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A RELAÇÃO ENTRE FORMADORES E PROFESSORES NA POLÍTICA DE FORMAÇÃO DA SME

Grupo 4 Não tem a mínima condição de fazer um trabalho de formação de

2.2. O Contexto da Formação

2.2.4. A intervenção do coordenador e o contato direto com o professor

A relação das formadoras do NAPA com os professores da rede municipal aparecem nas entrevistas em três momentos diferentes: (1) pela intervenção dos professores coordenadores, que recebem formação no núcleo e têm a tarefa de levar essa formação para os professores nos HTPCs e reuniões pedagógicas; (2) nos cursos de formação específicos de cada área, de livre participação, que são oferecidos pelos formadores aos professores, fora do seu horário de trabalho; e (3) em intervenções específicas dos formadores junto aos professores, no próprio ambiente escolar.

Não há dúvida de que a presença dos professores coordenadores nas escolas da rede municipal representa um ganho inestimável, pois pela primeira vez no histórico desta rede têm-se um profissional designado no âmbito da unidade escolar para cuidar exclusivamente das questões pedagógicas, que vão desde a organização dos projetos, a orientação e acompanhamento das

esse coordenador, pra gente, é um ponto de contato com o professor na sala de aula”, diz a formadora Estela. Em tempos anteriores, o contato do NAPA com os professores se fazia através dos diretores das escolas, que precisavam conciliar as suas intervenções pedagógicas junto aos professores com as outras tantas tarefas acumuladas pelo cargo.

Entretanto, a atuação desse coordenador na escola perpassa, naturalmente, pelas questões da sua formação enquanto professor. De um momento para o outro, ele deixa de atuar no espaço da sala de aula para se tornar o responsável pela formação dos seus colegas, numa mudança de lugar que aparenta não ser nada tranquila. Na visão da formadora Estela “a nossa dificuldade em formar esse profissional é tanta, que se a gente fosse... Ele ficaria o tempo todo no NAPA fazendo reflexões e não estaria na escola. Então a gente precisa até pensar isso, entende? Quanto tempo nós vamos tirá-lo lá da escola pra ele vir aqui?”

Nas falas das formadoras pode-se perceber que a intenção da equipe do NAPA é promover a formação do professor coordenador até um ponto em que ele seja capaz de “gerenciar” o grupo de professores que estão sob a sua responsabilidade, no sentido de articular a formação que recebe no NAPA com os interesses e a singularidade da sua equipe de professores e dessa forma garantir a qualidade do trabalho pedagógico da escola. Para a formadora Gabriela um cuidado a ser tomado durante a formação dos coordenadores tem a ver com isso, tanto para que as discussões não passem pelos extremos de serem “tão distorcidas”, mas que também não sejam apenas reproduzidas nas reuniões da escola. Outra questão a ser considerada, segundo ela, é que o professor coordenador é um “formador em constituição” e “Além de pensar o contexto de atuação do coordenador, nós precisávamos considerar que muitos coordenadores também careciam de formação em relação à sua prática enquanto professores. Então como seria a atuação dele enquanto orientador da prática do outro?”

Ainda em relação à formação dos coordenadores, são notórios, nas falas das formadoras, os ganhos para a constituição desse profissional como educador, no entanto, considerando a intenção do NAPA de promover a formação dos professores nas escolas, através da mediação desses profissionais “em constituição”, surgem barreiras naturais de comunicação, conforme se lê na fala da formadora Carolina:

outro pra acontecer. Então acaba meio que sendo um telefone sem fio mesmo. Da maneira como as coisas são pensadas e da maneira com que elas, no meio do caminho, vão encontrando as nuances pelos coordenadores e o jeito que chega na sala de aula. (...) Você realmente não assegura, a partir do momento que cada um entendeu à sua maneira, de acordo com a sua concepção, então você não assegura isso, o jeito que isso é levado, enfim. (Carolina)

Essa dificuldade de comunicação, no entanto, não é privilégio da era dos coordenadores. A formadora Mônica fala dessa dificuldade também no período em que os formadores contavam com a intermediação dos diretores de escola na comunicação e na formação dos professores. Ela conta que em 2003 elaborou todo o projeto de Meio Ambiente que seria apresentado para os professores para ser desenvolvido nas escolas. Entretanto, a função de apresentar o projeto para os diretores, que depois levariam para os professores, ficou a cargo da formadora Laura, responsável pelo PROFA – “Eu mesma não falei com ninguém (sobre o projeto)”, diz Mônica.

