• Nenhum resultado encontrado

2.5 A UNIVERSIDADE COMO FATOR DE PRODUÇÃO

2.5.3 A Universidade de Brasília

Em 1960, um grupo de educadores e cientistas, liderados por Darcy Ribeiro, começou a debater a criação de uma universidade em Brasília. A concepção dessa nova proposta, inspirada nos ideais de educadores brasileiros que buscavam a democratização do ensino público, teve como criador o grande pensador Anísio Teixeira, apoiado por Cyro dos Anjos e outros. Um projeto de lei foi enviado ao Congresso Nacional, pelo então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, e transformado na Lei n.º 3.998, de 15 de dezembro de 1961, que autorizou o poder executivo a instituir a Fundação Universidade de Brasília (FUB), como fundação pública. Esta Lei foi homologada pelo Decreto n.º 500, de 15 de janeiro de 1962, onde a FUB foi constituída como entidade não-governamental, administrativa e financeiramente autônoma, no seu Art. 3º estabelece como objetivo criar e manter a Universidade de Brasília (UnB) como instituição de ensino superior, de pesquisa e extensão em todos os ramos do saber. Finalmente, em 21 de abril de 1962, inaugura-se oficialmente a UnB, tendo como primeiro reitor o professor Darcy Ribeiro, que a implanta fisicamente, obtendo recursos, garantindo verbas e outros apoios. Anísio Teixeira, que foi o seu Pensador, vem a ser o seu segundo Reitor, quando Darcy Ribeiro se torna o Chefe da Casa Civil da Presidência da República. O Plano Orientador da UnB estabelecia o funcionamento integrado de oito institutos centrais (matemática, física, química, biologia, geociências, ciências humanas, letras, artes), de sete faculdades (ciências agrárias, ciências médicas, tecnologia, ciências políticas e sociais, arquitetura e urbanismo, educação, biblioteconomia) e de cinco órgãos complementares (biblioteca central, editora, radiodifusora, estádio, museu).

Várias iniciativas inovadoras foram colocadas em ação, ressaltando-se:

- Ensino por disciplinas semestrais (fim do ensino seriado, por turmas anuais); - Sistema de ensino, duplo e integrado, onde os Institutos Centrais promovem a

formação básica, e as faculdades a formação profissional (Bacharel, Mestre, Doutor);

- Matrículas individualizadas, liberdade de programar o tempo e a opção profissional;

- Mudança de opção permitida;

- Novas modalidades de formação, de acordo com o mercado de trabalho;

- Distinção entre atividades de preparação científica e as de treinamento profissional;

- Ingresso por vestibular, onde o aluno seguiria um curso básico no instituto central da área de sua opção e concluiria seu curso profissional nesse instituto ou faculdade;

- Integração da Universidade com os setores produtivos (público ou privado) que poderão empregar os técnicos ali formados.

O Estatuto em vigor foi aprovado pela Resolução n.º 13 do Conselho Diretor, e o Regimento Geral da UnB em 14 de dezembro de 2000, tendo como proposta a formação de cidadãos qualificados para o exercício profissional e a cidadania, bem como a realização de atividades científicas e de extensão, em interação com a sociedade na busca de novos caminhos e soluções, cumprindo sua responsabilidade social.

A missão da Universidade de Brasília é produzir, aplicar, preservar e difundir idéias e conhecimentos, pesquisar, propor soluções e abrir caminhos para a sociedade, atuando como um centro dinâmico de progresso e desenvolvimento regional, nacional e internacional, comprometido com a formação profissional de alta qualificação de cidadãos éticos, socialmente responsáveis e com visão à frente do seu tempo. (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2005, p. 3)

Conforme o artigo 2º do Regimento Geral da Universidade de Brasília, a Administração Superior da UnB é de responsabilidade dos Conselhos Superiores, como órgãos normativos, deliberativos e consultivos, e da Reitoria, como órgão executivo. São eles: Conselho Universitário (CONSUNI); Conselho de Ensino,

Pesquisa e Extensão (CEPE); Conselho de Administração (CAD); e o Conselho Comunitário.

