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Parte I Enquadramento Teórico

V. A Influência Do Coping Diádico

Ao longo deste capítulo, pretendemos realizar uma pesquisa acerca da influência do

coping diádico sobre a ansiedade, depressão e qualidade de vida maternas e algumas variáveis

relacionadas com o parto.

Que seja do nosso conhecimento não existem estudos que relacionem o coping diádico com estas variáveis, no entanto, como veremos ao longo deste capítulo existem alguns estudos que parecem indicar que estas variáveis se podem relacionar.

Tem sido estudada a associação entre a relação conjugal e o suporte social a estados de ansiedade nesta etapa do desenvolvimento familiar. Biaggi et al. (2016) verificaram que a falta de suporte social e do parceiro é um dos maiores fatores de risco para a ansiedade na gravidez. Segundo Bayrampour et al. (2015), a baixa satisfação conjugal é um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento de ansiedade, nesta etapa. Também Clout e Brown (2016) verificaram que a insatisfação conjugal previu altos níveis de ansiedade durante a gravidez. Por sua vez, o suporte percebido e a satisfação conjugal parecem funcionar como fatores protetores contra a ansiedade e depressão maternas (Lee et al., 2007). Existem ainda resultados que indicam que uma relação problemática, pobre ou conflituosa pode atuar como fator de risco de desenvolvimento de ansiedade durante a gravidez (Giardinelli et al., 2012; Martini et al., 2015; Nasreen et al., 2011). Também no período pós-parto a alta satisfação conjugal foi associada a reduzidos riscos de ansiedade (Pilkington et al., 2015; Seymor et al., 2015), enquanto que Kohn et al. (2012), verificaram que mães muito ansiosas têm menor satisfação com a relação conjugal, percecionam os seus parceiros como oferendo pouco suporte e tendo bastantes comportamentos negativos. De acordo com diversos estudos o suporte com o parceiro está associado a baixos níveis de ansiedade no período pós-parto (Clavarino et al., 2010; Figueiredo et al., 2008; Whisman et al., 2011).

A ansiedade e a depressão têm uma elevada comorbilidade quer no período pré-natal (Lancaster et al., 2010) quer no período pós-natal (Verreault et al., 2014). Como veremos no capítulo seguinte, também nesta fase as mulheres estão mais vulneráveis a sofrer de sintomas de depressão.

Embora não tenham estudado o coping diádico Peñacoba-Puente et al., (2013) procuraram estudar a relação entre coping individual e ansiedade, tendo verificado que estratégias de coping individuais negativas pareceram estar associadas a altos níveis de ansiedade.

Fora do contexto da gravidez, Regan et al. (2014), verificaram que em situações de cancro da próstata, embora o uso por parte dos pacientes de coping diádico não tenha sido

associado a ansiedade e depressão, o uso pelos parceiros destas estratégias foi associado a estes estados. Assim, estes autores verificaram que perceções de coping diádico negativo quer nos pacientes quer nos parceiros foram associados com altos níveis de ansiedade e depressão.

Gabriel, Untas, Lavner, Koleck, e Luminet (2016) procuraram estudar a associação entre alexitimia, coping diádico e estados de ansiedade e depressão. Embora os autores tenham verificado que nos homens a associação encontrada foi apenas do coping diádico como mediador entre alexitimia e de ansiedade e depressão estes verificaram que nas mulheres coping diádico se encontra associado a altos níveis de ansiedade e depressão (servindo a alexitimia como mediadora).

Por sua vez, Randall, Totenhagen, Walsh, Adams, e Tao (2017) dedicaram-se a estudar a exposição mulheres em relações do mesmo sexo a stressores no contexto laboral, tendo verificado que coping de suporte focado no problema e coping de suporte focado nas emoções serviam de fatores protetores a sintomas de ansiedade.

A relação conjugal e o suporte social têm sido associados a estados de depressão. distinguem a falta de suporte social e do parceiro como dos maiores fatores de risco para depressão na gravidez (Bayrampour et al., 2015; Biaggi et al., 2016; Martini et al., 2015; Nasreen et al., 2011; Westdahl et al., 2007). Da mesma forma, o suporte percebido e a satisfação conjugal atuam como fatores protetores contra ansiedade e depressão maternas (Lee et al., 2007; Marchesi et al., 2009; Martini et al., 2015; Nasreen et al., 2011; Zeng et al., 2015).

