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Objetivos Específicos

2.1 Percurso Metodológico

2.1.3.6 Análise de Conteúdo

Para Bardin (2004) e Moraes (1999), a análise de conteúdo constitui a descrição e interpretação do conteúdo de documentos e textos, ajudando a reinterpretar as mensagens e atingindo a compreensão de seus significados que não são percebidos em uma leitura comum. Essa metodologia de pesquisa compreende uma busca teórica e prática com um significado especial no campo das investigações sociais. Como método de investigação, a análise de conteúdo pode contabilizar as palavras, as orações, pode categorizar as frases, descrever o significado das expressões, verificar as mensagens.

Para Henry e Moscovici (1968) apud Bardin (2004, p. 28) “tudo que é dito ou escrito é suscetível de ser submetido a uma análise de conteúdo”.

Ainda segundo Morais (1999), a análise de conteúdo é uma interpretação pessoal do pesquisador em relação à percepção que ele tem dos dados, isto é, não é possível uma leitura neutra, pois de toda leitura surge uma interpretação. Dessas interpretações surgem muitas formas de categorizar os possíveis objetivos da pesquisa que, historicamente, têm sido definidos em seis categorias, numa definição original de Lasswell apud Morais (1999): 1) Quem fala; 2) Para dizer o quê; 3) A quem; 4) De que modo; 5) Com que finalidade; 6) Com que resultados.

As etapas para o processo de análise de conteúdo seguiu os critérios de Bardin (2004) e se constituíram em:

1) organização das informações: identificamos as diferentes informações com uma leitura flutuante de todos os textos construídos, transformando os documentos examinados em dados para serem analisados e criando códigos de acesso rápido para uma busca recorrente;

2) transformação do conteúdo em unidades: com os dados preparados, relemos os materiais e identificamos neles as unidades de análise, representando conjuntos de informações com um significado completo em si mesmas. A criação de uma unidade de contexto, que é uma unidade geral mais ampla, serviu como referência às unidades de análise, constituindo um modo de busca permanente ao entendimento dos significados.

3) categorização das unidades: agrupamos os dados considerando a parte comum existente entre eles e classificando-os por semelhança, facilitando a análise da informação, como colocam Olabuenaga e Ispiz (1989) apud Morais (1999) “o processo de categorização deve ser entendido em sua essência como um processo de redução de dados. As categorias representam o resultado de um esforço de síntese de uma comunicação, destacando neste processo seus aspectos mais importantes”. As características das categorias da análise de conteúdo obedeceram aos argumentos, regras, segundo Bardin (2004), de validade, exaustividade, homogeneidade, exclusividade e objetividade que foram construídos ao longo da análise.

4) descrição: após definidas as categorias com seus respectivos materiais, foi feita a descrição do trabalho. Apresentamos um texto síntese para cada uma das categorias, expressando o conjunto de significados contidos nas unidades de análise com citações diretas dos dados originais. Segundo Morais (1999), “é o momento de expressar os significados captados e intuídos nas mensagens analisadas”.

5) interpretação: como analista de conteúdo, exercitamos com maior intensidade a interpretação, não somente com os conteúdos expostos pelos autores, mas também com os ocultados consciente ou inconscientemente pelos mesmos.

Moraes (1999) enfatiza que “os valores e a linguagem natural do entrevistado e do pesquisador, bem como a linguagem cultural e os seus significados, exercem uma influência sobre os dados da qual o pesquisador não pode fugir”. E que, ao longo da pesquisa, a compreensão do contexto em que se dá a pesquisa torna-se indispensável para compreender o texto, a comunicação simbólica. Para a compreensão do significado de um texto é necessário observar o contexto, considerando além do conteúdo explícito, o autor, o destinatário e as formas de codificação e transmissão da mensagem.

Diante do exposto, o campo observado foi visto como um contexto cultural e político em que a presença do pesquisador foi negociada, pois os sujeitos pesquisados são participantes de um processo com suas vivências, seus métodos e todos os seus problemas, interferindo também na interpretação da pesquisa. Como expõe Lapassade (2005, p. 70), “[...] quando se negocia acesso ao campo, já se está no campo. Ao mesmo tempo, é preciso sempre renegociar tal ‘acesso’ [...] Nada é jamais conseguido de forma definitiva e global”.

Insistimos na validade dos dados, na consistência e na suficiência destes, apoiados também na explicação de Macedo (2009, p. 109):

Documentar, compreender contradições e ambiguidades, bem como opinar sobre os conflitos, é parte da construção da complexidade das pesquisas qualitativas. Em vez de descartá-las e substituí-las, são considerados subsídios ricos para compreensão das realidades humanas.

Fino (2008) analisa a fala do sujeito dentro da comunidade onde vive como de fundamental importância para o conhecimento das ações ali realizadas:

Ora, que melhor que uma descrição, formulada do ponto de vista dos nativos de uma comunidade onde acontecem determinadas transações, chamemos-lhes educativas, pode servir de base para a revelação e interpretação crítica das práticas pedagógicas, nomeadamente as práticas pedagógicas que podem merecer a designação de inovadoras?

Para Morin (2008, p.430), a observação científica que isola o objeto para conhecê-lo, inibindo algumas interações, provoca a partir daí outros tipos de interações:

A experiência científica também não é somente uma operação de abstração, ou seja, de isolamento de um fenômeno fora de seu contexto real (o que oculta as interações ecológicas que fazem parte do fenômeno), é o desencadeamento de um novo tipo de interações entre o fenômeno e o experimentador, interações das quais ele permanece inconsciente. A experiência retira, portanto, um objeto de seu contexto físico real, um ser de sua ecologia biológica real, mas o introduz em um novo contexto real, de caráter antropossociológico, cujas ideias abstratas são parte integrante.