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A ESTRUTURAÇÃO DA SME E OS PROGRAMAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA OFERECIDA AOS PROFESSORES DA REDE

1.11. Grupos de estudo/ reuniões pedagógicas/ HTPC 21 / hora atividade

1.11.1.5. Avaliação das práticas

Sobre a avaliação do trabalho do professor e da aprendizagem dos alunos são registradas duas referências. A primeira aparece em 1988, como “andamento das classes”; e a segunda, em abril de 1993, “possibilidade de reuniões pedagógicas com suspensão de aula para tratar da avaliação da criança, da auto-avaliação do trabalho do professor e orientações pedagógicas com o supervisor”.

Essas “orientações pedagógicas com o supervisor” que aparecem logo após os registros sobre avaliação dão a impressão de uma autoridade escolar centralizadora preparada para diagnosticar problemas e apresentar as devidas soluções, e que supõe os professores como agentes passivos e executores de tarefas definidas por outrem, numa “habitual divisão de trabalho entre os que sabem fazer as perguntas certas para decidir com conhecimento de causa e os que, incapazes de formular boas questões, ficam limitados a executar as decisões de um terceiro” (THURLER, 2002, P.65).

Apesar disso, a expressão “auto-avaliação do trabalho do professor”, entendendo autoavaliação como um exame crítico que o professor faz do seu próprio trabalho, pode sugerir uma abertura desse modelo centralizador de formação e um incentivo à ampliação do pensamento reflexivo dos professores.

1.11.2. A forma

A observação dos registros aponta também a forma como eram organizados os encontros dos professores, fossem nas reuniões pedagógicas, grupos de estudo ou HTPC. O item “viabilidade” procura demonstrar as ações empreendidas pela SME no sentido de tornar possíveis esses encontros. Em seguida, procuramos desvendar a estratégia utilizada pela SME no sentido de acompanhar esses encontros e se fazer presente junto aos professores. Por fim, tratamos do espaço reservado pela SME para avaliação do efetivo proveito desses encontros.

1.11.2.1. Viabilidade

Entre os anos de 1986 e 1990 as reuniões pedagógicas eram realizadas mensalmente e contavam com a participação de professores, diretores de escola e a equipe do DEd. Nos primeiros anos as reuniões aconteciam no período da manhã, e as professoras que trabalhavam em outra escola nesse período não participavam das reuniões. Depois, as reuniões passaram a acontecer em dois períodos, com professores da manhã e tarde. Na observação dos registros não é possível identificar o local onde se realizavam essas reuniões, mas percebe-se que aconteciam durante o período de trabalho dos professores, sendo os alunos dispensados das aulas, pois em agosto de 1987 registra-se – “Faltaram as professoras Helena e Joana porque foram avisadas em cima da hora e não puderam avisar as crianças”; e em outubro “Faltaram as professoras Elenice e Sandra porque não sabiam da reunião e foram dar aula normal”.

A partir de 1991, ano do primeiro concurso público para professores da educação infantil, provavelmente devido à larga ampliação do quadro de professores da rede municipal, as reuniões passaram a contar apenas com a participação dos diretores das escolas e a equipe do DEd/SME. A partir de então, a comunicação entre o departamento e os professores passou a ser intermediada pelos diretores das escolas, que recebiam as orientações administrativas e pedagógicas e se tornaram responsáveis pela orientação do trabalho dos professores. Sendo assim, os encontros entre os professores e a equipe do DEd/SME ficaram reduzidos ao início dos anos letivos com as boas-vindas, atribuições de classes e semanas de planejamento, e aos cursos que eram oferecidos ao longo do ano e, por vezes, durante o recesso escolar do mês de julho.

Nos anos de 1991 e 1992 não há referência às reuniões pedagógicas, entretanto, já é possível perceber a preocupação do DEd em promover tempo e espaço nas escolas para a reunião de professores e diretores. A primeira solução encontrada foi estabelecer as Horas-Atividade e impor a participação dos professores, uma vez que não seriam remunerados para tal. Em 1991 registra-se, “Professores e diretores devem decidir o melhor horário para a Hora Atividade; professores devem participar das Horas-Atividade”. Aparentemente a adesão dos professores naquelas condições não foi suficiente e em 1992 o DEd buscou junto à prefeitura municipal autorização para a remuneração dessas horas – em agosto registra-se “a possibilidade de Hora

dos professores sobre Hora-Atividade”. Aparentemente as Horas-Atividade foram autorizadas, pelo menos durante um período curto, pois em março de 1993 registra-se - “a possibilidade de volta das Horas-Atividade”, sendo essa sua última referência nos registros.