Também no período pós-parto o baixo suporte social e a baixa satisfação conjugal são indicados como riscos para o desenvolvimento de depressão pós-parto (O'hara & Swain, 1996). Estes dados são corroborados por Munaf e Siddiqui (2013), que estudaram a relação entre satisfação conjugal e depressão no período pós-parto, tendo verificado que baixos níveis de satisfação conjugal se encontram associados a altos níveis de depressão. Por outro lado, o alto suporte social parece ter um papel benéfico na redução do risco deste tipo de depressão (Surkan et al., 2006). Também Webster et al., (2011) encontraram evidências de que mulheres com baixo suporte social (especialmente do parceiro e da família) têm mais propensão desenvolver depressão pós-parto comparativamente a mulheres com um alto suporte social. Clout e Brown (2016) verificaram que a expressão de afeto e a satisfação diádica durante a gravidez previram significativamente altos níveis de depressão no período pós-parto. De acordo com Miller et al. (2013), em circunstâncias gerais, um indivíduo insatisfeito com o seu casamento tem tendência para estar deprimido.

Guardino e Schetter (2014), através de uma meta-análise, procuraram relacionar diferentes tipos de coping individual na gravidez e apesar de alguns resultados inconsistentes encontraram alguma evidência na literatura de que estilos de coping evitantes e estratégias de

coping pobres no geral estão associados a depressão pós-parto.

Fora no contexto da transição para a parentalidade, Tsujimoto, Taketani, Yano, Yamamoto, e Ono (2015), procuraram estudar a associação entre depressão e suicídio e estratégias de coping individuais em estudantes universitários no japão. Os autores verificaram que o coping orientado para as emoções foi positivamente relacionado com depressão e ideações suicidas enquanto que coping orientado para tarefa e evitamento a menores níveis de depressão e de ideações suicidas.

Por sua vez, Fincham, Beach, Harold, e Osborne (1997), estudaram a relação entre satisfação conjugal e sintomas depressivos em casais recém-casados e 18 meses depois. Estes autores verificaram que enquanto nos homens foi encontrada casualidade de depressão para satisfação conjugal para as mulheres foi encontrada casualidade de satisfação conjugal para depressão.

Relembramos ainda o estudo de Regan et al. (2014), que verificaram em situações de cancro da próstata que perceções de coping diádico negativo quer nos pacientes quer nos parceiros foram associados com altos níveis de depressão e o de Gabriel et al. (2016) que verificaram que nas mulheres coping diádico se encontra associado a altos níveis e depressão (servindo a alexitimia como mediadora).

Ngai e Ngu (2013), citando Gao, Chan, e Mao (2009) sugerem que a componente mental do casal está positivamente associada à qualidade de vida do casal durante a transição para a parentalidade. Já Webster et al., (2011) encontraram evidências de que mulheres com baixo suporte social (especialmente do parceiro e da família) têm mais propensão a ter baixa qualidade de vida comparativamente a mulheres com um alto suporte social. De forma global a insatisfação conjugal tem sido associada a baixa qualidade de vida (Ng, Loy, Gudmunson, & Cheong, 2009; Rohany & Sakdiah, 2010).

Fora do contexto da transição para a parentalidade, Holubova et al. (2015), estudaram a relação entre estratégias de coping individual e a qualidade de vida de doentes esquizofrénicos, tendo verificado que enquanto que a estratégias de coping positivas estão associadas e maior qualidade de vida estratégias de coping negativas estão associadas a menor qualidade de vida.

Adamczuk et al. (2015), dedicaram-se a estudar a relação entre estratégias de coping individuais e qualidade de vida em mulher com incontinência urinária. Estes autores

verificaram que coping orientado foi associado a maior qualidade de vida e coping orientado para as emoções a menor qualidade de vida.

Que seja do nosso conhecimento não existem estudos que relacionem o coping diádico e a baixo peso do bebé e o risco de cesariana por emergência. No entanto, Borders et al., (2007) encontraram associações entre baixas capacidades de coping individual por parte da mãe e risco aumentado de baixo peso para o bebé. Por sua vez Ryding et al. (1998) encontraram dados que sugerem que mulheres que tiveram de realizar cesariana de emergência tinham menos capacidades de coping individual durante a gravidez comparativamente às restantes mulheres do estudo.