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SUMÁRIO

D) Função de ajuda na avaliação das aquisições

6. Análise dos Livros Didáticos de Química (PNLD 2015), com aporte dos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia.

6.2 ALUMÍNIO

6.2.5 Reciclagem do alumínio

Este assunto é tratado no texto 13, intitulado “Ciclo de vida do

alumínio: reciclagem”. Inicialmente, os autores citam que “o Brasil

lidera a reciclagem de latas de alumínio entre os países onde essa atividade não é obrigatória por lei” (p. 299). Em seguida, apresentam um gráfico onde mostra a evolução da reciclagem de alumínio em alguns países de 1996 até 2005 onde o Brasil segue como líder mundial chegando próximo dos cem por cento.

Posteriormente, informam os ganhos provenientes da reciclagem de alumínio e o processo de obtenção do alumínio reciclado (p. 299). Logo em seguida, há o seguinte apontamento:

A reciclagem do alumínio representa vantagens. Economiza recursos naturais, energia elétrica – no processo, consomem-se apenas 5% da energia necessária para produção do alumínio primário,

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além de oferecer ganhos sociais e econômicos (MORTIMER, MACHADO, 2013c, p. 300). Alguns questionamentos poderiam ser feitos como: ─ Qual é a

dimensão da economia dos recursos naturais? E mais, ─ Quem é o grande beneficiado quanto à economia de energia elétrica e ganhos econômicos?

Layrargues (2011), através do artigo intitulado “O CINISMO DA

RECICLAGEM: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental” promove um

estudo reflexivo sobre os estudos sociais e ambientais envolvendo a reciclagem do alumínio e, tecendo críticas severas quanto à política- ideológica da empresa Reynolds Latasa .

Sobre a diminuição da extração dos recursos naturais, neste caso à bauxita, Layrargues (2011) cita inicialmente o Programa Permanente para Reciclagem da Lata de Alumínio11 pela Reynolds Latasa “que

consiste no estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento de programas de educação ambiental e na troca de latas de alumínio vazias, limpas e prensadas por equipamentos como ventiladores de teto, computadores, bebedouros e máquinas copiadoras” (p. 196). Layrargues (2011) cita quatro argumentos apresentados pela Reynolds Latasa para reciclagem do alumínio e, inicialmente abordo o segundo que faz referência à economia do recurso natural necessário para a sua fabricação, a bauxita:

Mas se o argumento refere-se ao panorama deesgotamento da bauxita, devemos observar a influência da reciclagem em suas reservas mundiais. Se cada tonelada de alumínio reciclado poupa cinco toneladas de bauxita, as 86.409 toneladas de latas de alumínio recicladas no Brasil em 1999 permitiram a economia de 432.045 toneladas de bauxita, o que significa que 0,0179% das reservas brasileiras [2,4 bilhões de toneladas de bauxita] e 0,0138% das reservas mundiais [31 bilhões de toneladas de bauxita] foram poupadas.

11 Em 1993, com a criação do Projeto Escola, a empresa insere-se com vigor no

ambiente escolar. Voltado inicialmente para o público escolar, o Projeto Escola que segundo Almeida Jr. (1997), está sendo adotado nos principais municípios brasileiros, conta atualmente com mais de 16.000 estabelecimentos associados, de escolas, restaurantes, igrejas, associações de moradores, condomínios, hospitais a unidades militares.

Na verdade, esses números não se revelam muito expressivos, pois são estatisticamente insignificantes (p.199).

Contudo, Layrargues (2011) ressalta que “se 100% das latas de alumínio fossem recicladas no Brasil, teríamos 118.368 toneladas de alumínio reinseridas no processo produtivo de forma que 591.842 toneladas de alumínio seriam poupadas, ou seja, 0,019% das reservas mundiais desse minério seriam economizadas no ano de 1999” (p. 200). Em seguida, Layrargues (2011) faz o seguinte questionamento sobre a reciclagem focada no alumínio: “Dados de 1992 apontam que algumas jazidas minerais têm menos de um século de vida12. Por que então a

preocupação com a reciclagem focalizada no alumínio, se outros metais vitais para a civilização industrial possuem longevidade expressivamente inferior?” (p. 201, itálico nosso).

Esses questionamentos demonstram o cinismo da reciclagem do alumínio focada no alumínio em detrimento dos outros minerais metálicos possibilitando assim um estudo mais crítico sobre o discurso ecológico feito pela empresa Reynolds Latasa.

Sobre o quarto argumento, que faz referência à geração de renda Layrargues (2011) ressalta que em apenas sete anos de experiência de coletiva seletiva, o país já atingiu o invejável índice de 73% de reciclagem de latas de alumínio quando comparado aos EUA que apresentam 63% porém, com mais de trinta anos de experiência em reciclagem de latas de alumínio (p. 202). Na sequência, Layrargues (2011), levanta os seguintes questionamentos: “Por que então o

alumínio se tornou o ícone da reciclagem? Esse índice foi conquistado ás custas de uma conscientização ecológica, ainda que enganadora, ou econômica? Que tipo de motivação induz os indivíduos a reciclarem latas de alumínio?” (p. 203).