Provavelmente a autorização permanente de remuneração das Horas-Atividade não era viável para os cofres da prefeitura, e em abril de 1993 o DEd busca uma nova solução para viabilizar a reunião de professores e diretores, propondo “a possibilidade de reuniões pedagógicas com suspensão de aula”. Por algum motivo a ideia não vingou de pronto, pois em agosto de 1994 ela entrou novamente em pauta na reunião do DEd. Nos anos seguintes não há referência sobre o assunto, mas em fevereiro de 1997 registra-se o agendamento das reuniões pedagógicas, orientando-se a “não dispensar os alunos do período integral, mas tentar conversar com os pais sobre a importância da reunião”- ou seja, as escolas receberam autorização para dispensar os alunos nos dias agendados para as reuniões pedagógicas, com exceção daqueles cujas mães trabalhavam fora de casa e que permaneciam na escola por tempo integral.

Paralelo às reuniões pedagógicas, os registros apontam a intenção do DEd/SME, desde 1994, de organizar grupos de estudo nas escolas com professores e diretores da educação infantil, ao todo são dez referências registradas de 1994 a 2003. Em 1995, como não havia sido autorizada a remuneração para as horas extras, o DEd busca outra forma de incentivar os professores à frequência aos grupos de estudo e oferece certificado de horas para contagem de pontos nas atribuições de classes. Em março registra-se - “Escolas são divididas entre as supervisoras para que possam acompanhar os grupos de estudo”. Sabe-se que a proposta foi aceita pelos professores, mas os grupos não se estenderam por muito tempo, talvez por um ou dois anos. No entanto em 2002 a proposta retorna à pauta das reuniões e a SME novamente sugere “a possibilidade de grupos de estudo da educação infantil com certificado para contagem de pontos”. A ideia foi aceita, porém não se sabe por quanto tempo conseguiu sobreviver. Em fevereiro de 2003 registra-se - “a formação dos grupos de estudo quinzenalmente”; e em abril do mesmo ano fala-se sobre o andamento dos grupos de estudo na Educação Infantil, abrindo espaço para discussão sobre prós e contras de acordo com as diretoras que falam da dificuldade em orientar os estudos dos grupos. E este é o último registro que se tem a respeito, entretanto, sabe-

se que em meados de 2008, com a implantação do FUNDEB22, os cofres públicos começaram a se abrir para a educação infantil, e os professores passaram a contar com os HTPC remunerados, benefício que os professores do ensino fundamental recebiam desde a municipalização em 1998.

1.11.2.2. Acompanhamento

Os primeiros registros das atas mostram o início da organização do que se tornaria, posteriormente, a rede municipal de ensino de Bragança Paulista. Entre os anos de 1986 e 1988 contam-se pouco menos de trinta professores, a partir do número de assinaturas de presença nas reuniões. Até o mês de março de 1987 as atas das reuniões apresentam dois carimbos com assinaturas. O primeiro sendo da Supervisora de Pré-Escola Municipal, provavelmente a professora responsável que dirigia as reuniões; e o segundo sendo do Diretor de Educação e

Cultura, mas não se sabe se ele também era responsável em acompanhar as reuniões ou se apenas

assinava as atas para tomar ciência do que havia sido discutido. A partir de fevereiro de 1988 a mesma professora responsável passa a assinar como Coordenadora Municipal. Nesse mesmo ano são inauguradas cinco escolas de educação infantil que iriam funcionar em prédio próprio - provavelmente as cinco primeiras - uma vez que até então as classes funcionavam em salas cedidas pelas escolas do estado, entidades filantrópicas, entre outros; e ainda, porque em novembro de 1988 aparece pela primeira vez o registro da participação de cinco diretoras na reunião pedagógica, cujas presenças, a partir de então, se tornam frequentes.

Em janeiro de 1989, quando houve a contratação de professores por tempo determinado em regime de serviço terceirizado, o número de professores mais que dobrou, e de quase trinta, passou a quase setenta. Ainda assim, as reuniões pedagógicas continuaram a ser dirigidas pela Coordenadora Municipal, contando com a presença de professores e diretores.

