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Objetivos Específicos

2.1 Percurso Metodológico

2.1.3.5 Análise microgenética

Para o tratamento do material que foi recolhido por meio das observações e videografia, utilizamos como procedimento de análise a perspectiva da análise microgenética, procurando verificar se as práticas realizadas na instituição são inovadoras ou continuam reproduzindo as práticas tradicionais.

Todos os registros feitos na observação videográfica foram analisados a partir dos aspectos que compõem a análise microgenética, que de acordo com as pesquisas de Goes (2000, p. 9):

[...] trata-se de uma forma de construção de dados que requer a atenção a detalhes e o recorte de episódios interativos, sendo o exame orientado para o funcionamento dos sujeitos focais, as relações intersubjetivas e as condições sociais da situação, resultando num relato minucioso dos acontecimentos.

Segundo Meira (1994), historicamente, Jean Piaget pode ser considerado um dos principais precursores do método genético na análise do desenvolvimento intelectual. A natureza genética da teoria Piagetiana está presente, sobretudo, na análise da evolução e transformação gradual de estruturas cognitivas ao longo do desenvolvimento ontogenético e filogenético (PIAGET, 1970). Também um precursor da análise genética do pensamento, Lev Vygotsky (1934,1987) argumentou por uma perspectiva do desenvolvimento consideravelmente mais ampla do que aquela defendida por Piaget ao incluir os domínios sócio-histórico e microgenético de análise.

As contribuições metodológicas de Vygotsky (2007, p. 69) na análise microgenética são salientadas quando expõe que:

A procura de um método torna-se um dos problemas mais importantes de todo empreendimento para a compreensão das formas caracteristicamente humanas de atividade psicológica. Nesse caso, o método é, ao mesmo tempo, pré-requisito e produto, o instrumento e o resultado do estudo.

Para Vygotsky, o domínio microgenético de desenvolvimento cognitivo está relacionado à formação de processos psicológicos no curso de alguns minutos ou segundos. Wetsch (1985) apud Meira (1994) relaciona este domínio a "estudos longitudinais de curto prazo" e comenta que Vygotsky "observou que, ao ignorar esta forma de transição genética, estudos experimentais e de aprendizagem frequentemente falham no aproveitamento daquilo que podem ser seus dados mais interessantes” (p. 55). Vygotsky argumenta, entretanto, que a abordagem microgenética deve associar-se à análise do macro contexto sociocultural de desenvolvimento, a fim de que possamos identificar o significado das ações e processos mentais humanos.

Segundo Meira (1994), dois princípios guiam a análise microgenética. O primeiro princípio recomenda que a análise de processos (de resolução de problemas) é sempre mais informativa que a descrição de produtos (estratégias de resolução). O segundo princípio complementa que a análise deve inspecionar ações detalhadamente sem perder de vista o significado da atividade em que tais ações se inserem.

Os aspectos micro e genético, segundo Goes (2000, p. 15) apontam o conceito de que:

[...] essa análise não é micro porque se refere à curta duração dos eventos, mas sim por ser orientada para minúcias indiciais – daí resulta a necessidade de recortes num tempo que tende a ser restrito. É genética no sentido de ser histórica, por focalizar o movimento durante processos e relacionar condições passadas e presentes, tentando explorar aquilo que, no presente, está impregnado de projeção futura. É genética, como sóciogenética, por buscar relacionar os eventos singulares com outros planos da cultura, das práticas sociais, dos discursos circulantes, das esferas institucionais.

Ainda segundo Meira (1994), a videografia, ou registro em vídeo de atividades humanas, “apresenta-se como uma ferramenta ímpar para a investigação microgenética de processos psicológicos complexos, ao resgatar a densidade de ações comunicativas e gestuais”.

Acrescenta o autor que é importante lembrar, por outro lado, que a videografia “não produz por si própria um registro completo e final da atividade investigada, e que a coleta de

dados em vídeo não é um problema trivial que pode ser reduzido à quantidade de filmes produzidos”.

A videografia alia-se aos métodos de observação etnográfica a fim de alcançar sua utilidade máxima, pois as observações etnográficas permitem ao investigador maior acesso ao contexto de uma atividade, normalmente não percebido em vídeo. O contexto envolvendo atos da estrutura social de uma sala de aula exige a interpretação in loco de um observador humano (MEIRA, 1994; MACEDO, 2006).

Segundo Meira (1994), é comum levantar a questão sobre a videografia no que diz respeito às possíveis influências deletérias da presença de câmeras no contexto de investigação. Algumas pesquisas que incluem o uso desta tecnologia têm percebido que a existência de câmeras no laboratório ou sala de aula é apenas tão intrusiva quanto a presença do próprio investigador, seguindo a vantagem a favor do vídeo de que o comportamento dos sujeitos investigados terão sido registradas em detalhe. Assim,

a interpretação de dados videográficos na perspectiva microgenética não é menos ou mais ‘objetiva’ que a elaboração dos tradicionais esquemas de codificação da pesquisa experimental. Entretanto, a atividade interpretativa nesta abordagem envolve paradigmas metodológicos e teóricos distintos, além de representar um processo mais lento e complexo.

Para Meira (1994), várias questões sobre a análise videográfica ainda são motivo de controvérsia na comunidade científica, mas que uma das vantagens da abordagem videográfica-microgenética, entretanto, “é que através dela podemos construir uma compreensão profunda sobre alguns casos significativos, ao invés de conclusões supostamente amplas sobre muito casos cujo significado compreendemos apenas superficialmente”.

De acordo com a extensão dos registros videográficos que foram feitos e o estudo detalhado, realizamos um recorte para a investigação, construindo uma unidade de análise. Os registros videográficos foram selecionados para análise como mapas de eventos e episódios de ensino retirados das aulas gravadas.

A análise dos registros videográficos percorreu, de modo geral, os seguintes critérios:

1) Contato inicial com os dados, tornando mais conhecido os registros. Os vídeos eram assistidos neste momento de forma livre;

2) Em seguida foi feita uma transcrição de cada aula, procurando compreender o texto de um modo mais geral, considerando desde já a sequência que se dava às práticas pedagógicas;

3) A partir da transcrição feita, fizemos a seleção e a transcrição integral, detalhando os eventos e os episódios;

4) Finalizamos essa etapa com a discussão dos mapas de eventos e dos episódios.

Os episódios escolhidos para análise foram os que caracterizam as práticas pedagógicas como inovadoras que ocorriam dentro do processo de ensino-aprendizagem.