• Nenhum resultado encontrado

A   instalação   do   sistema   de   geração   de   energia   hidroelétrica

1.   SÃO   PAULO   (DE   PIRATININGA):   BREVE   RETROSPECTIVA   HISTÓRICA

1.3.   A   instalação   do   sistema   de   geração   de   energia   hidroelétrica

É nesse movimento misto de avanço técnico e ímpeto civilizatório que as características  naturais do território vão ganhando feições cada vez mais detalhadas. É assim na região de  Jundiaí (Figura 17), em 1908, com seu pequeno núcleo urbano instalado na colina, a linha  ferroviária justaposta a esta e seguindo o caminho do fundo de vale do Rio de mesmo nome,  grandes áreas mapeadas com tipos de solo, indicando aproveitamentos específicos que ali  poderiam se dar. É assim também na região de Santo Amaro, quando, no mesmo ano, tomava  forma também o aterro Guarapiranga (Figura 18), do tupi “lamaçal de barro vermelho onde  vivem garças”, com a construção de uma grande barragem que viria a regularizar o fluxo para a  Usina de Santana de Parnaíba (Figura 19), otimizando seu funcionamento. 

 

 

Figura 17 – Região de Jundiaí, 1908 

 

Figura 18 – Construção do aterro Guarapiranga, 1908 

Fonte: São Paulo Yacht Club, acervo digitalizado             

Figura 19 – Barragem de Santana de Parnaíba, 1908 

Fonte: Memorial da Eletricidade, acervo digitalizado   

Nesse contexto, a paisagem de São Paulo vai se firmando como um amálgama entre  elementos naturais de solo e vegetação, do relevo e hidrografia, com obras de arte de  engenharia que possibilitaram a implantação da malha ferroviária, como, por exemplo, a Ponte  do Rio Jaraguá, construída em 1910, uma infraestrutura de transposição situada sobre uma  corredeira afluente do Rio Grande (Figura 20). Esta, talvez, seja uma imagem bem precisa do  espírito de São Paulo: a luta, parcialmente vitoriosa, contra as barreiras geográficas do  território,  em  especial  um  relevo  razoavelmente  acidentado  e  uma  rica  hidrografia,  integrando‐as  a  um  circuito  parcialmente  virtuoso  e  um  aproveitamento  absoluto  das  circunstâncias, porque inédito. Diz‐se parcialmente, pois, assim como o motor a gás foi  substituído pelo motor elétrico, e esse depois pelo motor movido à explosão de combustível  fóssil – de novo, parcialmente – muito da infraestrutura ferroviária será sucateada nas  próximas décadas, em função principalmente da predileção por um novo modal hegemônico,  rodoviário, com o desenvolvimento das tecnologias de estrada de rodagem e de diferentes  tipos de automóveis: carros e motocicletas para o transporte individual de pessoas, ônibus  para o transporte coletivo, caminhões para o transporte de cargas; bem como de aviões para o  transporte aéreo, uma vez que tanto a mecânica de deslocamento do solo para o ar, no caso a  decolagem e aterrissagem com a utilização de trens de pouso sobre uma via pavimentada,  quanto ao modo de geração de energia, motor movido a combustível fóssil, são os mesmos. 

 

 

Figura 20 – Ponte do Rio Jaraguá, 1910 

Fonte: São Paulo, 2010a, p. 86   

Essa capacidade de São Paulo, de vencer as barreiras geográficas e delas tirar proveito,  encontrará terreno fértil no desenvolvimento da indústria de geração de energia hidrelétrica,  até então restringida a um funcionamento limitado e de pouca capacidade de produção, com o 

esse reservatório fomentou, junto com outras obras, como o Aeroporto de Congonhas e o  Autódromo de Interlagos6, uma ocupação urbana de subúrbios, com a criação de bairros 

repletos de pequenas chácaras, residências para fins de semana e habitações permanentes. 

Nada menos de 1 000 embarcações, notadamente veleiros, circulam nas águas (...) dando‐lhes 

graça e movimento” (RADESCA, 1958, 118). O desenvolvimento dessas atividades recreativas, 

de esporte e lazer, fomentaram a criação de clubes náuticos, tais quais o late Clube Paulista, o 

late Clube Itália, Clube Náutico de Santo Amaro, a Sede Campestre do Clube de Regatas Tietê, 

entre outros, “que propiciam aos seus associados a prática e o prazer da navegação, em 

veleiros e em barcos a motor. Daí o espetáculo que se pode presenciar aos sábados, domingos 

e feriados, quando lanchas motorizadas e elegantes veleiros passeiam sôbre as águas da 

represa” (PENTEADO, 1958, p. 51). 