A Laura fez uma reunião com todos os diretores, eu nem participei da reunião. Eu nem sei como ela falou com os diretores, mas acho que ela deu uma orientação, e aí o projeto chega como na escola? Como uma bomba – “Gente, está aqui o projeto. Mais uma coisa pra vocês fazerem”. O diretor tinha que entender um pouco disso porque era ele que ia levar pro grupo escola. (Mônica)

Mais tarde ela passou a ter contato direto com os diretores na formação das questões do Meio Ambiente e descreve o envolvimento deles, de forma geral – “Alguns se destacavam mais por um natural interesse pelo tema, em outros a gente até despertava (o interesse), e em outros era indiferente „Eu estou aqui, estou vendo isso, eu vou chegar lá (na escola), vou falar e o que sair, saiu‟”.

A formadora Carolina fala da sua experiência como coordenadora pedagógica do grupo de professoras da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no ano de 2005, e ressalta a preferência pelo contato direto com os professores nas questões da formação.

Acho que você estar próximo dos professores, que foi a minha experiência de 2005, apesar de eu ser uma só pras milhares de salas de aulas e as milhares de escolas, o trabalho sai da maneira como você realmente quer. Então eu pensava nas propostas, articulava junto com os professores, aquele vai e vem direto. (...) Quando você está à frente de um grupo, você mesmo gerencia, você leva a proposta, você já se auto avalia e tal. (Carolina)

Quando avalia a atuação dos professores gerenciadores25 na organização dos projetos de Meio Ambiente nas escolas, a formadora Mônica ressalta a importância da inserção desses profissionais no âmbito da escola, entre seus pares.

A gente está numa ponta e os professores estão no outro extremo, na outra ponta. Temos expectativas e depois se vê como é a realidade. O professor gerenciador está naquela ponta, então ele percebe quais estratégias ele pode usar pra atingir aquelas expectativas que ele viu aqui na Sala Verde26. (Mônica)

A formadora Paula havia sido designada pelo NAPA, poucos meses antes da entrevista, a prestar uma assessoria, digamos assim, em uma das escolas da rede municipal que havia ficado com nota baixa na avaliação do Ideb27, a fim de que pudesse acompanhar mais de perto as dificuldades de professores e alunos e promover as intervenções necessárias para auxiliá-los e, obviamente, tentar fazer aumentar a nota da escola. Falando sobre sua atuação, ela compara com a realidade que vivencia nos cursos de formação com os professores e as orientações oferecidas nas reuniões com os professores coordenadores. Para ela, muitas vezes durante os cursos, os professores não falam da realidade do que acontece na escola, ou então o contrário, “contam o que não está acontecendo só pra dizer que está”, na tentativa de driblar a avaliação dos formadores. Os coordenadores costumam dizer o que acontece na escola, relatando a partir do seu ponto de vista, aquilo que interessou ou não aos professores, aquilo que foi feito ou não pelos professores – “Eles contam mais ou menos se teve algum efeito ou não, mas também... é o olhar deles. A gente já pegou olhares assim „Ah, está tão lindo!‟ E chega na escola, não está nada lindo”.

Estando na escola, ela conta que o contato com os professores é muito mais próximo e isso possibilita perceber o desenvolvimento de cada sala de aula e o trabalho de cada professor, suas dúvidas e necessidades, seus modos de fazer, as intervenções que planejam para favorecer a

25

Professores designados por escola, escolhidos entre seus pares para, juntamente com o diretor da unidade escolar, receber formação específica para o desenvolvimento dos projetos de Meio Ambiente no NAPA, e multiplicar essa formação entre os professores nas escolas.

26 A Sala Verde é um projeto do Governo Federal, coordenado pela Diretoria de Educação Ambiental do Ministério

do Meio Ambiente, implantado na gestão da então ministra Marina Silva, que consiste no incentivo à implantação de espaços sócio-ambientais, que promovam atividades pedagógicas ligadas ao meio ambiente, campanhas educativas, coordenação de eventos, entre outros. Em Bragança Paulista a Sala Verde “Pindorama” está instalada nas dependências do NAPA e atua junto às escolas e a comunidade em geral.

aprendizagem dos alunos e os resultados que obtém, enfim – “Não tem como não ver o que está acontecendo, porque está muito próximo, né? O problema é que não dá pra fazer isso com todo mundo”.