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2.5 A UNIVERSIDADE COMO FATOR DE PRODUÇÃO

2.5.1 A Universidade no exterior

Por mais sintética que seja a abordagem, a reconstrução do contexto ou a sua identificação dentro de um período histórico, possibilitará a compreensão das condições que tornaram possível o processo de criação e desenvolvimento das universidades.

A trajetória histórica de criação das primeiras universidades iniciou-se na Idade Média, na Itália. Surgiram como um novo tipo de instituição de ensino do mundo medieval católico, suprindo a deficiência das escolas catedrais e monásticas, que preparavam os alunos somente para a carreira religiosa. Essa instrução superior não religiosa estendeu-se por áreas como a Medicina, o Direito, e por vários países além da Itália, como a França, Alemanha, Espanha, Portugal, Inglaterra, Áustria, Polônia e outros mais.

Essa universidade medieval, com rígido arcabouço escolástico, essencialmente conservadora, com o fim do feudalismo torna-se incompatível com o espírito renovador da Renascença. Cresce o interesse por estudos universitários e novos centros de saber e ensino surgem em toda a Europa ocidental.

Um grupo de professores cientistas, encabeçado por Isaac Newton, Isaac Barrow, William Whiston e Roger Coates, no século XVII e no princípio do século XVIII, empreende a valorização das ciências exatas.

A universidade francesa rompe com a estrutura feudal graças à Revolução de 1789 e a institucionalização dessa nova universidade processou-se sob o poder de Napoleão Bonaparte. Teve como característica a subordinação de todo o sistema das academias ao controle estatal. O núcleo do sistema era constituído por escolas autônomas, com uma Escola Politécnica para preparação dos quadros técnicos e um centro coordenador da nova pedagogia.

Em 1794, em Cambridge (Inglaterra), é criada a primeira cátedra de pesquisa científica.

Na Alemanha, o velho sistema universitário quase entrou em colapso na transição do século XVIII para o XIX, como efeito da onda revolucionária que sacudiu a Europa. Surge então um novo modelo de universidade, tipicamente germânica, nas duas primeiras décadas do século XIX, criada por filósofos e cientistas, como Friedrich von Schelling, Johann Gottlieb, Wilhelm von Humboldt e Karl Altenstein, quando são criadas três universidades: a Universidade Humboldt de Berlim, em 1809, a de Bonn e a de Munique.

Wilhem von Humboldt (1767-1835), filósofo e diplomata alemão, cursou as universidades de Gottingen e Jena, acompanhando o movimento do idealismo filosófico alemão. Durante a Revolução Francesa, deslocou-se para Paris para acompanhar de perto os acontecimentos, quando escreve seu primeiro ensaio político, síntese pioneira do liberalismo político do século XIX. Foi ministro plenipotenciário em Roma, em 1802, quando enriqueceu os museus de Berlim, comprando valiosas antiguidades. Em 1808, com a orientação liberal vigente, foi nomeado ministro da Educação. Logo no ano seguinte, fundou a Universidade de Berlim, sendo seu primeiro reitor. Utilizando novos critérios de organização, baseados na interdependência entre ensino e pesquisa, tornou-a modelo para as universidades daquele século. Teve ascendência também em outras áreas, reconhecendo-se que suas contribuições à lingüística, paralelas às realizações como educador liberal e humanista, exerceram grande influência na Europa, no século XIX.

O modelo apresentado por Humboldt, considerado a antítese do modelo francês, englobava várias faculdades e identificava-se mais com a ciência do que com a religião. Depois de 1870, a ciência experimental colocou-se no primeiro plano, proporcionando as bases da industrialização do país, onde a universidade era, enfim, posta a serviço da idéia nacional germânica. A finalidade técnica é marcada, seguindo a linha de sua formação histórica, como elemento de pesquisa. A interligação de ensino e pesquisa, característica da Alemanha, foi adotada por vários outros países, como a Itália, onde a tradição humanista se completou modernamente com a atenção dada a ciência e a tecnologia.

Os países escandinavos caracterizam-se pelo alto nível do seu ensino superior, com inúmeras instituições técnicas e institutos de pesquisa.

No Japão, embora a introdução da universidade só acontecesse a partir da segunda metade do século XIX, quando os japoneses começaram a absorver os conhecimentos e a técnica ocidental, destaca-se a ampliação do ensino superior em consonância com o progresso industrial e econômico do país.

A Coréia do Sul, no seu esforço de desenvolvimento, concentrou-se prioritariamente na educação como setor decisivo à alavancagem do país. A revista Veja (16/02/2005, p. 60) em reportagem, de Monica Weinberg, com o sugestivo título 7

lições da Coréia para o Brasil: o que o país pode aprender com o bem sucedido modelo de educação implantado na Coréia do Sul, explicita:

1) concentrar os recursos públicos no ensino fundamental e não na universidade, enquanto a qualidade nesse nível for sofrível;

2) premiar os melhores alunos com bolsas e aulas extras para que desenvolvam seu talento;

3) racionalizar os recursos para dar melhores salários aos professores; 4) investir em pólos universitários voltados para a área tecnológica;

5) atrair o dinheiro das empresas para a universidade, produzindo pesquisa afinada com as demandas do mercado;

6) estudar mais. Os brasileiros dedicam cinco horas por dia aos estudos, menos da metade do tempo dos coreanos;

7) incentivar os pais a se tornarem assíduos participantes nos estudos dos filhos. A Índia, com a condição de colônia, teve o desenvolvimento do seu ensino superior retardado e somente em 1904, depois da “lei das universidades indianas”, foram dados poderes às suas universidades para ensinar e controlar as faculdades filiadas. Nos Estados Unidos, o ensino de nível superior atingiu um dos mais altos graus de desenvolvimento, onde a universidade tem características muito particulares, sendo definida, pelo Office of Education, como uma instituição complexa de ensino superior que tem como objetivos:

a) dar instrução, especialmente acima do nível de bacharelado;

b) realizar pesquisas para a descoberta de novos conhecimentos e novas aplicações dos conhecimentos existentes;

c) servir à humanidade com suas possibilidades de instrução e pesquisa disponíveis e úteis à sociedade.

A universidade americana, no seu sentido amplo, inclui também os colleges e com eles às vezes se confunde, seja por imprecisão na terminologia ou por origem histórica. Surgiram na época colonial, baseado nos modelos de Oxford e Cambridge: o Harvard College em 1693, e, sob a influência das idéias de Benjamin Franklin, o College and Academy of Philadelphia, em 1755. De escola secundária, voltada à instrução não-profissionalizante em liberal arts, passou a adotar um currículo amplo, desdobrando-se em junior colleges e senior colleges.

A reformulação do Harvard College e a criação da Johns Hopkins University (1876), seguindo as linhas gerais do modelo alemão, anti-pragmático e com reforço para as atividades culturais e científicas, deram início a um novo ciclo para a universidade americana. Diversas universidades foram criadas com diferentes conformações: públicas, privadas, estaduais, municipais, contando com recursos ou governamentais por meio de verbas e bolsas, ou de particulares, principalmente ex- alunos, pessoas, empresas de sucesso ou fundações.

Em 1950, foi criada a National Science Foundation que destina recursos financeiros para instituições científicas e concede bolsas a estudantes, com resultados altamente positivos. Se for observada a obtenção do Prêmio Nobel, fica evidente que os norte-americanos representam a maioria dos agraciados.

Não pode deixar de ser lembrado o programa de extensão universitária que as universidades realizam com o objetivo de levar o acesso ao ensino superior aos que não o têm, dentro da perspectiva das oportunidades democráticas.