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A educação das pessoas com deficiência visual e a formação docente em Alagoas

Capítulo II A educação da pessoa com deficiência no brasil e em alagoas e a

4. A educação da pessoa com deficiência em alagoas e a formação docente

4.2 A educação das pessoas com deficiência visual e a formação docente em Alagoas

Apesar de a iniciativa do estado de Alagoas em relação às pessoas com deficiência mental ter iniciado somente em 1994, já se dispunha, desde 1973, de um atendimento voltado para as pessoas com deficiência visual na Secretaria da Educação do Estado através da criação da Diretoria de Educação Especializada que, dentre outras funções, coordenava a Educação Especial no Estado em parceria com o antigo Centro Nacional de Educação Especial (CENESP) criado em 3 de julho de 1973 e extinto em 21 de novembro de 1986. Em um primeiro momento, o atendimento ofertado pela rede estadual de ensino às pessoas com deficiência visual se limitava à oferta de bolsas de estudo; posteriormente, foi criado pelo Governo do Estrado, através do Decreto Nº. 2.794 de 15 de junho de 1976, o Centro Estadual de Atendimento Educacional Especializado para Deficiente Visual, denominado Escola Estadual de Cegos Cyro Accioly que foi incorporado à Gerência de Educação Especial da Secretaria de Estado da Educação, com o objetivo de proporcionar o atendimento especializado aos alunos cegos e de baixa visão. É importante frisar que antes da existência da Escola Cyro Accioly, não havia qualquer atendimento especializado destinado às pessoas com deficiência visual em Alagoas e a idealização dessa instituição, apesar de ter sido efetivada pelo estado, está ligada mais uma vez às ações da sociedade civil de Alagoas.

A existência de uma escola para pessoas com deficiência visual foi idealizada pelo empresário alagoano Cyro Patury Accioly ainda na década de 1960. Cyro, homem de personalidade comunicativa, era dono da concessionária Willys-Ford que se localizava no bairro do Centro em Maceió. Gostava de ficar à porta de seu estabelecimento cumprimentando e conversando com as pessoas que passavam pela frente da loja. Foi dessa

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forma que conheceu 2 pessoas que o despertou para essa ação pela qual lutou até sua morte. Uma delas era Cassemiro, pedinte das ruas do Centro que tinha o grande sonho de aprender a ler; a outra, Maria José Oliveira, na época estudante. Os dois, apesar de vidas tão distintas, tinham algo em comum, eram cegos. O contato com Cassemiro e Maria José senssibilizou Cyro que, na época, já estava envolvido com as causas sociais, para a dificuldade das pessoas com deficiência visual no Estado, pois, no período, não existia nenhum tipo de assistência para atender às necessidades dessas pessoas em Alagoas.

Cyro era integrante da Associação do Movimento de Amparo à Infância (AMAI), instituição sem fins lucrativos, fundada em 12 de setembro de 1961 por Mariontina de Morais Cavalcante, com o objetivo de abrigar, em regime semiaberto, crianças e adolescentes carentes em situação de vulnerabilidade, como também do Lions Clube, organização internacional, sediada também no Brasil, fundada em 1917 nos Estados Unidos e voltada para auxiliar os menos favorecidos e que, em 1925, estabeleceu como um de seus projetos o auxílio às pessoas cegas através da campanha denominada "paladinos dos cegos na cruzada contra a escuridão", ação essa que permanece até os dias atuais e se tornou um dos principais programas dessa entidade. Além de estar envolvido com essas duas instituições filantrópicas, Cyro também se destacava como cronista da imprensa alagoana, atividades essas que o tornava uma pessoa conhecida e respeitada dentro do Estado e foi essa posição que facilitou a ele promover, no ano de 1967, uma campanha voltada para a fundação de uma instituição de ensino cujo objetivo seria atender as pessoas com deficiência visual, o Instituto de Educação dos Cegos de Alagoas.

Com o intuito de mobilizar a sociedade alagoana, Cyro escreve várias crônicas nos jornais do Estado. Muitas delas, como: “Sim, uma luz para os cegos....”; “Os cegos, nosso pensamento...”; “O lema é servir”; “Um exemplo de Servir” entre outras, foram marcantes na motivação da campanha que objetivava a arrecadação de material de construção para levantar as primeiras paredes, em terreno doado pela prefeitura no bairro da Pajuçara, do que seria a primeira escola para cegos de Alagoas.

Em 1968 iniciou-se de fato a construção do prédio que abrigaria o Instituto de Educação dos Cegos de Alagoas. Boa parte do material de construção que possibilitou a edificação parcial do prédio, pois, esse, nunca chegou a ser finalizado, foi arrecadado pelo próprio Cyro que se prestava a ir buscar, mesmo que fosse apenas um saco de cimento, em qualquer lugar da cidade.

