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SUMÁRIO

D) Função de ajuda na avaliação das aquisições

3.5 A Interdisciplinaridade e o Ensino de Química

A educação CTS caracteriza-se pela promoção da interdisciplinaridade e, desta forma, procura o constante diálogo com as outras componentes curriculares, a fim de proporcionar um estudo mais aprofundado sobre as aplicações tecnológicas dos materiais, impactos

sociais e mudanças físico-ambientais.

Por exemplo, nas cidades onde ocorrem os processos de extração e beneficiamento das jazidas minerais, surge a possibilidade do diálogo entre as componentes curriculares por meio do estudo dos impactos sociais e ambientais causados: a fauna, a flora, ao microclima da região, crescimento populacional acelerado, benefícios sociais entre outros. Tais discussões podem ser também associadas com a ausência de serviços públicos e processos de exclusão.

A interdisciplinaridade pode favorecer aos discentes a construção de uma percepção mais aprofundada sobre os impactos sociais e ambientais promovidos pelas atividades antropogênicas, possibilitando uma maior criticidade nos estudantes sobre as atividades extrativas vigentes. Além disso, deve também apontar os benefícios sociais oriundos das aplicações tecnológicas dos materiais. Sobre a necessidade da interdisciplinaridade me apoio em Nascimento e Linsingen (2006), que afirmam que “as abordagens CTS, por sua vez, também ressaltam a importância da discussão de temas sociais a partir de um enfoque interdisciplinar” (p. 109).

Outra recomendação presente nos documentos oficiais sobre a importância da interdisciplinaridade encontra-se nas “Orientações

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Curriculares para o Ensino Médio – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias”:

A própria denominação da área, Ciências da Natureza e Matemática, aponta para as múltiplas dimensões nas quais um conteúdo escolar precisa ser estudado. Isso podelevar à superação da fragmentação e da sequência linear com que são abordados os conteúdos escolares (BRASIL, 2006a, p. 103).

Por exemplo, os estudos dos processos metalúrgicos, especificamente, para obtenção do alumínio metálico, serão analisados nesta dissertação, que propiciarão o estudo dos impactos sociais e ambientais causados sobre as comunidades ribeirinhas.

Acredita-se ser pertinente observar que a realização de um trabalho interdisciplinar não é uma tarefa nada simplória, pois exige um grande entrosamento entre os professores das diferentes componentes curriculares e, além disso, de acordo com as “Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias” cabem às “administrações dos sistemas de ensino, em todos os âmbitos e níveis, criarem as condições de participação dos

professores em suas equipes de estudo, com tempo alocado para isso, com recursos para a participação em eventos, com apoio para a aquisição de materiais instrucionais, assinatura de revistas, etc”

(BRASIL, 2006a, p. 131, itálico nosso).

O diálogo interdisciplinar entre as componentes curriculares química/sociologia propicia a convergência de vários pontos em comum, permitindo os estudos sociais da ciência e da tecnologia que se encontram nas PCN+ (Ciências Humanas e suas Tecnologias) como:

Os fundamentos econômicos da sociedade; os modos de produção; a produção e o consumo; a mercadoria; o capital; a exploração e o lucro; as desigualdades sociais; a estratificação social; as classes sociais; o desenvolvimento e a pobreza; a tecnologia; o emprego e o desemprego; os países ricos e os países pobres; a globalização etc., constituem alguns dos conceitos associados ao trabalho. É perfeitamente possível a montagem de um curso anual de Sociologia tendo o trabalho como conceito gerador das atividades pedagógicas (BRASIL, 2002, p. 88).

Os fundamentos econômicos apontados na citação anterior serão abordados nesta dissertação possibilitando umaanálise mais profunda sobre as articulações dos estudos sociais da C&T com a educação científica e tecnológica. Ou em outras palavras, verificar-se-á que os fundamentos socioeconômicos têm estreita ligação com os seguintes itens: as desigualdades sociais, a tecnologia convencional, o desemprego, o processo de exclusão entre outros.

A citação a seguir, encontrada no Guia de Livros Didáticos – PNLD 2015 - Química, adverte quanto a falta do estabelecimento de relações interdisciplinares no Ensino Médio:

A interdisciplinaridade como eixo didático- metodológico tem sido preconizadanos documentos curriculares do Ensino Médio há, pelo menos, uma década. No entanto, políticas mais intensas de indução das práticas interdisciplinares na escola não têm sido frequentes ou significativas. Nesse sentido, o livro didático pode contribuir de forma decisiva para estimular a docência na direção de estabelecer vínculos entre as disciplinas, gerando ações pedagógicas que se fortaleçam em torno de temas de relevância social, cultural e científica (BRASIL, 2014, p. 11, grifo nosso). Assim, as coleções didáticas de química podem ser um importante material didático no processo de promover a interdisciplinaridade e, assim, aproximar o conhecimento químico das outras componentes curriculares. Além disso, pode promover discussões com enfoque CTS a partir de situações problemáticas reais ao levantar questionamentos sobre o papel da ciência e da tecnologia com seus riscos e benefícios. Desta forma, as coleções didáticas podem auxiliar os docentes na sua prática pedagógica e consequentemente, ajudar na preparação dos educandos para que estes possam exercer a cidadania com maior embasamento tecnocientífico sobre questões relativas à Tecnologia Química.

