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A INFLUÊNCIA DAS ORIENTAÇÕES E DOS PROGRAMAS OFICIAIS DE ENSINO NAS PRÁTICAS DOS PROFESSORES

3. O tratamento das entrevistas

3.2. A Influência do PROFA

3.2.1. A reorganização das práticas pedagógicas

3.2.1.3. Conto/ Reconto

O Reconto é uma atividade em que o professor, após ter lido um conto para os alunos, pede a eles que lhe recontem a história. A atividade é feita coletivamente e os alunos vão, de forma voluntária, recuperando os acontecimentos e reorganizando oralmente a narrativa. Para o PROFA, ao ouvir contos, os alunos vão se apropriando da estrutura da narrativa e das regras que organizam esse tipo de discurso. Adquirindo esse conhecimento, vão sendo capazes, gradativamente, de compreender outras narrativas, recontá-las e reescrevê-las. Ainda segundo o programa, o conto tradicional funciona como uma espécie de matriz para a escrita de narrativas. E “ao realizar um reconto, os alunos recuperam os acontecimentos da narrativa, utilizando, frequentemente, elementos da linguagem que se usa para escrever”. (M2U6T4, p.2 e 3)

Durante uma das visitas que fiz à classe da professora Regina, pude observar a realização de uma atividade de Reconto, onde os alunos pareciam bem empolgados. Eles iam recontando a história e ela reescrevendo no quadro. Um deles aparentava saber a história na ponta da língua e reproduzia oralmente alguns trechos inteiros. Outro aluno, que também parecia ter muita intimidade com o texto, me chamou a atenção porque não contribuía para a reconstrução da narrativa, mas ficava dramatizando alguns trechos reproduzidos pelos colegas, com expressões corporais e faciais. E ao observar a participação dos demais alunos percebi que, praticamente, todos estavam muito atentos à atividade. Alguns participavam com mais alegria e desenvoltura, outros permaneciam calados, acompanhando com os olhos as contribuições dos colegas. Para esses, aparentemente menos desenvoltos, a professora procurava fazer perguntas sobre a história a fim de garantir uma participação mais efetiva por parte deles. Com alguns obtinha certo sucesso, com outros nem tanto.

Durante a entrevista pedi à professora Regina que falasse um pouco sobre a atividade. Ela diz que gosta do Reconto porque “eles recontando o texto, eles vão organizando o texto”. Acredita também que, no trabalho coletivo, a participação dos alunos ajuda aqueles com mais dificuldade de compreensão – “Então eu acredito que um falando, o outro falando, aquele que ainda não conseguiu, que não sabe ainda, vai despertando”.

3.2.1.4. Parlenda

De acordo com o PROFA, as informações fornecidas pelo professor são processadas pelo aprendiz de acordo com suas próprias concepções. Durante o processo de alfabetização, as ideias dos alunos sobre o que está escrito e o que se pode ler evoluem de acordo com as oportunidades de contato com a escrita e, portanto, promover variadas situações de leitura, favorece a correspondência entre os segmentos do enunciado oral e os segmentos gráficos. Sendo assim, o PROFA orienta os professores para que ofereçam aos alunos textos que eles conheçam de cor, pedindo que acompanhem a leitura indicando com o dedo, tendo assim a oportunidade de reorganizarem suas ideias sobre o que está escrito e o que se pode ler.

Entre os textos indicados para este fim estão poesias, canções, quadrinhas e parlendas. As parlendas são versinhos com temática infantil, recitados em brincadeiras de crianças. Por apresentarem rimas simples, são fáceis de serem decoradas por elas. Entre os professores da rede municipal de Bragança Paulista a atividade de leitura e escrita de Parlendas é bastante popular.

Entre as quatro professoras que citaram a atividade, três disseram gostar de desenvolvê-la por considerar que ela apresenta ótimos resultados e se constitui um importante auxílio para os alunos que estão desenvolvendo a capacidade de compreensão da ortografia correta das palavras.

Eu gosto dessas atividades de montar parlendas, de montar músicas com letrinhas exatas pra aqueles que já estão alfabéticos, mas ainda tem muita dificuldade na ortografia, na segmentação das palavras, no discurso e tal (...) porque ao dar a eles a letrinha da música do Papagaio Loro com as letras exatas, eles sabiam que não poderia nem sobrar e nem faltar letra (...) eu estava pedindo pra ler e aí eles iam lendo e eles mesmos percebiam e se alguma coisa estivesse escrita errada já percebiam na hora e eles mesmos já iam e pegavam a letrinha e colavam. (Regina)

E eu fui bem clara no início da atividade que as letras eram exatas. Que não podia nem sobrar e nem faltar. Caso isso ocorresse, pra que eles olhassem as palavras, lessem cuidadosamente pra ver se estavam escritas corretamente pra que as letras fossem colocadas no lugar adequado. (Sônia)

A professora Elaine não havia cursado o PROFA, mas quando chegou à escola, assumindo pela primeira vez uma 1ª série, ouviu os conselhos da diretora que dizia “Trabalhe bastante com parlendas porque desenvolve bem as crianças”. “E eu gostei, deu resultado mesmo. Acho importantíssimo a parlenda porque trabalha a parte ortográfica”.

Além do resultado efetivo na aprendizagem, as professoras também consideram o gosto dos alunos pela atividade e percebem que eles aprendem de forma mais espontânea e mais prazerosa. Para Regina, “Hoje eles aprendem mais espontâneo, porque eles gostam de musiquinhas, eles gostam de parlendas, então eles fazem com mais gosto”. E a professora Elaine percebe que “Eles gostam, porque é curta, eles pegam rapidinho”.

Para a professora Lívia, a parlenda é também uma boa atividade para intervir com os alunos com dificuldades de aprendizagem. Em uma de minhas visitas à sua classe, pude presenciar uma de suas intervenções individuais com o aluno Márcio, quando sentou com ele para ler uma parlenda, enquanto os outros alunos realizavam outra atividade. “E ele não tem interesse, assim é difícil né? Tem bastante dificuldade de memorização, ainda não conhece todas as letras do alfabeto. E ele estava evadido também. Ele ficou uns dois bimestres evadido. Aí ele voltou agora no final do terceiro”.