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SUMÁRIO

D) Função de ajuda na avaliação das aquisições

6. Análise dos Livros Didáticos de Química (PNLD 2015), com aporte dos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia.

6.3 Ferro e Ligas Metálicas

6.3.4 Impactos físico-ambientais

O foco de análise localiza-se no sudeste paraense especificamente, tendo como principal centro de convergência a cidade de Marabá (PA). Segundo Coelho et al. (2006), “as grandes alterações ocorreram a partir de meados da década de 1980, impulsionadas pela implantação de grandes projetos, como o Programa Grande Carajás (PGC) e da Usina Hidrelétrica de Tucuruí [UHE-Tucuruí]” (p. 449).

De acordo com Coelho et al. (2006), esta órbita-ponto “abrange o centro da Província Mineral de Carajás. Além de recobrir partes dos municípios de Marabá, Parauapebas, Itupiranga, Água Azul do Norte, Canaã dos Carajás, [...]” (p. 456).

Os mapas imagens, da figura 10, segundo Coelho et al. (2006) revelam as seguintes conclusões:

Os impactos sentidos nesta região ocorreram, sobretudo na retirada de cobertura vegetal nos arredores da área de concessão de uso da CVRD,

incluindo as áreas de assentamento do antigo GETAT [Grupo Executivo das Terras do Araguaia-Tocantins], a área correspondente à APA [Área de Proteção Ambiental do Igarapé Gelado], onde se encontra a pêra ferrovia, e uma importante bacia de rejeitos de ferro, objeto de disputas entre CVRD e posseiros (p. 457).

Figura 10: Classificação da cobertura vegetal e uso da Terra da órbita-ponto 224/064 em 1992 e 2001. Responsável Técnico: Bernardo Costa Ferreira.

Através destes mapas imagens é possível verificar que entre 1992 a 2001 houve um crescimento expressivo das capoeiras, terreno com mato que foi roçado ou queimado para o cultivo da terra, e segundo Coelho et al. (2006), “é possível observar que parte das capoeiras antigas foi reaproveitada, porém com baixo grau de produção de pastagens, como comprovado em campo” (p. 457).

A órbita-ponto 223/063 abrange a porção leste do Reservatório de Tucuruí (partes dos municípios de Breu-Branco, Goianésia do Pará, Ipixuna, Paragominas, Dom Eliseu, Nova Ipixuna e Bom Jesus; e a totalidade dos municípios de Rondon do Pará, Abel Figueiredo e Jacundá) (COELHO et al., 2006, p. 458).

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Figura 11: Classificação da cobertura vegetal e uso da Terra da órbita-ponto 223/063 em 1984 e 2001. Responsável Técnico: Bernardo Costa Ferreira.

Verifica-se por meio dos mapas imagens, figura 11, que a presença de capoeiras de 1984 para 2001 tiveram um aumento expressivo e, mais, “as queimadas em atividade foram detectadas nestas imagens, porém, sua abrangência espacial era bem restrita, apresentando, no entanto, colocação sistemática para formação de pastos e abertura de novas áreas” (COELHO et al., 2006, p. 461).

Por último, a órbita 223/064, figura 12, Região de Marabá e dos Vales dos Rios Araguaia e Tocantins, apresenta como centro de convergência a área de estudo mais importante: a cidade de Marabá, além desta, a imagem abrange partes dos municípios de Itupiranga, Curionópolis, Bom Jesus e Piçarra, recobrindo inteiramente os municípios de São João e São Domingos do Araguaia, Brejo Grande, Palestina e Eldorado dos Carajás (COELHO et al., 2006, p. 461).

Figura 12: Classificação da cobertura vegetal e uso da Terra da órbita-ponto 223/064 em 1984 e 2001. Responsável Técnico: Bernardo Costa Ferreira.

A citação a seguir, retrata com amplitude as mudanças físico- ambientais ocorridas nesta região:

O grau de transformação observado nesta órbita- ponto para os anos de 1984 e 2001 demonstram a retirada quase que praticamente completa da cobertura vegetal ocasionada pela formação de pastagens e pelas sucessivas queimadas. As extensas faixas formadas pelas castanheiras deram lugar aos pastos e capoeiras. A área sofre atualmente pela perda de nutrientes no solo, que, em alguns pontos, apresenta alto grau de esgotamento. Os solos, outrora recobertos por uma densa floresta, apresentam como cobertura capoeiras velhas e pastos tomados por espécies invasoras, que tornaram as áreas inúteis à prática da pecuária. Em algumas fazendas, faixas de terra são deixadas de lado por longo tempo,

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apresentando sinais de erosão e perda laminar de nutrientes das camadas superiores (COELHO et al., 2006, p. 462).

Com isso, conclui-se que as atividades destinadas à agropecuária trouxeram mudanças físico-ambientais profundas na região. Outra consequência foi o empobrecimento do solo causado pela perda de nutrientes levando este a um alto grau de esgotamento.

Outra mudança físico-ambiental trata-se da formação de cavas oriundas da exploração do minério de ferro. A foto a seguir, retrata a mudança da paisagem em Carajás, no estado do Pará (PA).

Figura 13: Mina da CVRD em Carajás (PA).