Ainda, sobre a interdisciplinaridade e o Ensino de Química, as pesquisadoras Abreu e Lopes (2011) fazem a seguinte análise:

Em outras publicações importantes da área a preocupação com a interdisciplinaridade não se reflete com a mesma intensidade. Na Revista

Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências

63 Ciências, até o ano de 2008, os artigos referentes

ao ensino de Química/Ciências e às políticas curriculares não citam o termo como palavra- chave. Na revista Investigações em Ensino de

Ciências, 3 de 19 artigos, e na revista Ciência & Educação, 3 de 30 artigos, até o ano citado

anteriormente, elencam como palavra-chave o termo interdisciplinaridade. Nenhum desses artigos é de autoria (ou coautoria) dos líderes da comunidade disciplinar de ensino de Química (p. 85).

A partir destes dados, revela-se a necessidade imperiosa da abordagem interdisciplinar e, assim, as coleções didáticas podem ser molas propulsoras ao estabelecer conexões com as outras componentes curriculares.

Por exemplo, no livro de Ciências do Ensino Fundamental, 9° ano, intitulado Jornadas.cie (2012), há uma abordagem interdisciplinar ao abordar os impactos da extração de ferro em Carajás (PA).

A primeira conexão estabelecida está relacionada com a componente curricular Biologia especificamente, com o ramo da botânica, ao enfatizar que “a empresa responsável pela mineração do local tem desenvolvido um programa intenso de conservação da Ipomea

cavalcantei e de outras espécies de plantas ameaçadas de extinção que

existem na floresta ao redor da mina de Carajás” (CARNEVALLE, 2012, p. 112). Na sequência, enfatiza que “o aumento da velocidade de extração de ferro ameaça cada vez mais a floresta” (CARNEVALLE, 2012, p. 112). Ainda, ressalta que “a mineradora [Vale do Rio Doce] promove um desenvolvimento [crescimento populacional] muito rápido da região. Como consequência, a pecuária derrubou a mata em grande extensão e, em vez da fauna e flora silvestre, só se encontra pasto” (CARNEVALLE, 2012, p. 112).

Na continuidade, estabelece relações com a componente curricular Sociologia, ao chamar atenção para o número crescente de habitantes das cidades de Parauapebas e Tucuruí, atraído para região na busca de emprego, devido à grande demanda de funcionários para a mineração (CARNEVALLE, 2012, p. 113).

E, por último, com a engenharia florestal que “busca encontrar formas de explorar os recursos florestais de maneira sustentável, aliando progresso e sustentabilidade” (CARNEVALLE, 2012, p. 113). Ainda, observa que as siderúrgicas ao longo da ferrovia consomem grande quantidade de carvão vegetal para promover a redução do ferro,

ocasionando a derrubada da floresta, tornando essas áreas imprestáveis para o plantio, devido ao fogo e também ao contínuo tráfego de carroças e caminhões para o transporte de lenha e carvão (CARNEVALLE, 2012, p. 113).

A abordagem interdisciplinar acima supracitada é um bom exemplo ao tratar de questões sociais e ambientais nos livros didáticos da componente curricular Química.

Para finalizar, os autores neste caso desconhecidos, propõem as seguintes atividades:

ATIVIDADES

1. Dividam-se em grupos. Vocês irão simular um debate entre os diversos envolvidos na mineração de ferro em Carajás. Cada grupo vai escolher uma personagem para representar:

• botânico; • o prefeito do lugar; • sociólogo; • um jovem que precisa de trabalho; • ambientalista; • um(a) dono(a) de casa; • engenheiro florestal.

Algumas personagens vão defender a exploração do minério de ferro e outras vão ser contra. 2. Decidam quem será contra e quem será a favor. Escrevam os argumentos dessas personagens baseando-se no texto desta seção. Façam um debate e ao final votem para a decisão final: fechar ou não fechar a mineradora? (CARNEVALLE, 2012, p. 113).

As atividades anteriormente sugeridas podem promover discussões profícuas sobre os estudos sociais da ciência e da tecnologia e, assim, provocar a iniciação dos educandos na Educação CTS especificamente, neste caso, sobre as atividades mineradoras em solo brasileiro.

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