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A integração de redes e serviços: o utilizador no centro

Capítulo 2 Fornecimento de Serviço de Telecomunicações

2.2 Redes de telecomunicações: passado, presente e futuro

2.2.4 A integração de redes e serviços: o utilizador no centro

Podemos considerar que desde muito cedo houve integração de diversos tipos de serviços sobre uma mesma infraestrutura. Observámos que o serviço telefónico foi inicialmente transmitido sobre linhas até então utilizadas para a transmissão de telégrafo. Poucos anos mais tarde observámos que a situação se inverteu. Quando o serviço de voz passou a ser dominante, o serviço de telégrafo ainda continuou a ser utilizado durante muitos anos, mas agora sobre a infraestrutura de telefone. Outros exemplos foram a televisão e o rádio. Inicialmente foi utilizada a rede telefónica para a sua distribuição. Mais tarde, a tendência foi para que cada serviço tivesse a sua infraestrutura, optimizada para o serviço fornecido. Mas cedo os operadores perceberam que os benefícios que advêm de ter essas infraestruturas dedicadas e optimizadas, depressa se diluem quando ponderados os encargos de operação e manutenção de diversas infraestruturas em paralelo. É então com naturalidade que se verifica um certo retorno às origens, com uma nova vaga, desta vez global, de integração de todo o tipo de serviços, mas agora, sobre qualquer tipo de infraestrutura. Não se pretende acabar com as infraestruturas existentes em detrimento de outras, mas sim rentabilizá-las, utilizando cada uma delas para dar um suporte efectivo a quase todos os tipos de serviços. Por exemplo, hoje em dia, são cada vez mais os operadores de televisão por cabo a fornecerem os serviços de dados e telefónico sobre a sua infraestrutura de distribuição.

Há no entanto um factor diferenciador nesta nova abordagem de integração. Não se trata apenas de colocar diversos serviços sobre uma mesma infraestrutura utilizando, por exemplo no caso de tecnologias rádio, frequências distintas para cada um dos serviços. A abordagem actual é para uma verdadeira uniformização do transporte e suporte dos serviços. A última década foi uma década de crescimento explosivo da Internet por um lado, e da telefonia celular, nomeadamente o GSM (Global System for Mobile

communications), por outro. Estes serão os pilares da convergência de serviços e

plataformas, aproveitando as sinergias de desenvolvimento de ambos os modos de comunicação. É nesse sentido que todos os desenvolvimentos estão a ser orientados. Tendo como referência a pilha protocolar OSI (Open Systems Interconnection), pretende-se criar ao nível da rede uma camada comum a todo o tipo de infraestruturas e a todo o tipo de

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serviços. É esta a evolução característica das redes celulares. De um modo simplista, podemos dizer que a primeira geração (1G) se caracterizou pelo fornecimento exclusivo do serviço de voz. A segunda geração (2G) coincidiu com o aparecimento do WAP (Wireless

Access Protocol) e com a possibilidade da transmissão de dados de e através dos

telemóveis e que com a introdução do GPRS (Generic Packet Radio Service) [GPRS00][Regi02] se estendeu à 2,5G. A terceira geração (3G) é basicamente definida pela possibilidade dos terminais poderem utilizar o protocolo IP para o estabelecimento de chamadas de voz, ou seja, é a geração da integração de dados e voz ao nível dos terminais de acesso. Quanto à quarta geração (4G) passa por uma unificação de conceitos e de tecnologias de transmissão. O maior desafio de hoje em dia é a junção dos mundos dos serviços fixos e móveis, numa plataforma comum.

