunca foi higienizada e tem-se evitado tirá-la de suas vitrines – inclusive a maioria dos trajes da reserva técnica estão guardados em seus antigos expositores de vidro (Figura 2).

Contudo, o museu poderia fazer bem mais do que se tem feito para con- servação da indumentária. O ICOM disponibiliza instruções técnicas para o trabalho de preservação de indumentária, uma vez que muitos museus pelo mundo não contam com especialistas em indumentária. Publicadas em por- tuguês em 2013, as Diretrizes do Comitê de Indumentária são uma fonte de referência rápida para curadores e voluntários que trabalham em museus.

Embora essas diretrizes não contemplem todas as especificidades de nossos museus, elas são um parâmetro importante para o trabalho de con- servação, exposição e documentação de indumentária. Assim, mesmo sem um especialista, há muito que pode ser feito pela instituição museológica para garantir as mínimas condições para a preservação desses objetos.

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O pesquisador também tem que lidar com a falta de informações ou mesmo com registros equivocados no histórico e na descrição dos objetos. Como, por exemplo, datações imprecisas e problemas na identificação de materiais. Circunstâncias decorrentes, entre outros fatores, da ausência de registros ou de registros mais completos no momento de entrada dos itens no museu e de um técnico especialista na área.

Fonte: Fotografia da autora com permissão do Museu das Bandeiras /Ibran/ MinC (autorização n° 41/2016).

Figura 2

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Atualmente, o Museu das Bandeiras tem fichas de inventário padro- nizadas contendo todos os campos para as informações essenciais, equiva- lentes a uma ficha catalográfica. Todavia, falta um preenchimento mais com- pleto e acertado. Uma documentação mais detalhada e eficiente, além de fotografias de qualidade que contemplassem detalhes dos objetos, poderia reduzir a necessidade de manuseio dos itens (ICOM, 2013).

Considerando que “ [...] qualquer manuseio pode causar danos e um manuseio inadequado rapidamente inutilizará um item” (RESOURCE: The Council for Museums, Archives and Libraries, 2004, p.89), alguns cuidados essenciais devem ser adotados pelo pesquisador se houver a necessidade de manusear o objeto.

O Museu das Bandeiras oferece por escrito as instruções para o manu- seio de suas coleções e o pesquisador é acompanhado por um funcionário do museu. Mas, especificamente para o caso de indumentária, alguns cuidados extras são fundamentais:

• A superfície em que se irá trabalhar deve ter o tamanho adequado para apoiar o objeto por inteiro quando em uso (RESOURCE..., 2004); • “ [...] os tecidos devem ser manuseados na horizontal, apoiados [...]

sobre uma superfície rígida e protegida com material adequado” (TEXEIRA; GHIZONI, 2012, p. 25);

• Pesquisadores devem usar luvas de algodão limpas ou descartáveis para manusear os artefatos (para materiais porosos, como é o caso

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dos tecidos, é preferível que se use luvas de algodão) (ICOM, 2013; PAULA, 1988; RESOURCE, 2004);

• O cabelo deve estar preso para que fios não caiam sobre o objeto. (TEXEIRA; GHIZONI, 2012)

• Sempre utilizar lápis para tomar notas (ICOM, 2013; RESOUR- CE...,2004)

Para além da observação direta, qualquer intervenção, como teste de reconhecimento de matérias que exijam descosturas e retirada de amostras, só deve ser realizada se for viável e realmente necessária, bem como deve ter a autorização da instituição e ser feita por um especialista (NEIRA, 2014).

De maneira geral, os materiais nos quais são confeccionados vestuá- rios e acessórios são muito frágeis (NOROGRANDO, 2011) e a conservação, exposição e manuseio impróprios a tipologia deixam marcas nos objetos que podem destruir vestígios relevantes ou levar o pesquisador a realizar infe- rências equivocadas.

Portanto, conhecer os parâmetros básicos de preservação e o históri- co das políticas de aquisição, documentação e conservação da instituição, é parte das competências que um pesquisador na área precisa desenvolver. A outra parte diz respeito ao conhecimento técnico de materiais, tecnologias e metodologias de pesquisa, com muita disposição para investigação, pois há muito trabalho a ser feito. É o que mostra o estudo de caso de um dólmã no Museu das Bandeiras.

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Uniforme Militar: um estudo de caso de indumentária