O Conselho Comunitário é um órgão consultivo da Administração Superior, devendo reunir-se uma vez ao ano (Art. 14 do Regimento Geral) e tem como funções (Art. 15) opinar sobre estudos, projetos, planos e relatórios da Universidade e recomendar ações e medidas à Administração Superior.

A estrutura da UnB, além da Reitoria e Vice-reitoria, de acordo com o Anuário Estatístico–2005 da UnB, conta com cinco Decanatos: de Ensino e Graduação, Pesquisa e Pós-Graduação, Extensão, Administração e Assuntos Comunitários; 12 Institutos e 10 Faculdades integrando 52 departamentos; seis órgãos complementares e auxiliares como a Biblioteca Central, o Centro de Informática e a Editora; 13 Centros entre eles o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT); Assessorias e órgãos de direção superior, como os conselhos, decanatos e três fundações: Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (FINATEC), Fundação de Estudos e Pesquisas em Administração da Universidade de Brasília (FEPAD) e Fundação Universitária de Brasília (FUBRA), além da FUB, que é a sua mantenedora.

Em 2005, ofereceu 60 cursos de graduação, 57 cursos de mestrado, sendo 5 deles profissionalizantes e 31 cursos de doutorado, reunidos em 50 programas de pós- graduação stricto sensu, recomendados pela CAPES. A pós-graduação lato sensu oferece anualmente cerca de 52 cursos de especialização em diversas áreas do conhecimento. Com relação a pesquisa científica, em 2005, tem aproximadamente 335 Grupos de Pesquisa consolidados e registrados no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq. Esses grupos de pesquisa atuam em 432 laboratórios e desenvolvem pesquisas em mais de 400 linhas de pesquisa.

Com relação à Extensão, a UnB realizou 625 eventos, por meio de cursos, minicursos e outros eventos com a participação de 34.639 participantes.

O Corpo Docente ativo é de 1.293 professores, onde 22,27% possuem o Mestrado e 72,62% o Doutorado.

A criação do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) e da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (FINATEC) se constituem num dos esforços da UnB na busca de uma relação com o setor produtivo, no atendimento da sua demanda.

O CDT foi criado em 1986, como resultado da recomendação de um grupo de trabalho, nomeado pelo Governo do DF, em maio de 1985, com a missão de estimular e apoiar ações de desenvolvimento local por meio da transferência de tecnologia e do empreendedorismo, tendo como primeiro programa a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica. Esse esforço teve como objetivo estabelecer uma relação entre o setor produtivo, a tecnologia e o capital, através do processo de transferência de tecnologia, prestação de serviços especializados e a interação da Universidade com os empresários, empreendedores e a sociedade em geral, disponibilizando produtos e serviços, como: Disque Tecnologia, Jovem Empreendedor, Empresa Júnior, Escola de Empreendedores, Credenciamento de Laboratórios, Incubadora de Empresas, Hotel de Projetos, Inteligência Competitiva, Propriedade Intelectual, e a Multincubadora.

A Finatec foi criada em 1992, partindo do princípio de que as universidades, além de gerar conhecimento, devem dispor de instrumentos capazes de facilitar o repasse do conhecimento gerado à comunidade (FINATEC, 2004). Na busca da integração entre universidade e empresas públicas e privadas, a Finatec executa diversas atividades voltadas à qualificação de recursos humanos, ao desenvolvimento de estudos e pesquisas, oferecendo serviços voltados ao desenvolvimento de projetos de pesquisa, prestação de serviços de consultoria, apoio à realização de cursos, bem como para a aquisição de bens e serviços nacionais e internacionais; reembolso de despesas; contratação de celetistas, prestadores de serviços autônomos, admissão de estagiários, adiantamento de despesas com viagens, prestação de contas, elaboração de propostas e participação em licitações.

A UnB, do ponto de vista de sua administração estratégica, estabeleceu como missão: “Ser uma universidade contemporânea, pública e autônoma, que garanta a formação do cidadão como intelectual e como ser social, voltada para a produção e a transmissão do conhecimento, com a qualidade que projeta a sociedade para o futuro.” Os seus objetivos estratégicos estão voltados para: autonomia, integração acadêmica, descentralização, qualidade de vida, aprender a aprender como padrão de qualidade, planejamento acadêmico e administrativo como fundamentação para as ações, inserção da universidade tanto em nível regional como nacional e internacional (não explicitando o nível local: DF e a capital da República), compromissos éticos da cidadania, transparência, compromisso com a democracia, o estabelecimento das políticas, diretrizes e as propostas de ações dos decanatos (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 1994, p. 8-9).