Hoje em dia existe uma panóplia de tecnologias disponíveis para suporte à criação e fornecimento de serviços. De modo a atingir esta tão procurada universalidade do serviço haverá que, previamente, uniformizar as características das diferentes tecnologias, ou seja, criar uma camada capaz de abstrair a tecnologia do tipo de serviço. É necessária uma tecnologia, apoiada em vários sistemas e protocolos, capaz de ser o suporte a este objectivo. Devido aos custos reduzidos de acesso à Internet e à facilidade e globalidade do acesso, a tecnologia IP tem actualmente uma grande abrangência de serviços, cobrindo serviços anteriormente apenas possíveis de fornecer com tecnologias baseadas em comutação de circuitos. A voz e o vídeo são os exemplos mais visíveis, apetecíveis e populares dos serviços agora suportados em IP. Existe uma grande indústria de conteúdos multimédia a tirar partido da Internet tal como ela existe hoje, e com apetência e vontade para explorar tecnologias ainda mais interactivas. O desafio que o IP enfrenta é enorme. Pretende-se não só uma uniformização ao nível das redes fixas, mas também uma uniformização com as tecnologias sem fios, nomeadamente com as redes celulares. O GPRS e o UMTS (Universal Mobile Terminal System) [UMTS00][Kaar01] constituíram os pontos de partida desta visão. No entanto, apesar de todos os desenvolvimentos já atingidos, há ainda muitos obstáculos de caracter técnico, filosófico e comportamental que têm de ser transpostos antes do cidadão comum poder utilizar serviços multimédia, em qualquer lado, a qualquer hora, e do modo mais conveniente e sem restrições.

Nos últimos anos houve também uma mudança de filosofia no mundo das telecomunicações. Até há algum tempo, os “serviços” estavam no centro das atenções e

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comandavam o funcionamento e a lógica de operação. Na última década, a situação modificou-se, sendo que o utilizador (cliente) ocupa agora o centro do paradigma. Os serviços devem adaptar-se à vontade do utilizador, ao contrário da visão tradicional na qual o utilizador se adaptava aos serviços existentes e suas características. A visão actual centrada no utilizador e nas suas necessidades conduz a um ambiente em que os meios de transmissão sem fios desempenhem um papel cada vez mais importante na sociedade e, consequentemente, na investigação. Conferências, jornais, revistas científicas, e até mesmo o marketing dão cada vez maior ênfase e destaque às redes e sistemas sem fios (wireless). De entre as diversas mudanças que ocorreram no paradigma da comunicação, o principal ingrediente foi a mudança de uma comunicação fixa ponto-a-ponto (sistema a sistema) para uma filosofia de comunicação móvel, pessoa-a-pessoa. Na última década o número de terminais móveis cresceu exponencialmente, chegando, em alguns países a ter taxas de penetração superiores a 90%. Por exemplo, número total de clientes anunciados pelos três operadores móveis nacionais é já equivalente ou superior à totalidade da população portuguesa. Este facto é mais relevante se atentarmos ao facto de as comunicações entre terminais da rede fixa serem ainda economicamente mais vantajosas. Isto revela as tendências e alterações comportamentais actuais. Hoje em dia é já possível comunicar de qualquer lado e a qualquer hora, incluindo locais impraticáveis até há pouco tempo (como por exemplo os aviões – existem algumas companhias aéreas que em alguns voos já facultam acesso sem fios à Internet). Os hotspots de acesso sem fios surgem um pouco por toda a parte, respondendo às necessidades dos utilizadores de acesso à informação, constituindo mais uma componente de uma rede global que se está a formar, integrando todas as tecnologias disponíveis.

Outra alteração relevante é o tipo de informação que é transmitida. Os conteúdos multimédia e a comunicação audiovisual são componentes cada vez mais procuradas e utilizadas, e que são bastante exigentes nos recursos de que necessitam. Pode considerar-se que o maior obstáculo ao fornecimento deste tipo de serviços, os serviços multimédia, é a escassez de recursos nas actuais redes. Isto não obstante nos últimos anos termos assistido a um aumento significativo das capacidades de transmissão em redes sem fios. Contudo, este crescimento na oferta de recursos foi acompanhado de perto quer pelo aumento dos requisitos das aplicações emergentes, quer pelo aumento do número de utilizadores. Desta forma, o facto de existirem mais recursos disponíveis, não significa que o utilizador os terá

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sempre que os desejar utilizar, como é o caso dos recursos relativamente escassos do espectro de rádio. Assim, especialmente nas redes sem fios, os recursos devem ser geridos e controlados de um modo muito eficiente e terão de existir mecanismos que permitam que utilizadores “seleccionados” (i.e., clientes dispostos a pagar por um melhor serviço) recebam um serviço melhor. Esta exigência acarreta a necessidade de integrar o suporte diferenciado do tráfego de diferentes aplicações, de diferentes utilizadores e/ou serviços.

2.3 Aspectos tecnológicos do fornecimento de serviço de