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2.4 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

2.4.3 A Inovação Tecnológica

Schumpeter, em 1939, considerou a inovação, que ele chamava comercialização das invenções, como a força básica por trás das economias de mercado capitalista. Inovação é diferente de invenção.

Invenção é fruto da produção de conhecimento e resulta do trabalho de pesquisa fundamental e investigação cientifica, motivadas pela busca do mérito acadêmico, enquanto inovações tecnológicas, através de novos ou melhorados produtos, processos produtivos e serviços incorporados à estrutura econômica, são fruto do trabalho permanente e rotineiro de pesquisa e desenvolvimento (P&D) introduzido no âmbito das firmas, a partir de motivações ligadas à percepção de oportunidades de mercado e requisitos do padrão de competição vigente, além de perspectivas de retorno econômico (BASTOS, 2003, p. 2).

A inovação tecnológica faz parte do conjunto ciência e tecnologia. Num contexto de mudanças e de transformações na sociedade e nos sistemas de produção e mercado, esta trilogia é de substancial importância para o desenvolvimento econômico do país. A competitividade está diretamente ligada à inovação, e o seu conceito pode ser definido sob vários pontos de vista.

Conforme relatório The World Competitiveness Yearbook do International Institute for

Management Development (IMD), Alvares (1997) apresenta quatro dimensões em

os ativos herdados (riqueza natural, tamanho do país e da população); os processos que determinam a habilidade de criar valor agregado (educação, habilidade gerencial, etc.); a atratividade ou capacidade do país de atrair ativos ou processos de outros países; a agressividade ou a capacidade do país em ir para outros países e lá tirar vantagem de seus ativos herdados e dos processos. Enfim, competitividade se baseia na habilidade de desenvolver ou apreender processos ou se aproveitar dos ativos.

O Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira (BRASIL, 1993, p. 18) explicita “a competitividade deve ser entendida como a capacidade da empresa de formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado”.

O conceito de inovação traz vários significados e conotações, pode ser considerado, na sua acepção mais geral, como “introdução de conhecimento novo ou de novas combinações de conhecimento existentes”, vê-se que o próprio conceito supõe e impõe uma relação estreita entre inovação e conhecimento, refletindo a transição de paradigmas e os imperativos econômicos e políticos (MACIEL, 1999, p. 9).

A inovação não pode ser entendida somente como a primeira vez que se faz uma ação nova, mas como a introdução de algo novo em alguma área, seja um processo, uma atividade que leva a resolver um problema em determinado contexto, ou apresentar alternativa para melhorar determinada situação, produto ou serviço, envolvendo aspectos de qualquer natureza: técnicos, tecnológicos, organizacionais, institucionais, sociais, econômicos ou culturais.

De acordo com Quandt (2004),

Inovação é a introdução de novos produtos, serviços ou métodos de produção numa organização ou no mercado. O processo de invenção inclui todos os passos necessários (técnicos, gerenciais, comerciais e financeiros) para introduzir um produto ou processo, novo ou aperfeiçoado no mercado. Conseqüentemente, as atividades de gestão, organização, capacitação e vínculos necessários ao processo de inovação extrapolam os limites da firma e se estendem ao contexto produtivo local, regional e nacional. (QUANDT, 2004, p.1-2)

A inovação tecnológica

tem a ver com máquinas e técnicas; assim como com a organização do trabalho, as possibilidades educativas, as políticas públicas, as pautas de consumo, a estrutura de incentivos e os valores predominantes. É uma atividade que deve combinar os esforços e os saberes de distintos autores, trabalhadores e empresários, técnicos e políticos, educadores, pesquisadores e comunicadores. A inovação tem um caráter fundamentalmente interativo. Resolver problemas capacita para resolver outros problemas, pelo qual se trata de um

processo cumulativo. Tem-se destacado que se trata de um processo distribuído, pois as atividades inovativas estão distribuídas em

distintos espaços sociais; tem lugar certamente nos laboratórios e nos setores produtivos que empregam tecnologia de ponta, mas não se concentram somente neles: a inovação pode ser encontrada em todos os âmbitos vinculados direta ou indiretamente à produção de bens e serviços assim como à atenção das necessidades humanas, em geral. O último, mas certamente o não menos importante a destacar neste estreito resumo, é que a inovação adquire real gravitação quando acontece sistemicamente, quando são intensas e relativamente estáveis as interações entre os diversos autores que devem coadjuvar para a introdução do novo nas práticas sociais. (AROCENA e SUTZ, 2004, p. 5)