Segundo Layrargues (2011), os dois motivos para esse expressivo índice de 73% tratam-se das grandes desigualdades sociais sendo que um grande contingente da população vive à beira da miséria (p. 203). Layrargues (2011) enfatiza que “segundo o CEMPRE [Compromisso Empresarial para Reciclagem], cerca de 150 mil sucateiros vivem das latas de alumínio e são responsáveis por 50% do suprimento de sucata de alumínio à reciclagem, além do que, latas correspondem a 43% das

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São aproximadamente 51 anos para o níquel, 45 para o estanho, 43 para o mercúrio, 33 para o cobre, 20 para o zinco e 18 para o chumbo (PENNA, 1999, p. 166).

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cem mil toneladas de alumínio disponíveis em 1997” (p. 203). Com isso, este é “o argumento de caráter social defendido pela indústria, o qual enfatiza o benefício social da reciclagem do alumínio” (LAYRARGUES, 2011, p. 203).

Na contramão, Calderoni (1998 apud LAYRARGUES, 2011) sinaliza que:

[...] que apesar de a remuneração do catador e sucateiro oriunda da reciclagem contribuir para a melhoria de sua condição de vida, os ganhos econômicos estão mal distribuídos: sua pesquisa, realizada no município de São Paulo, indicou que a indústria da reciclagem aufere a maior parte dos ganhos, alcançando quase R$ 215 milhões (cerca de 66% da fatia total obtida através da reciclagem do lixo). O restante dos ganhos é repartido entre a Prefeitura, que retém R$ 36 milhões (11%), os sucateiros, que recebem R$ 32 milhões (quase 10%) e os catadores, que obtêm quase R$ 43 milhões (13%) (p. 203-204).

Assim sendo, observa-se que os catadores e sucateiros atuam como operários terceirizados da indústria de reciclagem, desprovidos de quaisquer benefícios trabalhistas. Desta forma, de acordo com Layrargues (2002) “essa relação configura a exploração do trabalho pelo capital de modo selvagem e revela uma das engrenagens responsáveis pela concentração de renda no país” (p. 204). Sobre a inoperância do Estado frente aos interesses das classes mais pobres, Dagnino (2010b) ressalta a “progressiva deterioração da capacidade do Estado de exercer plenamente o monopólio do uso legítimo da força, de atuar como promotor do “bem comum”, de continuar a elaborar políticas, tomar decisões, garantir e proteger direitos” (p. 260).

Sobre o último item a ser abordado que se trata do ganho energético sendo que a demanda de energia elétrica para produção de alumínio é alta, em torno de 13 000 kWh/t a maior dentre os outros processos metalúrgicos. Quanto ao ganho energético, Layrargues (2011), ressalta que:

[...] a produção de uma tonelada de alumínio a partir de alumínio reciclado significa uma economia energética da ordem de 95% em relação à produção de uma tonelada de alumínio a partir da bauxita. Com 17.600 kWh, pode-se fabricar apenas uma lata de bebida com a utilização de

alumínio primário, ou então, fabricar vinte latas de bebidas com a utilização de alumínio reciclado (p. 204-205).

Caminhando nesta direção, Ramos (1982 apud LAYRARGUES, 2011) observa que:

Embora haja aspectos ambientais importantes na reciclagem do alumínio, o mais significativo é a economia de energia para a empresa. Já que 70% da energia consumida no processo de redução eletrolítica dão-se sob a forma de eletricidade, reduzir custos em energia elétrica significa reduzir custos de produção. É a economia de energia proporcionada pela reciclagem que torna a lata de alumínio muito valiosa (p. 205).

Assim sendo, o discurso ecológico envolvendo a reciclagem do alumínio pode ser um campo fértil ao tratar sobre complexas relações como, por exemplo: inexistência de uma política pública envolvendo a Coletiva Seletiva de Lixo, a omissão do Estado ao permitir o laissez-

fare13 favorecendo assim a concentração dos lucros para empresa Reynolds Latasa, o discurso ecológico oportunista na proteção dos

recursos naturais e a redução dos custos de produção devido à economia de energia elétrica. Desta forma, o Estado deveria intervir na distribuição dos lucros decorrentes da reciclagem do alumínio favorecendo uma divisão mais igualitária entre os diferentes atores especificamente, uma diminuição de renda para a empresa Reynolds

Latasa e um aumento para os sucateiros e catadores.

Durante a análise da reciclagem do alumínio fica explícito o favorecimento para a empresa Reynolds Latasa pelo Estado ás custas da exploração laboral especificamente, dos sucateiros/catadores. Desta forma, os reais interesses socioeconômicos e socioambientais da empresa Reynolds Latasa são expostos proporcionando uma discussão mais profunda sobre o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental.

Os estudos sociais da ciência e da tecnologia sobre a reciclagem do alumínio podem ser mais aprofundados a partir de um trabalho

13 Laissez-faire é hoje expressão-símbolo do liberalismo econômico, na versão

mais pura de capitalismo de que o mercado deve funcionar livremente, sem interferência do Estado.

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interdisciplinar com a componente curricular Sociologia devido à grande densidade oriunda das questões envolvendo a reciclagem deste metal.