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Capítulo II A educação da pessoa com deficiência no brasil e em alagoas e a

3. A educação da proclamação da república até os dias atuais

3.2 O cenário educativo na era vargas (1930 – 1945)

3.2.1 A infância na era vargas

Na Era Vargas, não diferente da Republica Velha, sobressaia a pobreza como um grande problema a ser resolvido, com realce para a problemática realidade da infância pobre e abandonada. Mediante as dificuldades impostas pelo meio urbano às famílias menos abastadas, muitas dessas crianças acabavam por engrossar o mundo da marginalidade, buscando como meio de sobrevivência atividades ilícitas como o furto e a prostituição. Assim, segundo Frontana (1999, p. 53),

... a delinquência aparece como resultado do estado de abandono, mas também é a categoria que dá unidade a todas as figuras de abandono, expostos, abandonados, vadios, mendigos e libertinos, pois todas trazem em comum a possibilidade da delinquência, a possibilidade da criança não se desenvolver de modo saudável e honesto.

Essa criança pobre e marginalizada, denominada de “menor”, era utilizada, juntamente com o trabalhador e a ameaça comunista, como pontos de promoção do governo varguista. Vargas, um grande utilizador da imprensa, falada e escrita, a cria como aliada de seu governo, em 1939. Consciente da importância da propaganda e do papel crucial da imprensa e da educação na disseminação das ideias governistas, utilizou-a largamente nas ações desenvolvidas pelo Estado Novo, sendo esse controle da vinculação de informações um ponto estratégico utilizado pelo Governo.A propaganda governista enfatizava Getúlio como sendo o salvador, não só dos trabalhadores, mas principalmente das crianças. Nessa remissão da infância, era comum a impressão de cartazes nos quais se liam dizeres como: “Getúlio Vargas amigo das crianças”, ou ainda, “É preciso plasmar na cara virgem, que é a alma da criança, a alma da própria pátria”. Além dos cartazes, também eram impressas cartilhas escolares que traziam a imagem de Vargas como o “pai” dos trabalhadores, e da infância (Martins, 1999).

Deve-se frisar que na era Vargas, assim como na República Velha, medidas higienistas e eugenistas foram tomadas, elevando-se a ciência da saúde física e da moral a um novo patamar de urgência. Especialistas em medicina e assistência social propunham instruir as mães nos princípios básicos de saúde e higiene. Associada a esse fato, tem-se a utilização do Código de Menores como forma de afastar as crianças do seu meio sócio-familiar, sendo avalizada para tal ação a “impossibilidade” ou “incapacidade”, inclusive financeira, das famílias em cuidar dos seus filhos. Assim, os juízes tiravam o pátrio poder das famílias encaminhavam as crianças às instituições de internação, sob a justificativa de protegê-las de

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doenças, das precárias condições de sobrevivência, da criminalidade e da “ignorância” de suas mães, medidas apoiadas no discurso varguista que “a criança de hoje é o brasileiro de amanhã”, cabendo ao Estado garantir a formação desse indivíduo (Pereira, 1999; Rizzini, & Rizzini, 2004).

Essas ações eram tomadas junto às famílias das classes populares, que eram consideradas, pela elite da época, a geradora da matéria-prima fundamental no projeto de nação que se forjava, ou seja, as crianças, que seriam a futura mão de obra para a indústria em expansão, deveriam ser domesticadas e adestradas para se tornarem trabalhadores dóceis, leais e cumpridores, sem contestação, das ordens recebidas; deveriam ser operários autômatos, sem iniciativa, criticidade e criatividade, qualidades não desejáveis nos trabalhadores da época. Desta forma, segundo Pereira (1999), as famílias desses meninos e meninas, segundo as elites econômicas, políticas e intelectuais da época, eram incapazes de fornecer a essas crianças um desenvolvimento físico e mental adequado, devendo o governo assumir todo o conjunto de cuidados e assistência a elas.

Para efetivação do ideário salvador e redimível da infância, o governo deveria tomar iniciativas que promovessem a resolução de problemas como a mortalidade infantil e a delinquência juvenil. O interesse governamental nessa temática gerou ações estatais de caráter assistencialista, motivando a organização de associações de proteção à criança que disponibilizavam assistência médica às gestantes e, posteriormente, aos seus bebês fornecendo-lhes roupas, medicamentos, alimentação e informações de como cuidar da criança para que essa se tornasse um cidadão sadio em uma nação politicamente organizada (Pereira, 1999).

Como exemplo desse ideário político em defesa da criança de caráter assistencial, do governo varguista, tem-se a criação do “... primeiro programa estatal de proteção à maternidade, à infância e à adolescência no Brasil. Seu executor era um órgão do Ministério da Educação e Saúde (MES), o Departamento Nacional da Criança (DNCr)” (Pereira, 1999, p.166). O Departamento seguiu um padrão assistencialista criando aparelhamentos estatais como os Postos de Puericultura, onde todas as mães, independente da condição social, deveriam ir para obter orientação médica desde o início da gravidez (atual pré-natal). Além desses Postos, também foram constituídas maternidades, creches e bancos de leite.

Outro exemplo desse ideário assistencialista foi a criação do Serviço de Assistência ao Menor (SAM), órgão do Ministério da Justiça, em 1941 através do Decreto-lei 3.733/41. Segundo Saraiva (2003), o SAM foi criado com o objetivo de abrigar e educar crianças órfãs,

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abandonadas e infratoras. No entanto, longe ficou de sua finalidade, pois is estabelecimento destinados ais menores apresentavam péssimas condições físicas e inexistência de uma proposta de educação eficaz. O que neles se sobressaia era o emprego da vigilância e dos castigos físicos, encarados como forma de domesticação e de moralização da conduta do menor interno; na realidade, ainda segundo Saraiva (2003), esses locais equivaliam às penitenciárias destinadas aos adultos só que voltada para a população menor de idade, utilizavam como forma educacional a ação correcional repressiva.

A vinculação do SAM ao Ministério da Justiça denotava o verdadeiro caráter dessa instituição, que se preocupava muito mais com o combate e prevenção à criminalidade através da segregação, do que com o emprego de uma educação de qualidade capaz de gerar mudanças reais na vida dos internos. Os maus tratos às crianças e a situação inadequada das instalações acabaram por levar à extinção do SAM depois de 22 anos de funcionamento, propondo-se a criação de um órgão com características diferentes, que possuísse um caráter integrador ao invés de repressor. Surgia, assim, a Fundação do Bem Estar do Menor (FUNABEM), criada pela Lei nº 4513, de primeiro de dezembro de 1964 (Lei nº 4.513).