Segundo Maciel,

é possível que haja tantas definições de inovação quanto há de pesquisadores na área. Além disso, há divergências quanto à abrangência do termo, podendo significar apenas inovação tecnológica no sentido estrito (e estreito) ou inovação no sentido mais amplo, socioeconômico. Hoje, a expressão “inovação tecnológica” refere-se, na maioria dos casos, a novos produtos e/ou processos de produção e aperfeiçoamentos ou melhoramentos de produto e/ou processo (MACIEL, 1999, p.1).

O ciclo da inovação inclui em suas etapas, primeiramente, a transformação da informação e do conhecimento científico em princípios técnicos ou tecnológicos aplicados; seguida pelo desenvolvimento e implementação de novos produtos ou processos, e a difusão dele no setor produtivo. A inovação está associada à modernização de seus processos, métodos e técnicas, de seus padrões de qualidade e eficiência, na utilização de seus recursos e oportunidades.

O processo de inovação e da produção industrial, com a complexidade na busca de novos processos e produtos, requerem informação para o seu desenvolvimento. A informação é o insumo básico tão importante quanto à crescente relevância do conhecimento, da formação, das competências, habilidades e qualificações

dependentes cada vez mais do potencial social, representado principalmente pela educação, pelas capacidades construídas a partir do acesso ao conhecimento e das oportunidades existentes no processo de desenvolvimento. Para cada fase do processo, seja de criação ou de produção ou de fabricação, é necessário um tipo de informação: a informação científica, tecnológica, mercadológica, legal, jurídica e de política governamental.

De acordo com Bastos (2003, p. 2),

as firmas são o locus da inovação ainda que a tendência mundial envolva arranjos e permanentemente modificados tais como a constituição de redes de cooperação e vínculos crescentes com outros agentes (universidades, instituições de pesquisa), uma vez que a ciência e tecnologia estão cada vez mais inter-relacionadas e o setor produtivo estruturado sobre uma sólida base de pesquisa fundamental. No entanto, os resultados concretos da cooperação universidade-empresa em termos da inovação ainda são mitos e metas perseguidos mundialmente.

A geração da inovação tecnológica é fator decisivo no processo de desenvolvimento de qualquer país, o reconhecimento disso pode ser verificado no fato de que o estímulo à inovação tem tido participação no estabelecimento de políticas de desenvolvimento de quase todos os países. Por outro lado, a geração de inovação tecnológica é uma atividade de risco, pois há um ambiente de incerteza, e um investimento em inovação quando iniciado não pode ser revestido sem deixar custos, há consenso sobre o fato de que a P&D é uma das atividades que não pode ser deixada inteiramente para o setor privado, pois geraria sub-investimentos devido à dificuldade de apropriação dos esforços de pesquisa do setor privado, mesmo na presença de sistemas de propriedade intelectual (BASTOS, 2003, p. 3).

Um dos principais obstáculos é a insegurança com relação aos recursos para essa área, do ponto de vista da sua existência e do seu comprometimento à longo prazo, seja por meio dos fundos ou de qualquer outra fonte de fomento e financiamento, pois, os recursos dos fundos setoriais já são destinados a projetos e programas de desenvolvimento científico e tecnológico de interesse do setor produtivo.

O esforço para criar condições de competitividade passa necessariamente pela trilogia (C,T&I), consciente dos desafios que enfrentam, principalmente, os países de economia mais fragilizadas. “Produzir valor agregado é o desafio e para tanto C,T e I são indispensáveis” (VOGT; KNOBEL, 2004, p. 6).