Esse quadro bucólico dos subúrbios de São Paulo vai começar a mudar, a partir de 1922,  quando o então presidente da Companhia Light, Alexander Mackenzie, empresa responsável  pela condução dos serviços de geração de energia hidroelétrica para a cidade de São Paulo, e  que também atuava no Rio de Janeiro, solicita ao engenheiro norte‐americano Asa White  Kenney Billings uma revisão dessas mesmas instalações. A sua vinda ao Brasil implicou num  incremento estratégico de um quadro técnico e foi um ponto crucial no desenvolvimento de  um sistema regional de geração de energia hidroelétrica integrado entre São Paulo e Rio de  Janeiro (Figura 21), devido à liderança que o mesmo assumiu por mais de duas décadas – até  1946 – na condução e administração das futuras obras que a Light viria a executar, frente à  demanda crescente de geração de energia elétrica nesses dois Estados. 

Assim, em 1923, a Serra do Mar volta a ser o foco principal no jogo de forças entre  técnica e natureza, agora já não como obstáculo, mas antes como oportunidade inigualável.  Nesse ano, Billings solicita ao engenheiro de reconhecimento F. S. Hyde que verificasse  alternativas para o aproveitamento dos recursos hídricos nas imediações de São Paulo, pois  havia, até o momento, uma espécie de consenso quanto ao potencial estritamente limitado de  geração de energia nessa região – algo em torno de 40.000 kW. É nesse contexto que Hyde,  que esteve em São Paulo por apenas poucas semanas, debruçado sobre um mapa topográfico  estadual, teve uma idéia mirabolante (Figura 22), descrita assim por Ackerman: 

Se uma barragem fosse construída no interior do Rio Grande, 

e se um canal fosse escavado desse novo reservatório para um 

segundo,  proposto  no  rio  Pedras,  que  desce  a  serra 

diretamente para o mar, toda a água da bacia hidrográfica do 

Rio Grande poderia ser desviada sobre a crista da serra até o 

mar. Deixando assim a água cair uma distância vertical de 

2350 pés (718 m) dentro de uma distância horizontal de 5900 

pés (1800 m), uma usina com capacidade total de 156.000 kW 

poderia ser desenvolvida no sopé da Serra, perto de Cubatão. 

Indo  mais  além,  Hyde  viu  que  a  água  do  Reservatório 

Guarapiranga, que estava sendo liberado para a usina de 

Parnaíba, no rio Tietê, poderia ser desviada através de um 

túnel para a represa de Rio Grande e daí descendo a Serra até        

essa  mesma  quantidade  de  água  gerava  em  Parnaíba. 

Finalmente,  se  mais  barragens  fossem  eventualmente 

construídas nos vales de outros rios no platô, e se seus fluxos 

de inundação fossem desviados para o proposto Reservatório 

Rio Grande por túneis ou canais adicionais, e daí para o mar, a 

proposta  estação  de  energia  no  pé  da  Serra  poderia 

progressivamente ser ampliada para uma capacidade final de 

mais de 400.000 kV. (1953, p. 33‐34, tradução nossa7

Assim, em 1924, começa a empreitada encabeçada pelo engenheiro norte‐americano  Asa White Kenney Billings, que deflagra um plano extensivo para utilização dos principais  afluentes  do  Rio  Tietê,  entre  Sorocaba,  Cotia,  São  Paulo  e  Mogi  das  Cruzes,  com  o  represamento das suas respectivas cabeceiras, tirando proveito do desnível de cerca de  setecentos metros da Serra do Mar, entre o Planalto Paulista e a Planície Litorânea, com  situação similar tendo sido observada também no Rio de Janeiro. Cabe adiantar que a  execução de uma obra de tamanho porte foi um trabalho que se estendeu por décadas, e que  contou com um aporte de investimentos de capital oriundo, sobretudo, do setor privado.  Ainda nesse mesmo ano, um período de forte estiagem comprometeu a produção de energia 

elétrica,  sendo  urgentemente  necessária  a  execução  de  um  plano  emergencial  para 