De acordo, com Martins (2013), “a extração é realizada através de explosões, o platô, rico em minério de ferro, vai se transformando em grandes buracos e a terra, que não contém minério, é depositada em pilhas, criando montanhas em torno dos buracos”. Além disso, a extração de minério de ferro também é causador de um forte impacto na questão hídrica, pois o desmatamento da região acaba por provocar mudanças no microclima da região.

Assim, verifica-se que o Estado precisa atuar como agente fiscalizador. Sobre isso, Canto (1996) faz a seguinte observação:

As explorações minerais frequentemente acontecem longe dos centros urbanos e, portanto, longe dos olhares do público e da imprensa. Soma-se a isso a ineficiência governamental em executar uma rígida fiscalização sobre todas as inúmeras regiões de exploração mineral, o que configura um quadro de depredação ambiental

mais difícil de reverter quanto mais adiantado estiver (p. 120).

Diante deste quadro preocupante, mais uma vez é possível afirmar que a atividade mineral personificada por multinacionais estrangeiras são causadoras de profundas mazelas ambientais e que o Estado necessita ampliar a contratação de fiscais ambientais.

O estudo das consequências geradas pelo Projeto Ferro Carajás demonstra “que estudar impactos implica analisar as interações entre os processos ecológicos ou bio-físico-químicos, político-econômico- espaciais e socioculturais, um procedimento que combina Ecologia, Geografia, História, Economia e Sociologia” Coelho (1991, 2000, 2001 apud COELHO et al., p. 408).Ou seja, fica notório que os estudos sociais da C&T requerem um projeto pedagógico fundamentado na interação entre as diferentes componentes curriculares, a saber: Geografia, História e Sociologia.

O Projeto Ferro Carajás trouxe dividendos sociais e mudanças físico-ambientais drásticas devido à falta de uma política mineral que levasse em consideração, por exemplo, os imigrantes que viriam a trabalhar no projeto supracitado. O seguinte apontamento de Milton Santos (2013) converge para a conclusão anterior:

Muda a estrutura do emprego, assim como as outras relações econômicas, sociais, culturais e morais dentro de cada lugar, afetando igualmente o orçamento público, tanto na rubrica da receita como no capítulo da despesa. Um pequeno número de grandes empresas que se instala acarreta para a sociedade como um todo um pesado processo de desequilíbrio (p. 68).

Desta forma, as carvoarias, a construção da Estrada de Ferro Carajás e a extração de minério de ferro trouxeram alterações profundas para a sociedade e o meio ambiente deixando assim, um legado de exclusão social e destruição dos recursos naturais. Ou melhor, as cidades que surgiram devido à construção da Estrada de Ferro Carajás precisariam estar preparadas para receber os trabalhadores e, ainda, as carvoarias necessitam se adequar as normas ambientais evitando a poluição do ar e, assim, proteger a saúde da população local. Na maioria das vezes, as cidades não apresentam infraestruturas adequadas para sediar grandes empresas e, desta forma, as próximas gerações são afetadas pela omissão do Estado em prover o enriquecimento dos direitos sociais.

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Sobre a utilização dos recursos naturais na América Latina, Novaes e Fraga (2010) fazem a seguinte consideração:

O desenvolvimento latino-americano deve ter como base o horizonte temporal da ecologia no qual os cálculos de planejamento de produção e uso dos recursos naturais deveriam ter um horizonte de longo prazo, o que sinalizaria a utilização adequada dos recursos naturais pelas atuais gerações, pensando evidentemente, na sociedade que gostariam de deixar para os nossos netos (p. 169).

Porém, quando o Estado tem uma política de privatizações não é possível ter uma política ecológica prudente, já que esta se encontra nas mãos de terceiros, conglomerados estrangeiros, e, assim, há o risco de catástrofes ambientais geradas pelo desrespeito as normas ambientais gerando então, um pesado processo de desequilíbrio social e ambiental. No entanto, resta punir severamente com multas homéricas os envolvidos na degradação do meio ambiente não permitindo, que o poder econômico desses “senhores do progresso” atue como um escudo protetor em relação às punições. Além disso, o Estado deve exigir que as normas ambientais mais elevadas sejam respeitadas e que os impactos sociais e ambientais causados sejam minimizados.

Sobre a globalização especificamente, a privatização da Vale do Rio Doce, Irene Garrido Filha (2000) faz a seguinte reflexão:

A globalização “inevitável”. Isso não passa de um mecanismo para embrutecer o povo. Estão subordinadas as economias mais débeis e acabando com o sentido de nação e de soberania nacional. Falam apenas em “estado do bem-estar social”. Mas, que bem estar social temos hoje no Brasil como povo? (p. 245).

Resumindo, conclui-se que o processo de globalização não trouxe benefícios sociais as populações do sudeste do Pará e Açailândia (MA) e, que o Estado esteve a serviço das necessidades das empresas multinacionais, derrubando o sentido de soberania nacional e, o “agravante em tudo isso é que faltam informações [empresas nacionais sendo vendidas ao capital estrangeiro] para a população que vive anestesiada” (GARRIDO FILHA, 2000, p. 244).

De acordo com as análises realizadas foram detectados silêncios no livro didático, Química Cidadã (SANTOS, W. (org.); MÓL (org.),

2013c), relacionados aos impactos sociais e ambientais oriundos da produção do carvão utilizado para redução do ferro metálico e também da construção da Estrada de Ferro Carajás.