Conforme escreveu Quandt (2004), a inovação e a competitividade são atualmente os pontos de partida para a formulação de políticas de desenvolvimento. Estudos realizados em vários países corroboraram a afirmação de que 80 a 90 % do crescimento da produtividade são causados pela inovação, que o aumento da produtividade responde por mais de 80% do crescimento econômico, que a capacidade de desenvolvimento é relacionada à capacidade de inovar, difundir e aplicar conhecimentos, essencial para ampliar as oportunidades de ganhos econômicos e sociais das cidades, regiões e países, onde “O acesso ao conhecimento tecnológico, o desenvolvimento do capital humano, a inovação contínua e a adoção de padrões mundiais de qualidade e produtividade são fatores essenciais para sustentar a competitividade” (QUANDT, 2004, p. 1).

No estabelecimento de uma política de inovação, cada setor tem suas especificidades que deverão ser observadas, portanto

a definição dos alvos prioritários, os arranjos institucionais mais adequados para cada objetivo e os mecanismos de fomento a serem acionados devem obedecer à avaliação de cada situação específica. A definição dos alvos prioritários deve ser produto dos mencionados estudos de prospeção e deverão compor a agenda de prioridades de pesquisa no setor. Os arranjos institucionais deverão, sempre que possível, privilegiar as empresas públicas e privadas, agentes decisivos no desenvolvimento tecnológico e, principalmente, na inovação. Quanto aos mecanismos de apoio financeiro, o leque deve ser aberto desde o apoio direto ao desenvolvimento de projetos nas empresas, passando pelo financiamento de arranjos onde se componham instituições de pesquisa e empresas até a encomenda de projetos específicos a institutos de pesquisa e universidades. (GUIMARÃES, R., 2004, p. 5).

Qualquer política de inovação deverá estar atenta ao sistema nacional de inovação e seus desdobramentos regionais e locais. Quando esse modelo foi estabelecido nos anos de 1990, as distintas versões elaboradas por Chris Freeman, da University of Sussex, Bengt-Ake Lundvall, da University of Aalborg e Richard R. Nelson, da

Columbia University, buscavam estabelecer uma relação com os sistemas regionais e por extensão aplicá-los aos sistemas locais.

A partir do modelo científico da estabilidade dinâmica de Boynton; Bart; Pine II (1993), um grupo de pesquisa da Universidade Federal Fluminense aplicou o mesmo instrumento à área de telecomunicações. Os resultados da pesquisa (QUINTELLA; CUNHA, 2004, p. 5) apresentam as transformações no ambiente brasileiro na década de 1990 e chega a conclusões valiosas para o atual cenário:

a) a estratégia mais adequada à competitividade para o ambiente de negócios atual do setor de telecomunicações é a customização em massa, com serviços cada vez mais individualizados e modelos de negócio adequados;

b) as ferramentas estratégicas das empresas, a estrutura organizacional voltada para a inovação com equipes permanentes para a gestão de processos e desenvolvimento de novos serviços, os processos e a tecnologia de informação devem possibilitar a diminuição do tempo de desenvolvimento de novos produtos e serviços;

c) a função inovação deve estar distribuída em toda a organização.

As grandes diferenças existentes entre os países e dentro dos países, regiões e localidades sugerem que o processo de inovação demanda formas específicas de coordenação e apoio ao processo tecnológico. É possível que “as diversas configurações institucionais em diferentes locais e seus vínculos com o sistema produtivo traduzem-se em diferenças na capacidade de inovar e promover a difusão de tecnologia”, afirma Quandt (2004, p. 2). Não se pode esquecer que inovação é um processo e, portanto, envolve determinadas fases e etapas de execução dentro da organização e outras que se estendem ao contexto produtivo onde está inserida. De acordo com Plonski (2005, p. 65),

um dos fatores chave de sucesso para uma inovação tecnológica sistemática é compreendê-lá e tratá-la como jogo de equipe. Cada um dos agentes – empresa, institutos de pesquisa, instituições de ensino (superior e médio) agências de fomento, organismos formuladores de políticas públicas (executivo e legislativo), hábitats de inovação, associações profissionais e setoriais, ONG’s, órgãos de imprensa e outros – tem papel a cumprir.