atendimento de demanda, e que culminou com a construção da Usina Hidroelétrica de Rasgão,  à jusante de Santana do Parnaíba. A usina começou a operar em 1925, ainda com obras  inconclusas, demonstrando a situação crítica em que a cidade de São Paulo se encontrava,  dotada de um sistema restrito e insuficiente, e sem um plano de contingência alternativo para  garantir constância no suprimento de energia. Em seguida, Billings propõe uma alteração  circunstancial no plano de Hyde, que previa uma conexão, por meio de túneis, entre os vários  tributários do Rio Tietê. Ao invés disso, propôs o desvio direto de todas as águas do Rio Tietê  para o Rio Pinheiros, o que se tornaria factível com a construção de novas barragens: a  barragem de controle Retiro, no encontro entre os dois rios, prevenindo que as cheias do Tietê  se espalhassem pela várzea do Rio Pinheiros; a barragem Traição, que modificava o curso  original do rio com sua estação de bombas, invertendo‐o em direção ao Rio Grande; e a  barragem de Pedreira, que bombearia as águas do Rio Pinheiros para o então Reservatório Rio  Grande8

      

7

 If a dam were to be constructed across the inland flowing Rio Grande, and if a canal were to be 

excavated from this newly formed reservoir to a second proposed on the Pedras River which cascades 

down the Serra scarpment directly to the sea, all the water from the Rio Grande watershed could be 

diverted over the crest of the Serra to the sea. By thus dropping the water a vertical distance of 2350 ft 

(718 m) within a horizontal distance of 5900 ft (1800 m), a power plant with a total capacity of 156.000 

kW could be developed at the foot of the Serra near Cubatão. 

Going further Hyde saw that the water in the existing Guarapiranga reservoir which was then being 

released to the low‐head Parnaíba power plant on the Tietê river, could be diverted through a tunnel to 

the proposed Rio Grande Reservoir and thence also down the Serra to the sea; such diversion would 

yield over forty times the power that this same amount of water was then generating at Parnaíba. 

Finally, if more dams were eventually, built across the valleys of other nearby streams on the plateau, 

and if their flood flows were diverted to the proposed Rio Grande Reservoir by additional tunnel or 

canals, and thence to the sea, the proposed power station at the foot of the Serra could progressively be 

enlarged to an ultimate capacity of more than 400.000 kV. 

       

Figura 21 – Projetos hidroelétricos construídos ou ampliados por Billings, entre 1924 e 1945 

 

Figura 22 – Projeto da primeira Concessão Serra, baseada nos estudos de Hyde, 1924 

crescimento urbano sem precedentes, simplesmente porque a oferta de energia aumentou a  demanda, uma vez que havia força de trabalho para produzir, “horse power”. Então, se num  primeiro momento a revolução técnica foi propiciada pela malha ferroviária, estreitando laços  entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, num segunda é a indústria de energia  hidroelétrica que vai reforçar um sistema solidário entre esses Estados, sendo o Vale do  Paraíba o principal vetor de conexão. Assim se dá o estabelecimento do sistema de linhas de  transmissão elétrica Serra‐Lages, com um compartilhamento e compensação intercambiável  entre suas várias usinas. Porém, todo esse potencial levantou, à época, uma pertinente  indagação: de que modo se daria a própria expansão urbana, já observada como uma  acentuada tendência em São Paulo e no Rio de Janeiro? Em um evento em homenagem ao  engenheiro Billings em São Paulo, em 1949, o engenheiro Francisco Machado de Campos fez a  seguinte observação: 

Por que hoje no Brasil assistimos ao fenômeno do êxodo das 

populações de muitos estados, principalmente do interior, 

para as grandes capitais de São Paulo e Rio de Janeiro? A 

resposta  é  simples:  elas  estão  procurando  terras onde a 

energia existe e onde o homem, com menos dores, é capaz de 

produzir mais e obter maiores rendas e melhorar seu padrão 

de vida. 

Henry Ford, em um de seus livros, afirmou que "as fontes da 

civilização material estão no desenvolvimento da energia e, se 

a temos à mão, nada é mais fácil do que encontrar uma 

aplicação para ela". Com essa energia, podemos operar a 

máquina, com o papel de libertar o homem de seu doloroso 

trabalho: a escravidão  reina  em  todas  as  partes  onde  a 

máquina não foi introduzida. 

