• Nenhum resultado encontrado

Faixa etária dos alunos

ESQUEMA DOS OBJETIVOS METODOLÓGICOS

3.4 A inovação pedagógica dentro da instituição

Diante da análise apresentada, são discutidos a seguir os aspectos que parecem caracterizar as práticas pedagógicas da instituição como sendo inovadoras. O cenário plural e ao mesmo tempo singular no qual tais práticas foram desenvolvidas exerceram influência significativa para a análise dos dados.

De acordo com Fino (2010, p. 280), as práticas pedagógicas acontecem onde, de um lado, existe o que deseja aprender e, do outro, o que deseja mediar essa aprendizagem, ou quando ambos desejam aprender alguma coisa em conjunto. Para o autor “o campo da inovação pode ser considerado o espaço imenso da interação social, incluindo os ambientes formais, tal como os informais”.

Analisa-se, dentro da instituição, práticas pedagógicas envolvendo professoras que desejavam colaborar na mediação do conhecimento ao lado de crianças que desejavam aprender. Práticas realizadas dentro de um ambiente informal, caracterizado por uma estrutura física simples, com o apoio de um grupo de voluntários que compartilhavam da mesma ideia de colaboração na compreensão do sujeito – aluno na sua relação com o aprender.

Com as observações feitas, entende-se que as professoras compreendiam, ou pelo menos tentavam compreender, o que era viver socialmente num contexto desenhado por intensas contradições econômicas, sociais e culturais. Para as professoras, compreender o aluno por meio da palavra significa compreender suas ações, suas dificuldades, seus pensamentos contraditórios, inacabados. Para Vygotsky (2007), é por meio da linguagem que os sujeitos interagem e, ao mesmo tempo, constituem internamente seu papel social e conhecimentos que proporcionam seu desenvolvimento psicológico.

Como aspecto relevante observado nas atividades da instituição, a linguagem foi muito mais do que a estrutura cognitiva, ela foi a expressão semiótica da interação entre o sujeito e o meio em que ele vive. Bakhtin (1992a, p. 45) afirma que “a palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial”. O diálogo estava presente nas atividades pedagógicas como um elemento da aprendizagem, permitindo uma outra compreensão do papel das relações que se estabeleciam.

Na análise das atividades, as professoras não sectarizavam a criança – pobre, a criança – problema. Parecia que elas pensavam na criança como sujeito imerso em ações sociais e históricas. A criança, numa situação de pobreza, era um fato dentro da instituição. Desse modo, salientar esse aspecto era irrelevante. As práticas visavam auxiliar as crianças daquele contexto e não que o contexto influenciasse negativamente as práticas. Ou seja, todas as crianças eram pobres, umas mais outras menos, e as atividades pedagógicas tinham o propósito de colaboração. No dizer delas próprias: “é preciso colaborar com o aprendizado deles”.

Nas análises das atividades da sala de aula, percebe-se que as professoras contextualizavam e problematizavam o tema a ser dado, oferecendo aspectos históricos e culturais, provocando uma curiosidade no aluno para o aprendizado. Deixavam que o aluno fizesse parte da proposta, permitindo o contato com os materiais que iam ser usados mesmo antes da atividade começar. Os alunos já subiam para a sala de aula conversando com a professora o tema da aula. Ao iniciar a atividade na sala de aula, a professora questionava sobre o tema, não oferecia nenhuma resposta pronta, pelo contrário, incentivava a conversa

com perguntas, movimentando o conhecimento deles. Aquele aluno que apresentava mais dificuldade era convidado a participar com mais entusiasmo e não era abandonado pela professora.

As exposições didáticas eram breves, as professoras usavam mais o recurso do projetor, dos vídeos, dos filmes, dos livros de pintura e esses recursos ofereciam mais informações, eram mais movimentados, com grande capacidade de atrair a atenção dos alunos. As professoras tanto estimulavam a iniciativa individual, salientando a necessidade dos alunos contribuírem com suas idéias, quanto buscavam o envolvimento do aluno no trabalho em grupo.

No que se refere aos processos avaliativos, vimos que a instituição não dispunha de um método de avaliação tradicional com provas e questionários, mas havia uma preocupação em saber se a prática pedagógica ajudava a criança a aprender.

As professoras estimulavam a leitura: em grupo, em voz alta, individual, para a professora, procurava trabalhar as dificuldades, ajudando o aluno superar a timidez. Qualquer frase, palavra e texto era sempre aproveitado. Como as crianças tinham muita dificuldade, todo momento era propício a um novo aprendizado. Por exemplo, na hora do lanche, ao comer um biscoito, a professora instigava os alunos a olhar a embalagem, ver quantas gramas, qual o fabricante, a data de validade.

As professoras faziam da instituição um espaço aberto, em constante diálogo com o aluno, propondo um atendimento diferenciado. Faziam das aulas de arte oportunidades de aprendizado, provocavam situações desafiadoras, acolhiam os alunos nas suas dificuldades, criavam vínculo afetivo com eles, com a família, promoviam aulas-passeio, jogos, brincadeiras.

Observa-se que a preocupação das professoras e dos envolvidos na instituição era colaborar com os alunos para que eles estabelecessem uma relação melhor com a escrita, com a leitura, com o conhecimento acerca dos acontecimentos da vida, com os outros e consigo mesmos. O desejo dos que colaboravam na instituição era promover aquelas crianças na compreensão de que eram capazes de produzir, de se expressar, de ler, de escrever, de construir – aspectos que eles traziam bem distantes de muitos deles.

Durante a pesquisa, notou-se que a aproximação amorosa das professoras, acolhendo individualmente o aluno, foi um dos aspectos que salientamos de uma prática inovadora. A relação professor-aluno era muito valorizada, o aluno era visto como um sujeito imerso em

seu contexto histórico e cultural e a disposição, o comprometimento, a dedicação, a mediação do conhecimento pelos professores possibilitava um ambiente diferenciado de aprendizagem.

Vygotsky (2007, p. 164), “na medida em que vê o aprendizado como um processo profundamente social, enfatiza o diálogo e as diversas funções da linguagem na instrução e no desenvolvimento cognitivo mediado”.

Deste modo, consideramos aspectos que nortearam as práticas pedagógicas investigadas como inovadoras: a) Quanto ao professor: ressignificou o sentido da docência; destacou a atividade aliada ao bem estar, ao seu projeto de vida; explicitou a ideia de autoria compartilhada; considerou sua atividade como um trabalho intelectual; demonstrou a realização de uma prática com dedicação e comprometimento; acolheu o aluno individualmente nas suas dificuldades; promoveu o diálogo; exerceu a autonomia dentro da sala de aula; respeitou o conhecimento do aluno; valorizou a aprendizagem mútua, a interação, a mediação do conhecimento. Em síntese, o trabalho voluntário se caracteriza como voluntariado educativo, pois traz um sentido de docência ampliada.

b) Quanto ao aluno: ressalta-se a interação; a conversação; o entrosamento nas atividades; o trabalho em grupo; o vínculo com as professoras e com a instituição; a autonomia; a liberdade para aprender e o compromisso consigo próprio e com o coletivo. Pode-se dizer que este é o sentido inovador da aprendizagem que mobiliza o aluno para as várias dimensões do seu desenvolvimento com protagonismo.

c) Quanto à instituição: destaca-se a promoção do aluno como sujeito capaz de conhecer, de construir, de escolher, acolhendo-o individual e coletivamente nas atividades pedagógicas cognitivas, artísticas e culturais, como meio de crescimento moral e intelectual. Isto significa um espaço de socialização, de acolhida, de interação humana.