A partir de abril de 1990 registra-se a assinatura da presença de mais uma coordenadora, e a partir de agosto, as reuniões passam a contar também com a presença de uma psicóloga e uma

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Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. Fundo de natureza contábil, instituído pela Emenda Constitucional n.º 53, de 19 de dezembro de 2007 e

fonoaudióloga. Sendo então quatro profissionais responsáveis em acompanhar e orientar as reuniões de diretores e professores. Em novembro há o primeiro registro da participação da Diretora do Departamento de Educação, que oferece esclarecimentos sobre a parte administrativa; é também a primeira vez que se registra o termo “Rede Municipal de Ensino”. A primeira coordenadora se afasta e uma nova professora assume o cargo, permanecendo a equipe de quatro profissionais, a partir de então denominada equipe técnico-pedagógica, que acompanhava as reuniões de professores e diretores de escola, sob a orientação da diretora do DEd.

Em junho de 1991, após a realização do primeiro concurso público, o número de professores da rede municipal chega a cento e vinte. Desde então as reuniões do DEd deixam de contar com a presença dos professores e passam a ser realizadas entre a equipe técnico- pedagógica e os diretores, ficando estes últimos responsáveis pela comunicação entre o DEd e os professores da rede, bem como pela orientação pedagógica nas escolas.

A partir de 1993 a equipe técnico-pedagógica é ampliada com a nomeação de algumas supervisoras, não se sabe quantas. Os cargos das duas coordenadoras são substituídos, uma delas passa a assinar como Chefe de Divisão Técnico-Pedagógica e a outra como Orientadora Pedagógica. Dessa forma as reuniões com diretores, que a partir de então tornam-se bem mais frequentes, passam a ser acompanhadas por essa equipe. De acordo com os registros, as supervisoras assumiram a orientação pedagógica nas reuniões com os diretores, e também participavam, não se sabe com que frequência, das reuniões pedagógicas realizadas nas escolas, quando os diretores repassavam aos professores as orientações pedagógicas e administrativas recebidas nas reuniões do DEd. Esse quadro permanece, pelo menos, até o ano 2000.

Em abril de 1993, registra-se “orientações pedagógicas com o supervisor”; em maio “agendamento das reuniões nas escolas com a participação das supervisoras”; em outubro de 1994, “diretoras devem passar nas vinculadas e orientar pedagogicamente as professoras novas”; em março de 1995 “as diretoras precisam auxiliar as professoras quanto à metodologia e o trabalho em sala de aula”; e “Escolas são divididas entre as supervisoras para que possam acompanhar os grupos de estudo”; em 1998 registra-se “Reflexão Pedagógica de início de ano – como cada diretora iniciou o seu trabalho com as professoras; as supervisoras expuseram as linhas de trabalho pedagógico para esse ano; foi dado orientação para (o trabalho com) as

crianças pequenas”; e por fim, em agosto de 2000 “a secretária de educação sugere reuniões das diretoras com as supervisoras para estudos de como melhorar a parte pedagógica das escolas”.

O ano de 2002 representa o primeiro marco nas questões pedagógicas da SME, pois pela primeira vez essas questões são tratadas por coordenadores pedagógicos designados especificamente para tal.

A implantação do PROFA se deu por uma equipe de duas coordenadoras, que posteriormente foi ampliada, trouxe uma nova proposta de alfabetização e formou centenas de professores. Na mesma época, foi constituída uma equipe com oito coordenadoras pedagógicas responsáveis pelo acompanhamento do trabalho pedagógico da rede municipal. Sendo assim, os supervisores ficaram desobrigados desta tarefa, no entanto, continuaram sendo os diretores os responsáveis pela orientação pedagógica dos professores nas escolas. Em março de 2003 registra- se “prós e contras de acordo com as diretoras que falam da dificuldade em orientar os estudos dos grupos”.

Em meados de 2004, encerra-se o trabalho da coordenação pedagógica. Em 2005 cria-se o Centro de Apoio ao Professor (CAP), ainda em instalações provisórias, onde se desenvolvem além do PROFA, outros cursos de formação continuada para os professores da rede municipal. Em 2006 o CAP ganha sede própria e passa a se chamar Núcleo de Apoio ao Professor e ao Aluno (NAPA).

O ano de 2007 pode ser considerado o segundo marco nas questões pedagógicas da SME, com a criação do cargo de professor coordenador nas escolas. Pela primeira vez na história da rede municipal de Bragança Paulista, as escolas passam a contar com a presença de um profissional especificamente designado a orientar e acompanhar o trabalho pedagógico dos professores e o ritmo de aprendizagem dos alunos.