Essas expressões são bem conhecidas, mas não importa se as 

repetimos  porque, na  verdade,  elas constituem  a  melhor 

orientação para nós brasileiros. Devemos descartar a obsessão 

por ampliações cada vez maiores das cidades do Rio e de São 

Paulo com o enorme investimento de capital em empresas 

que não ajudam nossa produção. 

As câmaras legislativas devem cooperar na redação de leis que 

incentivem  uma  porcentagem  maior  de  empréstimos  em 

empreendimentos destinados a criar maiores riquezas para 

todo o país. Esta é uma necessidade óbvia. (ACKERMAN, 1953, 

p. 111‐112, tradução nossa9

      

9 What is the reason that today in Brazil we witness the phenomenon of the exodus of the populations 

of many states, principally the hinterland, to the large capitals of São Paulo and Rio de Janeiro? The 

answer is simple: they are looking for lands where energy exists and where man, with less pains, is able 

to produce more and obtain greater incomes and improve his standard of living. 

Henry Ford in one of his books stated that ‘the sources of material civilization lie in the development of 

energy, and, if we have it at hand, nothing is easier than to find an application for it. With this energy we 

can operate the machine, its role being that of liberating man from his painful work: slavery reigns in all 

A inquietação relatada nesse trecho antecipava um prognóstico preocupante: de que o  crescimento de São Paulo se daria de uma forma concentrada, ao invés de haver uma maior  distribuição da expansão urbana, favorecendo o desenvolvimento de outros núcleos urbanos  para além da capital. Isso de fato ocorreu, dado o crescimento na quantidade de cidades  médias no Estado, o que não impediu que a metrópole de São Paulo crescesse em proporções  absurdas. Assim, o que já se configurava era uma intensificação do processo de urbanização, 

com  todos  os  procedimentos  que  se  fariam  necessários:  loteamentos  e  arruamentos, 

instalação de infraestrutura urbana como um todo etc, e que seriam tão mais custosos quanto  maior fosse a escala do empreendimento. 

Inversamente, assim como cresce a prospecção acerca da capacidade de geração de  energia, é curioso observar que cresce também o tecido urbano. Na verdade esse crescimento  é fruto da própria capacidade de um sistema produtivo em expansão, seja pela mão de obra  disponível e crescente, seja pelo potencial industrial também crescente, bem como dos  recursos naturais disponíveis, uma vez que o consumo de água para essa finalidade é  significativo, assim como se mostrou comum o despejo de efluentes industriais em córregos  como uma forma rudimentar de “saneamento”, isso tanto por populações residentes quanto  por indústrias operantes, como se pôde observar ao longo das décadas. De todo modo, a  porção paulista do sistema Serra‐Lages vai começar a funcionar em 1927, na crista da Serra do  Mar, com a construção do Reservatório Rio das Pedras e também de um canal para o Rio  Grande (Figura 23), desviando parte de suas águas de um reservatório para outro. O aumento  do nível d’água propiciado por esse sistema de represamento vai possibilitar uma inversão  artificial de fluxo, uma vez que o curso natural das cabeceiras do Alto Tietê, por mais próximas  que estejam da Serra, é o interior do Planalto Paulista, até o Rio Paraná. Ao invés, disso, as  águas seguem por tubulação até a Usina de Cubatão, aproveitando a força natural da  gravidade, e daí, com grande força, movimentam as turbinas que vão gerar energia elétrica,  possibilitando a produção de 35.000 kW/ dia. 

Em que pesem os avanços tecnológicos propiciados pelo sistema hidroelétrico, que  encontrou na geografia do território paulista um terreno fértil para se desenvolver, a dinâmica  natural do ciclo hidrológico no relevo obedece a uma constante climática, ou não seria um  ciclo. Em São Paulo “de Piratininga”, os meses “de chuva”, com índice pluviométrico maior, se  alternam a períodos de estiagem, com pouca ou nenhuma chuva, e nas planícies do Alto Tietê  o lugar das águas é caracterizado por essa intermitência. Assim, mesmo em funcionamento, o  Reservatório Guarapiranga não é suficiente para impedir as cheias do Rio Jurubatuba (Figura  24) – “lugar de muitas palmeiras”, ironicamente depois denominado Rio Pinheiros – cheias que  não impedem, por outro lado, que o processo de urbanização avance sobre essa área. 