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A concretização do sonho de Cyro Accioly foi interrompida pelo seu falecimento em 03 de maio de 1970. A ausência física do líder da campanha em prol dos cegos do estado fez com que as obras fossem interrompidas e o terreno concedido pela prefeitura fosse desapropriado, mas esse fato não enfraqueceu o seu sonho, que se manteve vivo e se materializou em 1976 com a inauguração, pelo Governo do Estado, na Rua Pedro Monteiro, no Centro de Maceió, da Escola Estadual de Cegos Cyro Accioly, nome dado em homenagem ao empresário que a idealizou.

A criação da Escola de Cegos e o seu desenvolvimento se devem à persistência de Creusa Accioly, viúva de Cyro que, após a morte do cônjuge, empenhou-se não só em fazer com que houvesse a edificação da Escola Estadual de Cegos como também em fazer com que ela pudesse ofertar a seus usuários um ensino de qualidade. Como exemplo dessa preocupação houve, através da ação de Creusa, a implantação de vários projetos, entre eles, em 1998, o de maior relevância para a instituição, a implantação na Escola de Cegos do sistema DOSVOX. O sistema operacional DOSVOX foi concebido no Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1993 e baseia-se no diálogo máquina/usuário através da emissão de voz. A criação desse sistema operacional objetiva fazer com que pessoas cegas possam utilizar o computador para realizar tarefas do dia a dia como estudar e trabalhar (Sonza, & Santarosa, 2003).

Conhecedora da existência dessa ferramenta tecnológica, Creusa Accioly não só conseguiu as máquinas para a Escola de Cegos, como também custeou, em 1998, a vinda do professor Doutor José Antonio dos Santos Borges, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para que implantasse o sistema DOSVOX em Alagoas.

A morte de Cyro e posteriormente a de Creusa não esmoreceram a luta em prol de uma educação de qualidade para os cegos de Alagoas, pois o exemplo de persistência do casal ainda se faz presente pela ação de seus descendentes, sendo, na atualidade, Marília Accioly, filha do casal, a personificação dessa constante luta pelos direitos das pessoas cegas no Estado de Alagoas, ação essa representada pelo constante auxílio dado a instituição de ensino que carrega consigo o nome de seu pai e idealizador.

Atualmente, segundo a SEE/AL (2010), nessa instituição, são oferecidas as seguintes modalidades de atendimento especializado: alfabetização Braille e à tinta, sala de recursos, leitura e escrita Braille, orientação e mobilidade, atividades da vida autônoma, estimulação essencial, atendimento psicopedagógico, datilografia Braille e informática. A Escola Estadual

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de Cegos Cyro Accioly atende a estudantes não só da capital alagoana, mas também do interior.

Diante da ainda precariedade da oferta de serviços ofertados pelo estado, foi criada, na década de 1980, por um grupo de pessoas com deficiência visual, Associação de Cegos de Alagoas (ACAL). A sua criação tinha por objetivo instituir um espaço para desenvolver ações que ampliassem oportunidades e melhorassem a qualidade de vida das pessoas com deficiência visual de Alagoas. Essa instituições funciona até os dias atuais e mantém parceria com várias instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), para a oferta de cursos que possibilitem a inserção das pessoas com deficiência visual no mercado de trabalho.

Em 2003, o Governo do Estado de Alagoas cria o Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual Erivalda Lima Tavares (CAP). A criação do CAP tinha por objetivo garantir às pessoas com deficiência visual o acesso ao conteúdo programático desenvolvido na escola de ensino regular, oferecendo o acesso à literatura, à pesquisa e à cultura por meio da utilização do livro em Braille.

O CAP que funciona nas dependências da Escola Estadual de Cego Cyro Accioly presta os seguintes serviços à comunidade alagoana: oferta periódica de cursos de atualização, aperfeiçoamento ou capacitação em serviços para professores, como também cursos específicos na área da educação para pais e comunidade em geral; promoção da independência do educando com deficiência visual, por meio do acesso e utilização da tecnologia moderna para produção de textos, estudos, pesquisas e outros; oferta, através de um espaço interativo e planejado, o desenvolvimento de atividades lúdicas e culturais que geram integração entre seus usuários e demais pessoas da comunidade com deficiência ou não; produção de materiais didáticos pedagógicos como livros e textos em Braille; adaptações de mapas, gráficos e tabelas, para serem distribuídos com os alunos matriculados no ensino regular (prioritariamente no ensino fundamental), bibliotecas e instituições especializadas (SEE/AL, 2010).