Nesse mesmo documento, estabelece as Diretrizes voltadas à Extensão conforme item 4:

Ter ações que ampliem, aprimorem e criem projetos que envolvam a comunidade do Distrito Federal e do entorno”; e nas de Política de Informação e Documentação inclui a sistematização da informação sobre a FUB/UnB, para subsidiar decisões político-administrativas e criar novas fontes de informação, podendo ser entendido como um embrião de um sistema de informação gerencial para a Universidade. (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 1994, p. 10-15)

As atividades didático-científicas da UnB estão organizadas e se desenvolvem de acordo com os princípios estabelecidos no Art. 70 do Regimento Geral, que são os seguintes: liberdade de pensamento e de expressão, sem discriminação de qualquer natureza; indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão; universalidade do conhecimento e fomento à interdisciplinariedade; avaliação e aprimoramento constante da qualidade; orientação humanística da formação do aluno; compromisso com o desenvolvimento do País e a busca de soluções democráticas para os problemas nacionais; compromisso com a paz, com a defesa dos Direitos Humanos e com a preservação do meio ambiente.

A UnB não mantém relação institucional, sistemática e programática com o Governo do Distrito Federal. Verifica-se na composição do Conselho Comunitário a

representação do Governo do Distrito Federal e da Câmara Distrital (Câmara Legislativa do Distrito Federal – CLDF). Nos princípios que nortearam a Universidade, o seu compromisso é explícito com o País e os problemas nacionais, não tendo preocupação com o desenvolvimento regional e local. Essa atitude é surpreendente, por se tratar de uma universidade com atuação em diversas áreas, com pesquisas sobre vários temas, formando profissionais para um mercado, principalmente local, e excluindo de seus princípios o seu locus de atuação. Como afirmaram, de forma enfática, vários especialistas sobre a temática do relacionamento entre empresas universidades, “as empresas grandes e pequenas serão globais em suas operações. Pensar globalmente e agir localmente, máxima das empresas em tempo de globalização” (JOHNSON,1997 apud MOURA, 1999, p.173).

Reforçando essa afirmação, a Permacultura, como uma síntese das práticas tradicionais com as idéias inovadoras, utilizando conhecimentos de várias áreas para fazer análise e tomar decisões, não como um campo da especialização, mas da generalização, busca como resultado uma integração harmoniosa entre as pessoas e o seu ecossistema natural, numa perspectiva de desenvolvimento integrado e sustentável.

O papel e a responsabilidade social da universidade devem constituir-se objetos de um amplo debate, tendo em vista todas as mudanças porque passa o mundo e os desafios do momento que precisam ser enfrentados também por ela. Esse debate inclui a discussão, principalmente, sobre sua missão, visão de futuro, objetivos, estrutura, linhas programáticas, foco, participação, comprometimento com o desenvolvimento social, cultural e econômico do País, da região e do seu locus, dentro de uma perspectiva de ser um dos elementos de alavancagem da sociedade. A Confederação Nacional da Indústria (2004) apresenta um modelo de Educação Superior Necessária ao desenvolvimento sustentável onde coloca o desafio das IES de se adaptar às necessidades de uma nova sociedade, baseada na informação e no conhecimento, constituindo-os como fundamento para o desenvolvimento sustentável, como é detalhado na Figura 4.

Figura 4: A Educação Superior e o Desenvolvimento Sustentável Fonte: CNI, 2004.

Um dos desafios é encontrar uma alternativa para a estrutura burocrática obsoleta e incapaz de corresponder às exigências de uma transformação mais rápida, mais dinâmica, ágil para dar resposta na mesma velocidade com que as mudanças acontecem, não ficando a reboque delas, ou mesmo paralisada sob o impacto da revolução tecnológica, científica e social, com que se convive atualmente.