Porém, com relação às cheias do Rio Pinheiros, o que Odette Seabra (1994) observou  em 1929 foi uma ação estratégica da Companhia Light, que detinha direitos sobre terrenos        

These expressions are well known, but it does not matter if we repeat them because in truth they 

constitute the best guidance for us Brazilians. We must discard the obsession for constantly greater 

amplifications of the cities of Rio and São Paulo with the enormous investment of capital in enterprises 

which do not help our production. 

The legislative chambers should cooperate in the writing of laws which will encourage a larger 

percentage of loans in ventures designed to create greater riches for the entire country. This is a most 

de enchente. Daí que, nesse ano, a abertura das comportas do Reservatório Guarapiranga teve  um  objetivo,  o  de  aumentar  o  perímetro  das  terras  a  que  a  Light  teria  direito  de  desapropriação. Uma vez que essa inundação expulsou populações ribeirinhas, essa ação  intencional, premeditada e que ocorreu com anuência do Estado, “revela a brutalidade do 

processo de apropriação da terra e da água em São Paulo” (GOUVÊA, 2016, p. 24), e, não à 

toa, é factível de ser representada como uma sangria (Figura 25). Esse quadro é significativo,  pois vai determinar, nas próximas décadas, a ocupação indiscriminada e extensiva dos fundos  de vale dos principais afluentes do Rio Tietê, bem como do próprio. 

Em 1930, a transformação da hidrografia e do relevo pelo processo de urbanização de  São Paulo ganha contornos mais claros, na medida em que o traçado das ruas avança sobre os  meandros do Rio Tietê, como que os disciplinando. As áreas alagáveis são reconhecidas como  tal, sendo celebradas (Figura 26) e demarcadas, como é possível notar no levantamento 

aerofotogramétrico  das  cartografias  produzidas  pela  Societá  Anonima  Rivelamenti 

Aerofotogrametrici – SARA Brasil (Figura 27), empresa italiana com sede em Roma, que venceu 

a licitação para execução do trabalho (MENDEZ, 2014). Tal registro destacou‐se, na época,  como um marco da conquista aérea – com inovações no campo da aerofotogrametria,  constituindo uma técnica precisa na demarcação de limites e evidenciando a justaposição  entre o relevo, a hidrografia e o sítio urbano, conforme afirma Ab’Saber: 

Tais  séries  de  cartas  constituem  a  documentação  mais 

importante  existente  para  estudos  geomorfológicos  de 

pormenor, já que apresenta escala suficientemente grande 

para que se possam referir e delimitar detalhes do relevo 

regional que forçosamente escapariam à representação em 

cartas de escala menor, tais como níveis de baixos terraços 

fluviais.  Além  disso,  trata‐se  de  cartas  topográficas  que 

guardam especial interesse para a análise das relações entre 

os elementos topográficos e a estrutura do organismo urbano. 

(AB’SABER, 1957, p. 57‐58) 

Ainda em 1930, foi publicado o Plano de Avenidas proposto pelo engenheiro Francisco  Prestes Maia, com a proposição de um desenho de traçado em anéis viários concêntricos, o  qual pautaria a estruturação do crescimento urbano da metrópole de São Paulo. Tal plano  incorporava uma demanda em franca expansão, qual seja, o desenvolvimento tecnológico da  indústria automotora e das estradas de rodagem, incrementando os leitos carroçáveis. É nesse  ponto que podemos notar o movimento de um terceiro ato revolucionário da técnica, pois vai  determinar a mudança do processo de urbanização, que é a projeção de utilização dos fundos  de vale para a implantação de um novo sistema viário, constituído por anéis concêntricos  complementares ao traçado viário radial das rotas coloniais (Figura 28). A predileção que se  dará pelo sistema rodoviário em São Paulo, a partir de então, trará implicações específicas  para o caráter da sobreposição de temporalidades de infraestruturas de São Paulo, conforme  afirma Ab’Saber: 

Passamos diretamente dos caminhos tropeiros para a era das 

rodovias,  sem  aquela  série  intermediária  importante, 

Em outras palavras, tendo passado diretamente do ciclo do 

muar para o ciclo do automóvel, sem transição normal do ciclo 

das  diligências,  assistimos  a  uma  interferência  radical  na 

Documentos relacionados